Werther Vilela Brandão, Farmácia Globo e os “Franceses em Alagoas no século XVI”

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Farmácia Globo na Rua do Comércio nº 13 na década de 20

Werther Vilela Brandão nasceu em Viçosa às 8h de 6 de abril de 1914. Era filho de Carolina Vilela e de Manoel de Barros Loureiro Brandão. Eram primos e casaram-se em 4 de outubro de 1905 no Engenho Boa Sorte. O casal também trouxe ao mundo, Eloi Vilela Brandão, Theotonio Vilela Brandão (Théo Brandão), Maria Lucy Vilela Brandão e Helenita Vilela Brandão.

O casal Manoel Brandão e Carolina Vilela com os filhos. Foto do acervo de Gilda Brandão

Carolina Vilela Brandão, sua mãe, nasceu em 1885 e faleceu em março de 1951. Era filha de José Aprígio dos Passos Vilela e de Maria Constâncio Brandão, proprietários do Engenho Boa Sorte, e irmã de Elias (Sinhô) Vilela, do Engenho Mata Verde, pai de Theotônio Brandão Vilela, o senador da República que ficou conhecido como o Menestrel das Alagoas.

Manoel Brandão, pai de Werther, nasceu em Viçosa no dia 30 de setembro de 1875. Era filho de Theotônio Torquato Brandão Neto e de Francisca de Barros Loureiro. Foi um conceituado médico e farmacêutico. Iniciou os estudos em sua terra natal e em Maceió cursou o Colegial com o prof. Adriano Jorge e Humanidades no Liceu Alagoano, de onde saiu em 1892. Na Bahia, a partir de 1896, deu início ao curso de Medicina.

Dr. Manoel Brandão se formou pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1902. Sua tese para a conclusão do curso abordou o “Puerperismo Infectuoso”.

Dr. Manoel de Barros Loureiro Brandão. Foto do acervo de Gilda Brandão

Voltou à Viçosa nesse mesmo ano e se estabeleceu no pavimento superior do “Sobradinho do Vigário Loureiro”, na Rua do Beco (conhecida também como Rua Nova), atual Rua Vigário Loureiro, esquina com a antiga Ladeira das Pedrinhas. Era médico clínico.

Ainda solteiro, dividia o sobrado com sua irmã Augusta Loureiro Brandão Sá, com sua tia Teresa Cristina de Jesus (irmã de criação de sua mãe) e com sua sobrinha de 5 ou 6 anos Maria Brandão Vilela.

Foi ali que, entre 1909 e 1910, inaugurou no andar térreo a Farmácia Brandão. Também se dedicava à pecuária e ao Engenho Barro Branco, que tinha herdado do seu avô Pedro José da Cruz Brandão.

Rua do Beco ou Nova e o “Sobradinho” onde funcionou a farmácia do dr. Manoel Brandão

Há registros, entre 1910 e 1914, da sua passagem pelo Conselho Municipal de Viçosa, a atual Câmara de Vereadores. Nesse período participa da Junta Médica da Sociedade Providência Alagoana.

Foi diretor-médico fundador do antigo Hospital N. S. da Conceição de Viçosa entre 1914 e 1917.

Em 1917, contratado pela Santa Casa de Misericórdia de Maceió, mudou-se com a família para Maceió e no ano seguinte, em sociedade com Francisco Muniz de Melo e com Honorato de Sá, constituiu a Drogaria e Farmácia Globo, instalada na Rua do Comércio, nº 13, com um capital de 160.000 cruzeiros.

A partir de 1923, a firma passou a ter uma única proprietária, sua esposa Carolina Vilela.

Esse primeiro prédio da Drogaria e Farmácia Globo, na Rua do Comércio, nº 125 — aquele com uma ferradura gigante na fachada —, foi vendido à Farmácia Pasteur e em 1926 a firma adquiriu os prédios números 158-162 na mesma Rua do Comércio e lá instalou a Drogaria Globo — com um globo gigante na fachada. O prédio atualmente está ocupado pela Lojas Imperador.

Drogaria e Farmácia Globo no primeiro endereço, na Rua do Comércio, nº 13

Com o falecimento do dr. Manoel Brandão em 26 de agosto de 1941, a Drogaria e Farmácia Globo passou a ser dirigida por seus filhos Werther Vilela Brandão e Eloy Vilela Brandão. Existiu até a década de 1990.

Interior da Drogaria e Farmácia Globo. Foto do acervo de Gilda Brandão

 

Segundo endereço da Farmácia Globo, a partir de 1926

O dr. Werther Vilela Brandão

Werther tinha três anos de idade em 1917 quando a família foi morar em Maceió. Os registros sobre seus estudos na capital são do Liceu Alagoano, período em que leu os romances históricos de Gustavo Barroso por indicação do seu pai, fazendo surgir seu interesse pela história e pelos livros. Sua biblioteca, mantida pela filha Gilda Brandão, tem mais de quatro mil volumes, alguns deles exemplares raros.

No início de 1931, com apenas 16 anos de idade, estava em Salvador, na Bahia, cursando Farmácia na Faculdade anexa à de Medicina. Foi diplomado em dezembro de 1933.

Formatura em Farmácia de Werther Vilela Brandão em 1933. Foto do acervo de Gilda Brandão

Em 1937 comemorava uma nova graduação em Pernambuco. Conquistara o bacharelato em Direito na Faculdade de Direito do Recife. Ainda em 1937 seu nome aparece como professor de Farmacognosia da Escola de Farmácia e Odontologia de Alagoas.

No ano seguinte, em 24 de junho, casou-se com Elza Brandão da Silveira Albuquerque, filha do dr. Severino Albuquerque Filho (do Cartório) e de Francisca Noemia da Silveira Albuquerque.

Elza Brandão da Silveira Albuquerque em 1933. Foto do acervo de Gilda Brandão

Elza Brandão nasceu em Maceió no ano de 1919. Francisca Noemia da Silveira Albuquerque, sua mãe, era neta de Caetano Donato Brandão e de Laurinda Maria de Jesus Barbosa Ferreira. Caetano Donato era tio de Manoel de Barros Loureiro Brandão, pai de Werther Vilela Brandão.

O casal se estabeleceu na primeira edificação da Praça Sergipe, que foi construída em terreno doado por Werther Vilela Brandão à Prefeitura da capital em 1939.

Praça Sergipe na década de 1940 e a residência de Werther Vilela Brandão

A Drogaria e Farmácia Globo funcionou até o início de 2004, quando foi vendida. Werther Vilela Brandão faleceu em Maceió no dia 18 de dezembro de 2006.

O historiador

A professora Gilda Brandão guarda a imagem do pai como um homem reservado, mas que não se afastava das rodas dominicais no Sítio Jatiúca, do seu irmão Théo Brandão. Lá encontrava com os cantadores e poetas populares, que dividiam o terraço da casa à beira-mar com Carlos Moliterno e Anilda Leão, ou mesmo com visitantes ilustres como Câmara Cascudo, todos apaixonados pelas artes literárias.

Também não deixava de frequentar rotineiramente o Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, onde permanecia durante horas a conversar com seu amigo e também pesquisador Moacyr Sant’Ana.

Não era de falar em público, mas era um animado interlocutor nos encontros mensais no Bar das Ostras, quando embalado por um bom vinho, francês ou português, colocava a conversa em dia com os amigos Rivadavia Carnaúba Brandão, José Reis, Padre Humberto, Carlos Moliterno e alguns outros mais chegados.

Werther Vilela Brandão em 1930. Foto do acervo de Gilda Brandão

No balcão da Farmácia Globo, era solicito com os clientes e cordial com os funcionários. De camisa branca de mangas compridas e gravata, era reconhecido por sua gentileza e fidalguia, lembra Gilda Brandão.

Sua ampla visão do mundo foi construída a partir dos autores que viajaram pelo Brasil. Conhecia os estudos e escritos de Ferdinand Denis, Jean de Lery, Spix e Martius, Saint-Hilaire, Richard Burton, Henri Coudreau, além dos historiadores clássicos e modernos.

Também lia com atenção os livros do primo Octávio Brandão, um dos fundadores do Partido Comunista do Brasil. Sua admiração por ele o levou a guardar com zelo seus livros e retratos. Quando Octávio Brandão esteve em Maceió numa data próxima a 1960, após décadas de exílio, procurava o primo farmacêutico para falar de seu intenso e conturbado percurso político.

“Meu pai praticava a tolerância ideológica e aceitava todas as formas de pensamento crítico, sob a condição de que as ideias não estivessem a serviço de qualquer preconceito, por isso que em sua biblioteca conviviam pacificamente em suas prateleiras Karl Marx, Gilberto Freyre, Arnold Toynbee, Oliveira Lima, Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque de Holanda, Manuel Diégues Júnior (O banguê nas Alagoas), Octávio Tarquínio de Sousa, Capistrano de Abreu (Capítulos da História Colonial, 1500-1800). Foram eles que ofereceram as bases científicas e documentais aos seus trabalhos — em grande parte enfocando o período histórico da invasão dos holandeses e o período da escravidão —, sem desprezar os autores que estudaram o Brasil sob o enfoque cultural, como Câmara Cascudo”, testemunha a professora Gilda Brandão.

“Quanto aos romancistas — lembra Gilda Brandão —, era um leitor habitual de Eça de Queirós, de quem possuía uma vasta bibliografia autoral e crítica, com cerca de 60 livros. Era também leitor de Machado de Assis. Comentava, rindo, trechos de ambos os escritores. Adquiria também os livros dos romancistas brasileiros contemporâneos, como Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Josué Montello”.

Werther Vilela quando estudante de Direito em Recife. Foto do acervo de Gilda Brandão

Membro do IGHAL, Werther Vilela Brandão foi um reconhecido pesquisador, deixando importantes contribuições para a história de Alagoas, principalmente a do século XVI.

São seus os seguintes estudos:

Os franceses em Alagoas no século XVI, publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL). V. XXXIV, abril de 1978. p.14-64.

Neste artigo, após louvar as publicações de Tomás Espíndola, Diegues Júnior, Moreno Brandão, Craveiro Costa, Alfredo Brandão e Abelardo Duarte (“Os primórdios do povoamento alagoano”), busca pesquisar a presença francesa entre nós, a qual   considera, conforme diz, “um capítulo importante da expansão comercial e marítima europeia no século XVI”. A bibliografia citada no final do artigo mostra bem a extensão da pesquisa que o levou a procedimentos críticos agudos e renovados.

Para baixar o livro Os franceses em Alagoas no século XVI clique na capa abaixo.

Ancianidade de Santa Luzia do Norte. Publicado na Revista do Arquivo Público de Alagoas, nº 1, 1962. P. 225-248.

Neste artigo, começa abordando os primeiros núcleos de povoamento do território alagoano — Penedo, Porto Calvo e Alagoas, atual marechal Deodoro — para, logo em seguida, baseado em Varnhagen, pesquisar a ancianidade de Santa Luzia do Norte, “pequeno burgo lacustre fundado na última década do século XVI”. Para tanto, parte em busca de documentos raros, dentre os quais o Livro que dá Razão do Estado do Brasil (1612). Aqui fica evidente a leitura minuciosa, aprofundada do tema. O conhecimento que demonstra em relação ao assunto emana de cada parágrafo, de cada linha.

12 Comments on Werther Vilela Brandão, Farmácia Globo e os “Franceses em Alagoas no século XVI”

  1. Vendo, lendo e aprendendo cada vez mais sobre personagens de Alagoas que edificaram sua geração e as subsequentes. Gostei. PAZ e BEM.

  2. Claudio de Mendonça Ribeiro // 23 de abril de 2024 em 10:01 //

    Grato pela publicação desta matéria. Parabéns.

  3. Tereza Cristina Vieira Tenorio // 23 de abril de 2024 em 16:25 //

    Exelente!
    Não por acaso que suas filhas Gilda e Vânia possuem vasta cultura, como fidalguia nata.
    Parabéns queridas.

  4. Vander Silva // 24 de abril de 2024 em 12:10 //

    Usarem o progresso como desculpas para destruirem a nossa história, não tem desculpas, porque foi destas histórias que somos filhos dos filhos e netos de muitos anter passados, sem estas construções nunca existiamos e hoje não estariamo vivos. Muitos são assassinos da história para obterem riquezas e venderem nossas terras a extrangeiros para grandes investimentos e com isto destruição da fauna flora, e privatizaram prais lagoas bens públicos. O que é uma vergonha.

  5. Saudades do meu avô Werther, lembro muito de, ainda adolescente, ouvir dele as histórias de Alagoas e do nosso povo.

  6. Muito obrigado por publicar a história de meu avô. Grande homem, amigo, avô e pai.

  7. José Couto Alves Júnior // 24 de abril de 2024 em 21:39 //

    Parabéns pela narrativa que resgata uma parte das mentes brilhantes do nosso povo.

  8. Paulo Volney // 25 de abril de 2024 em 18:42 //

    Primo e amigo do meu pai , Elói Loureiro Brandão Sá, com quem batia longos papos, na sua residência da praça Sergipe. Parabéns pela publicação.

  9. Jose ailton balbino da silva // 26 de abril de 2024 em 10:42 //

    Trabalhei com o Dr werther na década de 80 homen culto.

  10. Dá uma bela comparação entre a foto do “Sobradinho do Vigário Loureiro” aqui postada com a imagem disponível no Google Maps de 2012 (https://maps.app.goo.gl/H3hfuMMXsjucvxbx9).

  11. Luiz Henrique Cavalcante // 29 de abril de 2024 em 12:25 //

    Excelente apresenta da historia dessa familia que contribuiu para a riwueza cultural das Alagoas

  12. Manoel Carnaúba Cortez // 8 de julho de 2024 em 10:08 //

    Grande amigo de meu avô Durval da Rocha Cortez, médico , casado com Consuelo Villela, prima de Werther.
    Excelente material!

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