Violência política em Alagoas no tempo do Pipiu

Rua do Comércio com o Relógio Oficial em 1930

No dia 1º de março de 1930, o Brasil foi às urnas para escolher o presidente que sucederia a Washington Luís. Disputavam o poder Júlio Prestes, do Partido Republicano Paulista (PRP), e Getúlio Vargas, da Aliança Liberal (Partido Republicano Mineiro – PRM e Partido Republicano Riograndense – PRR).

Já na campanha percebia-se a elevada tensão política, estopim para a explosão o levante revolucionário de 24 de outubro de 1930, que impediu a posse do eleito, Júlio Prestes, e colocou no poder Getúlio Vargas.

Em Alagoas, foi nesse ambiente de radicalidade política, mantido também nos dias após o pleito, enquanto se aguardava o resultado — divulgado em 21 de maio —, que aconteceu a agressão covarde ao comerciante e eleitor Liberal, Marcolino Ribeiro da Silva.

Pipiu, como era mais conhecido, foi durante muito tempo proprietário de um depósito de madeira e comerciante de antiguidades.

Arnoldo Jambo o descreveu como “um tipo, quase baixote de estatura, bigodudo, aparentemente manso. Vestia nas poucas vezes que o vi, roupas simples, mas daquelas muito comuns nas fotografias de tipos de outros tempos”.

Marcolino Ribeiro da Silva era filho de Marcolino Ribeiro da Silva e de Francisca Ribeiro da Silva. Seu pai, em 1891, era comerciante de tecidos e proprietário de uma descaroçadeira de algodão em Murici, onde chegou a ser nomeado adjunto do Promotor Público de Murici. Foram seus irmãos: Procópio Ribeiro da Silva, Alípio Ribeiro da Silva, Virgílio Ribeiro da Silva e Octávio Ribeiro da Silva.

Esse “aparentemente manso”, mas corajoso militante da causa Liberal, no dia da eleição foi designado para fiscalizar a urna de Ipioca, então distrito de Maceió, onde sabia-se que haveria tentativa de fraude por parte do Partido Republicano Alagoano (PRA). Lá, de forma serena e destemida, mesmo diante das ameaças de membros da Força Policial, Pipiu garantiu que os votos dados a Getúlio Vargas continuassem na urna.

Adalberto Marroquim

Sua atuação não agradou aos Republicanos, mas os comentários e as bravatas do Pipiu no “plenário” do Relógio Oficial na Rua do Comércio incomodavam muito mais. Do tipo falador, não poupava “elogios” a Adalberto Marroquim (vice-governador e secretário do Interior), ao senador Costa Rego e ao seu grupo.

Para calar o comerciante, forças ocultas governistas e amigas de Costa Rego resolveram desmoralizá-lo (posteriormente essa ação foi atribuída a Adalberto Marroquim, que se preparava para disputar o governo).

Na segunda-feira, 3 de março — a eleição tinha ocorrido no dia 1º de março, sábado — às 9h da manhã, quando ele saía de um estabelecimento em frente ao Relógio Oficial, foi agarrado “por seis indivíduos que o derrubaram em pleno centro da rua do Comércio, ficando quatro sobre ele (um dos quais com uma Smith Wesson sobre a cabeça da vítima) e os dois outros, também armados, ameaçavam as pessoas que procuravam socorrer o agredido” (Diário da Manhã de 12 de março de 1930).

Esse mesmo jornal pernambucano informa ainda que “o intuito dos bandidos era cortar o bigode do sr. Ribeiro, o que fizeram, sem que os guardas civis do ponto tomassem qualquer atitude em defesa do cidadão estupidamente assaltado em plena rua”.

Pipiu, que foi esmurrado e teve o vasto bigode aparado com uma faca, conseguiu sua vingança meses depois.

Rua do Comércio e um comício no Relógio Oficial em 1930, logo após o anúncio da derrubada do presidente Washington Luiz

Às 17h30 do dia 3 de outubro de 1930, revolucionários comandados por Oswaldo Aranha e pelo alagoano Pedro Aurélio Góis Monteiro tomaram o Quartel General do Exército em Porto Alegre, prendendo o comandante da 3ª Região Militar, general Gil de Almeida, e seu chefe do Estado Maior, coronel Firmo Freire. Estava em curso uma das trocas de poderes que mais provocariam mudanças no Brasil, a Revolução de 1930.

Em Alagoas, o governador Álvaro Paes ainda tentou estabelecer resistência, mas diante da aproximação das tropas revolucionárias vindas de Pernambuco, arrumou as malas às pressas e na noite de 10 de outubro fugiu numa barcaça rumo ao Sul.

Nas ruas, o povo se confraternizava e vários grupos faziam atos de hostilização às instituições que serviram aos apoiadores de Júlio Prestes, Costa Rego e Álvaro Paes. Alguns desses movimentos eram inflados pelo ex-governador Fernandes Lima.

Num desses agrupamentos, que se formou em frente ao Jornal de Alagoas, importante veículo de comunicação da campanha de Júlio Prestes — pertencia ao recém-eleito deputado federal e jornalista Luiz Silveira, com participação de Costa Rego —, estava Pipiu.

“Um velhote baixo, de longos bigodes brancos, saca da cintura uma arma e atira contra o velho órgão da imprensa alagoana”, descreve a vingança De Araújo Costa em Poeira do Meu Caminho.

Imagem ilustrativa

Cinco anos depois, em 7 de março de 1935, o revolucionário de 1930, Silvestre Péricles de Góis Monteiro, candidato ao governo de Alagoas, se desentende com o irmão Edgard de Góis Monteiro, que havia sido cooptado e assumido a chefia de Polícia do governo de Osman Loureiro, adversário de Silvestre.

O desencontro dos Góis Monteiro termina em tiroteio na frente do Hotel Bella Vista, onde estava hospedado Silvestre. Na rua, a Força Policial de Edgard; dentro do Hotel, Silvestre e correligionários em armas. Mais de duas dezenas deles.

E quem estava entre os entrincheirados? Ele mesmo, Pipiu, que juntamente com Silvestre e seus apoiadores foram posteriormente detidos e responderam a processo, como determinou o juiz federal Joaquim Ramalho.

Com uma boa defesa, todos ficaram em liberdade após breve estadia no Quartel do 20º BC. Sobre o Pipiu não se teve mais informações.

Deixe um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*