Vida e obra do monsenhor Hildebrando Veríssimo Guimarães
Hildebrando Veríssimo Guimarães nasceu em Mata Grande, Alagoas, no dia 31 de agosto de 1929. foi o último dos dez filhos de Veríssimo Júlio Guimarães e Joana Barbosa Guimarães.
Estudou até os 12 anos em sua terra natal, saindo depois para Maceió onde cursou os preparatórios no Seminário Nossa Senhora da Assunção.
Cumprida esta primeira etapa para a formação sacerdotal, cursou Teologia no Seminário Central de São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Nesta época o seminário funcionava nas dependências do Colégio Máximo Cristo Rei, atual Centro de Espiritualidade Cristo Rei.
Em paralelo, Hildebrando também cursava Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul. Pouco conhecido como profissional da comunicação, foi o primeiro jornalista diplomado a atuar em Alagoas. Fez parte da primeira turma (com 48 alunos) daquela Faculdade, que iniciou o curso em 17 de março de 1952 e foi diplomada em 10 de dezembro de 1954 (Hildebrando não compareceu, já estava em Alagoas).
Antes mesmo de concluir oficialmente o curso no Seminário em 9 de janeiro de 1955, no Rio Grande do Sul, voltou para Alagoas, onde, em Penedo foi ordenado “sob a imposição das mãos e a oração consecratória de Dom Frei Felício César da Cunha Vasconcellos – O.F.M., 3° Bispo Diocesano de Penedo”, como esclareceu o professor Moezio Vasconcelos.
Celebrou sua primeira missa em 8 de dezembro de 1954, na igreja de sua terra natal, Mata Grande, Alagoas.
Um ano depois foi designado como professor e diretor do Colégio Diocesano de Penedo, onde chegou no dia 16 de janeiro de 1956. O bispo era o franciscano Dom Felício César da Cunha Vasconcellos, que por lá permaneceu até 3 de abril de 1957.
Quando assumiu a direção, o Colégio Diocesano vinha enfrentando problemas administrativos e disciplinares que o levou a ter somente 78 alunos e a fechar o internato.
No ano seguinte, padre Hildebrando Guimarães havia recuperado alguns alunos para o Colégio e colocado o internato para funcionar novamente, além disso restaurou a Banda Marcial, criou o Ginásio Noturno e o Curso Científico.
Em 9 de novembro de 1957, Dom José Terceiro de Sousa chegou à província eclesiástica de Alagoas para, em 19 de março de 1958, assumir a Diocese de Penedo. Em parceria, contribuíram muito para o desenvolvimento da região.
Padre Guimarães, como também era conhecido, participou como um dos três cotista da fundação, em 1959, da Emissora Rio São Francisco em Penedo. Também foi diretor deste empreendimento por algum tempo. A pioneira no interior de Alagoas foi ao ar no dia 25 de abril de 1959, em fase experimental.
Ameaça de prisão
Com o Golpe Militar de 1964, teve início um período de perseguição a tudo que pudesse ser identificado como subversão. A caça aos comunistas ou a seus aliados terminou por atingir também setores da igreja católica em Alagoas, principalmente os que estavam envolvidos na formação dos Sindicatos Rurais.
Essa participação da igreja junto aos movimentos sociais cumpria orientação da Ação Católica, que disputava com as organizações de esquerda a direção destas entidades.
O coronel Carlindo, comandante da guarnição militar em Alagoas, foi o principal responsável pelos inquéritos militares contra dezenas de ativistas políticos. Segundo o jornal Diário de Notícias, de 13 de junho de 1964, foi ele quem repassou ao promotor militar Eraldo Queiroz Leite, em Recife, uma relação com 200 indiciados.
Destes, somente 53 tiveram a prisão solicitada pelo Ministério Público Militar “em face das considerações contidas no Inquérito policial-militar”.
“Na relação figuram, entre outros nomes, o do vice-governador [Teotônio Vilela], cônego Hildebrando Veríssimo Guimarães, e padre Teófanes Augusto Barros, diretor da Faculdade de Filosofia”, detalha o jornal revelando ainda que Juscelino Kubitschek também era mencionado no inquérito “como pessoa que mantinha relações com elementos envolvidos nos casos de subversão”.
Diante desta ameaça, a Igreja Católica atuou em favor do padre, que permaneceu trabalhando no jornal O Apóstolo, na Rua Fernandes Barros em Penedo, onde era revisor.
Quando foi expedido o mandato de prisão para ele, o delegado, tenente Bento de Assis Mendes, deu um jeito de anunciar com alguns minutos de antecedência a sua chegada à sede do jornal, que se daria próximo das quatro horas da tarde, dando tempo ao padre Hildebrando de escapar pelos fundos do prédio e, em seu jeep azul, tomar o destino de Mata Grande, onde a família o escondeu.
O próprio vice-governador Teotônio Vilela, que posteriormente foi retirado da lista dos acusados de subversão, também atuou em defesa do amigo padre Hildebrando. Nenhum dos três citados pelo jornal foi preso.
Quando voltou a Penedo, padre Hildebrando foi recebido com festa pela igreja e pela sociedade local, confirma o radialista José Luiz Passos.
Cooperativa de Penedo
Outra iniciativa que contou com a participação decisiva do padre Hildebrando Veríssimo Guimarães e que teve repercussões políticas em Alagoas foi a organização da Cooperativa Agrícola de Penedo em 1962.
O projeto desta instituição nasceu com o bispo da Diocese de Penedo, D. José Terceiro de Souza, que também tinha participação na direção da Colônia Pindorama.
Segundo o Diário de Pernambuco de 17 de janeiro de 1967, a cooperativa criada por D. José Terceiro, “apesar de fundada em 1962, só há dois anos [1965] é que começou a funcionar”.
Quem orientava os colonos era o padre Hildebrando “com a ajuda de técnicos alemães, japoneses e alguns extensionistas brasileiros”, explicou o jornal pernambucano, acrescentando que o padre valorizava a educação do homem acima da posse da terra e do dinheiro.
“E é esse um dos objetivos da Cooperativa: mostrar as outras paróquias da Diocese de Penedo e mesmo para outras Dioceses nordestinas que a reforma agrária é possível”, esclareceu Hildebrando.
O Correio Braziliense de 22 de março de 1967 anunciou a existência dessa colônia agrícola como uma “reforma agrária sem alarde”, dirigida pelo padre Hildebrando Guimarães. Revelou a reportagem que a Aliança para o Progresso, projeto dos EUA, “colaborou de várias maneiras, possibilitando inclusive a eletrificação rural da vila da cooperativa”.
“A construção das casas e a assistência técnica para a parte agrícola contaram com a ajuda financeira da Alemanha Ocidental. Hoje a localidade possui uma fábrica de vassouras, uma serraria entrará em funcionamento brevemente, e já se estuda a implantação de uma fábrica de suco de maracujá. Quando totalmente implantada, a colônia contará com 90 famílias”, concluiu o jornal.
Vigário Geral de Penedo
Em 1967 foi nomeado vigário da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, em Penedo, onde permaneceu até 1976, quando foi deslocado para São Miguel dos Campos, mas atendendo também a Campo Alegre e Boca da Mata.
Voltou a Penedo em 26 de janeiro de 1994 como Administrador Diocesano de Penedo, respondendo pela Diocese enquanto aguardava o substituto de Dom Constantino Josef Bernhard Lüers – O.F.M., que havia renunciado.
Já havia ocupado a mesma atribuição quando do falecimento do padre Manoel Vieira de Melo, época em que o Administrador Diocesano ainda era conhecido como Vigário Capitular.
Pouco antes de falecer vítima de câncer em 6 de agosto de 1994, foi avisado que seria ele mesmo quem assumiria o bispado. Lamentavelmente não conseguiu viver o suficiente para receber em vida esta obrigação.
Dom Valério Breda somente foi entronizado em 19 de outubro de 1997.
São Miguel dos Campos
Em 1979 assumiu a paróquia de São Miguel dos Campos, a maior da Diocese de Penedo, onde permaneceu por quase 15 anos.
Foi ele quem construiu a Creche e a Igreja de N. S. de Fátima, no bairro de Fátima.
Ergueu ainda o Salão Paroquial, a Casa Paroquial de São Miguel e de Jequiá da Praia, e a Igreja Nossa Senhora do Livramento em Roteiro.
Como educador, em 1993 assumiu o cargo de Presidente do Conselho Comunitário Cenecista da Escola Cenecista de São Miguel dos Campos.
Campo Alegre
Seu primeiro grande feito em Campo Alegre, onde começou o pastoreio em 1976 como vigário paroquial, foi a inauguração, em 3 de abril de 1978, da primeira escola de primeiro grau maior. Em 1982, graças ao seu empenho, o curso de Magistério entrou em funcionamento naquele município.
Para a Escola Cenecista Miguel Matias, onde era professor e foi diretor por dez anos, comprou com recursos próprios os instrumentos da primeira fanfarra.
Ainda em Campo Alegre, conseguiu recursos para erguer a capela e depois criar a Paróquia. Ajudou também a erguer a nova Igreja Matriz daquela cidade.
Foi dele a iniciativa para a construir a Vila São Francisco (atual Luziapólis) e assim dar moradia aos mais carentes. Lá ergueu o Centro Comunitário Paroquial e a Igreja de Santa Luzia.
Deixou aquela paróquia em 1989, após 13 anos de serviços prestados a comunidade.
Boca da Mata
Em Boca da Mata atuou durante 14 anos. Quando assumiu a cidade tinha somente a capela. Por sua iniciativa foi erguida a Igreja Matriz de Santa Rita de Cássia.
Cosntruiu a casa paroquial e foi fundador da Feira da Fraternidade.
Enquanto esteve em Boca da Mata foi professor da Escola Dr. João Evangelista Tenório.
Ufal
Como também era professor da Universidade Federal de Alagoas, assumiu entre 7 de junho e 24 de outubro de 1975 a Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários e Estudantis. Foi durante o período em que o vice-reitor João Azevedo completou a gestão do professor Nabuco Lopes, que foi substituído pelo professor Manoel Ramalho, em novembro de 1975.
Segundo o professor Moezio Vasconcelos Costa, monsenhor Hildebrando voltou a esta mesma Pró-Reitoria durante a gestão plena do professor João Azevedo.
Monsenhor Guimarães foi ainda membro do Conselho Estadual de Educação, professor da rede estadual de ensino e diretor do Sindicato dos Jornalistas do Estado de Alagoas.
Homenagens
Após sua morte, em 6 de agosto de 1994, recebeu diversas homenagens, passando a denominar vários equipamentos urbanos em Alagoas.
Escola Municipal Monsenhor Hildebrando Guimarães, em Campo Alegre.
Biblioteca Pública Municipal Monsenhor Hildebrando Guimarães, em São Miguel dos Campos.
Rua Monsenhor Hildebrando Guimarães, na Barra de São Miguel.
Rua Monsenhor Hildebrando Veríssimo Guimarães, no bairro Antares em Maceió.
Parabens a quem teve essa ideia desse documentario sobre Padre Guimaraes, muita coisa eu nao sabia. Ele era tio do meu pai Sebastiao Guimares. E eu lembro dele celebrando a missa dos meus 15 anos em Mata Grande .
Deixou uma história rica de boas ações e um legado que deve ser seguido por outros líderes religiosos.
Tive o prazer de vê-lo por algumas vezes em visita a sua terra natal.
Fico feliz em fazer parte desta história. O Guimarães me levou pra Penedo em novembro de 56. Fui morar no Diocesano com ele, realmente não tinha internato, só em 57. Acompanhei parte de suas atividades, como fundação da Emissora, a Cooperativa e tb as perseguições políticas da revolução. Grande guerreiro. O que sou devo a ele.
Parabéns por revelar ao mundo , esse homem fantástico. Meu tio e meu ídolo . Homem de fé e construtor de um mundo melhor . Conheci quando criança a cooperativa , junto à minha avó Joaninha e minha mãe Adelaide e foi a primeira lição de fraternidade . Tudo o que ele fez , além dos seus sermões que não cansava de escutá-lo era maravilhoso . A sua passagem para outra vida deixou um vazio imenso , mas ficou o forte testemunho de um grande homem .
Foi um dos grandes intelectuais do sacerdental das terras dos Caetés, deixou um fundo conhecimento de amor e de vida para os alagoanos, seu nome sempre será lembrando dentro do contexto histórico e cultural do município de São Miguel dos Campos e do estado de Alagoas. Sou grato por ter escrevido também sobre ele.
Maravilha o seu texto. Só peço humildemente que corrija o parágrafo que informa que padre Guimarães foi ordenado em 9 de janeiro de 1955. Antes em dezembro de 1954 teria celebrado em sua terra natal, Mata Grande. Primeiro vêm a Ordenação para depois, já ordenado o Neo Sacerdote celebra a sua primeira Missa.
Obrigado, André Soares. Realizamos as correções, contando também com as informações fornecidas pelo professor Moezio Vasconcelos.
Trilhou junto com meu pai Jose Damasceno Lima seminario menor em Maceio seminario maior em Sao Leopoldo, paroquia em Penedo, radialismo, jornalismo, colegio diocesano, Ufal e Conselho estadual. Amigos inseparaveis
Muito pertinente tal homenagem ao grande homem de Deus, Monsenhor Guimarães assim o chamavamos no seminário e nas convivências pastorais. Tenho saudades dele…
Obrigada Pe . Rosival por todo carinho . Meu tio foi incansável como homem de Deus e um Pai para toda a família . Sinto muita falta dele .
Fiquei feliz em saber um pouco da sua história, conheci quando era criança, primo do meu pai, fez o casamento dos meus pais e batizou minha irmã. Luiz José Gomes Guimaraes.
Certamente é um bela história que nos honra.
Muito merecida esta homenagem. Tive a honra e o privilégio de conviver com este grande servo de Deus por muitos anos em Boca da Mata. Homem de uma coragem sem tamanho e de um caráter inabalável. Sinto saudades.
Merecida homenagem ao Padre Guimarães como também era conhecido, era devoto de Nossa Senhora. Meu professor Colégio Estadual em Penedo. Anos depois colegas no Conselho Estadual de Educacao. Extraordinário homem de Fé.
Um homem a frente de deu tempo e que deixou um legado irretocável para muitos não só na Diocese de Penedo mas em toda a Alagoas. Graças a ele, a educação começou a ser interiorizada com acesso para todos. Deus o abençoe.
“Tio Maninho”, como o chamava, era um ser humano que, além de competente no que se dispunha a fazer, era boníssimo, cheio de vida, alegre e incrível!
Sinto-me honrada em ser sua sobrinha e ter podido desfrutar de muitos momentos de descontração ao lado dele!
Uma pena ter-nos deixado tão cedo!
Vela por nós, tio Maninho!
Obrigada, Ticianeli pela homenagem que fizeste, resgatando a memória de quem muito contribuiu para a Igreja e para a formação de pessoas!
Relato muito bem feito e muito bem merecido, mas ainda farei algumas considerações que não foram relatadas aqui. Nós éramos grandes amigos. Trabalhamos juntos na Ufal.