Valdemar Cavalcanti
Rafael Cavalcanti *
A história de Valdemar Cavalcanti (1912-1982) se confunde com a própria trajetória da literatura nordestina e do jornalismo brasileiro. O alagoano completaria 104 anos no dia 29 de março.
Jornalista, crítico literário e funcionário público (IBGE), Vavá, como era conhecido pelos amigos, fez parte de uma das maiores e mais refinadas safras de escritores regionais brasileiros. Um grupo de estudiosos que exerceu grande influência no Nordeste, entre filólogos, romancistas e críticos literários, como os amigos Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Jorge Amado, Raquel de Queiroz, José Lins do Rego, Aurélio Buarque de Holanda, José Condé e Santa Rosa, entre outros.
No jornalismo, Valdemar tornou-se o primeiro crítico literário, e o pioneiro como colunista diário do jornalismo impresso, pelo ‘O Jornal’, de Assis Chateaubriand, onde por duas décadas manteve a coluna ‘Jornal Literário’.
A ligação de Valdemar com o jornalismo começou cedo, aos 16 anos, quando ocupou o cargo de redator do Jornal de Alagoas e depois da Gazeta de Notícias. Nomeado secretário da prefeitura de Maceió aos 20 anos, não deixou o jornalismo de lado.
Pelo órgão da Arquidiocese ‘O Semeador’, liderou em 1924, em Maceió, a Semana de Arte Moderna, da qual participaram, entre outros, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Carlos Paurílio, Aluísio Branco e Lourenço Peixoto.
Uma de suas maiores obras nasceu em 31, quando fundou com Alberto Passos Guimarães o semanário cultural ‘Novidade’, que circulou de 11 de abril a 26 de setembro na capital alagoana. Até hoje a revista é uma referência no meio acadêmico e literário. E poucos produtos culturais retrataram tão bem uma geração como a revista, que deu voz à corrente propagada por Gilberto Freyre (escreveu um artigo) e pelo Centro Regionalista do Nordeste. A revista funcionou como reação ao Modernismo da fase histórica, de 22. O jornalista e crítico literário seria muito importante para o conhecimento da vida artística e literária de Alagoas.
Ainda em Maceió, Valdemar datilografou os originais de ‘Menino de Engenho’, clássico do amigo José Lins do Rego, com quem mais tarde veio para o Rio de Janeiro, em 1933, onde trabalhou no Diário Carioca e fez crítica literária no Diário de Notícias. Zé Lins, inclusive, foi um dos grandes amigos de Vavá, principalmente na capital carioca, companheiro no ‘Sabadoyle’, encontro de intelectuais na casa de Plínio Doyle; ou nas partidas de futebol do Flamengo, paixão em comum dos dois rubro-negros.
No ano seguinte, em 1934, voltou ao Nordeste, convidado para assumir o Diário de Pernambuco como secretário de redação, no Recife. Dois anos mais tarde voltou para sua terra natal, onde dirigiu a Gazeta de Alagoas, de Maceió.
Em 1937, regressou ao Rio de Janeiro para trabalhar no IBGE, onde foi diretor de Documentação e Divulgação do Conselho Nacional de Estatística, sendo um dos principais responsáveis pela publicação da Enciclopédia dos Municípios Brasileiros.
Paralelamente, dividia seu tempo com o jornalismo, voltando às atividades no Observador Econômico e Financeiro. Foi redator-chefe do Jornal de Letras e diretor do ‘Suplemento Literário’ de O Jornal, dos Diários Associados, tornando-se o primeiro jornalista brasileiro a ter uma coluna diária.
Atuou ainda nas revistas Vamos Ler, Revista do Brasil, O Cruzeiro, Revista Bancária e Carioca e nos jornais Diário de Notícias, Folha Carioca e Diretrizes.
Membro da Academia Alagoana de Letras (AAL), onde ocupou a cadeira 32, publicou em 1960 o seu único livro, ‘Jornal Literário’, pela José Olympio.
Valdemar também foi membro honorário da Academia Francesa de Letras e levantou, em 1965, o Prêmio Jabuti, como Melhor Crítica e/ou Noticiário Literário (Jornais), além do consagrado Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (ABL), principal premiação literária no país, além do prêmio Estácio de Sá de Literatura em 78, entre outros.
Faleceu em 19 de junho de 82, em casa, na Rua Jota Carlos, no Jardim Botânico, onde viveu no Rio de Janeiro, em companhia de sua mulher Gerusa Xavier, e criou seus dois filhos, Roberto e Sérgio. O acervo de mais de 80 mil títulos, herança de sua vida dedicada à literatura e ao jornalismo, foi doado à biblioteca da Casa de Rui Barbosa, em Botafogo.
* É jornalista e neto de Valdemar. Artigo publicado na Gazeta de Alagoas na edição de 14 de abril de 2012.
***
NOTA DA EDITORIA DO HISTÓRIA DE ALAGOAS
Quando do seu falecimento em 19 de junho de 1982, o Diário de Pernambuco (22 de junho) publicou algumas informações sobre Valdemar Cavalcanti. Resumidamente, são estas:
– Aos 14 anos era responsável pela seção de cinema e esportes do jornal O Semeador, da Arquidiocese de Maceió;
– Foi redator do Jornal de Alagoas e Gazeta de alagoas;
– Aos 20 anos era Chefe de Gabinete da Prefeitura de Maceió;
– Introduziu o frevo em Maceió, junto com José Lins do Rego;
– Em 1924, liderou a Semana da Arte Moderna em Alagoas;
– Leu e datilografou os originais de “Menino de Engenho“, “Doidinho” e “Banguê“, de José Lins do Rego, e “São Bernardo“, de Graciliano Ramos;
– Dirigiu o Suplemento Literário de O Jornal;
– Antes de falecer era o redator-chefe do “Jornal das Letras“;
– Era da Academia Alagoana de Letras e oficial da Academia da França.
***
OUTRAS INFORMAÇÕES
Seu nome de batismo era Waldemar Cavalcante.
Nasceu em Maceió em 29 de março de 1912 (Carlos Moliterno, em Notas sobre a Poesia Moderna em Alagoas, registra a data do seu nascimento como 6 de abril de 1912). Casou-se com Gerusa Xavier Cavalcanti.
Era filho do major Pedro Alvim (ou Alvino) Cavalcante e de Francisca de Souza Almeida Cavalcante.
Irmãos:
Cláudio Cavalcante – nasceu em Maceió em 16 de janeiro de 1905.
Filho:
Sérgio Cavalcanti
Neto:
Rafael Cavalcanti
Se estabeleceu no Rio de Janeiro em 1937 e trabalhou como jornalista para o Diário de Notícias, Boletim de Ariel, Rumos, Revista do Brasil e O Jornal.
Não sabia que Valdemar Cavalcanti tinha tido uma biblioteca tão grande. Admiro-o pelo seu único livro original, Jornal Literário. Há mais notícias sobre esse crítico, grande leitor e estilista primoroso?