Mestre Tonho Lambe-Sola, sapateiro e poeta
Nascido Antônio Aurélio de Morais no dia 27 de setembro de 1927 em Atalaia, Zona da Mata alagoana, ficou órfão ainda criança e foi morar em Viçosa onde começou a trabalhar batendo solas. Foi lá que pela primeira vez teve contato com a poesia.
Como sapateiro, repentista ou declamador de poesias, percorreu o interior de Alagoas e de Pernambuco até 1953, quando resolveu se fixar em Arapiraca, onde participou dos programas de auditório Pescando Estrelas e Buscando Astros, que eram transmitidos por um sistema de alto-falante colocado no Cine Trianon.
Conseguiu ser alfabetizado quando já morava em Maceió. Seu interesse pelas letras e o aprendizado com as gramáticas lhe pôs em contato com novos vocabulários, o que lhe permitiu escrever as poesias que o tornariam famoso.
O poeta Sidney Wanderley, ao apresentar o livro Versos de um Lambe Sola, assim se refere a esse período da vida de Antônio Aurélio.
“Apenas depois (e apesar) de alfabetizado, é que Mestre Tonho danou-se a compor seus versos matutos, utilizando-se para tanto das corruptelas características do linguajar caipira, lançando mão das aféreses (enferrujando e inteligente convertem-se em ferrujando e teligente), das síncopes de gerúndio (permanecendo por permaneceno) e das anaptixes (advogado transforma-se em adevogado ou devogado) – recursos estes que sofrem sistemática e impotente condenação dos estudiosos do folclore, entre eles Théo Brandão.”
Na sua banca de sapateiro era possível ver o minidicionário Aurélio, de onde retirava algumas palavras que eram emolduradas e fixadas nas paredes de seu barraco. Escritas a lápis, lá estavam: “pélago”, “palinódia”, “obumbramento” e “bestialógico“, entre outras.
No início dos anos 70, o então estudante de Medicina Ernane Santana, um apaixonado pela poesia popular, foi levado pelo seu colega Josimar França para conhecer Mestre Tonho.
Josimar era também morador da Rua do Sopapo, além de cantor e compositor premiado nos festivais universitários da época. Ernane, que se criou entre cantadores de Colônia Leopoldina, ficou encantado com a produção do sapateiro e passou a divulgar suas poesias no meio universitário.
Quando da sua formatura, em 10 de dezembro de 1971, Ernane foi o orador na Aula da Saudade e levou Mestre Tonho para declamar a poesia Criança não é Cachorro.
O hoje dr. Ernane Santana lembra que o sapateiro guardava suas poesias num velho caderno Avante. “Falei para ele que devia publicar o seu trabalho. Eu e o Josimar estimulamos ele a lançar o livro, coisa que só aconteceu dez anos depois“.
Ernane recorda ainda que ele e Josimar passaram a divulgar as poesias do Mestre Tonho em todos os eventos que participavam. “Declamávamos nos festivais de música, como no dos Bancários. Até no Festival de Verão de Marechal Deodoro apresentamos as poesias dele”.
Foi em 1981, apoiado por um grupo de admiradores, que Mestre Tonho conseguiu publicar Versos de um Lambe Sola.
Os exemplares do livro foram vendidos rapidamente, o que permitiu que o poeta comprasse uma casinha de tijolos e telhas. Antes morava em um casebre de taipa e chão de barro batido. O sucesso do livro foi tão grande que em 1991 foi reeditado com ampliação e em 2007 a Editora Catavento voltou a publicá-lo.
Na virada do século, com a idade avançada e doente, Mestre Tonho não conseguia mais trabalhar como sapateiro e voltou à sua terra natal.
Continuou a fazer poesia até 2004, quando os problemas de saúde se agravaram e o velho poeta passou a ter dificuldade para se locomover e ficou quase sem enxergar.
Faleceu aos 88 anos no dia 2 de novembro de 2015. Estava internado no Hospital Geral do Estado com insuficiência respiratória.
Já doente e de volta à Atalaia, em conversa com Sidney Wanderley sobre as dificuldades e privações que vinha passando, filosofou: “Eu bato na sola conforme a vida me bate, e, ultimamente, a vida tem me batido com bem mais força e insistência do que eu na sola.” E arrematou: “Entre uma batida e outra, eu sigo fazendo os meus versinhos.”
Sua poesia mais declamada, “SALARO-MIMO“, foi amplamente divulgada por Paulo Poeta no final dos anos 70 e início do 80.
Quem ganha u salaro mimo
Nunca tem buxo quebrado
Nunca morre impanzinado
Nem perciza dafecá
Si vancê ganha um salaro
Nem perciza sanitáro
Nem papé mode limpá.
Meus dente tá ferrujando
Num sêio mai nem cumê
Só sêio mermo dizê
Qui quem um saláro ganha
Si morá in Maçaió
Vai vivê cum fiofó
Xêio di têia de aranha.
Si minha muié tá maga
Eu tô munto mai pió
Dibaxo du meu lançó
Um dia nói si perdeu
Percurei cás mão cús pé
Nem eu axei a muié
Nem a muié axô eu.
Meu fio naceu tão mago
Qui ao dispôi di trêis mêis
Foi qui a dotôra Inêis
Axô i butô num copo
Só discubriu qui era maxo
Quando calocô prú baxo
A lente du miscrocropo.
Eu tô já cumendo rato
Prá fazê ispcriênça
Pruquê já diz a ciênça
Prá banda du Ariente
Qui rato di Sumitéro
I difunto du nocrotéro
Já é cumida di gente.
Só tem uma salução
Pra nois pobre brazilêro
É inguli ôço intêro
Qui nem avestrui ô êma
Ô antão num cumê mai
Tapá a porta di trai
Tá rizurvido u probrema.
Nu mundo tem munta arma
I jeito di matá gente
Porém a arma valente
Qui mata sem cumpaxão
É essa arma infeliz
Qui si xama in meu Paiz
Saláro mimo patrão.
Conheci-o um pouco. Aquela foto da casa, lembrei, foi eu quem reformou depois que ele desocupou, me instalei lá, e sempre quando ele vinha á Maceió, sempre aparecia lá pra conversar com o pessoal.
Esqueci de dizer que fui presenteado com o livro dele que tem os verso aqui descritos
Senhores,
Fui amigo do Tonho Sapateiro, morei na rua Formosa e tive o prazer de sentar muitas vezes em sua tendinha na esquina da rua Formosa para conversarmos e fazermos algumas parcerias, eu com meu violão e ele com seus versos. Fui eu que fiz a primeira capa do seu primeiro livro, Fiquei muito triste porque descaracterizarão totalmente o desenho original e ainda por cima ASSINARAM COMO AUTOR.
PRECISO QUE VOCES ME AJUDE A LOCALIZAR OS RESPONSAVEIS, POIS, ELES VIOLARAM UMA OBRA ASSINADA POR MIM. TENHO PROVAS DA CAPA DO SEU PRIMEIRO LIVRO.
CONTATOS: 61-9239-9951
Atenciosamente;
Paulo Cesar Cavalcante
Grata, pela prontidão da resposta, vou comprá-lo.
Que triste!
Procurei muito por ele e quando finalmente o encontrei, descobri que havia falecido recentemente. Sou sua sobrinha, me chamo Jaci de Moraes, filha de Luiz Moraes de Albuquerque (seu irmão).
Queria muito saber de uma irmã dele que se chama Maria Geruza (endereço ou algum telefone) ou algum familiar.
Desde já agradeço a atenção!
PS: meu facebook é Jaci manias, meu zap:(22)999895148
Senhores, sou estudioso e promotor dos versos de Tio Tonho. Estudei na UFAL – letras e conversava muito com Tio Tonho, ali na rua Formosa. Moro em São Paulo. Em 2012 visitei-o em Atalaia, passamos horas e horas relembrando seus versos. Sou professor, poeta cordelista e xilógrafo e membro a Academia Nacional de letras do Portal do Poeta Brasileiro. Em outubro participo em Petrópolis!RJ. no Congresso Nacional de Poetas – e tenho o prazer de fazer um palestra sobre dois poetas alagoanos: Antônio Aurélio de Moraes e o Cordelista – Eneias Tavares dos Santos. Alagoanos, estudiosos,amigos da cultura brasileira, do cordel, da cantoria, dos folguedos, das danças e das artes em geral; enviem para mim, seu possível; mais informações deste grandes mestres. Sou grato. Viva Alagoas!
Sempre o admirei e sinto orgulho de ser naturalizado na terrinha devido essa Cultura
Gosto de declamar algumas de suas poesias entre os amigos
Sou professor aposentado da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e convivi muito com o Tio Tonho em Atalaia, onde fui Secretário de Educação e tive o prazer de fazer a apresentação do livro dele, quando foi lançado pela primeira vez em Atalaia.
Essas relíquias de história enriquecem e valoriza pessoas que nascerão pra fazer brilhar com experiências e o dom que e nato de cada Pessoa.
Pessoas diferenciada relíquias de nossa história.
Bom que essas vozes poéticas de raiz profunda não sejam esquecidas. Alagoas é um um celeiros de poetas-cordelistas-cantadores.