Tanque d’Arca, a antiga Pastos Novos

Tanque d'Arca em 1948

O livro História de Anadia, de Nicodemos de Souza Moreira Jobim, é, sem dúvida alguma, a fonte mais importante para se conhecer como surgiu e os primeiros anos da existência do povoamento que deu origem ao atual município de Tanque d’Arca, em Alagoas.

Publicado em 1880, o livro adota, estranhamente, uma grafia diferente para o local. No capítulo “Descrição Topográfica”, o autor cita, por várias vezes, a existência em Anadia do povoado Tanque d’Aca, e não Tanque d’Arca. Seria uma variação linguística da época ou erro da composição tipográfica?

Tanque d’Arca em 1952, com a chegada do monumento a Padre Cícero na Rua do Bagaço, atual Rua Padre Cícero

O importante é que identifica a existência ali do riacho “Caxoeira ou Tanque d’Aca” e, ao descrever as “Nascentes e confluentes do rio S. Miguel”, localiza o “rio Caxoeira na povoação de Tanque d’Aca, que nascendo na serra deste nome oferece uma água límpida, de sabor fresco e agradável, e em todo leito caldeirões de pedras naturalmente formados com assentos próprios para banhos; rodeia a povoação e desemboca 2 léguas abaixo no sítio denominado Várzea do Sacco”. É um tributário do Rio São Miguel.

A mesma publicação também anota, entre os engenhos então existentes em Anadia, o Tanque d’Aca e o Tanque Escuro, além da povoação de Tanque de Pedra, dando relevo à utilização dos Tanques nos topônimos. Seriam eles os tais “caldeirões de pedra”, também conhecidos como poços em outras regiões?

Outra informação importante para identificar a origem do município foi fornecida no capítulo “Memorial Biográfico de Manoel Rodrigues da Costa”, cidadão que chegou a Anadia em 1802, procedente de Penedo. Em 1826 seu nome foi proposto para capitão da 1ª Companhia “colocada em Pastos Novos, hoje Povoação de Tanque d’Aca…”.

Praça Coronel Francisco Euclides

O Almanak do Estado de Alagoas de 1874 também contribui ao informar que Tanque d’Arca tinha naquele ano 30 casas e 140 habitantes. Segundo Nicodemos Jobim, em 1880 eram 130 casas e o povoado já era “o primeiro ponto comercial [do município de Anadia] pela feira criada aos cuidados do major José Dias da Costa e o negociante João Augusto Grem, tendo lugar a sua primeira reunião em 10 de maio de 1873. Situada a Nordeste da vila [de Anadia] 6 léguas distantes com uma capela e cemitério de alvenaria”.

Esse cemitério de pedra, edificado em 1856, foi instalado sob a orientação do tenente-coronel Imbuzeiro. O pequeno sino foi doado por Nicodemos Jobim em 27 de dezembro de 1876.

A capela de Tanque d’Arca foi fundada em 1860, sob a invocação de N. S. Mãe do Povo, graças aos investimentos do major José Dias da Costa e seus irmãos. Foi demolida em 1880 e uma nova capela foi erguida num local mais alto. A Santíssima Virgem, que foi doada por D. Anna Dias, ficava sob a guarda do alferes Péricles Dias da Costa, que a levava ao oratório sempre que os poucos devotos desejavam rezar o terço.

Também havia culto religioso no lugar conhecido como Limoeiro de Tanque d’Arca, onde existia um pequeno nicho sob a invocação de N. S. da Conceição, erguido por Manoel Pereira em 1870.

Prefeitura Municipal de Tanque d’Arca

O primeiro registro histórico sobre o desenvolvimento da povoação ocorreu em 28 de setembro de 1860, com a nomeação do primeiro subdelegado, o major José Dias da Costa. Seus suplentes eram o capitão Américo Brasileiro da Costa Ouricury e o alferes José Pereira de Souza. Essa indicação somente ocorreu por ter sido Tanque d’Arca promovida a distrito policial.

Outro acontecimento que expõe o progresso do lugar ocorreu com a criação da cadeira para a primeira professora da povoação, oficializada pela Lei nº 327 de 23 de abril de 1858. Lamentavelmente, não chegou a ser provida e foi suprimida em 6 de julho de 1861, em virtude da Lei nº 370.

Em 1891, o Almanak do Estado de Alagoas relacionava Tanque d’Arca como um dos povoados mais habitados de Anadia. Os outros eram Tapera, Mar Vermelho, Pindoba e Santa Rita.

Naquele ano, as lojas de fazendas ali estabelecidas tinham como proprietários Angelo Antonio Alescio, Carlos Luiz de França e Ladisláo da Rocha Guedes. Os Secos e Molhados eram comercializados por Francisco Martins de Almeida, Joaquim Correia Lima, José Pedro Telles, Romoaldo José da Silva Ramos e Themoteo Luiz de França.

Igreja Matriz de Nossa Senhora de Lourdes

Gesival Fonseca, em seu livro “Tanque D’arca e sua gente”, conta a lenda que deu origem ao nome do lugar. Durante uma disputa entre os primeiros moradores e um grupo de ciganos, houve troca de tiros e as arcas que eles carregavam foram atingidas e caíram no chão, próximo a uma fonte d’água aos pés de uma frondosa árvore. Assim, quando se buscava água nessa fonte, se referia a ela como o tanque d’arca.

Segundo esse mesmo autor, vieram do sertão pernambucano as famílias pioneiras que ali se estabeleceram. Manoel Vitorino, Manoel Barbosa e João Alemão construíram as primeiras moradias onde existem as ruas Vereador José Garcez, Hermani Almeida e o Sítio Carrapato. Em seguida também ali se fixou Francisco Gren. Foram estes os que iniciaram o plantio da cana de açúcar, atividade econômica que atraiu muitos trabalhadores, ampliando o primitivo núcleo urbano.

Logo também cresceu a produção de algodão, forçando a instalação de um descaroçador e a construção dos armazéns para a estocagem desse produto e dos cereais.

Unidade de Saúde de Tanque d’Arca

Na revista de junho de 1907 do então Instituto Arqueológico e Geográfico Alagoano, Francisco Izidoro faz a descrição do município de Anadia e anota a existência do riacho Tanque d’Arca e explica que a Serra do Lunga “nas extremidades toma o nome de Canudos e Boqueirão”, no centro é a Tanque d’Arca.

Também cita que Anadia tinha então três juízes distritais, um na sede e os outros em Pindoba e Tanque d’Arca, onde também tinha uma cadeira de instrução primária e era um dos povoados mais importantes até pouco tempo antes: “atualmente [1907] está decadente e o seu comércio fraco. Tem uma capela sob a invocação de N. S. Mãe do Povo, bastante estragada”. A lavoura era variada, destacando-se a do fumo e do algodão.

Do lento desenvolvimento do povoado pode-se destacar instalação da energia elétrica somente em 23 de janeiro de 1926, inaugurada com a presença do governador Costa Rego. Era fornecida pela Empresa Santa Laura, de propriedade do Coronel Chico Euclides. Em 10 de fevereiro de 1927, Costa Rego voltou ao lugar para inaugurar a estrada entre Tanque d’Arca e Mar Vermelho.

No final da década de 1950, algumas lideranças do então distrito de Tanque d’Arca, tendo à frente Paulino de Oliveira Barbosa, iniciaram o movimento por sua emancipação. Esse pleito foi transformado em Projeto de Lei na Assembleia Legislativa do Estado por proposição do deputado Herman Élson de Almeida, com apoio do deputado Mendes de Barros.

Tanque d’Arca

A emancipação política foi conquistada com a publicação da Lei nº 2.507, de 1º de dezembro de 1962. A instalação do novo município somente ocorreu em 24 de janeiro de 1963. O seu território foi desmembrado do município de Anadia. No ato de instalação, que contou a participação do governador Luiz Cavalcante, foi empossado o primeiro prefeito de Tanque d’Arca, José Martins Dantas.

Após sua emancipação, o lugar entrou em nova fase de desenvolvimento, recebendo o serviço de abastecimento d’água e a eletrificação com energia da Chesf, esta nos últimos dias de 1968.

Continuou por muitos anos relacionado entre os menores município de Alagoas. Para se ter uma ideia, em 1965 tinha apenas 343 eleitores. No ano seguinte eram 516.

Atualmente, além de preservar a produção de cana-de-açúcar, também mantém expressivo rebanho bovino.

10 Comments on Tanque d’Arca, a antiga Pastos Novos

  1. Tanque D’Arca, terra de Audálio Dantas

  2. Edberto, saudações tanquedarquense! Trabalho belíssimo e enriquecedor. Nos meus 21 anos de Tanque d’Arca, sempre tenho buscado informações que possam fortalecer essa relação, com o Rio São Miguel, com os engenhos da região e, principalmente com a história dos escravos, que subiam da foz, margeando o pujante rio São Miguel, chegando e fazendo de Tanque d’Arca um lugar seguro para se repôr forças e em seguida, subirem às serras, atravessarem o vale do Paraíba, chegando ao vale do Mundaú, até a serra da barriga, no Quilombo dos Palmares. Parabéns! Você foi cirúrgico na sua briosa pesquisa.👏👏👏👏👏🤝🤝🤝🤝

  3. Claudio de Mendonça Ribeiro // 3 de dezembro de 2024 em 07:56 //

    Muito grato, prezado Ticianeli.

  4. Juveny Montenegro // 3 de dezembro de 2024 em 07:58 //

    Não sou filha de Tanque-d’Arca ,mas é como se fosse ,pois ela pertencia a Anadia e Canudos também, aonde nasci, hoje Belém. No meu registro sou natutal de Anadia. Amo Tanque-d’Arca e sinto muita saudade da infância e adolescência que nela vivi.

  5. Matéria muito bem redigida e ilustrada, pecando apenas por não incluir, entre seus munícipes mais conhecidos, o célebre jornalista Audálio Dantas.

  6. gostei era onde minha biza e minha vó nasceu ela contava essas istorias quando começou a feira ela vendia loucas que elas produzia e passado alguns anos mudou p Papudo descaso Taquarana grota do escuvião onde comprou cem tarefa de terra hoje é a chan do forjo

  7. Pesquisas assim, nesse talento, deveria ser difundida em todos os municípios, para trazer e fazer ser conhecidos por todos a beleza e os encantos da origem das cidades e de seus personagens que lutaram pelo desenvolvimento de cada lugar. Parabéns pelo talento e beleza dessa matéria sobre Tanque d’Arca.

  8. Estimado Sr. parabéns pelo sem material.
    No entanto gostaria de reforçar que nos documentos coloniais, em especial os relativos ao Quilombo dos Palmares, existem menções à Serra das Acas e Serra da Aca. Geograficamente essa serra seria aproximadamente nessa mesma região. Muito mais provavelmente o nome correto não teia nada de Arca e nem de tanque, mas sim de Aca ou Acas. Certamente não tem nenhuma relação com arcas de ciganos, mas sim um nome em Kimbundo, utilizado pelos quilombolas para designar aquela serra. Acredito ser relativo a um grupo de plantas com esse nome popular na África, na língua Kimbundo, que possui algumas plantas rasteiras similares nessa região.
    Até no clássico livro de Ernesto Ennes aparecem umas 4 vezes essa denominação de Aca/Acas.
    Certamente a modificação de ACA para DARCA teve a função de apagar ou minimizar a influência cultural e social dos quilombolas, o mesmo que se vê aqui em Garanhuns, nome de um quilombo (Quilombo Garanhuns), que para embranquecer a história as pessoas preferem inventar versões fantasiosas sobre lobos guarás e sobre anuns.
    Atenciosamente
    Eu cheguei tempos anteriores a acreditar que seria essa Serra das Acas a região de Caetés (PE), na chamada Serra das Vacas (possível corruptela). No entanto fui corrigido por um historiador que entende muito desses documentos coloniais relativos à Alagoas.

  9. Linda historia sobre Tanque d`Arca que já foi chamada de Pastos Novos, Tanque d`Aca, Tanque d´Agua ,pelos que primeiro pisaram aqui , e quando alguem se referia ao pequeno riacho cachoeira lembrava que ali no leito do ´´Riacho Caxoeira´´ havia muitos tanques de pedras, naturalmente desenhados ou esculpidos , hoje soterrados, mas alguns moradores mais antigos ainda contam que se banharam em algum desses tanques de pedra.
    É possivel que seu nome tenha origem em um desses apelidos principalmente Tanque d´Agua , naturalmente as pessoas sem cultura ou dominio da língua pronunciariam ( D´agua) como ( d`Aca) uma vez que a palavra (Tanque ) não resta duvida que vem dos próprios tanques ali existentes e estão diretamente casadas uma com a outra.

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