Rubens Colaço, comunista, perseguido e torturado
Pernambucano de Poço Fundo, um povoado de Santa Cruz do Capibaribe, Rubens Rodrigues Colaço veio ao mundo em 4 de abril de 1930.
Penúltimo filho de José Colaço Lagos e Maria Colaço Rodrigues, deixou o lugar de nascimento fugindo da seca que atingiu a região. A família, seus pais e 17 irmãos, se instalou temporariamente em Quipapá, ainda em Pernambuco.
O próximo destino foi a cidade de União dos Palmares, já em Alagoas. Mas Rubens e o pai ficavam sempre voltando para Poço Fundo na esperança de que a situação melhorasse. Somente em 1945 é que a família deixou o sertão definitivamente para trás.
Aos 15 anos já trabalhava como ajudante em oficinas mecânicas no interior e aprendia música. Como músico – era trompetista -, trabalhou em Alagoinhas, na Bahia; Maruim, Propriá e Neópolis em Sergipe. Em Alagoas, a música lhe deu emprego em Penedo e União dos Palmares.
Rubens Colaço, em depoimento a Geraldo de Majella, narrou que depois de uma passagem por Recife, foi para Campina Grande, onde se aproximou da Igreja Batista e foi batizado pelo pastor Silas Alves Falcão.
Sua convivência com a Igreja Batista não durou muito. Entrou em conflito com a cúpula. Nesse tempo, conheceu o irmão João da Mata, que era da igreja, mas também filiado ao Partido Comunista e já carregava uma prisão, das mobilizações de 1945.
“Daí, despertei para um outro tipo de conceito social. Para mim, o homem tinha que trabalhar, ser honesto, justo, crescer, multiplicar, encher a terra de filhos e servir a Deus”, explicou Colaço. Pela convivência com o ambiente musical, começou a beber e declamar poesias.
Já em Maceió, convivendo com amigos da mesma idade, entre 20 e 25 anos, conheceu Isaac Mendes, que na verdade se chamava Ezequiel de Oliveira Mendes e era guarda-mor na alfândega. Na relação com ele, começou a ler jornais e revistas que lhe levaram a conhecer as ideias do socialismo.
Em 1951, com 21 anos de idade, já vendia os jornais e distribuía boletins do PCB. Sua primeira organização de base foi a do Poço, com sede na casa de Luiz Luna, um alfaiate e militante histórico do Partido Comunista.
Entre 1954 e 1955, casou com Célia Sales Colaço, filha de Francisco Sales Batista, um velho militante comunista. São seus filhos: Raquel, Rosângela, Rubenita, Rubenice, Roland e José Francisco Sales.
Como membro da Associação dos Motoristas de Alagoas, 1954, participou de uma greve e em seguida articulou um grupo para disputar o Sindicato dos Rodoviários. Em 1956, já trabalhava para a Petrobras quando assumiu a vice-presidência da entidade, onde ficou por dois mandatos, até que em 1960 assumiu a presidência.
Rubens Colaço foi preso por Rubens Quintela no dia 1º de abril de 1964, às 3h da manhã, quando voltava de Pernambuco. Ele descreveu assim a conversa que teve com Rubens Quintela no momento de sua prisão:
“- Você é Rubens Colaço?
– Às suas ordens.
– Está preso.
– Por quê?
Ele falou grosso:
– Nós fizemos uma revolução e vocês perderam; desça, venha cá.
Foi me escorando numa guarita, ali onde era a Petrobras, Tabuleiro dos Martins, e perguntou:
– Onde estão as fardas de guerrilheiros que você foi buscar no Recife, vindas de Cuba?
Falei sério:
– Devem estar aí no carro. Seus homens já devem ter achado.
Mas eu falei aquilo por pura ironia; aí ele engatilhou a metralhadora e disse:
– Olha, sua vida está nas minhas mãos. Não tome deboche não, que você morre.
Eu calado estava, calado fiquei.
Ele olhou para mim uns trinta segundos e desengatilhou a metralhadora, botou no ombro e disse:
– Olha, Colaço, vou lhe dar uma oportunidade. Sabendo que se eu estivesse em suas mãos, você não me daria.
Ordenou para seus esbirros que estavam parados em pé, observando o diálogo:
– Levem o homem”.
Recolhido à Penitenciária de Maceió, Colaço foi interrogado pela primeira vez no dia 14 de abril de 1964. Ele recorda quando o delegado Aurino Malta perguntou qual era a sua posição entre Lin Piao, Ho Chi Min e Mao Tsé Tung.
Colaço respondeu: “Olhe delegado, eu não respondo à sua pergunta, porque o senhor não sabe formular”.
Na mesma sessão, Colaço ainda foi interrogado por oficiais do Exército: tenente Saldanha e capitão Dâmaso. Este último chegou a insinuar que Colaço havia rompido com Jayme Miranda e que era um agente de Fidel Castro e de “sua trilogia teórica” em Alagoas, que seria formada por Teotônio Vilela, José Moura Rocha e Maurício Gondim.
Como Colaço não falou nada sobre os seus companheiros e nem sobre a “trilogia”, o Exército o entregou ao delegado Rubens Quintela, que o conduziu num camburão da polícia para o Riacho do Catolé, em Satuba.
No trajeto, houve uma colisão na Praça dos Martírios envolvendo o camburão e a polícia teve que transferir Colaço para outro carro, momento em que foi reconhecido por populares. “Eu acho que isso deve ter contribuído para que eu escapasse com vida”, relatou Colaço.
Já no trajeto, os policiais foram arrancando os fios do bigode do Colaço à ponta de faca. Recebeu uma coronhada nas costas ao descer do carro e sofreu tortura por afogamento durante longo tempo.
“Eu saí do poço no Catolé botando sangue pelo nariz e pela boca”, disse Colaço. Em seguida lhe deram um enxadeco para que cavasse a própria sepultura, depois o levaram para uma cela da Cadeia de Atalaia.
Lá teve as unhas dos pés arrancadas a torquês. Na primeira noite, um grupo de fornecedores de cana tentou entrar na cadeia para trucidá-lo, o que não ocorreu graças à reação armada de um soldado.
Ainda em Atalaia, Colaço entrou em greve de fome, fato que terminou de conhecimento da cidade, o que levou muita gente à porta da Cadeia Pública.
Ao mesmo tempo, sua esposa, sem saber onde eles estava, acampou na porta do Quartel do 20º BC até que foi recebida pelo comandante, coronel Carlindo Simão, que determinou ao capitão Dâmaso que devolvesse Colaço à Penitenciária de Maceió. Durante a sua prisão, Colaço ainda foi vítima de simulação de fuzilamento.
No final do ano de 1964 e início de 1965 foram liberados os últimos seis presos políticos em Alagoas: Roland Benamor, João Moura, José Alípio Vieira, Dirceu Lindoso, Rubens Colaço e Jayme Miranda.
Em liberdade, mas severamente vigiado, Colaço continuou a militância no velho Partidão e, no final dos anos 60 saiu clandestinamente de Maceió e foi fazer um curso na União Soviética, onde fica por dois anos.
Com a mudança do dirigente comunista José Rocha para São Paulo e com a saída de Expedito de Oliveira Rocha, outro dirigente, para o Mato Grosso, Colaço perdeu o contato com direção nacional do PCB, somente retomada após a Anistia, em 1979. Neste período trabalhou como borracheiro em Maceió.
Em 1982, com os militantes do PCB filiados ao PMDB, Rubens Colaço concorreu a uma cadeira na Câmara Municipal de Maceió. Em 1985, com o PCB já na legalidade, Rubens Colaço foi o vice de Nilson Miranda, que concorreu à Prefeitura de Maceió em chapa puro sangue. Nilson teve um pouco mais de mil votos.
No final dos anos 80, Colaço rompeu com o PCB e se filiou ao PT. Em 1990, se preparou para disputar o governo do Estado pelo partido na chapa da Frente Popular (PT, PSB e PCB), mas foi preterido e o candidato escolhido foi o professor Moura do PT.
Rubens Colaço faleceu em Maceió no dia 9 de outubro de 1991.
Fonte principal da pesquisa: Rubens Colaço: Paixão e Vida, de Geraldo de Majella, 2010, Edições Bagaço.
Desde pequena ouvia a minha mãe contar historia deste seu tio, muito legal!!!
Quando entrei no pcb em 1987 esse homem era muito falado mas não lembro se ja encontrei com êle no partidão. Mais tem uma historia de fazer inveja a qualquer militante de esquerda deste país, Eu sou um desses. Parabens geraldo por esse comentario tão bonito.
Quanto aos filhos de Rubens faltou citar Rubenice irmã gêmea de Rubenita.
Fiz o acréscimo, Rubenita. Obrigado por corrigir a nossa falha.