Rosalvo Ribeiro, um mestre da pintura

Um dos maiores nomes das artes em Alagoas, Rosalvo Alexandrino de Caldas Ribeiro nasceu na cidade de Alagoas, atual Marechal Deodoro, em 1863, mas somente foi batizado no dia 26 de novembro de 1865. Era filho de Felipe Ângelo Ribeiro de Britto e de Josephina Izília de Caldas Ribeiro (faleceu em 22 de setembro de 1931 aos 90 anos de idade), proprietários rurais bem-sucedidos.

Seu pai, que faleceu em 11 de dezembro de 1916, também é citado como o major Felippe Adolpho Ribeiro. Foram suas irmãs: Deusdedit Ribeiro, casou-se com o Coronel Jacinto Paes Pinto da Silva; Ritta Ribeiro, casou-se com José da Costa Cutrim; Esmeraldina Ribeiro, casou-se com Adolpho Alencar Guimarães; e Amália Ribeiro, que não casou.

Rosalvo Ribeiro fotografado por Ranulpho em 1906

Rosalvo iniciou seus estudos em Maceió no Colégio Bom Jesus, onde não conseguiu bom aproveitamento, preferindo os livros e os desenhos em “crayon“. Na adolescência continuava envolvido pela arte do desenho.

Passava o dia na porta da marcenaria de Félix Pereira da Cruz, na Rua do Comércio, executando retratos a preços populares.

Somente com a criação do Liceu de Artes e Ofícios foi que começou a estudar as técnicas de Desenho e Pintura.

Em 1884, o presidente da Província viu um dos seus trabalhos e encomendou-lhe um retrato.

Impressionado com o resultado da pintura, Henrique de Magalhães Salles conseguiu que a Assembleia Provincial lhe destinasse uma pensão anual de 1.200,000 réis durante três anos, para estudar na Imperial Academia de Belas Artes no Rio de Janeiro.

Notícias Desagradáveis de 1896

Notícias Desagradáveis de 1896

Chegou ao Rio de Janeiro em 1886 e com quatro meses de estudos já era admirado pelos seus mestres. No final do primeiro ano foi aprovado em primeiro lugar e ganhou uma bolsa para estudar em Paris.

Em setembro de 1888, desembarcou em Paris com o sustento garantido pela bolsa da Imperial Academia de Belas Artes e pela pensão do governo alagoano, que foi majorada e renovada.

Na França, matriculou-se na Academie Julien, dirigida por Jules Lefebvre.

Foi nesta escola que estudou com Jean-Baptiste-Édouard Detaille, um dos mais reputados pintores de temas militares na França do século XIX, e que iria exercer grande influência na produção de Rosalvo Ribeiro enquanto esteve em Paris.

Interior com duas crianças de 1899

Interior com duas crianças de 1899

Estudou ainda na École des Beaux Arts e tomou aulas particulares com o célebre retratista Joseph-Léon Bonnat. Ainda na França, conseguiu se destacar ao participar da decoração artística do Hôtel de Ville (Prefeitura) e do Panthéon.

Em 1894, o governador Gabino Besouro registrou no seu relatório à Assembleia que havia recebido alguns quadros do “pensionista do Estado Rosalvo Alexandrino de Caldas Ribeiro“, que foram enviados para comprovar “o grau de aproveitamento a que já atingiu na sublime arte“.

O governante informou ainda que fez uma exposição com estes quadros e com a obra de outros alagoanos. “Há quadros do Snr. Caldas Ribeiro, que lhe granjeiam incontestável merecimento“, avaliou Gabino Besouro.

Após doze anos em Paris, Rosalvo Ribeiro teve a pensão que recebia do governo cortada e voltou a Maceió em 1901, mas em terras alagoanas não encontrou ambiente para seus temas militares tão valorizados na França. Já estava casado com uma francesa.

Com exceção dos Fonsecas, as principais famílias alagoanas não cultuavam a carreira militar.

O Tambor de Regimento. Acervo do Palácio Marechal Floriano Peixoto

O Tambor de Regimento. Acervo do Palácio Marechal Floriano Peixoto

Sem muita opção, voltou a ser o retratista da sua adolescência, tendo como um dos seus principais clientes o governador Euclides Vieira Malta.

Neste período produziu em pequenas telas rostos da aristocracia rural, burguesia mercantil e industrial da crescente economia alagoana.

Para completar os ganhos, ainda ensinava francês, desenho e executava projetos arquitetônicos, a exemplo da Praça dos Martírios, ou de urbanização como os das praças Deodoro e Dois Leões em Jaraguá.

O excesso de trabalho e o provável descaso com a alimentação levaram-no a contrair tuberculose. Faleceu no dia 29 de abril de 1915 em Maceió.

Aldeia da Bretanha de 1894, França

Reconhecimento

Em 19 de agosto de 1951, o Diário de Pernambuco publicou o texto de uma conferência sobre os pintores do Nordeste que Anibal Fernandes realizou no dia anterior em Maceió, a convite do governador Arnon de Melo.

Ao historiar sobre Rosalvo Ribeiro, reproduziu a afirmação de Moreno Brandão sobre o envolvimento do pintor “nas tricas da politicagem da aldeia” e as perseguições que sofreu, chegando ao ponto de mandarem os garotos insultarem-no nas ruas chamando-o de “Galego”.

“E tantas foram as perfídias feitas a Rosalvo, que este se deixou dominar de invencível tristeza, por estar ferido em todos os seus sentimentos e melindrado nos afetos puros de sua alma”, revelou Anibal Fernandes.

E continuou: “E assim incompreendido e desenraizado, morreu pobremente. A Prefeitura da capital deu-lhe depois o nome a uma rua; o governador do Estado fixou-o, também, no frontão de um Grupo Escolar; a Academia Alagoana de Letras tomou-o como patrono de uma de suas cadeiras; amadores da arte fundaram um Grêmio Rosalvo Ribeiro, que cedo desapareceu”.

E ainda: “E um dia lhe ergueram até um busto. Dizem que houve festas, discursos e banda de música. Pobre Rosalvo, até nos faz lembrar o enterro de Modigliani, em Paris. Modigliani, morto de miséria e de privações atrozes, e diante do féretro humilde os guardas municipais faziam continência; e cujo caixão desaparecia sob o montão de flores, cujo preço lhe teria aliviado alguns dias de fome”.

Concluiu Anibal Fernandes: “Pobre Rosalvo. No dia em que lhe inauguraram o busto, sua desolada viúva assistiu a tudo, anonimamente, misturada no meio do povo. Ninguém sabia — diz-nos um conterrâneo — de sua existência na cidade. Para pagar os trezentos francos por mês que lhe deram os alagoanos, encheu o Palácio de quadros que hoje lhe valeriam milhões. Jorge de Lima exalta a sua honestidade profissional, a sua bondade. Foi em abril de 1915, que ele morreu, aos 48 anos incompletos, encerrando a sua trajetória terrena…”.

O busto foi inaugurado em 26 de novembro de 1940 por iniciativa de um comitê liderado pelo barítono Corbiniano Vilaça e que contava com a participação de Jorge de Lima, Povina Cavalcanti, Américo de Almeida e Carlos Rubens. A ideia, surgida em 1936, tinha sido abandonada.

Corbiniano Vilaça, quando estava em Paris, foi modelo em algumas obras de Rosalvo Ribeiro. Carlos Rubens escreveu um livro sobre o pintor: “Um mestre da pintura brasileira“.

O busto, esculpido por Paulo Mazzucchelli, foi assentado numa praça construída para esse fim no antigo Largo de São Gonçalo, no Farol. Na mesma data da inauguração, a Praça passou a se chamar Rosalvo Ribeiro. Pouco tempo depois, a Ladeira da Catedral, que dá acesso ao local, também recebeu o nome do famoso pintor.

Na herma, também estava afixada uma placa em bronze reproduzindo os pincéis e a palheta do pintor. Dentro desta estava inscrito seu nome e os anos de nascimento (1865, ano de batismo) e morte (1915).

Fonte: Memória Cultural de Alagoas, pesquisa de Romeu de M. Loureiro, Diário de Pernambuco e outros jornais.

4 Comments on Rosalvo Ribeiro, um mestre da pintura

  1. Eu ja tinha ouvido falar de Rosalvo Ribeiro. Mais nao sabia que era alagoano. Que lindo quadro. Do rapazinho e o senhor. Tambem nao sabia que as esculturas na praca do martirio e deodoro era dele. E praca dos dois leoes. Que maravilha. Gostei muito em ler este link.

  2. Parabéns, Sr. Ticianeli! Divulgação muito positiva para os interessados no que a cultura alagoana tem de bom.

  3. Maria José rocha // 28 de abril de 2022 em 17:16 //

    Não só Rosalvo ribeiro, mas uma série de nomes de ilustres acadêmicos das letras, alagoano e o estado nem ao seu próprio povo ensina quem foram.e lamentável esses descaso com figuras tão ilustres e caras a nós,brasileiros.

  4. ANTONIO SÉRGIO ALVES // 29 de maio de 2022 em 03:01 //

    Não sei por que não citam o nome da esposa e filho(s). Conheci em Maceió um suposto filho de Rosalvo Ribeiro que tinha o mesmo nome e era conhecido como “Seu Vavú”. Falava francês e era membro da Igreja Batista do Farol em Maceió.

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