René Bertholet e a Colônia Pindorama
A implantação desta experiência pioneira em Alagoas teve início em 1952, quando a Companhia Paulista de Colonização – CPC, utilizando recursos do Instituto Nacional de Imigração e Colonização, investiu nas terras do Vale do Piauí, consideradas por décadas como de baixa produtividade pelos plantadores de cana-de-açúcar em Alagoas.
Foi este desprezo por aquelas terras que permitiu a preservação de grandes extensões de matas originais, com poucas áreas ocupadas por pequenos agricultores.
Como consequências, eram terras de preço mais acessível para o projeto. Foi a Companhia de Melhoramentos Marituba que comprou as terras em 1952.
Nos anos 60, surgiram os primeiros plantios de cana-de-açúcar nos tabuleiros, tanto na direção norte, quanto na direção sul, onde estava bem situada a Colônia Pindorama, com 90% do seu solo permitindo a exploração mecanizada, condição ideal para os canaviais dos anos 80.
O economista Cícero Péricles de Carvalho, no seu estudo “Pindorama: a cooperativa como alternativa”, avalia que o surgimento da Colônia Pindorama “pode ser explicado, originalmente, pela combinação, por um lado, da política pública federal, centrada, na época, na estratégia de colonização de terras devolutas como forma de enfrentar o problema agrário”, e por existirem “terras abandonadas, ou de preço baixo, em Alagoas”.
O objetivo da Companhia de Melhoramentos Marituba ao comprar as terras era o de plantar café, produzir farinha de araruta e tornar melhor a produção de cocos.
O projeto parou na sua fase inicial, com o desmatamento de algumas áreas e a comercialização de madeira. No ano seguinte, as terras foram vendidas à Companhia Progresso Rural – CPR, mais uma vez utilizando recursos federais.
Foi neste período, em 1953, foi que apareceu por lá o técnico agrícola suíço René Bertholet.
Quem foi René Bertholet
René Bertholet nasceu no dia 24 de abril de 1907 em Genebra, na Suiça, e veio de uma família de trabalhadores militantes socialistas. Estudou em Genebra e em seguida foi trabalhar numa casa comercial em Mulhouse.
Seu espírito independente o levou a participar de uma escola de quadros para militantes socialistas e entrou na luta contra o totalitarismo na Alemanha, participando da Liga Socialista Internacional (Internationale Sozialistische Kampfbund).
Militou em organizações político-sindicais em vários países da Europa. Na década de 1930, chegou a ser preso pelo governo nazista, na Alemanha, onde ficou encarcerado por vinte meses.
Durante a guerra, participou da resistência aos nazistas na França e na Alemanha.
Quando a paz voltou, dedicou-se a ajudar os alemães no serviço de Assistência do Trabalho Suíço. Foi quando conheceu o alemão Willi Richter, estabelecendo uma grande amizade.
Willi, que era o presidente da Organização do Movimento Sindical da Alemanha, visitou a Colônia Pindorama em 1965.
Em 1949, Bertholet veio ao Brasil para recolher víveres para refugiados europeus.
Encantou-se pelo país e ficou por aqui, ajudando na criação de uma colônia para 500 famílias de refugiados da Europa no Estado do Paraná.
Em Guarapuava eles podiam plantar trigo para ajudar as vítimas da fome naquele pós-guerra.
Percebendo a grande quantidade de nordestinos que chegava ao Paraná em busca de trabalho, resolveu conhecer a região de origem deles e entender as razões da não fixação do homem à sua terra.
Convidado pelo Ministério da Agricultura, participou do Projeto de Colonização do Nordeste.
Em 1952, assumiu a direção da Companhia Progresso Rural – CPR, mas ainda morava no Rio de Janeiro, onde lê autores como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda e Celso Furtado.
Por meio deles, Bertholet passou a conhecer os principais estudos sobre os problemas do Nordeste e as razões da sua pobreza.
Em 1953, desembarcou em Coruripe, Alagoas, para a instalação de uma cooperativa que iria beneficiar agricultores pobres e sem-terra em Pindorama.
Foi convencendo a todo mundo que o cooperativismo era a solução. Com determinação e carisma inspirava confiança nos trabalhadores, sempre acenando para a possibilidade de mudança nas suas condições de vida.
O início não foi fácil. Quando o projeto começou a ter problemas financeiros, sem recursos e com fracos resultados da empresa no campo agrícola, a CPR ameaçou abandonar as atividades de colonização.
Diante desta situação, Bertholet pediu demissão da CPR e, com o apoio do INIC, propôs transformar a pequena Cooperativa de Consumo que existia como parte da Colônia, na Cooperativa de Colonização Agrícola Pindorama Ltda.
A Pindorama negociou com a SUMOC e com a SUDENE e comprou o patrimônio da CPR, assumindo controle do assentamento e da comercialização dos produtos agrícolas.
Com ideias avançadas para a época, Bertholet chegou ao ponto de criar uma moeda, o Gabão, alternativa para facilitar o comércio dentro da Cooperativa Pindorama.
Suas propostas também chamaram a atenção dos militares após o golpe de 1964. Ele foi acusado de ter transformado Pindorama em um esconderijo de armas para grupos subversivos.
Teve que dar explicações ao Exército, o que conseguiu relatando a sua participação na resistência francesa durante a 2ª Guerra Mundial.
No dia 28 de abril de 1969, em meio a uma assembleia da cooperativa, teve uma congestão cerebral. Não recuperou mais a consciência, vindo a falecer no dia 1º de maio de 1969.
Quando morreu, aos 62 anos, houve muita inquietação entre os colonos quanto ao futuro do projeto Pindorama, mas os ensinamentos de Bertholet ajudaram a transformar o que era um sonho para pequenos agricultores em um empreendimento de sucesso.
Hoje, a Pidorama tem uma das mais modernas usinas de Açúcar de Alagoas.
Em 1985, o busto de René Bertholet foi inaugurado na sede da Colônia, simbolizando o reconhecimento dos que testemunharam a sua dedicação ao projeto.
Fonte:
– Pindorama: a cooperativa como alternativa ou As razões que fizeram possível a inserção cooperativa de ação de pequenos produtores numa região dominada pelo latifúndio, monocultura e trabalho servil. De Cícero Péricles de Oliveira Carvalho, Série Apontamentos Ufal, Edufal, 2005.
– René Bertholet: Parcours d’un Genevois peu ordinaire, de la lutte contre les nazis à la réforme agraire au Brésil, de Philippe Adant, citado em texto de Maurice Cosandey, 1996. Disponível em: http://base.d-p-h.info/fr/fiches/premierdph/fiche-premierdph-3880.html.
– Fotos do Memorial René Bertholet na Colônia Pindorama, tiradas pela Janaina Vilela.
Eu sou um Pindoramense, nasci em Pindorama coruripe-AL no dia 24.04.1998 no antingo hospital de Pindorama que hoje é o “Museu” Memorial de Renner Bertholer, sou muito grato pelo grande desempenho de Renner.
Pindorama teve um grande desenvolvimento graças a Rener Bertholet.
Eu, José Ronaldo dos Santos, nascido em Cooperativa-Pindorama no dia 24.04.1998, só tenho que agradecer a RENÉR BERTHOLET.
Muinto lindo essas fotografia 8
Então ele era socialista? Já perdi a administração que tinha…
Nasci aqui em Pindorama Coruripe Al em 15/10/1976 e amo esse lugar. Sou grato ao senhor René bertholet por tudo que fez por nossa Pindorama. Sou neto do Sr Durval Luiz da silva que está na foto com o Sr René bertholet. Meu sonho é um dia poder trabalhar na cooperativa Pindorama…Pindorama um lugar abençoado por Deus.
Meu pai chegou na Pindorama em 1954, na época da companhia Progresso Rural, em seguida passou para Cooperativa de Consumo, depois para Cooperativa de Colonização Agro-Pecuária e Industrial Pindorama Limitada, meu pai trabalhou na oficina mecânica, na época fazendo carroças de burro para os colonos de Bonsucesso e Santa Terezinha. Depois se aposentou foi receber um lote agrícola na divisa do Comondongo – na entrega do lote Sr. René Bertholet, mudou para Vila Machado, dizendo a meu pai: você tem filhos e vão ser funcionários da Cooperativa – fica mais perto do trabalho e assim aconteceu – trabalhamos Encarregado de setor – Escritório, Construção civil, técnico agrícola etc.
Muito interessante essa história
Muito emocionante, eu tenho muito orgulho de ser uma Pindoramensse é uma terra maravilhosa, cheia de história pra contar eu amo
Pindorama demais , Pindorama terra do maracujá a onde é o meu lugar.
Orgulho de viver nesse lugar abençoado. Amo essa história. É muito importante propagar essa história, estava contando a história da vida dele ( Renê Bertholet) para minha filha, acho muito importante esse conhecimento.🥰
Tem muita história e pouco contadores tem interesses que essas lindas histórias fiquem oculta elas podem trazer uma nova luz para o Brasil
Chegamos na Pindorama em 1972, qdo eu tinha apenas 3 anos de idade. Meu pai era caminhoneiro e em uma das cargas que levou pra Pindorama se apaixonou pelo lugar calmo e agradável. Minha mãe abriu um Supermercado, o Supermercado Pindorama que ficava em frente ao Campo de Futebol. Criada nessa cidade tão acolhedora, vivi os melhores anos da minha vida. Uma infância muito feliz!!!! Aos 15 anos fui morar em Aracaju há 14 anos voltei a morar em Alagoas, esse Estado q amo tanto. Hj moro em Maceió Meu nome é Sílvia Moraes e sou filha de Vilma do supermercado. Muito Feliz em dá esse testemunho. Obrigada por tudo Pindorama
Eu sou filho daquelas 500 famílias que vieram para Guarapuava no Paraná, fundando uma nova Cooperativa, Agrária em Entre Rios. O SR Renne Bertolet foi um grande incentivados.