Primórdios da fotografia em Maceió

Daguerreótipo, uma das primeiras máquinas fotográficas

A referência mais antiga a um aparelho fotográfico em Maceió foi registrada no jornal Diário das Alagoas de 1858. O estabelecimento que divulgava os serviços de um “daguerreotypo” funcionava na Rua Boa Vista, nº 26.

Os fotógrafos profissionais de então não demoravam muito em um lugar. O do anúncio acima fez sua última divulgação em 14 de dezembro, indicando que deixaria a capital após aquele dia de trabalho.

No ano seguinte, no dia 20 de setembro, o mesmo Diário de Alagoas divulgou que estava na capital um “retratista”, em frente à Igreja do Rosário, na Rua do Sol, tirando “retratos sobre vidro, tela e chapas, pelo novo sistema Ambrotypo”.

Além de anunciar a venda de quadros, caixinhas, passe-partout e medalhas, também se dispunham a ir “em casas particulares, não só de pessoas vivas, como de defuntos, precedendo ajuste”. Este permaneceu divulgando seus serviços até 19 de dezembro daquele ano.

Praça Sinimbu numa foto de Abílio Coutinho de 1869

No dia 8 de março de 1862, soube-se pelo Jornal do Comércio que um fotógrafo na Rua Nova, nº 31 (atual Barão de Penedo) cobrava 3$000 (três mil réis) por um retrato.

Dois meses depois, em maio, chegou a Maceió J. C. F. Henrique Júnior. É muito provável que tenha sido ele o pioneiro a utilizar em Alagoas o sistema de retrato em papel, com a possibilidade de reprodução de várias cópias.

Em sua primeira propaganda no Diário do Comércio de 21 de maio de 1862, afirmava que também fixava retratos em vidro, pano e encerado. Estabeleceu-se na Rua do Comércio, “junto à Loja do Sr. Andrade” e funcionava todos os dias das 9h às 16h.

Não se sabe o motivo, mas a partir de 1º de julho, Henrique Júnior passou a anunciar que estava à venda seu equipamento fotográfico, “por preço cômodo”. Comprometia-se ainda a ensinar o seu manuseio para o adquirente.

Como até o dia 25 de agosto ninguém apareceu para comprar a máquina, Henrique disse que ia embora no primeiro vapor do mês seguinte, mas antes pretendia fotografar “a vista principal da cidade olhada do farol, dita da Matriz, Palacete, rua do Comércio, Mercado, etc., mas para isso é necessário contar com a venda de vinte coleções”. Avisou que o preço ficaria entre 10$ e 15$ (dez a quinze mil réis) por coleção.

Em 17 de setembro ainda estava em Maceió. Não se sabe se conseguiu fazer as fotografias.

O próximo fotógrafo registrado pelos jornais em Maceió foi Augusto Morean. Seu destino era Pernambuco, mas fez temporada na capital alagoana utilizando como endereço a Rua do Comércio, nº 60, como anunciou o Jornal de Maceió de 18 de abril de 1865.

Av. da Paz e Sobral em Maceió, no final do século XIX

Em 1866 foi a vez do francês Alberto Cohen. Ficou no Largo da Matriz, atual Praça D. Pedro II, “na casa pegada ao sobrado do sr. Barão de Jaraguá”, como divulgou O Progressista de 4 de julho daquele ano. Tinha saído de Recife em janeiro de 1864 para percorrer outras províncias.

No final do ano, Cohen viajou até Recife e na volta anunciou que montara uma nova “oficina de tirar retratos” com aparelhagem vinda de Paris e que estaria no Largo da Matriz, nº 14, até 20 de fevereiro de 1867, quando partiria à serviço da profissão.

Albino Pereira de Magalhães se anunciou no jornal Diário das Alagoas de 4 de fevereiro de 1868 como “retratista photographo” estabelecido no Beco do Moeda, nº 9, onde tirava “retratos em cartões de visita e ambrotypos coloridos, em quadros e caixinhas para alfinetes de peito, anéis, caçoletas, botões de punhos, etc.”.

Cinco das suas fotografias estiveram na Exposição de História do Brasil organizada pelo Instituto Arqueológico e Geográfico Alagoano. Foram catalogadas sob os números 16.933 e 16.934.

Ainda em 1868, Abílio Coutinho anunciou no Diário de Alagoas de 31 de agosto, que se demoraria em Maceió por pretender “tirar as vistas dos seus principais monumentos e panoramas” com “os melhores aparelhos tanto para retratos em cartão de visita, como para as dimensões de 15 por 25 centímetros”.

Em outubro, desembarcou na cidade o francês E. Le Monnier. Abílio Coutinho acusou a chegada de um concorrente, voltando a anunciar que continuava a fotografar, com “especialidade em bustos coloridos sobre fundos brancos ou levemente escuros de belo efeito para os retratos; miniaturas coloridas e a fumo para broches, alfinetes, botões, etc.; vistas de estabelecimentos, propriedades, grupos de família ou de qualquer associação e retratos de cadáveres, tanto na capital como fora”. Tinha dois endereços: Rua do Comércio, nº 60 e Rua Boa Vista, nº 15.

No mês seguinte seu estúdio mudou-se para a Rua do Palácio, atual Rua do Comércio, na descida para a Praça dos Palmares.

Vila de Penedo. Foto de Abílio Coutinho em 1869

Abílio Coutinho foi quem forneceu as 24 fotografias que ilustram a viagem, em 1869, do presidente da Província, José Bento da Cunha Figueiredo Júnior, por vários municípios alagoanos.

Le Monnier se anunciava como um recém-chegado da França e no jornal Diário de Alagoas de 23 de outubro de 1968 informava que sua galeria, na Praça da Matriz possuía “novos aparelhos, e entre outros uma máquina que permite fazer dois retratos da mesma pessoa, sobre a mesma lâmina, processo novo no país”.

Em 1869, um fotógrafo não identificado ofereceu seus serviços no Hotel Gabriella, “com entrada pela Rua da Imperatriz [Rua do Sol], nº 40, onde tem um salão próprio para receber famílias”.

No mesmo ano foi a vez de F. Miguel de Moraes se estabelecer na Rua do Palácio, nº 18 e anunciar que utilizava todos os sistemas, inclusive o de “retratos coloridos ao sistema de M. Crosat, ultimamente descoberto na Europa”.

Francisco Vidal Pratas se instalou em Maceió no início do ano de 1872 e montou seu atelier na Rua Nova, nº 72, atendendo das 10 às 16 horas. Depois foi para a Rua Boa Vista, nº 80, onde permaneceu até ir embora em 1876.

Outro francês que desembarcou em Maceió no final do ano de 1872 foi Julien Bouquel, que montou seu estúdio na Rua do Comércio, nº 43, sobrado. Permaneceu em Maceió até 1877, quando foi morar em Juiz de Fora, MG.

Alfredo Arena chegou em junho de 1874 atendia no Hotel Oriente, utilizando o sistema americano. Fotografava das 7 às 17 horas. No ano seguinte atendia no Mutange.

A partir de setembro de 1876, João Goston iniciou seus serviços também em Maceió, na Rua Boa Vista, nº 80, e no interior da província. Veio da Bahia, onde tinha um estabelecimento desde 1857.

No ano seguinte, seu filho, João Goston Júnior, chegou para ajudá-lo. Divulgava também que lecionava no horário noturno “francês, tradução, e conversação inglesa”.

Ainda em 1878, João Goston voltou a Maceió e se estabeleceu como relojoeiro, profissão que também exercia na Bahia. Ocupava o mesmo prédio do estúdio fotográfico, que no final daquele ano passou para o prédio nº 60 da mesma Rua Boa Vista. Em setembro de 1879 mudou-se novamente. Desta feita para o nº 10 da mesma via.

No Jornal de Alagoas de 13 de dezembro de 1878, Goston anunciou que havia recebido da Europa novos materiais para a produção de “fotografias pelo sistema de claridade com a coadjuvação de ‘Ecrandetete’ novel e corado”, sistema melhor que os outros “não só pela finura, transparência de sombras, bonitos detalhes, roupas, etc.”. Trabalhou em Maceió até 1881.

A Fotografia Maranhense de Ignácio Mendo, em junho de 1878, tinha estúdio na Rua da Alegria, nº 15. Se anunciava como tendo os melhores equipamentos que produziam retratos “os mais belos e duráveis, e que não se destroem nem pela umidade, nem pelo excessivo calor”.

Praça Dois Leões em foto de Luiz Lavenère

Foi, provavelmente, o primeiro fotógrafo a vender produtos químicos para outros profissionais. Fornecia “tinta para marcar roupa, tanto escrevendo-se como com sinetes, assim como qualquer preparado químico pertencente à arte“. Também ensinava, “mediante qualquer ajuste”, a arte fotográfica. Partiu de Maceió no final daquele ano.

Manoel Leobardo Rodrigues da Rocha anunciou pelo O Liberal de 21 de outubro de 1879 que abrira seu atelier fotográfico na Rua do Palácio, nº 7.

Pelo Diário de Maceió de 18 de junho de 1884 sabe-se que esteve na “corte” para aperfeiçoar sua arte nos mais novos sistemas e estava de volta para tirar retratos em qualquer tamanho e de “qualquer criança, por menor que seja, com a maior perfeição pela máquina especial — Obturador instantâneo”.

A possibilidade da fotografia instantânea causou ceticismo e foi motivo de especulações pela imprensa em fins de 1881. Uma revista inglesa da época, que anunciou os feitos de alguns fotógrafos com o novo recurso, era citada nos jornais alagoanos.

Estes feitos eram tratados como passos de gigantes na fotografia, a exemplo do registro a partir de um navio e que “apesar do seu movimento, a praia de Berk, com banhistas e curiosos” saíram nítidos. A Gazeta de Notícias de 23 de novembro de 1881 admirou-se ao saber que foi fotografada uma andorinha voando.

Em janeiro de 1883 instalou-se na capital a firma Rodolpho Sindelman & Irmão, na Rua da Imperatriz, nº 52, atual Rua do Sol. Ainda em janeiro, anunciava que estava de partida para Penedo.

José Anselmo Valejo, da Fotografia Nacional, na Rua Nova, iniciou seus trabalhos em Maceió em julho de 1883, divulgando que oferecia “Garantia do trabalho: excelência de drogas; variedades de sistemas e fixidez na cor e nas tintas”.

Em julho de 1884, chegou a Maceió o fotógrafo Eugene Laurent Delaveu e abriu a Fotografia Franco-Americana utilizando a “bem conhecida fotografia do sr. Manoel Leobardo à Rua do Palácio”, como anunciou no Diário da Manhã de 25 de julho de 1884. Esteve na capital até outubro e voltou em dezembro para nova permanência, desta feita funcionando na Rua Boa Vista, nº 112, “em frente do sobrado do exm. snr. dr. Eutiquio”.

Rua Boa Vista em foto de Luiz Lavenère

A Fotografia Alemã de Alberto Henschel & Cia. esteve em Maceió entre 24 de outubro e 22 de novembro de 1885.

Em janeiro de 1887 foi a vez da firma Oliveira Lopes & Cia. instalar-se na mesma Rua Conselheiro Lourenço de Albuquerque, no nº 8.

A partir de 31 de março de 1888 foi inaugurada a Fotografia Cosmopolita na Rua Conselheiro Lourenço de Albuquerque, nº 128, antiga e atual Rua Boa Vista.

Em outubro de 1893, a Fotografia Duarte Diniz, sucessora da Oliveira Lopes & Cia. divulgava que estava oferecendo seus serviços na Rua 15 de Novembro, nº 32, atual Rua do Sol.

Funcionou até 1896 e foi reaberta em abril de 1897 com a denominação de Fotografia Popular, instalada na mesma rua, no nº 83. O português Duarte José Diniz faleceu em Maceió no dia 7 de dezembro de 1898.

Nos últimos dias de 1889 surgiu o atelier Fotografia Artística de um dos destacados fotógrafos do século XIX em Alagoas. Gabriel Jatubá se estabeleceu na Rua do Moeda, nº 8.

Em maio do ano seguinte, mudou-se para a Rua Boa Vista, nº 48, em frente à Escola Central. O prédio desta instituição de ensino foi depois a sede da Imprensa Oficial de Alagoas. Esteve também na Rua do Palácio, nº 17, numa “casa que tem um jardim em frente”, em agosto de 1895.

A Galeria Jatubá, antiga Fotografia Artística, estava ocupando um imóvel da Rua Pedro Paulino (da Alegria), nº 81, em 1902. Fechou definitivamente em 11 de março de 1905, com a morte de seu proprietário. Anos depois, esse mesmo prédio, mas numerado como 79, se instalou a Nova Photographia, de Julio Von Sihkopp, que se anunciava como “retocador e crayonista diplomado em Berlim na Alemanha”.

Ainda em 1905, no mês de junho, entrou em funcionamento a Fotografia Chic da firma Monteiro & Cia. Ficava na Rua 15 de Novembro, 69, vizinha ao Hotel Nova Cintra e atendia “a qualquer hora do dia e com qualquer tempo, mesmo estando o céu inteiramente nublado”.

Tinha dois fotógrafos: Leuwighib Leite e Renato Bastos. Era uma filial da mesma firma em Pernambuco. Seu representante em Maceió era Joaquim Van der Linden.

Quatro meses depois, em setembro, sua propriedade foi transferida para J. Van der Linden, que permaneceu no estúdio até 1911, quando foi entregue a um dos seus fotógrafos, Epaminondas Leite.

Mantendo a denominação de Fotografia Linden, este atelier permaneceu em funcionamento até 1918, no mesmo endereço, Rua 15 de Novembro, nº 69.

O Gutenberg de 22 de julho de 1905 anunciou que o crayonista (referência ao lápis Crayon utilizado para desenhos) alemão Júlio Von Schkopp estava instalando seu atelier na Rua Boa Vista, nº 143. Se estabeleceu de fato na Rua da Alegria, nº 79.

Nos jornais seguintes, que divulgavam seu estúdio fotográfico, Schkopp era apresentado como “retocador e crayonista diplomado em Berlim na Alemanha” trabalhava “no estilo art-noveau em papel glacé e platina”.

No final do ano de 1908 era anunciado nos jornais o Centro Fotográfico de Alfredo Inocêncio. Era uma filial do Centro Fotográfico de Pernambuco. Funcionou na Rua 1º de Março, nº 31, atual Av. Moreira Lima.

Entre o final de 1908 e o início de 1909, mais três fotógrafos se estabeleceram em Maceió: Hemetério Bringuel, Manoel Germano Jatubá e Sizenando do Carmo Oliveira.

Sizenando do Carmo Oliveira, em 1910, tinha seu estabelecimento em Jaraguá. A Fotografia Oliveira situava-se à Rua da Alfandega, nº 33, atual Rua Sá e Albuquerque, e “o proprietário é o próprio de todo o trabalho concernente a fotografia”, anunciava O Norte de 6 de setembro daquele ano.

Em 1913, Manoel Germano Jatubá, irmão de Gabriel Jatubá, funcionava na Rua São José, nº 41.

No segundo semestre de 1911 se instalou na Rua Nova, nº 23, atual Rua Barão de Penedo, a Fotografia Italiana de Antônio Firpo. Seu atelier ainda funcionava em 1918.

Em 1916 foi a vez de Virgílio Barbosa montar seu estúdio em Maceió.

Mesmo já tendo fotógrafos fixos desde a década de 1880, Maceió continuou a receber os profissionais itinerantes até o final daquele século. Um dos mais assíduos foi Adolpho Lindemann.

Este fotógrafo e pintor tinha seu estúdio fixo na Bahia e se anunciava também como retocador e especialista em “retratos instantâneos para crianças, que só terão aumento de preços quando encontrar dificuldade”.

Tinha estudado em Paris e se habilitava a realizar, “com todas as precisões artísticas retratos a óleo, aquarela, miniatura, foto-crayon, foto-colver, nankin, a bicos de pena e a pincel, etc.”.

Se instalou na Rua Boa Vista, nº 54 “mais adiante da Escola Central, na antiga residência do dr. Gouveia”. Alertava para não confundir com outra “Fotografia’ próxima, a de Gabriel Jatubá. A dele tinha uma “bandeirinha tricolor na janela”.

Os amadores

Stanislau Wanderley em 1867

As informações publicadas nos jornais levam a crer que o primeiro fotógrafo amador de Maceió foi o 2º escriturário da Contadoria Estadual, Stanislau (Stanisláo) Maciel Wanderley, que em 1875 morava na Rua da Cambona, nº 84.

Esse servidor público foi um dos principais ativistas do movimento republicano e atuante militante contra a escravidão em Alagoas. Casou-se com a professora pernambucana Amelia Elodia Lavenère em fevereiro de 1860.

O primeiro filho do casal veio a ser também um dos mais famosos fotógrafos amadores de Alagoas: Luiz Lavenère Wanderley, que descobriu a arte ainda no final da primeira década de vida ao manipular os equipamentos do pai.

Em Alagoas, antes de Stanisláo Wanderley começar a fotografar em Maceió, o pioneiro na fotografia amadora foi o dr. Manoel Ramos de Araújo Pereira, que morava no Pilar e entrou para a história também como o pai de Arthur Ramos.

Dois amadores praticavam a fotografia em Maceió no final do século XIX: Joaquim da Silva Costa e F. Pôrto. O primeiro foi presidente da Sociedade Perseverança e Auxílio dos Caixeiros de Maceió e, com o irmão Serafim Costa, proprietários da loja A Predileta a partir de julho de 1896.

F. Pôrto foi funcionário da firma Borstelmann & Cia e morador da Rua do Imperador. Construiu sua câmara com as finas madeiras das caixas de charutos e utilizou a lente de um binóculo. Conseguiu excelentes fotografias.

No início do século XX, a relação de amadores tinha sido ampliada e em 1902 eram citados no Indicador Geral do Estado, além de Joaquim Costa, Adolpho Guimarães (morador do Alto do Jacutinga), Américo Passos Guimarães (Rua 15 de Novembro), Antônio Nunes Leite (Bebedouro), Firmino Lima (Rua do Comércio), J. Calheiros Gomes (Rua Senador Mendonça) e Rosalvo Ribeiro (Av. do Prado).

Com a ampliação da oferta dos insumos para a fotografia, surgiram novos amadores. Luiz Lavenère era um dos fornecedores de chapas, papeis e drogas em sua Livraria e Tipografia Ramalho, mas ainda não era citado como amador.

Nesse período surgiram Ranulfo Goulart (que desenvolveu a técnica de ampliação), Waldemiro Serva e Arthur Gama. Estes últimos foram, anos depois, os fotógrafos da revista literária Renascença, lançada em 15 de agosto de 1914.

Em 1888 surgiu a Kodak nº 1, primeira câmera a utilizar filme de rolo, destinada ao fotógrafo amador.

Quando Luiz Lavenère passou a se dedicar à fotografia, deu contribuições importantes, experimentando praticamente todos os sistemas utilizados à época.

Em 1906, conquistou o segundo lugar em um concurso de fotógrafos amadores realizado em Londres. A foto premiada era do bairro do Poço.

Como jornalista, era vinculado a Manoel Gomes da Fonseca, proprietário das Oficinas Tipográficas e Livraria Fonseca ou Oficinas Fonseca, de onde saía o jornal Evolucionista, dirigido e redigido por Lavenère

Foi nessa editora que em 1907 publicou suas primeiras imagens, uma coleção de cartões-postais. A própria Livraria Fonseca foi retratada em um destes postais.

O crescimento dos fotógrafos amadores em Maceió era tal que no Gutenberg de 9 de julho de 1908 surgiu um convite de diversos deles para uma reunião onde pretendiam constituir um clube para “melhor aperfeiçoamento da Arte”. A reunião foi marcada para o dia 12 daquele mês, às 11 horas da manhã, no prédio nº 56 da Rua 15 de Novembro, atual Rua do Sol.

Meses antes, em março, os jornais registravam a atividade de um Club Ideal, de Retratos.

O surgimento de vários fotógrafos amadores em Maceió se dava graças ao desenvolvimento tecnológico, que permitiu a fabricação de câmeras menores e bem mais acessíveis. Em 1908, a Livraria Comercial de M. J. Ramalho já anunciava a venda de “máquinas e acessórios fotográficos” na Rua do Comércio, nº 21.

Entre os amadores daquele período, fez história o “simpático sr. Fernando Malta, escriturário do Tesouro e hábil amador da fotografia”, como registrou o Gutenberg de 6 de setembro de 1908, tecendo elogios a ele por ter tirado, no dia 4 de setembro, “um belo instantâneo” às 9 horas da noite no salão nobre do Liceu de Artes e Ofícios, por ocasião do segundo concerto ali realizado pelo exímio pianista Taggliaferro Júnior”.

O jornal detalhava que a foto foi conseguida “por meio do magnésio, luz única que substitui a luz natural em trabalhos de fotografia”. Segundo o Gutenberg, em Maceió “foi este o primeiro instantâneo fotográfico tirado à noite”, destacando que tinha sido apanhado por um amador, possibilitando “a certeza de podermos obter agora as fotografias de reuniões à noite, tais como five ó clock tea, soirée, bailes, jantares e etc.”.

Dias depois, em 20 de setembro, o mesmo Gutenberg revelava sua admiração diante dos novos sistemas fotográficos ao descrever uma “fotografia fantasista” executada por um amador. “Uma noite de lua” estava exposta em sua redação.

“Não há o mínimo artifício conhecido pelo nome de truch; é uma fotografia direta, em que se vê a lua, entre nuvens, e o primeiro plano levemente iluminado, como em verdadeira noite de luar”, descreveu o jornalista.

Em 1911, na Exposição Universal de Turim, Luiz Lavenère foi premiado com trabalhos em porcelana, madeira e papelão. Em setembro do ano seguinte, foi pioneiro na fotografia em cores em Alagoas. Sua primeira foto colorida, com placas importadas da Europa, retratou a Rua Barão de Anadia.

Kodak anunciando sua primeira câmera

Essa técnica havia sido introduzida no Brasil por Marc Ferrez naquele mesmo ano de 1912.

Lavenère deixou um acervo de 350 negativos, hoje guardados no Arquivo Público. Foi repórter-fotográfico e proprietário do primeiro periódico a utilizar clichês fotográficos produzidos em Alagoas. A Conquista foi impressa na Livraria e Tipografia Ramalho e circulou seu primeiro número em 14 de março de 1920.

Materiais fotográficos

Também foi Lavenère um dos pioneiros na comercialização em Maceió, dos insumos para fotografia.

Ainda na Livraria Fonseca, anunciava em fevereiro de 1905 que dispunha de “papel P.O.P., papel citrato Lumiére, cartões postais sensíveis, cloreto de ouro, chapas Lumiére e Wratten, Viragem, fixagem Lumiére, etc.”.

Em julho de 1908 a Confeitaria Suissa, situada na Rua do Livramento, nº 2, oferecia, no Gutenberg, artigos para fotografia aos amadores. Tinha “grande sortimento de materiais e drogas concernentes à Fotografia como sejam, chapas, papeis, cartões, amidol, etc. etc. chegadas há dias, os quais devem ser preferidos por serem novos e de preços iguais aos do Rio de Janeiro”.

Naquele mesmo ano, tinha como concorrentes uma loja de móveis da firma J. A. Cabral & Cia, na Rua do Comércio 91; a Livraria Comercial, de M. J. Ramalho, na Rua do Comércio, nº 21, e o Centro Photographico, localizado na Rua 1º de Março, atual Av. Moreira Lima.

Ainda em julho deste mesmo ano, a Mercearia Machado, situada à Rua Floriano Peixoto, nº 53, também anunciava ter recebido grande sortimento de material fotográfico “de 1ª ordem e vende por preço resumido”.

Fotojornalismo

O fotojornalismo surge no Brasil praticamente junto com as primeiras fotografias, em meados do século XIX. Diferenciava-se da foto tradicional, de paisagem ou de pessoas, por retratar fatos de interesse público ou mesmo documentar determinadas situações por seu valor histórico, sempre buscando sua divulgação.

A fotografia passou a ser utilizada na imprensa mundial a partir de 1880. Ainda eram publicadas como gravuras. Dois anos depois, o processo de impressão denominado autotipia, criado pelo alemão Georg Meisenbach, passou ser comum em vários países. Essa técnica de reticular a foto ganhou o nome de meio-tom no Brasil.

As primeiras fotografias publicadas na imprensa brasileira surgiram na Revista da Semana no primeiro número em 20 de maio de 1900, que adotou com melhores aproveitamentos os métodos fotoquímicos em suas ilustrações.

Em Maceió, quando ainda não se dominava a técnica e se tinha os equipamentos da autotipia, que transformava as fotos em pontos, facilitando a gravação dos clichês, estes verdadeiros documentos eram expostos, na maioria das vezes, nas sedes dos jornais.

A informação mais remota sobre uma fotografia desta especialidade em Maceió foi noticiada pelo Gutenberg de 5 de novembro de 1897. O autor foi identificado como sendo o sr. Suenson e reproduzia uma criança nascida um mês antes, mas com duas cabeças.

No dia 13 de abril de 1899, o mesmo jornal informou que tinha em seu escritório em exposição a fotografia de uma família de pigmeus que estava em Maceió e que se apresentava em praça pública em busca de recursos para custeio das passagens até o Rio de Janeiro.

É provável que o uso da fotografia na reportagem policial em Alagoas tenha acontecido pela primeira vez em 11 de novembro de 1905, quando Luiz Lavenère fotografou o corpo sem vida de Maria da Conceição, amante do dr. Câmara Sampaio e assassinada por ele na noite anterior. A foto ficou exposta na sede do Evolucionista e foi publicada na revista O Malho (RJ) de 9 de dezembro de 1905.

Corpo de Maria da Conceição no Necrotério de Maceió. Foto de Luiz Lavenère em 11 de novembro de 1905

Outra foto do jornalismo local foi utilizada como parte de perícia policial em 26 de outubro de 1907, quando o Gutenberg expôs em sua sede “uma nítida fotografia” de um pacote de dinheiro com cem contos de réis que foi utilizada para resolver o desencontro entre as cifras impressas na cinta e o valor das notas, numa polêmica com o Lloyd.

A foto foi tirada pelo coronel Álvaro Cardoso, que atendeu a pedido da polícia alagoana. Dias depois, novas fotos foram expostas na sede do jornal.

A foto mais famosa desse período foi a do balão Granada, que pilotado pela portuguesa Laurinda Silva subiu aos ares da capital tendo como ponto de partida o Lyceu de Artes e Ofícios, na então Praça Euclides Malta, atual Praça Sinimbu.

O fato se deu no final da tarde de 23 de fevereiro de 1908 e a foto, do amador Luiz da Rosa Machado, gerente da empresa telefônica de Maceió, ficou exposta no escritório do Gutenberg, mas ganhou notoriedade ao ser publicada na revista O Malho, no Rio de Janeiro, de 11 de abril de 1908.

Flagrante do amador Luiz da Rosa Machado do Balão Granada, pilotado pela portuguesa Laurinda Silva. A foto é de 1908, na Praça Sinimbu

A foto de Fernando Malta de 4 de setembro de 1908, registrando no Liceu de Artes e Ofícios o segundo concerto da pianista Taggliaferro Júnior, também tem importância histórica por ter utilizado de forma pioneira o flash de magnésio em Maceió.

Em meados da primeira década do século XX, os clichês fotográficos publicados na imprensa alagoana, principalmente na Revista Comercial e Agrícola de Alagoas, eram importados de outros estados ou até mesmo de outros países.

As dificuldades e custos para se confeccionar clichês fotográficos ainda eram enormes em 1917, como revelou o jornal alagoano O Pyrausta ao informar aos intendentes municipais que aquele periódico se prontificava a noticiar as obras de suas administrações por meio de “gravuras”, mas não podendo fazer “gastos consideráveis com o preparo de clichés, esperamos que os interessados […] nos mandem ou os mencionados clichés ou as fotografias cuja reprodução desejam, acompanhadas da importância de 15$000 para o preparo de cada uma das aludidas gravuras, que ficaram pertencendo à nossa revista”.

O primeiro repórter-fotográfico a utilizar clichês fotográficos produzidos em Alagoas foi Luiz Lavenère em sua revista A Conquista, que foi impressa na Livraria e Tipografia Ramalho e circulou seu primeiro número em 14 de março de 1920.

***

Fontes: A fotografia em Maceió (1858-1818), de Luiz Lavenère e Moacir Medeiros de Santana, publicado na Revista do Arquivo Público de Alagoas, nº 1, de 1962; e jornais da época.

1 Comentário on Primórdios da fotografia em Maceió

  1. Josualdo Moura // 5 de outubro de 2021 em 00:14 //

    Espetacular!

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