Praça Deodoro e a Escola Prática
Prédio também abrigou a Escola Modelo, Tribunal de Justiça, Escola D. Pedro II e atualmente é a sede da Academia Alagoana de Letras
![Escola D. Pedro II na Praça Deodoro nos anos 30](https://i0.wp.com/www.historiadealagoas.com.br/wp-content/uploads/2018/10/Escola-D.-Pedro-II-na-Pra%C3%A7a-Deodoro-nos-anos-30-e1540996942220.jpg?resize=820%2C410&ssl=1)
Em abril de 1880, o presidente da província de Alagoas, Dr. Cincinato Pinto, informava que no ano anterior havia decido “dotar a Província com dois bons prédios, espaçosos, bem arejados e adequados aos exercícios escolares, um nesta Capital e outro em Penedo”.
Explicou ainda que não podendo contar com recursos públicos, apelou para a “generosidade e patriotismo dos particulares”, nomeando, em janeiro de 1879, uma comissão em cada município para obter os donativos para a construção do que ele chamou de Escolas Práticas.
Em Maceió, esse grupo foi formado por Antônio Joaquim Buarque de Nazareth, Joaquim Telesphoro Ferreira Lopes Vianna, Manoel Martins de Miranda, Padre José Vieira Marques, José Francisco Soares, Joaquim José de Araújo, José Joaquim de Oliveira e Tibúrcio Alves de Carvalho. Foram arrecadados 14:881$500 e mais 700$000 em materiais diversos.
O presidente esclareceu no seu relatório anual que a obra de Penedo teve a “planta organizada pelo distinto Engenheiro Nicolau Viriato Chaves Barcellos, e em que também trabalhou o hábil arquiteto Luiz Luccariny”.
Segundo estudo de Humberto Vilela publicado na Revista do IHGAL 1882/83, a Escola Cincinato Pinto de Penedo se instalou em “uma espaçosa residência, situada à Praça de São Gonçalo do Amarante e que pertencera ao major João Álvares da Graça Bastos”. Foi inaugurado no mesmo dia, 7 de setembro, que era lançada a pedra fundamental em Maceió.
Humberto Vilela esclarece ainda que as participações de Luiz Luccariny e do engenheiro Nicolau Viriato Chaves Barcellos se deram na elaboração do projeto da reforma do prédio, que foi concluída no final de setembro de 1880, considerando que as aulas voltaram a acontecer no dia 1º de outubro.
Escola Prática de Maceió
A construção da unidade de Maceió foi projetada e executada gratuitamente pelo engenheiro militar Innocêncio Galvão de Queiroz. O mestre de obras foi Manoel Teixeira.
Sobre a participação do “italiano Luccarinny”, o jornal O Orbe de 31 de agosto de 1879 registrou em nota, que estava exposta em uma loja da capital “a planta da Escola Pública, organizada pelo Sr. Luiz Luccarini e oferecida S. Exc. o Sr. Dr. Cincinato Pinto da Silva”. Eram três desenhos: “um da fachada, outro do interior e outro da secção latitudinal”.
Mas não foi este o projeto escolhido.
Tanto o projeto de Innocêncio Galvão de Queiroz (desenhado por José Vasconcelos) quanto o de Luiz Luccarini ficaram expostos durante o mês de julho de 1879 na “Loja Paris na América”. Segundo Humberto Vilela, a do engenheiro militar venceu “em duvidosa concorrência“.
Um anônimo escreveu para O Orbe de 7 de setembro, quando se lançava a pedra fundamental, criticando a escolha e ressaltando que o trabalho de Luccarini era mais completo e tinha “bom gosto artístico”. Argumentou ainda que a planta do arquiteto italiano estava pregada em tábuas enquanto que outra num bonito caixilho com transparente cristal.
Além disso, avaliou que a planta escolhida tinha erros de construção. E tinha razão.
Um relatório do secretário da Província, Manoel Cândido Rocha Andrade, de 16 de abril de 1882, identificava que a distribuição dos compartimentos não servia ao fim destinado. “As cloacas [sanitários] para ambos os sexos, situadas no mesmo pavimento, infecionam o ar. É urgente a retirada para fora do prédio. Precisa de reparos nas portas e janelas, pintura, caiação, um reservatório d’água, etc…”.
O terreno utilizado para a obra resultou da desapropriação dos imóveis pertencentes a Bernardo José de Souza e Rosa Maria da Conceição, a Cristóvão Francisco Gomes e seus filhos menores, e a João Lopes Ferreira de Omena e sua mulher, d. Josefa Amélia de Albuquerque Omena.
O lançamento da pedra fundamental ocorreu às 10 horas do dia 7 de setembro de 1879, um domingo. Demarcando o limite do terreno foram colocados vários mastros ornados de flores e com bandeiras no topo. Um pavilhão erguido no local abrigava um altar, um quadro do imperador e um desenho do futuro edifício. A pedra de mármore tinha a seguinte inscrição: O POVO À INFÂNCIA – Administração dr. Cincinato Pinto da Silva – 7 de setembro de 1879.
O edifício da capital foi descrito por Cincinato Pinto como tendo “dois jardins laterais que dão entradas independentes para as duas escolas — do sexo masculino e feminino — ocupa toda a face NS da Praça das Princesas, estendendo-se desde a rua do Livramento até a Rua Nova na distância de 36 metros”.
A área ocupada era de 526 metros quadrados e o edifício tinha 24 metros de frente e 11 de profundidade, oferecendo acomodações para 80 meninos e 70 meninas nos dois salões destinados às aulas. A sua arquitetura foi classificada como de estilo jônico, “simples, elegante e apropriado a seu fim”, avaliou o governante.
Existiam ainda outros “compartimentos destinados a gabinetes do professor e professora, duas saletas para depósito de chapéus de alunos e alunas e duas latrinas em boas condições de asseio”.
Anunciou Cincinato Pinto que pretendia colocar no salão principal os bustos em mármore do imperador e de quatro alagoanos: Conselheiro João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, Barão de Penedo, Dr. Aureliano Candido Tavares Bastos e Dr. Manoel Joaquim Fernandes de Barros.
Em julho de 1880, o presidente da Província, Hermelindo Accioly de Barros Pimentel, informou que as duas escolas estavam praticamente concluídas, mas que não as tinha inaugurado pela falta do mobiliário. Disse ainda que havia conseguido os recursos para os bustos e que eles estavam vindo da Europa.
Finalmente, em abril de 1881, o novo presidente, José Eustáquio Ferreira Jacobina, anunciou que as escolas estavam em atividade e que na de Maceió funcionavam “as duas aulas práticas criadas pela Resolução nº 838 de 7 de junho do ano passado”. Anotou ainda que havia feito a nomeação dos respectivos professores.
Os alunos tinham como diretor o professor Ignácio Joaquim da Cunha Costa, transferido da cadeira de Jaraguá, e as alunas a professora D. Cantidiana Candida Clarismunda de Bulhões, que veio de São Miguel dos Campos.
Como o intuito inicial era que a escola fosse voltada para as crianças, se lê no seu frontispício: “O Povo à Infância”. Entretanto, o surgimento das Escolas Práticas por determinação da Resolução Provincial nº 838 de 7 de junho de 1880, levou Maceió e Penedo receberam unidades escolares com a finalidade preparar os candidatos ao Magistério Público.
Assim, o prédio quando foi inaugurado já não cumpria os seus objetivos iniciais.
No relatório do presidente José Barbosa Torres, de 16 de abril de 1882, ao citar as “Escolas Práticas” informou que no ano anterior estavam matriculados 75 alunos e 82 alunas.
Aos poucos, mesmo sem ter essa identificação exposta em seu prédio, os jornais passaram a se referir a instituição da Praça das Princesas como Escola Prática. Assim permaneceu até o início da década de 1890, quando recebeu o letreiro de Escola Modelo.
Em 1895, o prédio foi ocupado pelo Tribunal Superior de Justiça, que por lá permaneceu até 1912, quando se estabeleceu definitivamente no Palácio da Justiça, distante apenas alguns metros da Escola Modelo.
Em seguida, o edifício construído por Cincinato Pinto passou a ser o Grupo Escolar D. Pedro II.
Foi o governador Lamenha Filho, em setembro de 1968, quem publicou o decreto cedendo o prédio para a Academia Alagoana de Letras. Os alunos do Grupo Escolar foram transferidos para a Escola Infantil Ismar de Góis Monteiro, na Rua Pedro Monteiro, no mesmo prédio onde funcionou a Rádio Difusora de Alagoas.
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Antigo Grupo Escolar D. Pedro II em 1971, no final das reformas para receber a Academia Alagoana de Letras
Após a doação, o edifício entrou em reforma, somente concluída no final de 1971. O então presidente da Academia, o escritor José Maria de Melo, conseguiu também recursos do governo para fazer as obras de adaptação, construindo um auditório, salas de reuniões, biblioteca e outros espaços funcionais. O projeto dessa reforma recebeu a assinatura da arquiteta Zelia de Melo Maia Nobre.
A reinauguração do antigo Grupo Escolar D. Pedro II ocorreu no dia 12 de março de 1971, quando foi comemorado o cinquentenário da casa das letras de Alagoas.
Novas reformas foram realizadas anos depois, incluindo a construção de um anexo.
O prédio construído pelo governo do Estado com a contribuição da sociedade continua cedido à Academia Alagoana de Letras, que tem anunciado publicamente as dificuldades para manter a construção em condições de funcionamento.
Pelo que entendi, a Escola Prática, depois denominada de Escola D. Pedro II, em 1881 já se encontrava em funcionamento. Isso é maravilho! Somente 29 anos após o Teatro Deodoro veio a ser inaugurado.
Ticianeli , a obra de reforma empreendida pelo Presidente Dr José Maria de Melo para que o edifício Grupo Escolat D Pedro II funcionasse a Academia Alagoana de Letras , foi projeto da Arquiteta Zelia de Melo Mais Nobre , Corrija o ano (1880) qdo se refere ao Presidente Hermelindo Accioly de Barros Pimentel . Grato Vinícius Maia Nobre