Porto Real do Colégio dos jesuítas

Rua Clodoaldo da Fonseca em Porto Real do Colégio

A presença dos jesuítas no Rio São Francisco foi historiada por Craveiro Costa na Revista do Ensino de julho/agosto de 1927. Era um trecho do livro Alma das Alagoas (https://www.historiadealagoas.com.br/os-jesuitas-em-sao-francisco.html). Nele há informações importantes sobre o surgimento do aldeamento que posteriormente se transformou no município de Porto Real do Colégio.

Segundo o consagrado historiador alagoano, na segunda metade do século XVII os missionários jesuítas chegaram ao São Francisco cumprindo as instruções de sua Ordem e se estabeleceram sete léguas acima de Penedo. “Os seus nomes perderam-se, embora a obra ficasse nas crônicas da colonização”.

Ali instalaram um aldeamento com os índios coropatás, aconans e cariris, “que erravam pelas margens do São Francisco” e foram seduzidos pelos missionários.

Erigiram a capela, construíram a “residência da missão, colégio ou convento, um casarão sobre pilares abrigadores contra a montante das inundações. Em 1875, padres recoletos de Urubá ainda dirigiam o aldeamento laborioso. A missão prosperara”.

Continua Craveiro Costa:

“Por toda parte, na colônia, os jesuítas mostravam à evidência que os seus processos conduziam mais rapidamente ao convívio da sociedade nascente o indígena escarmentado. Não que a brandura, a lei de Jesus, a bondade, a palavra inspirada na piedade cristã e as práticas da liturgia católica fossem os únicos meios da catequese dos jesuítas: — eles também sabiam impor-se à obediência pelos recursos extremos da violência.

Elemento de trabalho, exclusivamente destinado aos labores mais ásperos, os padres, como os colonos, escravizavam o índio. Entre os dois senhores daquela nova espécie de gado travou-se uma luta sem tréguas. Triunfaram, por muitos anos, os padres aos seus antagonistas, amparados pelos favores que a metrópole lhes prodigalizava, chegando a entregar-lhes o monopólio daquela escravatura.

Clamavam os jesuítas, bradavam os colonos. A presa era disputada bravamente.

O declínio da Companhia de Jesus, em Portugal, e, por fim, expulsão dos jesuítas entregaram o patrocínio dos índios aldeados ao governo. A situação dos selvícolas, porém, continuou a mesma — de opressão.

Do antigo aldeamento do São Francisco surgiu Porto Real do Colégio. Mas apagaram-se os vestígios da obra dos jesuítas. O convento o tempo derruiu; a igreja foi demolida para em seu lugar construir-se a matriz atual. Apenas ficou a memória dessa obra civilizadora. Obra valiosa a dos jesuítas, no Brasil, não se pode negar, mesmo despindo-a das lendas que a envolvem…”.

Sobre a antiga capela, sabe-se que foi erguida, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, utilizando pedras e cal. Seus pilares a protegiam contra as enchentes do rio. Tinha um vigamento na altura de oito palmos, com frentes para os quatro pontos cardeais, sendo a principal para a nascente, onde existiam oito celas e uma bonita escada de cantaria comunicando com a capelinha de uma porta e duas janelas de frente.

Jesuítas catequizando índios

Quem também deixou registros sobre a origem de Porto Real do Colégio foi o dr. José Vieira de Carvalho. Em carta dirigida ao dr. Guilherme Schuch, o Barão de Capanema, detalhou sua “Viagem às cachoeiras de Paulo Afonso”. Coube à Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, tomo XXII, do primeiro trimestre de 1859, a sua publicação.

Vieira de Carvalho não poupou críticas ao que viu:

“A Povoação do Colégio foi antiga missão dos Jesuítas e hoje é uma freguesia com o mesmo nome de Porto Real do Colégio. Está assentada em um teso à borda do Rio, cujas margens estão orladas de rochedos de granito, e bastante fragosos; terá uns 100 vizinhos pela mor parte da raça indígena ou mestiços. A Matriz é miserável, e tudo vai em ruinas e decadência!

Aqui a fama das obras e gosto e velhacaria Jesuítica tão temida, é um real contraste. O convento terá merecido esse nome se também costumavam assim apelidar uma perfeita espelunca; pois que é esse edifício rasteiro sobrado de janelas, e portas tão apertadas que mais se parecem com um pombal, do que com habitação de frades, e de que frades!

Penso que os fundadores não pertenciam a tal ordem, porque não há traço ou vestígio que demonstre os dedos dos gigantes que só foram derrubados pelo poder de outro — o Marquês de Pombal.

Alguma alegria que o coberto coração do viajante que vai ao Colégio pode ter, é pela vista fronteira, a Vila de Propriá — que na verdade fica bem esbelta e senhoril comparada com a sórdida Povoação sua vizinha de frente”.

Pedro II, também em 1859 e em visita à mesma cachoeira, anotou em seu diário algumas informações sobre a sua passagem por Porto Real do Colégio:

“De Propriá fui ao Porto Real do Colégio, onde houve antiga Igreja e Convento dos Jesuítas, que já não existem havendo duas casas no lugar do convento, e nova matriz no da antiga Igreja, de que aliás se aproveitaram alguns materiais e dourados para o altar-mór. Tem aula de meninos cujo professor não estava presente, o que não é de reparar por ser domingo. Apareceram-me bastantes descendentes dos Índios de raça já bastante cruzada, trazendo alguns cocares de penas com seus arcos e frechas e de jaqueta atirando um deles por ordem minha duas frechas, das quais acertou uma n’um mourão assaz largo e a pouca distância. A povoação é pequena e miserável, distando de Propriá, para cima, pouco mais de ½ légua em linha reta”.

Como sempre fazia em suas visitas às povoações mais humilde, o imperador doou 300$000 rs aos pobres.

Os jesuítas já tinham deixado suas missões em 1759. Foram expulsos do Brasil pelo decreto do Marquês de Pombal (Sebastião José de Carvalho e Melo). As aldeias foram entregues a diretores indicados pelo governo. Em 1822, o diretor da aldeia de Porto Real era José de Sant’Ana dos Reis, que quando por lá aparecia hospedava-se no edifício do antigo Colégio, então já com uma parede desabada.

Os missionários jesuítas atuaram no Brasil por 210 anos, entre 1549 e 1759.

Matriz de Porto Real do Colégio Matriz ainda sem as torres. Foto de Abílio Coutinho em 1869

A Freguesia de N. S. da Conceição e o Porto Real

Em 1923, numa republicação de 1918 dos “Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro”, volume XL, encontramos um levantamento sobre a Capitania de Pernambuco de 1774, realizado pelo governador da capitania, o capitão general Jozé Cezar de Menezes. Na página 60, ele informa sobre a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Porto Real, uma das freguesias da Vila de Penedo.

“Esta Freguesia foi desmembrada da de Nossa Senhora do Ó, em o ano de 1763: é de Índios Cropótos, e Careris, e alguns Portugueses, que vivem da agricultura, servindo-lhe de Matriz uma Capela que foi dos denominados Jesuítas, edificada no ano de 1578: está situada na margem do mesmo rio [São Francisco] em uma deliciosas planície: tem duas léguas de comprido e uma de largo: confina pelo sul com a Freguesia de Santo Antônio do Urubú da Capitania da Bahia, e pela parte de Oeste, e Norte com a de Nossa Senhora do Ó, e pela parte de Leste, com a da Vila do Penedo.

Tem Vigário Encomendado, e pelo rol da desobriga do ano de 1774: uma igreja, 112 fogos: e 256 pessoas de desobriga”.

No Almanak Laemert de 1902 consta que a povoação foi constituída como Freguesia de N. S. da Conceição, em data diferente. Anota como sendo em 1795 e oficializada pelo mesmo alvará régio que criou paróquias em todos os aldeamentos implantados pelos jesuítas de maior importância.

Na publicação “Brasil. Ministério do Império: Relatório da Repartição dos Negócios do Império (RJ), de 1876”, a paróquia foi criada pela Lei de 15 de outubro de 1827, a mesma que criou as paróquias de São Francisco de Borja do Piaçabuçu e a de São Braz.

Capela do Sagrado Coração de Jesus em Porto Real do Colégio

Há outros registros indicando que a Paróquia Nossa Senhora da Conceição foi criada em 8 de dezembro de 1863.

Nesse período, o nome da freguesia sempre aparece nos jornais associado ao aldeamento, também tratado como “missão”.

Em 4 de fevereiro de 1842, o presidente da Província Souza e Mello informava em sua Falla à Assembleia que existiam em Alagoas quatro missões de índios e que a de Penedo tinha “102 indivíduos do sexo masculino e 98 do feminino já mui degenerados da primitiva raça. Foi-lhes concedida no Arraial de Porto Real sobre o Rio São Francisco uma data de terras de duas léguas de frente e uma de fundo, mas esta propriedade nunca foi medida nem demarcada e hoje [1842] se acha invadida por muitos heréos confinantes. Diferentes sujeitos têm-se metido nas terras, apropriando-se de porção delas e as desfrutam como próprias sem o menor ônus. Os Índios dessa missão não são da melhor conduta; poucos vivem no arraial e são insubordinados”.

As outras missões ficavam em Palmeira, Atalaia e Porto Calvo.

Em 1843, o relatório do governo indicava que na “Povoação do Porto Real” o professor das primeiras letras era Estevão Soares Leitão. Essa pesquisa encontrou em várias publicações dos meados do século XIX o registro “Porto Real”, sem referência ao Colégio. Naquela época, existiam vários “Portos Reais” no Brasil e pelo menos um em Portugal.

Thomaz Espíndola em sua Geografia Alagoana, de 1871, se refere à “povoação do Porto Real ou Colégio” (pág. 128) como um distrito da freguesia de Penedo. Mais adiante, na pág. 171, ao relacionar a divisão administrativa de Alagoas, cita a existência no município de Penedo da “Aldeia do Colégio de Porto Real”.

Na pág. 248, descreve a “Aldeia do Colégio ou Porto Real” como distante sete léguas acima de Penedo e situada junto a lagoa do Coqueiro. Tinha 180 fogos com 450 a 500 habitantes, a maioria de mestiços descendente dos tupinambás com europeus, com alguns deles aldeados sob a inspeção de um diretor. Cita que as paredes do Convento ou Colégio existiam intactas até há pouco tempo, mas que naquela data (1871) já tinham sido demolidas.

Matriz de Colégio em 1922 ainda com somente uma torre. Livro Terra das Alagoas

A vila de Porto Real do Colégio

Porto Real do Colégio foi elevado à categoria de vila pela Lei Provincial nº 737, de 7 de julho de 1876, desmembrada de Penedo. A sede foi instalada em 18 de novembro de 1876 e o território demarcado pela Lei nº 850, de 17 de junho de 1880.

Dois anos após emancipado, Porto Real do Colégio foi notícia em vários jornais da região por causa de uma medida adotada pelo presidente da Província Francisco Soares Brandão. O Jornal do Recife de 18 de maio de 1878 assim divulgou o ato: “O presidente da província, tendo em vista da conveniente ocupação ao crescido número de emigrantes aglomerado nas margens do São Francisco e em outros pontos da província, trata de reuni-los em uma colônia que vai criar nas terras do extinto aldeamento do Colégio do Porto Real; para o que solicitou autorização ao Exmo. Sr. Ministro do Império, o qual, concedendo-o, felicitou ao mesmo Exmo. Presidente por essa feliz ideia”.

A resolução do governo, tomada em 14 de maio de 1878, criava a Colônia São Francisco para receber as vítimas da seca que assolava a região. A Assembleia aprovou a iniciativa votando a Lei nº 784, de 6 de junho de 1878. A mesma norma legal criou também naquela vila duas escolas de instrução primária, uma para cada sexo.

Para dirigir a Colônia foi nomeado o agrimensor Manoel de Souza Braga. O lugar de guarda dos celeiros e distribuidor dos gêneros foi preenchido por Miguel Trigoso de Bulhões. A função de escrivão e encarregado da ambulância foi confiada a José Targino Gonçalves Fialho.

Menos de um ano depois a Colônia foi extinta. O Jornal do Recife de 18 de março de 1879 explicou as razões:

“No dia 10 do corrente seguiu no vapor Caxias com destino ao Penedo, o capitão José Cândido Monteiro de Lima, 1º escriturário da alfândega de Maceió, comissionado pelo Sr. Presidente da Província — para daquela cidade ir à ex-Colônia de São Francisco, no Porto Real do Colégio, fazer a necessária arrecadação do que a fazenda geral tenha em objetos de valor naquela localidade, e por meios brandos dissolver os grupos de retirantes que não querem deixar aquelas paragens no intuito de estarem recebendo constantemente rações do governo, provocando conflitos que podem sem se tornar fatais.

Rua Barão do Rio Branco, em Porto Real do Colégio

O capitão José Cândido leva instruções especiais do governo, de acordo com o Ilmo. Sr. Inspetor da tesouraria de fazenda, facultando-se todos os recursos tendentes ao fiel desempenho desta comissão, devendo ser suasórios os meios empregados para fazer os retirantes voltar aos seus domicílios, visto ter cessado o rigor da seca, fornecendo-se-lhes os meios de transportes e as rações para a viagem e fazendo-se-lhes distribuição dos objetos do trabalho que porventura existam no lugar da extinta colônia”.

Em outros jornais havia circulado a informação que um grupo desses retirantes tinha ameaçado invadir Propriá.

Em 1880, Porto Real não tinha mais a Colônia e as duas escolas criadas por Lei estavam fechadas por falta de alunos.

Em 3 de abril de 1881, vários moradores de Porto Real do Colégio se uniram para a compra de oito bilhetes da Grande Loteria da Corte e registraram essa inciativa no Jornal de Penedo. Graças a essa nota tem-se uma relação de parte dos antigos moradores do município. O tenente Manoel Gregório Soares foi o depositário dos bilhetes.

Assinam a nota: capitão Francisco Victorino de Santana, capitão Celso Victorino de Santana, capitão Manoel Vieira da Silva Dantas, tenente Manoel Gregório Soares, tenente Pedro José da Cruz, André Cursino do Bonfim, Domingos Alves Feitoza, Targino Alves Couto, Manuel Luiz Marques de Oliveira, Pedro Antônio Carpina, Antônio Félix de Oliveira, Manoel Ferreira da Silva, José Ignácio da Silva, D. Maria Luíza Benevides Brandão e seus três filhos, D. Silvina Adelina Benevides Galvão, Cesário de Sousa Ramalho, Manoel Menezes, Clarindo Brasiliano Soares de Mello, D. Maria Angélica Menezes e seus cinco irmãos, Cândido Vitorino de Santana e Manoel Vieira de Mello.

Com a aprovação da Lei nº 1.056, de 28 de junho de 1889, São Brás foi desmembrado de Porto Real do Colégio e elevado à categoria de vila, assumindo a sede do termo judiciário formado pelas duas vilas. Em Porto Real, essa determinação foi recebida com revolta por parte da população.

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição em 1983, já com as duas torres

Porto Real do Colégio em 1891

Um relatório publicado em jornais no ano de 1891 revela que o município tinha então uma fábrica de fazer chocalhos. Em sua sede existiam mais de 200 fogos e entre 800 e 1.000 habitantes. No município residiam entre 9 e 10 mil almas.

Entre as suas povoações, destacavam-se a de Barra da Itiuba (com uma capela), Maraba (com duas capelas) e Mumbaça (com uma). O movimento comercial era insignificante. Propriá, em Sergipe, era um proeminente polo comercial, atraindo as compras da região.

Colégio não tinha estradas. Todo o transporte era realizado pelo rio São Francisco por canoas ou vapores, que ali tocavam uma vez por semana (faziam a linha Penedo-Piranhas).

O intendente em 1891 era Manoel dos Santos Marinho. O Conselho Municipal era formado por: Luiz José da Silva, Francisco Xavier das Chagas, José Eduardo Sacramento e Manuel Vieira da Silva Dantas.

Naquele ano estava em construção o cemitério público e já funcionava a cadeia, que tinha como carcereiro Messias Patriota. O vigário encomendado era o padre Manoel Pires de Carvalho.

O pequeno comércio tinha duas casas exportadoras, de David José Vieira & Cia e de Manoel Ezequiel Henriques. Para comprar tecidos, somente na loja do Manoel Gregório Soares. Para  Secos & Molhados tinha-se mais opções: Antônio Pedro de Menezes, José Victorino Fontes, Manoel Alves da Silva, Manoel Gregório Soares e Silvino Rollemberg.

Engenhos de fabricar açúcar eram em três: Ilha do Cajueiro, de Antônio dos Santos Cabral; Santo Antônio, do Capitão Moura; e São Luiz, de Luiz Francisco de Oliveira.

Rua Clodoaldo da Fonseca, atual Rua Fernandes Lima e Praça Rosita de Góis Monteiro

Centro Agrícola

Em 1º de agosto de 1912, o governador coronel Clodoaldo da Fonseca baixou o Decreto nº 577, cedendo gratuitamente ao Governo Geral uma faixa de terras devolutas com superfície aproximada de sete mil hectares, situada à margem do rio São Francisco nos municípios de Porto Real do Colégio e São Braz, terrenos de um extinto aldeamento de índios, para a criação de um Aprendizado Agrícola e um Campo de Demonstração.

Um cidadão de nome V. Bueno questionou nos jornais a expressão “terras devolutas”, argumentando que elas eram ocupadas por benfeitorias e lavradas anualmente por seus mais de 200 posseiros, que ali plantavam arroz e outros cereais. Disse ainda que eram posses muito antigas, algumas com mais de 100 anos, em sua maior parte legitimadas por escrituras.

O Centro Agrícola entrou em funcionamento e em 1914 era dirigido pelo servidor do Ministério da Agricultura dr. Roberto Pereira Reis.

Dois anos depois, o município do Colégio era administrado por um junta governativa formada por: Joaquim Ferreira Barbosa, Luiz Mendonça, Ananias Ferreira de Castro, Antônio Avelino dos Santos, José Octaviano de Oliveira, Antônio Luiz Marques e João Antônio da Silva.

Em 22 de outubro de 1924, pelo Decreto nº 1.079, surge o Centro Agrícola de Colégio. Era vinculado ao Serviço Estadual do Algodão (criado por Decreto de 2 de abril de 1923) e visava principalmente a seleção de sementes de algodão. Foram implantadas estruturas semelhantes em União e Santana do Ipanema.

Dois anos depois, a pendenga sobre a legitimidade da posse das terras ainda se arrastava. O diretor do Serviço Estadual do Algodão encarregou então o engenheiro agrônomo Alegria e Silva para analisar o problema e apresentar uma solução. A intenção do governo era dividir aquelas terras em lotes e atrair a imigração japonesa, que tinha larga experiência no cultivo do arroz, principalmente.

Em 1926, quando o prefeito era Jayme Wanderley, o terreno da Vila de Porto Real do Colégio foi demarcado medindo o perímetro 3.587,80 metros (a área tinha aproximadamente 6.000 hectares). Os lotes também começaram a serem divididos. Nos relatórios governamentais, o Centro Agrícola de Colégio passa a ser tratado separadamente da Fazenda de Sementes de Algodão.

Em janeiro de 1929 começaram a ser vendidos os primeiros lotes do Centro Agrícola de Colégio, sendo 25 deles pagos à vista e 71 em prestações. Nesse ano Colégio tinha duas escolas mistas com 228 alunos matriculados.

Cadeia Pública na Rua Clodoaldo da Fonseca

O trem

O primeiro ato formal para a instalação do prolongamento da estrada de ferro de Palmeira dos Índios Colégio ocorreu em 1911, quando o coronel Clodoaldo da Fonseca anulou os contratos celebrados entre o governo Euclides Malta e os engenheiros Adolpho Morales de los Rios e Luiz Leite Oiticica Filho para várias obras em Alagoas.

Entre as medidas adotadas, Clodoaldo concedeu à The Great Western of Brazil Railway Company, representada por Alberto Theodoro Connor, o privilégio para a implantação da ferrovia até Leopoldina, atual Colônia Leopoldina e de outra, que partindo da linha da Great Western se dirigisse a Porto Real do Colégio.

No percurso até Colégio, a estrada de ferro, com 129 km, atenderia também a Olho D’Água do Acioli (futura Igaci), Mangabeiras, Arapiraca, Lagoa da Canoa, Campo Grande e Salgado. Do outro lado do Rio São Francisco teria continuidade com a Viação Bahiana e por ela se ligaria à Central do Brasil, permitindo-se a viagem de trem desde Natal até o Rio Grande do Sul. Os custos da obra estavam orçados em 20.000 contos de réis.

Em 18 de outubro de 1912, parlamentares alagoanos que apoiavam esta medida apresentaram no Congresso Nacional projeto de Decreto autorizando o Governo a contratar com a Great Western ou com particulares ou empresas a construção da estrada de ferro em direção ao Rio São Francisco.

Acreditava-se, então, que os trilhos estariam em Palmeira dos Índios em pouco tempo, considerando que no final daquele ano já tinham alcançado Quebrangulo. A intenção era interligar essa linha com a estrada de ferro de Timbó a Propriá, em Sergipe, e para tal o melhor ponto em Alagoas era Porto Real do Colégio.

Como houve a paralisação das obras da ferrovia até Palmeira dos Índios logo depois, também se deixou de lado, momentaneamente, a pretensão de levar a estrada de ferro até o Rio São Francisco.

Em 14 de fevereiro de 1930 foi assinado o Decreto nº 19.114, com a aprovação dos estudos definitivos e o orçamento (6.089:523$854) para a construção do prolongamento entre Palmeira dos Índios e Colégio, a cargo da Great Western.

Governo de Alagoas também fazia a sua parte. Quando retomada a construção do trecho final entre Quebrangulo e Palmeira dos Índios, em 1931, o interventor Affonso Camargo anunciou que uma das suas metas era executar o prolongamento da ferrovia a partir de Palmeira dos Índios até Porto Real do Colégio.

Affonso Camargo e os outros interventores contribuíram para que a estrada de ferro fosse assentada nos 15 km que faltavam para atingir Palmeira dos Índios e para a realização, entre 1931 e 1932, dos estudos técnicos para a sua continuação até Colégio.

retomada desse projeto do prolongamento aconteceu em outubro de 1936, quando se definiu que a sua construção ficaria a cargo do 3º Distrito do Departamento Nacional de Estradas de Ferro. Somente em julho de 1937 foi que o engenheiro Caminha Franco, da Great Western, chegou à Palmeira dos Índios para iniciar a locação desse trecho ferroviário.

Um ano depois o Ministério da Viação e a Inspetoria Federal de Estradas ainda estavam envolvidos em autorizações para desapropriações de áreas onde seria instalada a ferrovia.

Como as obras não avançavam no ritmo esperado, no início de setembro de 1941 os jornais anunciavam a intensificação da construção com a ampliação do número de operários para cerca de dois mil. Não se sabe se novos trabalhadores foram contratados.

Inauguração trecho entre Arapiraca e Colégio em 15 de dezembro de 1950

Contratados ou não, a construção se arrastou e somente em 6 de julho de 1947 a nova estação “Igaci”, 17 quilômetros acima da estação “Palmeira dos Índios”, foi inaugurada. Os trens chegavam a ela nas terças-feiras e sábados.

Naquela data, todo o movimento de terras e as obras de arte em geral já estavam concluídas em todo o prolongamento até Colégio, incluindo a travessia dos três grandes riachos com “majestosas” pontes sobre o Riacho Boacica (18 metros), o Riacho Itiúba (11 metros) e o Rio Camarão (estava em conclusão). Faltavam somente os trilhos.

Esse anúncio foi efetivado pelo engenheiro Lauristou Pessoa Monteiro, encarregado da construção do trecho de Palmeira a Colégio pelo Departamento Nacional de Estradas de Ferro, então chefiado pelo engenheiro Otávio Gordilho de Castro.

Foram escavados, sem as modernas aparelhagens mecânicas, 2,56 milhões de metros cúbicos de material, sendo que 70% dele era de difícil extração, rochas em sua maioria.

Foi o engenheiro Lauristou Pessoa Monteiro quem revelou em entrevista ao jornal A Noite (edição de 29 de outubro de 1947) o “interesse máximo demonstrado pelo Estado Maior do Exército, em ver concretizado dentro do menor espaço de tempo possível, este grandioso plano”, se referindo à ligação entre as duas maiores redes ferroviárias do Norte do país, que aconteceria com os trilhos em Colégio e Propriá.

Mesmo com todo interesse em agilizar os serviços, a próxima inauguração ocorreu somente em 29 de março 1949, quando foram entregues aos usuários as estações de Lagoa do Rancho (Vila de São José em Arapiraca) e de Arapiraca.

Lagoa da Canoa viu o trem pela primeira vez em 15 de dezembro de 1950, mesma data em que foi inaugurada a Estação de Colégio e todo o trecho a partir de Arapiraca, incluindo as estações intermediárias de AntonicoEngenheiro Gordilho de Castro e Gomes Neto. Estava entregue o Ramal do Colégio, como ficou conhecido esse prolongamento.

O trecho de Arapiraca a Colégio foi construído pela Construtora Camilo Colier Ltda sob a direção do engenheiro Gordilho de Castro, que utilizou trilhos fabricados em Volta Redonda.

conclusão desta obra coincidiu com o fim das atividades da Great Western no Brasil, que desde 26 de maio de 1949 havia celebrado um acordo em Londres para a venda do seu patrimônio ao governo brasileiro.

O governo tomou posse das ferrovias em 21 de novembro de 1950, data em que se constitui a Rede Ferroviária do Nordeste, a responsável pela inauguração do trecho entre Arapiraca e Colégio no mês seguinte.

Travessia de vagão ferroviário por ferry boat no Rio São Francisco, entre Colégio e Propriá

Atravessando o Rio São Francisco

Diferente de Alagoas, o vizinho Estado de Sergipe expandiu sua rede ferroviária em direção ao Rio São Francisco ainda na segunda década do século XX. A Estação de Propriá foi inaugurada em 5 de agosto de 1915, após atingir Aracaju em 1913.

Em Alagoas, com a conclusão do Ramal do Colégio em 15 de dezembro de 1950, a travessia de passageiros e cargas entre os dois municípios foi intensificada com o uso de balsas e lanchas, projetando-se a imediata construção de um “ferry-boat” para atravessar os vagões. Planejava-se também a instalação de uma ponte ferroviária.

Coube a Rede Ferroviária Federal S. A. (RFFSA), criada em 1957, o desafio de estabelecer a ligação ferroviária entre os terminais de Colégio e Propriá, fazendo os vagões atravessarem o Rio São Francisco, evitando o transbordo das cargas via lanchas, canoas e balsas.

Em junho de 1960 foi anunciada a construção, em Salvador, na Bahia, de um “ferry-boat” para realizar esse transporte. O material foi fornecido pela Companhia Siderúrgica Nacional.

Em dezembro de 1963, o Jornal do Commercio estranhava e criticava o adiamento da construção deste equipamento. Nesse mesmo ano entrou em funcionamento uma balsa transportadora de vagões.

Ponte rodoferroviária entre Propriá e Colégio em 1972

No ano seguinte, a barcaça do ferry-boat ficou pronta, mas faltavam as obras de engenharia nas margens necessárias para o seu funcionamento, o que aconteceu em abril de 1966. A inauguração somente ocorreu em 10 de março de 1967. Funcionou até 1972.

Em março de 1964, o Departamento Nacional de Estradas de Ferro abriu concorrência pública para a construção de uma ponte rodoferroviária no mesmo local, com 842 metros de extensão. Em 1970 estava orçada em Cr$ 23 milhões. Foi construída pela empresa baiana Norberto Odebrecht.

Essa ponte somente foi entregue oficialmente para uso em 5 de dezembro de 1972. Uma semana depois da inauguração foram contabilizados 2 mil veículos por dia.

Com a ponte inaugurada, a RFFSA optou por construir um novo terminal em Propriá, e os trens não mais paravam em Porto Real do Colégio, provocando o fechamento do hotel da Rede e da Estação.

2 Comments on Porto Real do Colégio dos jesuítas

  1. Claudio de Mendonça Ribeiro // 26 de março de 2024 em 08:14 //

    Muito grato, prezado Ticianeli.
    Fraternal abraço,
    Claudio Ribeiro

  2. Antes mesmo de ler a matéria, já deixo aqui o meu profundo agradecimento a Ticianeli por esta publicação, a qual, há muito, já venho desejando ver aqui neste ótimo site. Gosto muito de Porto Real do Colégio, pois é minha “terra de refúgio”, como gosto de dizer.
    Agora, vou ler avida e compenetradamente, esta bela matéria histórica.
    Grato,
    Smaile Clever de Oliveira Cavalcante

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