Pedro Tarzan: memórias de um herói do carnaval
Por Pedro da Rocha*
(Publicado originalmente no Boletim Alagoano de Folclore, nº 1, 2001)
Em 1950, aos 21 anos de idade, o caboclo sergipano Pedro Ferreira Auta decidiu trilhar um caminho que é lugar comum entre os que nascem nos ermos do interior: pôs a matula nas costas, abandonou Malhador, a terra natal e, após um breve período em Aracaju, onde trabalhou cuidando do tacho em urna fábrica de bombons, veio aportar na capital das Alagoas. Objetivos: tentar um lugar ao sol nos espaços do cenário urbano, conquistando um bom emprego e realizar um sonho além do comum: “— eu queria ser artista de cinema.”.
O carnaval de 1952 serviu de cenário para seu primeiro ensaio. Penas, tecidos, crina de cavalo e tinta transformaram Pedro Ferreira Auta em um índio inspirado nos filmes americanos de faroeste.
Perfeccionista e de aguçado senso crítico, não se conformou. E considerou sua primeira fantasia “inadequada”. Melhor seria nos anos seguintes, com o aperfeiçoamento das próximas fantasias e com o aprimoramento de seu condicionamento físico.
Em 1955, junto aos companheiros Ademário Santana e Jorge Marinho de Lima, criou o Ginásio Sansão, uma academia de halterofilismo, na rua Santo Antônio, bairro de Ponta Grossa. E em 1957, sagrou-se campeão do concurso realizado entre as academias Força e Saúde, Peso e Ginásio Sansão, todas de grande renome na época.
Foi assim que Pedro Ferreira Auta virou Pedro Tarzan, apesar de sua cor ou seu porte nada ter em comum com o campeão olímpico de natação Johnny Weissmuller (um dos mais famosos intérpretes de Tarzan na história do cinema).
A relação estabelecida com o cinema, que partiu de seu culto à perfeição física e aos heróis dos filmes de gêneros diversos, mais tarde viria a se solidificar através de seu talento como criador de inúmeras fantasias que deram aos antigos carnavais realizados em Maceió um brilho particular. Pedro Tarzan buscou e encontrou no cinema referência e inspiração para criar dezenas de fantasias.
O clássico do cinema brasileiro vencedor do Festival de Carmes, “O Cangaceiro“, dirigido por Lima Barreto, viria a inspirar a fantasia que, em virtude de seu biotipo, iria lhe cair mais-que-perfeita: Lampião. Assim, o agora fiscal de postura da Prefeitura de Maceió virou um autêntico cangaceiro. Com os trajes, apetrechos, ornamentos, armas e trejeitos do Capitão Galdino (para os bem entendidos, Capitão Virgulino) de Milton Ribeiro.
Mas Pedro Tarzan queria mais. Legitimando e levando ao extremo máximo a assertiva de que “a vida imita a arte”, Pedro Tarzan queria ser gladiador como Kirk Douglas em “Spartacus“; um imponente chefe indígena como Victor Mature em “O Grande Guerreiro“; ou um personagem bíblico, como o duas vezes Mr. Universo Steve Reeves, no épico “Golias Contra os Bárbaros“.
Os faroestes “A um Passo da Morte”, com Kirk Douglas; “Até o Último Guerreiro”, com Randolph Scott e Jack Palance; e “Assim São os Fortes”, com Clark Gable e Ricardo Montalban, ao tempo em que inspiraram o carnavalesco em suas criações, revelaram um Pedro Tarzan sensível e consciente.
A ideologia “roliudiana” do bom mocinho que extermina o índio “sanguinário” não fizeram a cabeça do caboclo sergipano: “— Tenho no sangue as raças índia e negra… e me orgulho disto!”, enfatizava. O que explica sua opção pelos peles-vermelhas.
Entre 1952 (quando pela primeira vez fantasiou-se de índio) e no final da década de 80, quando desfilou pela última vez, Pedro Tarzan criou dezenas de fantasias. Fibras naturais, latas, espelhos, penas e tecidos devidamente manuseados com sua habilidade de artesão, aliados à uma boa cultura geral, geraram várias indumentárias: de índios, caubóis, gladiadores, reis, entidades de inspiração religiosa africana e figuras bíblicas.
As fantasias Carrasco (1956), Pele Vermelha (1957), Lampião (1960), Dário III, Rei da Pérsia (1974), Caramuru (1974), Spartacus (1976), Comanche (1980), Golias (1981), Caetés (1984), Tibiriçá (1985), Araribóia (1989) e Oxossi (1989) ilustram bem suas multifacéticas inspirações.
Consciente de sua importância para o universo da cultura alagoana, Pedro Tarzan sempre se considerou merecedor das homenagens recebidas de autoridades, imprensa e órgãos de cultura do Estado. Se o sonho de se tornar uma estrela de cinema não virou realidade, sua determinação, força de vontade e inventividade levaram-no a conquistar um posto como um dos mais respeitáveis nomes da galeria dos mitos populares alagoanos, impondo-se como tema de várias exposições sobre o carnaval alagoano e como motivo de um vídeo-documentário (Memórias de um Herói do Carnaval, uma co-produção VTK Vídeo – ASFOPAL, de nossa autoria). VEJA AQUI.
Pedro Ferreira Auta nasceu no município de Malhador, estado de Sergipe, no dia 17 de fevereiro de 1929 e faleceu em Maceió, Alagoas, no último mês de outubro [de 2000], aos setenta e um anos de idade.
*Documentarista e diretor de filmes publicitários.
Lembro-me de Pedro Tarzan em dias de carnavais, quando ele saía pelas ruas do bairro de Jatiúca, fantasiado de índio. Era muito bonito, muitas gente o seguia, admirando sua beleza. Quê saudade!!!
Lembro-me de quando meu avó lia as estória que escrevia sinto muita falta
Queria saber de um casal que desfilava no carnaval de Maceió sempre com fantasias do tempo bíblico, lembro de deles fantasiados de Sansao e Dalila em cima daquelas carruagens épicas se não estou enganada o nome dele era Fusco ou Fulco não sei bem isso foi nos idos da década de 50 será que tem algo sobre esse casal nas histórias do Maceió Antigo?
Neco Vital e Natalícia.