Paulo Jacinto, a antiga sesmaria de Domingos Jorge Velho
Quem primeiro se estabeleceu, em 1819, no local que deu origem ao povoado de Lourenço e depois à cidade de Paulo Jacinto, foi o casal Antônio de Souza Barbosa (paraibano de Campina Grande) e Maria Inês Lopes Delgado Barbosa, segundo estudos do reconhecido jornalista e historiador viçosense Jair Pimentel. Em uma das margens do rio Paraíba do Meio, no agreste alagoano, constituíram propriedade rural onde ergueram casa e capela com a imagem de Nossa Senhora da Conceição.
Outra fonte revela que em 1817 já se registravam na igreja matriz de Atalaia casamentos realizados na Capela de Nossa Senhora da Conceição. Essa informação está na Revista do Ensino, de Alagoas de julho/agosto de 1928, no vasto estudo sobre “O vocábulo Parahyba” do professor Wescelau de Almeida, que, ao discordar do dr. Alfredo Moreira Pinto sobre a origem da denominação do Rio Parahyba do Meio, que atribuía o acréscimo “do Meio” como uma tentativa de diferenciar do Rio Parahyba do Sul (São Paulo, Minas e Rio), acrescenta a seguinte nota explicativa:
“(3) Em um livro de registro de casamento da matriz de Atalaia de 1817, inscreveu-se alguns celebrados na “Capela de Nossa Senhora da Conceição de Paraíba do Sul” pelo padre Manuel Marques Padilha, cujo nome surge em outros atos em S. Lourenço, numa capela sob aquela mesma invocação. Parece que se trata de um lugar até então inominado, a que se procurava dar um daqueles dois nomes aqui, postos em itálico [Paraíba do Sul e S. Lourenço]. É sem dúvida a atual povoação de Lourenço, município de Victoria (Quebrangulo).
O rio tem, entretanto, na sesmaria concedida a dona Jeronyma Cardim de Fróes, viúva do legendário bandeirante Domingos Jorge Velho (6-5-1716), o nome de Parahyba Grande, devido ao Parahybinha, nesse documentado chamado Parahyba Pequeno.
A primeira designação vê-se também na sesmaria do paulista João de Araújo Delgado, um dos oficiais de Jorge Velho (10-12-1723).
Alguns papéis desse tempo nomeiam também o citado afluente de Parahyba Mirim, forma que, sem necessidade, se procurou reviver na Carta Choerographica do Estado de Alagoas (1893)”.
Esse estudo pode revelar, também, a origem de Maria Inês Lopes Delgado, que se casou com o paraibano Antônio de Souza Barbosa. A doação de uma sesmaria ao paulista João de Araújo Delgado, um dos oficiais de Jorge Velho, é uma pista.
Independente da data precisa do início da ocupação, essa terra era uma doação ao bandeirante Domingos Jorge Velho. Fazia parte das condições estabelecidas em 14 de agosto de 1693 entre o governador da capitania de Pernambuco, João da Cunha Souto Maior, e o “governador dos paulistas”. No item 6 estava acertado “Que o Sr. governador dará aos mesmos conquistadores referidos sesmarias nas mesmas terras dos Palmares, que estiverem livres, para as poderem povoar e cultivar como suas, vivendo sujeitos, e as mesmas terras, ao domínio de Sua Majestade. Que Deus guarde”.
No item 11 definia-se o lugar: “E as sesmarias, que pretendem no rio dos Camarões e Pernahiva, lhe promete dar o Sr. governador assim e da maneira que quiserem”.
Em 3 de setembro de 1691, o governador Dom Antonio Felix Machado ratificou o acertado e em 7 de abril de 1693, El Rei assinou o alvará de confirmação do acordo, definindo que as sesmarias doadas “hão de ser com as cláusulas costumadas, limitando a cada um o que poder povoar, ficando livre poder dar as que for servido a outras pessoas, que me quiserem servir na mesma guerra ou tiverem feito em outras ocasiões”.
O governador de Pernambuco, Francisco de Castro Moraes, com a morte de Domingos Jorge Velho, assinou carta de sesmaria, em 3 de janeiro de 1705, para a viúva Jeronyma Cardim de Fróes, cumprindo o acordo.
Não há registro de como se deu a transferência dessas terras para o casal Antônio de Souza Barbosa e Maria Inês Lopes Delgado Barbosa, mas foram eles que utilizaram capela e a doação de terras para dar início ao povoamento do lugar.
Um pouco mais abaixo de onde se instalou Antônio de Souza Barbosa em 1819 (José Maria Tenório Rocha localiza essa chegada a Alagoas em torno de 1835), Lourenço da Veiga, outro proprietário, fez surgir a Fazenda São Lourenço, com uma capela devotada a esse santo, que origem povoado de São Lourenço.
Tenório Rocha, citando Costa Pereira, informa que Lourenço da Veiga “era descendente de Lourenço da Veiga, governador português no Brasil de 1578 a 1580, que possuía quatro filhos, entre eles Diogo da Veiga, e, chegaram a se estabelecer em Lourenço, vindos de Pernambuco”.
Outro registro, de Jair Pimentel, indica que o Veiga que ali se estabeleceu foi Luiz Sucupira da Veiga Lima, com sua Fazenda São Lourenço.
São Lourenço e o povoamento em torno da capela de Nossa Senhora da Conceição se expandiram rapidamente e os dois passaram a ser identificados como Lourenço. Para diferenciar, o que era liderado por Antônio de Souza Barbosa passou a ser Lourenço de Cima, o outro, de Lourenço Veiga, ficou conhecido como Lourenço de Baixo.
A povoação de Lourenço foi citada, em 1831, no decreto imperial que separou a Vila Nova da Assembleia (Viçosa) da vila de Atalaia. Com essa divisão, Lourenço deixou Atalaia e passou a fazer parte do futuro município de Viçosa. Com ele estavam Riacho do Meio, Quebrangulo, Passagem, Caçamba e Limoeiro.
O desenvolvimento do lugar foi lento, como atesta Jair Pimentel ao historiar que o primeiro engenho de Lourenço ali se instalou somente em 1850, pelas mãos do trisavô do historiador, João Lopes Delgado Barbosa, filho do casal pioneiro.
Em 1872, Quebrangulo foi promovido a município e Lourenço passou a ser um dos seus distritos, situação que perdurou até 1953.
No tempo da Maria Fumaça
O Diário Oficial de 28 de novembro de 1909 publicou o Decreto nº 7.632, de 28 de outubro do mesmo ano, com a aprovação da revisão do contrato de arrendamento das estradas de ferro efetivado com a Great Western of Brasil Railway Company e da construção dos prolongamentos das estradas de ferro, Conde d’Eu, na Paraíba do Norte, Central de Pernambuco e Central de Alagoas.
O prolongamento da Estrada de Ferro Central de Alagoas era o interligava Viçosa a Palmeira dos Índios, passando por Vitória (Quebrangulo). A elaboração do projeto teve a supervisão do engenheiro da Great Western, dr. Themistocles de Figueiredo.
Os estudos e orçamento para a construção do primeiro trecho, de 45 km (total de 77.881 metros). foram apresentados ao Governo em outubro de 1910. Após a sua aprovação, as obras foram iniciadas no dia 1° de janeiro de 1911.
Em 29 de dezembro de 1911 entrou em funcionamento o transporte entre Viçosa e o povoado Anel. Em 19 de maio de 1912 foi entregue ao tráfego, provisoriamente, entre Anel e Paulo Jacinto.
No início de 1912 foram iniciadas as construções das Estações de Anel, Paulo Jacinto e Quebrangulo. A de Paulo Jacinto foi inaugurada em 18 de maio de 1912. O tráfego até Quebrangulo, com 20 km, foi inaugurado em 14 de dezembro de 1912 e dias depois (29) o mesmo ocorreu com o trecho entre Quebrangulo e o quilômetro 44 da ferrovia.
O Decreto nº 10.270, de 12 de junho de 1913 aprovou os estudos definitivos e o orçamento para o segundo trecho, entre o quilômetro 44 e Palmeira dos Índios. No início de julho de 1914, uma nota publicada nos jornais informava que o ministro da Viação havia remetido à Inspetoria de Estradas a 2ª via dos estudos definitivos do segundo trecho do prolongamento de Viçosa a Palmeira dos Índios.
Depois de muitos desencontros entre a Great Western e o Governo, no início de 1927 foram retomadas as construções, em Alagoas, do trecho de Quebrangulo até próximo ao alto da serra (Atum).
Em 1º de março de 1930, foi inaugurado o trecho entre Quebrangulo e Anum (em Palmeira dos Índios, a 21 km de Quebrangulo). A estação deste lugar foi inaugurada no dia 19 do mesmo mês.
Após novas paralisações da obra, o ramal e a estação de Palmeira dos Índios foram inaugurados pela Great Western em 27 de dezembro de 1933. A primeira locomotiva havia entrado naquela cidade no dia 16 de agosto de 1933.
Houve uma espécie de “pré-inauguração” em 4 de setembro de 1933, com a presença do ministro José Américo, general Góis Monteiro e do interventor Affonso Camargo (Diário da Manhã de 4 de setembro de 1933).
Lourenço substituído por Paulo Jacintho
Quando a Great Western ainda planejava, em 1910, os caminhos da estrada de ferro entre Viçosa e Palmeira dos Índios, o quebrangulense Paulo Jacintho Tenório (quando jovem assinava acrescentando “de Albuquerque”), que não media esforços para viabilizar a implantação da ferrovia, doou terras para a empresa, diminuindo consideravelmente os custos com as desapropriações.
Os ingleses ficaram agradecidos pelos donativos e resolveram homenagear o benfeitor cobrando da municipalidade que alterasse o nome do povoado Lourenço para Paulo Jacintho. Assim aconteceu, mas não foi possível encontrar qualquer registro oficial da formalização dessa homenagem. Há registros de que também não pretendiam gerar confusão com a Estação de Lourenço de Albuquerque, em Rio Largo.
Considerado o homem mais rico de sua época, em Alagoas, foi agraciado com o título de Barão de Palmeira dos Índios em 28 de agosto de 1889, mas não chegou a receber a honraria oferecida pelo Gabinete Liberal do Império. Logo em seguida à proclamação da República, a Constituição Republicana de 1891, no seu Art.72 § 2º, estabeleceu que não admitiria privilégios de nascimento, desconheceria foros de nobreza, e extinguiria as ordens honoríficas existentes e todas as suas prerrogativas e regalias, bem como os títulos nobiliárquicos e de conselho.
Segundo José Maria Tenório da Rocha, uma versão oral conta que ele se desinteressou pelo título quando soube que teria que pagar dez contos de réis, uma fortuna para a época.
Paulo Jacinto Tenório de Albuquerque, que nasceu no ano de 1839 em Quebrangulo, era filho de Paulo Caetano Tenório de Albuquerque e de sua primeira esposa, Joaquina do Espírito Santo Cavalcanti. Casou-se com Águeda Tenório de Albuquerque (faleceu em Palmeira dos Índios em 15 de janeiro de 1892).
Tiveram cinco filhos:
1 – Domingos Jacintho Tenório, casado com Adília Camboim de Mendonça Vasconcelos;
2 – Rodrigo Jacintho Tenório (nasceu em 20 de junho de 1870 e faleceu em 26 de janeiro de 1929);
3 – Joaquina Tenório, esposa do deputado Natalício Camboim de Mendonça Vasconcelos e
4 – Manuela Tenório, casada com Manoel Tenório de Albuquerque. Ficou viúva e casou-se com o tenente-coronel Arcencio Camboim de Mendonça Vasconcelos, fazendeiro em Bom Conselho, Pernambuco, e neto do Barão de Buíque;
5 – Josefa Tenório, casada com Felinto Tenório de Albuquerque (faleceu em Quebrangulo no dia 25 de fevereiro de 1948).
Foi chefe político do Partido Liberal, delegado de Polícia, coronel comandante da Guarda Nacional em Palmeira dos Índios e intendente de Victória (Quebrangulo) por dois mandatos (1905/06 e 1911/12).
Em 1920 era proprietário das fazendas Bálsamo, Carrapateira, Lagoa Queimada e Trapiá. Quando faleceu, em 10 de julho de 1927, em Quebrangulo, deixou para seus familiares 127 propriedades e 6.700 contos de réis em dinheiro.
Seu filho Rodrigo Jacintho Tenório era o intendente de Quebrangulo no período 1897/98. Também muito rico, era proprietário das fazendas Boa Vista, Caçambinhas, Catolé, Creoulas, Guabiru, Paquevira, Riacho de Antônio Vermelho, Riacho do Carvalho, Riacho do Valentim, Serra Lisa e o sítio Papafina.
O furto do cofre do Coronel Paulo Jacintho
Na noite de 23 de março de 1920, o coronel Paulo Jacintho teve sua casa, em Victória (Quebrangulo), invadida e seu cofre saqueado. Os gatunos levaram apenas 5 contos de réis. A polícia iniciou as investigações e nada conseguia até que no dia 5 de abril o sr. José Nilo Tenório, sobrinho do coronel Paulo Jacintho e que residia com ele há dois meses, foi visto num importante hotel de Victória jogando alto e perdendo muito.
Sob suspeita, foi chamado a depor e logo confessou o crime, denunciando seus parceiros no furto. Informou que foi induzido a participar por Francisco Felino, neto do coronel Paulo Jacintho. Foi ele que conduziu, na noite de 23 de março, Francisco, Sebastião Gomes, vulgo “Tatu”, e o sargento Anthero, instrutor de tiro em Victória, até a casa, onde abriram a porta e efetivaram o arrombamento do cofre.
Quando do interrogatório do sargento Anthero, às 3 horas da madrugada, aconteceu uma tragédia. Após prestar depoimento, o sargento afastou-se bruscamente, empunhou sua pistola Mauser e se matou com um tiro na cabeça.
Ouro Branco
O jornalista paulo-jacintense José Alberto Costa, em depoimento para o professor Sávio Almeida publicado no jornal O Dia, fornece informações importantes sobre o município, ressaltando a sua inicial vocação agrícola, mas que “acabou transformando-se em região de pecuária, na medida em que suas áreas de plantio foram substituídas por pastos para o gado”.
Com a palavra José Alberto Costa:
“Quando a agricultura imperava naquelas paragens havia mais desenvolvimento e, como diziam os antigos, corria mais dinheiro na praça. As feiras semanais estendiam-se da antiga igrejinha de Nossa Senhora da Conceição, seguindo pela Rua do Comércio, ganhando o Beco da Ponte e parte da Rua São Sebastião. Quase todos os produtos eram originários da região. Existiam três lojas de tecidos e a filial de uma outra sediada em Palmeira dos Índios (que abria, apenas, nos dias de feira); três mercearias, duas padarias, duas farmácias, armarinhos e outras pequenas casas comerciais.
O forte era o plantio de algodão que levou a multinacional Sanbra (Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro) a instalar uma indústria, para realizar, mecanicamente, o beneficiamento do algodão, com separação da lã (pluma) do caroço que, após embalados, esses subprodutos eram enviados para centros produtores de tecidos e de óleos comestíveis, em Alagoas ou em outros Estados. Durante a safra, mais de 50 operários revezavam-se dia e noite, no trabalho. A produção era transportada pelos trens de carga da Great Western, para diversos destinos.
[A Sanbra era uma filial da companhia argentina Bunge, que se implantou no Nordeste a partir da década de 1920 – História de Alagoas].
No início da década de 40, a Sanbra transferiu o controle de suas indústrias de beneficiamento existentes em Alagoas — Paulo Jacinto, Palmeira dos Índios, São José da Lage e União dos Palmares — para a empresa Siqueira & Tenório que, por sua vez, a transferiu para o nascente Grupo Carlos Lyra, adotando a razão social Algodoeira Lagense S.A. Com o desaparecimento do algodão, já na década de 60, o maquinário foi vendido e os vários armazéns da empresa adquiridos pela prefeitura do município sobrando, apenas, a casa destinada à residência do gerente, localizada na esquina do conjunto de prédios e que foi doada ao meu pai, pelos anos de bons serviços prestados à empresa desde a época da Sanbra, Assim, terminou o ciclo do “ouro branco”, acarretando desemprego para muita gente e o enfraquecimento do comércio local”.
Desenvolvimento
Com a via férrea transportando mercadorias e passageiros, Paulo Jacinto passou a receber outros investimentos, a exemplo do serviço de iluminação elétrica explorado pela firma Lopes Barbosa & Cia. Foi inaugurado em 26 de outubro de 1923.
O aumento do número de automóveis em circulação no Estado cobrava outro tipo de estrada. Assim, em junho de 1924 tramitava na Assembleia Legislativa projeto de Lei autorizando a construção da estrada de rodagem interligando Paulo Jacinto a Quebrangulo. Foi inaugurada nos últimos dias de 1930, como prometeu o governador Álvaro Paes no Diário de Notícias de 25 de setembro de 1930.
Em setembro de 1931, por iniciativa particular foi fundada em Paulo Jacinto uma biblioteca popular denominada Gabinete de Leitura Annibal Lima. Tinha 600 volumes. A sua primeira diretoria teve a seguinte composição: presidente de honra, João de Almeida Porangaba; presidente efetivo, José Aurino Barros; vice-presidente, Francisco Assis Barbosa; 1º secretário, Mário Acioli Wanderley; 2º secretário, Sebastião Costa Barros; tesoureiro, José Barbosa Filho; e bibliotecário, José Barbosa Barros. Estava instalado na Rua do Comércio, nº 97.
Novos investimentos para o Distrito de Paulo jacinto foram conquistados em outubro de 1939, quando seus moradores apresentaram ao interventor um memorial solicitando a inclusão daquela vila no plano de benefícios do governo. Cobravam mais uma escola, considerando que as quatro existentes já estavam com as suas matrículas completas, e uma ponte sobre o Rio Paraíba. Conseguiram 800 contos de réis.
Em 11 de junho de 1950 foram inaugurados o Campo de Pouso Cadete Moacir Caparica e a nova Estação Telegráfica, com presença do governador do Estado e de várias autoridades.
O primeiro pouso de um avião em Paulo Jacinto utilizou o campo de futebol. Segundo José Alberto, era um “paulistinha” amarelo do Aeroclube de Alagoas, pilotado por José Aloisio Costa, nascido em Pindoba, estudante de odontologia e aluno de pilotagem.
Moacydes Caparica tinha sido o filho de um caixeiro-viajante, que abastecia lojas e armarinhos de Paulo Jacinto mensalmente, vitimado em um acidente durante um voo de treinamento da FAB.
Outra obra importante para o jovem município foi o prédio da Maternidade Modelo, que estava erguido em janeiro de 1961, no final do governo de Muniz Falcão. Meses depois, quando o governador já era Luiz Cavalcante, Muniz reclamou pelos jornais a demora na implantação da maternidade.
Foi o mesmo Luiz Cavalcante que, em 18 de março de 1964, entregou a eletrificação da sede do município com energia fornecida por Paulo Afonso.
A Igreja Matriz
A Capela de Nossa Senhora da Conceição, que já existia em 1817, como atesta a inscrição do padre Manuel Marques Padilha no livro de registro de casamento da matriz de Atalaia, foi derrubada numa das enchentes do rio Paraíba, segundo Jair Pimentel. No mesmo local foi erguida outra capela, com a mesma devoção. Fica no final da Rua Santos Dumont, onde existiu a Praça Souza Barbosa.
Entre 1921 e 1923, quando o padre João Vasconcelos Teixeira era o vigário de Quebrangulo, Paulo Jacinto ganhou uma nova capela para N. S. da Conceição, no final da Rua Floriano Peixoto (Rua do Comércio). Foi demolida no início da década de 1960.
A partir de 1948, com a instalação da paróquia, alterada para homenagear Nossa Senhora das Graças, teve início a construção da nova Matriz. Pedras, tijolos e cimento para essa obra chegavam a Paulo Jacinto por via férrea. Era comum, quando isso acontecia, a população se reunir na estação para ajudar a descarregar o material e transportá-lo para o canteiro de obras.
A paróquia foi criada no dia 2 de março de 1948. Coube ao bispo metropolitano Dom Ranulpho da Silva Farias assinar o decreto desmembrando-a da paróquia do Senhor do Bom Jesus dos Pobres. A missa de posse foi celebrada dias depois, em 31 de março.
O primeiro padre da nova paróquia foi o cearense José Jesuflor, responsável pela criação da Escola Paroquial. Depois dele, assumiu a Matriz o padre José Monteiro, nascido em Tacaratu, Pernambuco. Dinâmico e simpático, iniciou a construção da Matriz. Segundo o jornalista José Alberto, o novo templo recebeu a contribuição da senhora Maria Luiza Torres Barbosa, esposa do comerciante Francisco de Assis Barbosa, que cuidou da decoração interna. “Artista plástica, pianista e cantora lírica, ela realizou uma obra digna de admiração. Ela também foi autora da bandeira e do hino oficial”.
A nova Matriz dessa paróquia somente foi inaugurada e sagrada em 2 de fevereiro de 1962, com missa celebrada pelo Bispo Dom Adelmo Machado. Ainda em 1962, com a fundação da Diocese de Palmeira dos Índios, a freguesia passou à jurisdição eclesiástica desta Sé.
Emancipação política e o Baile da Chita
Entre a elevação à vila em 13 de julho de 1925, por força da Lei nº 1.050, e a desvinculação de Quebrangulo, garantida pela Lei nº 1747, de 2 de dezembro de 1953, os habitantes de Paulo Jacinto lutaram tenazmente por sua emancipação.
A sinalização de que esse momento estava próximo ocorreu no início de 1953, com o Projeto de Lei do deputado Manoel Ferreira de Barros propondo que o antigo distrito de Lourenço fosse elevado a município.
O deputado Manoel Ferreira de Barros, natural de Palmeira dos Índios, Alagoas, onde nasceu no dia 8 de setembro de 1894, era filho de Antônio Ferreira de Barros e Antônia Amélia de Barros. Foi escrivão e tabelião em Capela, Alagoas. Ainda em Capela conquistou mandatos de vereador e prefeito, este por nomeação do interventor federal. Por quatro vezes foi conduzido pelos eleitores à Prefeitura de Porto Calvo. Faleceu em Maceió no dia 21 de setembro de 1979. Seu único mandato de deputado estadual ocorreu na legislatura 1951/55, eleito pelo PST com 1.126 votos. O governador era Arnon de Melo.
O prefeito Thomaz Tenório de Hollanda e a Câmara Municipal de Quebrangulo não gostaram da iniciativa do deputado e reagiram contratando o advogado Igor Tenório para impedir o desmembramento.
A contestação se baseava na exigência da Lei de Organização dos Municípios, que cobrava do território pretendente a município uma população mínima de dez mil pessoas. Paulo Jacinto possuía então 1.344 habitantes na sede, 293 nos subúrbios e 5.632 na zona rural.
As lideranças políticas de Paulo Jacinto também contrataram advogado para a peleja judiciária. Como não tinham dinheiro para esse fim, promoveram um Baile da Chita.
Foram vitoriosos e a Lei nº 1747, de 2 de dezembro de 1953 confirmou a emancipação do então distrito de Paulo Jacinto de Quebrangulo. A vila de Paulo Jacinto passou a ser cidade e sede do novo município.
Em 28 de janeiro de 1954, o governador Arnon de Melo assinou o ato de nomeação do primeiro prefeito, José Aurino de Barros. O poder foi instalado dias depois, no domingo 7 de fevereiro de 1954 (Diário de Pernambuco de 14 de fevereiro de 1954), com a presença do governador e de outras autoridades. Foi oficiada uma missa pelo monsenhor Antônio Valente, vigário geral da Diocese de Maceió. Depois de mais alguns eventos comemorativos, às 22h houve um baile.
Por falar em baile, o da Chita continua a acontecer e transformou-se no mais importante evento festivo do município. O Baile da Chita, entretanto, não nasceu em Paulo Jacinto. Era um festejo comum no período junino em várias cidades do país, principalmente no Sudeste.
Sua origem faz referência a Chita, um tecido de origem indiana que chegou ao Brasil como um produto da nobreza ainda no início do século XIX. Somente após a partida da família real, em 1821, foi que começou a ser produzido no país utilizando o fio de algodão trançado de forma simples. Ficou conhecido como Morin. As estampas, que mantiveram seus motivos florais, eram pintadas com xilogravura. Ficou barato e popular, passando a ser utilizado pelos mais pobres.
Os primeiros registros em jornais sobre esses bailes à caipira surgiram na segunda década do século XX. A emergente classe média brasileira se fantasiava de matuto, numa espécie de troça, de forma semelhante ao surgimento de algumas Quadrilhas Matutas, que usavam a mesma Chita.
Hino de Paulo Jacinto
Criação: 10 de janeiro de 1971
Letra e Música: Profª Maria Luíza Torres Barbosa
Tu és pequenina
Tu és formosa
Paulo Jacinto
Teus filhos vibrantes cantam
Avante com o Brasil
És modesta entre as cidades
De Alagoas e dos marechais
Paulo Jacinto cresce
Pelo Brasil: Avante
És grandeza exuberante
Dos teus filhos representantes
Paulo Jacinto cresce
Pelo Brasil: Avante
Fotografias de paulo-jacintenses nos jornais e revistas
Graças a Jeremias Gomes Costa, várias fotografias de personalidades de paulo-jacintenses foram publicadas em revistas e jornais do sudeste do país na década de 1930. Jeremias era uma espécie de correspondente desses veículos. Reproduzimos abaixo algumas dessas fotografias.
Uma bela história, uma grande pesquisa, bastante abrangente do ponto de vista histórico, parabéns ao povo Paulo Jacintense
Bom dia, sou filho de um alagoano Augusto Francisco de Barros, e suas histórias remetem a que ele contava,ele nasceu em Rio Largo em 1925 e faleceu em 73 anos em Araçatuba-SP. Um abraço.
Possuo fotos do casal capitão Cazuza e Josefa Texeira vasconcelos.pais de minha avó Maria romeira veiga da costa
Prezado Ticianeli, imensamente grato pelo encaminhamento desta análise de Alagoas.
Muito interessante e completa a matéria sobre minha cidade, Paulo Jacinto. Nasci lá em 1959 e sou filho de Francisco de Assis Barbosa, um dos baluartes da emancipação e de Maria Luiza Torres Barbosa, autora da decoração da Igreja, da bandeira e do hino da cidade.
A HISTÓRIA É SEMPRE BEM VINDA A MEMÓRIA!
Quando muito jovem, movido por muita curiosidade perguntei ao meu avô onde ele havia nascido – me disse , muito aborrecido pela minha ousadia, afinal naqueles tempos os adultos não davam conversas a crianças, que havia nascido em Lourenço de Albuquerque, Palmeira dos Índios ao que respondi , mais ousado ainda – vovô, esse lugar é em Rio Largo. Ele me olhou com aquele desprezo dos que já não podiam mais dar uma bofetada em moleque atrevido, e nada respondeu. Muitos anos depois, já com a maravilha da internet descobri que o tal lugar era na verdade o povoado Lourenço de Cima que havia sido transformado na cidade de Paulo Jacinto, fato ignorado pelo sr. Manoel Teotônio Soares.
É sempre bom a gente ler e reler sobre a história de nossa amada terra: Paulo Jacinto. Este trabalho, integrante do Portal História de Alagoas, criado pelo jornalista e pesquisador Ticianeli conta com detalhes, o desenvolver de Paulo Jacinto. Tive a felicidade de ter parte de uma longa matéria que escrevi sobre PJ, a pedido do escritor, pesquisador e professor da UFAL , Sávio Almeida, e que preencheu as quatro páginas de um suplemento literário, publicado como encarte do semanário “O Dia”, há alguns anos.
Viagei na história da minha linda Paulo Jacinto. Que belo relato, quanta riqueza de detalhes. Obrigada pelo registro e já peço licença para compartilhar no grupo de Paulo Jacinto. Orgulho de ser da Terra do Baile da Chita!
Parabens, a historia tem que ser preservada para nao cair no esquecimento.
Não sou Paulojacintense de nascimento, mas sou de coração e por ter um titulo de Cidadão Honorário que muito de orgulha.
Como jovem, agradeço por resgatar e detalhar a antiga história de minha pequena e formosa cidade!
Estou pesquisando meus avós maternos e no final deste fabuloso texto me deparo com uma foto do jornal Vida Doméstica que menciona meus avós maternos: Silvino de Araújo Lima e Ernestina de França Lima. Gostaria de saber mais sobre eles.