Paulo Gracindo, o alagoano que nasceu no Rio de Janeiro

Paulo Gracindo entrou para a história da dramaturgia brasileira ao interpretar Odorico Paraguaçu em O Bem-Amado de Dias Gomes

Quando Demócrito Brandão Gracindo casou-se, em 1908, com Argentina Passos Guimarães, sabia que estava contrariando seu pai, Epaminondas Hipólito Gracindo, uma das mais expressivas personalidades políticas da época.

Argentina Passos Guimarães era filha de Américo Guimarães Passos e Afra Amorim Guimarães. O despachante e comerciante Américo Guimarães era adversário político de Epaminondas Gracindo.

A insatisfação de Epaminondas Gracindo foi tal que rompeu as relações com filho. Era deputado federal quando morreu, em Viçosa, no dia 13 de janeiro de 1911.

Por ironia do destino, seu filho Demócrito Gracindo foi quem ocupou a sua vaga, eleito em 23 de abril de 1911. Tomou posse em junho e seu curto mandato se estendeu por apenas cinco meses, até outubro daquele mesmo ano.

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Para sua posse no Rio de janeiro, viajou com a esposa e com o filho Epaminondas Guimarães Brandão, nome escolhido para tentar a reaproximação com o pai. Argentina Passos estava então com oito meses de gestação do segundo filho.

Foi assim que nasceu na Rua do Catete, Rio de janeiro, Pelópidas Guimarães Brandão Gracindo, no dia 17 de julho de 1911.

A criança, que viria a ser o ator Paulo Gracindo, voltou para Maceió em 5 de outubro com menos de três meses de vida.

Demócrito Gracindo, sua esposa Argentina e os filhos Epaminondas e Pelópidas, futuro Paulo Gracindo

O jovem Paulo Gracindo

Em Maceió, o ainda Pelópidas Gracindo fez a primeira comunhão na Igreja dos Martírios e iniciou seus estudos no Colégio Diocesano. Transferido para Recife, estudou no Colégio Nóbrega e começou o curso superior na Faculdade de Direito de Recife. Continuou este curso na Faculdade de Direito do Catete, quando já morava no Rio de Janeiro.

Já estava no Colégio Nóbrega, em Recife, aos 11 anos de idade (1921), quando perdeu o irmão Epaminondas, com 13 anos de idade, que também era interno no Nóbrega. Participaram de um pic-nic com sua turma em Caxangá, onde o menor bebeu da água de uma cacimba, tida como mineral. Contraiu febre tifoide e faleceu dias depois.

Pelópidas foi quem acompanhou no trem o corpo do irmão até Maceió, onde permaneceu por alguns dias. Foi forçado pelo pai a voltar a estudar em Recife.

Não queria retornar e conviver no ambiente que esteve com o irmão até pouco tempo antes. Para se livrar do sofrimento, o menino Pelópidas fugiu por três vezes do internato, se abrigando na casa de uma família amiga do seu pai.

Na última fuga, o Colégio Nóbrega não aceitou mais a sua volta e o fujão teve que retornar a Maceió, onde levou uma inesquecível surra de bengala de junco do seu pai.

O outro castigo foi o de permanecer preso em casa, a Vila Atlântica (a casa das três torres na Pajuçara), estudando com professores particulares. Para surpresa de todos, com 15 anos de idade falava corretamente o francês, alemão e inglês. Foi seu próprio pai o professor de História Universal.

Residência do dr. Demócrito Gracindo na Pajuçara, construída pelo engenheiro José Diniz Silva. Localizava-se onde atualmente está erguido o Hotel Enseada.

Como qualquer adolescente, não se sentia bem vivendo numa prisão, usando calças curtas e vendo os amigos da mesma idade vestindo calças compridas e namorando. Ele lembrou anos depois de uma menina de nome Carmozina, que passava e tornava a passar pelo lado de fora do casarão.

Em uma entrevista para a revista Manchete em 1976, revelou que mesmo sendo agredido pelo pai a todo momento, não rejeitou a figura paterna. Seus sentimentos eram ambivalentes: afeto e terror, desejo de identificação e projetos de vingança.

Paulo Gracindo era também advogado, mas nunca exerceu a profissão

Aos 15 anos e após muitos castigos, resolveu fugir de casa. Para conseguir dinheiro, saiu pedindo aos amigos do pai alguns empréstimos, sempre deixando um papel assinado se comprometendo a pagar. Para o pai deixou um bilhete dizendo que não podia continuar assim, pois não amava o pai e tinha medo dele.

Pegou o trem da Great Western e embarcou para Recife. Na viagem fez amizade com o filho do Barão de Vandesmet, proprietário da Usina Brasileiro em Atalaia.

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Na capital pernambucana, além de comer nos melhores restaurante, chegou a fazer um verdadeiro carnaval na Rua Nova.

Desfilava em carro aberto levando garrafas de champanhe e prostitutas. “Fiz também um grande sucesso nos bordéis do Recife. Pagava rodadas de bebidas. Jogava pela janela o honesto dinheiro do meu pai… Como menino, era romântico: então me amiguei com Petronila, bonita e carinhosa. Passava a maior parte do tempo no quarto dela, numa pensão de mulheres”, lembrou.

Quando o dinheiro acabou, passou a dormir na oficina de um jornal, autorizado pelo jornalista Baltazar de Mendonça, o mesmo que anos depois administrou Maceió como prefeito.

Foi ali encontrado por um tio, quando dormia. Segundo Pelópidas, esse tio era farrista e já tinha usado parte do dinheiro que recebera para procurá-lo com bebidas e mulheres. Mas foi ele quem, temendo a surra que seria aplicada no jovem, resolveu levá-lo para a Bahia e lá convencê-lo a estudar Medicina.

Mal chegou em Salvador, foi para uma república de estudantes próxima da Estação Central. Sua diversão era jogar bombas pela janela. Assim gastou todo o dinheiro que seu pai tinha enviado para ele.

Para não passar fome, vendeu os livros e passou a se alimentar na Baixa do Sapateiro com os segmentos mais pobres da cidade.

Vivia essa situação, quando o dentista e professor da Faculdade de Medicina, José Lima, lhe procurou e informou que seu pai estava muito mal. Tomaram um navio juntos para Maceió. Quando a embarcação se afastou do porto, o amigo do pai lhe disse que lhe contara uma mentira e que fizera aquilo para levá-lo de volta. Pelópidas tentou pular do navio, mas foi impedido.

Quando a embarcação se aproximou de Jaraguá, começou a tremer, antevendo a surra que levaria do pai, que estava na ponte de embarque e desembarque, fracamente iluminada à noite. Sua silhueta se destacava — Demócrito Gracindo tinha dois metros de altura.

Ponte de Embarque e Desembarque de Jaraguá, em Maceió

Desembarcou do bote e subiu a escadinha com a ajuda do pai, que lhe estendeu a mão. Quando beijava a mão do pai, ele passou a outra na cabeça do filho e disse: “Vamos. Vou lhe mostrar meu Buick. Comprei do último tipo”.

O gigante chorava emocionado ao rever o filho rebelde. Conversou com o ele e estabeleceu novas regras de convivência.

Um mês depois, o pai voltou a conversar com ele: “Jamais em minha vida de político, pedi algo para você. Porém, vamos ao Rio. Quero lhe colocar na Escola Militar. Sou diabético, como você sabe. Cada dia estou pior. Os presentes que você recebe dos meus amigos não são para você. São para mim. Quando eu morrer ninguém fará nada por você. Seja carroceiro. Mas seja o melhor carroceiro da sua terra”.

Pelópidas, que vivia o drama de não saber que profissão seguir, chorou. Não queria ser militar e sua mãe achava que ele devia ser advogado. Com essas dúvidas, embarcou para o Rio de Janeiro em companhia dos pais.

Tinha 16 anos de idade e antes de viajar foi ao comércio de Maceió, na Casa Torre Eiffel, e adquiriu sua primeira calça comprida.

No Rio de Janeiro, seu pai teve a diabetes agravada e foi atendido pelos doutores Pedro da Cunha e Miguel Couto. Faleceu dias depois, em 25 de setembro de 1927, quando tinha 44 anos de idade.

Pelópidas e a mãe permaneceram no Rio por alguns dias na casa do seu tio Gilberto Goulart de Andrade, depois retornaram à Maceió.

Desestimulado com os estudos, foi trabalhar como aduaneiro. Por pouco tempo. Logo foi convencido pela mãe a estudar Direito em Recife.

O Revolucionário

Quando Getúlio Vargas iniciou a rebelião que viria a ser conhecida como a Revolução de 1930, Pelópidas Gracindo prestava serviço militar no Tiro de Guerra da Faculdade onde estudava em Recife.

A primeira tarefa do seu agrupamento foi abrir trincheiras no asfalto de uma das principais ruas da cidade. Achou estranha aquela missão. O sargento tratou de explicar: “Se receber bala não fique apavorado. É bala mesmo. A revolução estourou!“.

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O Tiro de Guerra da Faculdade de Direito aderiu aos rebelados e foi incorporado às forças da Paraíba, lideradas por Agildo Barata. No Nordeste, o comando era de Juracy Magalhães.

Após dominar Pernambuco, essas tropas iniciaram o deslocamento por terra para o Rio de Janeiro., incumbidos de neutralizarem as reações em Alagoas, Sergipe e Bahia. Para a ação militar em Salvador, os revolucionários se concentraram em Alagoinhas, próximo à capital baiana.

Soldados paraibanos em Maceió durante a Revolução de 30

No final de outubro, Alagoinhas, último bastião antes de Salvador, era defendida por tropas legalistas formadas por 400 homens da Polícia da Bahia, 600 jagunços de Horácio de Matos e Geraldo Rocha, o “Batalhão Patriótico das Lavras Diamantinas”, e 180 praças do 21º Batalhão — haviam fugido de Recife.

Recebendo informações sobre as posições das tropas legais e dos jagunços, os revoltosos chegaram à Sauípe, distrito de Alagoinhas, prontos para o combate, que durou quatro horas.

Em entrevista ao Pasquim, Paulo Gracindo admitiu que temiam essas forças. “Estávamos realmente com muito medo dos jagunços. Nos deitamos com os fuzis no meio da mata e esperamos fogo. Do meu lado tava um crioulão, que eu pensava que tinha uma coragem danada, mas que tava com mais medo do que eu”.

Continuou: “Fiquei atrás de um formigueiro. A bala comia que realmente não se podia levantar a cabeça. Eu não sei como se atira em guerra. O sujeito fazer pontaria com a bala comendo, não entendo. Eu não tinha coragem pra levantar a cabeça. Logo depois o crioulo levou uma bala de fuzil no meio da testa que abriu o seu crânio”.

Teve consciência então que não tinha nada a ver com aquilo. Ficou apavorado. Atirava sem fazer pontaria, sem querer atingir ninguém. Fazia isso para escapar da fiscalização do sargento, que de vez quando passava, segurava o cano do fuzil para saber se estava quente.

Para sua alegria, logo teve fim o tiroteio. “Terminou justamente pela coragem pessoal do Agildo (Barata). Colocaram uma metralhadora pesada dentro da estaçãozinha de Sauípe, na janelinha. Tinha uma cerca pequena de bambu, umas galinhas. A cada tiro as galinhas rebentavam. Um negócio terrível. A metralhadora pesada bate no seu estômago. Não precisa nem lhe atingir. Aquela batida no estômago, o medo que dá o som, é terrível. Dá uma dor terrível”.

“Eu vi o Agildo passar de parabelo [pistola parabélum]. Só atirava de parabelo, não usava fuzil. Aquela porcaria daquele tamanho, e pulava por cima da gente. Não entendo até hoje como é que as balas não entravam nele. Disse: ‘Vou tomar essa metralhadora’. Saiu, deu um pulo em cima da cerca, chegou atirando na cara dos dois: PÁ! E tomou a metralhadora. No peito”.

Com a estabilização da situação e com Getúlio assumindo o poder, o pelotão embarcou no navio Santarém para o Rio de Janeiro, onde o Tiro de Guerra acampou em uma das dependências do Senado, no Palácio Monroe.

Curioso, o jovem soldado Pelópidas Gracindo resolveu acompanhar a discussão dos senadores e foi preso. Levaram-no para um cofre enorme e alguém resolveu fechar a porta por brincadeira. Tiveram que ir buscar um serralheiro às pressas para não deixar o soldado curioso morrer asfixiado.

Como a Revolução não teve logística, os soldados não tinham o que comer e alguns chegavam a desmaiar de fome. A solução foi pedir o apoio da sociedade carioca. Assim, Pelópidas passou a se alimentar na casa de um conhecido juiz em Laranjeiras. Cinco dias depois já estava noivo da filha do magistrado.

Poucos dias após, o Tiro de Guerra voltou ao Recife. Pelópidas, entretanto, já estava enfeitiçado pela vida na capital federal e conseguiu convencer a sua mãe que deveria ser transferido para uma Faculdade de Direito no Rio de Janeiro.

Abastecido por uma mesada que lhe daria condições de estudar sem maiores atropelos, voltou a estudar, mas somente concluiu o curso de Direito em 1935, com 24 anos de idade.

Carreira artística

No Rio de Janeiro, resolveu realizar o sonho de ser artista de teatro, algo que seu pai reprimia lhe dizendo que “se algum dia eu te vir em cima do palco, que é lugar de frescos e de viados, eu te pego pela gola e te arranco de lá, na mesma hora, debaixo de tapa”.

Essa pretensão nasceu nele quando ainda era uma criança, quando, para passar o tempo nos castigos, lia às escondidas os 30 volumes de Rocambole, obra de Poson du Terrail.

“Foi com Rocambole que me tornei ator… criei paixão pela ideia de viver a vida dos outros. E me imaginava ora disfarçado de padre, ora de cavaleiro, ora de vilão… Quando podia, pegava coisas na penteadeira da minha mãe e me disfarçava. Uma vez, garoto, fui à rua de cavanhaque. Ainda hoje eu sou melhor nos papeis característicos — como os da novela O Bem-Amado e Os Ossos do Barão”, recordou em 1976.

Paulo Gracindo em foto utilizada para enviar às fãs

Seu aprendizado para o teatro se deu nas companhias mambembes e depois no Grupo Ginástico Português. Neste, graças principalmente ao namoro com a filha de um dos sócios, que o apresentou aos dois dos maiores atores amadores da época, Castro Viana e Manoel Braga.

Foi assim que estreou no papel de um tabelião em “As Aventuras do Tabelião Pomet”, uma chanchada francesa. Na terceira apresentação, Oduvaldo Viana, pai do Vianinha, gostou dele e o contratou. Nesta nova companhia estreou em A Bela e a Fera, de Bernard Shaw.

Foi nessa época que mudou o seu nome: “Uns me chamavam de Petrópolis, outros de Pelopes. A empregada me chamava de Envelope“. Passou a ser Paulo Gracindo.

Mesmo tendo conseguido fazer sucesso também no rádio e na televisão, Paulo Gracindo confessou que sempre amou o teatro e que só se sente integralmente bem em cima do palco: “Sou uma pessoa de paixões definitivas. Quando entro assim num cenário como este, durante os ensaios — essa sombra, esse cheiro de pó, roupas penduradas de todo o jeito, o Paulo José ali naquele canto, de mangas arregaçadas — sinto uma emoção incrível. Me vem a ideia de que até as cadeiras vazias esperam de mim um bom trabalho…”.

Após trabalhar para Procópio Ferreira, nos primeiros anos da década de 1930, se desentendeu com ele e levou consigo mais alguns atores. A associação deles constituiu uma nova companhia, que percorreu várias capitais e fez enorme sucesso em Porto Alegre. Ganharam uma bolada para a época.

O grupo se desfez e Paulo Gracindo ficou por lá até perder todo seu dinheiro em um cassino. Voltou para o Rio sem dinheiro e sem trabalho. Foi morar na pensão do Abel Pêra e teve que comer o pão e o leite dos vizinhos, acordando muito cedo para obtê-los ilegalmente. Algumas vezes eram os amigos que lhe pagavam a “gororoba”, a comida mais barata do Rio de Janeiro.

Para ajudá-lo, Jardel Jercolis o contratou para o teatro de revista, pagando-lhe cem mil reis. Um prato de “gororoba” custava mil e quinhentos reis. Levantava algum dinheiro também como revisor do jornal Correio da Manhã.

Foi levado em seguida para o Grande Teatro Eucalol na Rádio Tupi, onde conheceu o gaúcho de Pelotas Manoel Barcelos, que o aconselhou a tentar ser locutor comercial.

Conseguiu o emprego de locutor na Rádio Tupi e passou a ganhar quatrocentos mil reis para trabalhar de 7 às 14 horas. Melhorou de vida e até voltou a estudar Direito.

Nessa etapa da sua vida, passou a dividir um apartamento com Manoel Barcelos em Copacabana.

Sua primeira experiência com animação em programa de rádio se deu no Calouros em Desfiles de Ary Barroso, que passou a ser apresentado na Rádio Tupi em 5 de fevereiro de 1939. Quando o apresentador adoecia ou viajava para transmitir futebol, Paulo Gracindo era o seu substituto. Os shows aconteciam no Teatro Carlos Gomes.

Entusiasmado com a experiência no rádio, alugou na Rádio Tupi duas horas aos domingos para um programa de auditório. Assim surgiu o Programa Paulo Gracindo. Manoel Barcelos era o vendedor de anúncios. Ganharam tanto dinheiro que no dia do primeiro programa compraram automóveis para eles.

Sua primeira participação no cinema ocorreu em 1936 numa película da Waldow Films, João Ninguém. O diretor e protagonista foi Mesquitinha, coadjuvado por Barbosa Júnior, Dea Silva, Paulo Gracindo, Darcy Cazarré, Plácido Ferreira e Antônio Marzullo.

Paulo Gracindo em um dos seus primeiros trabalhos no Rádio

Em 1940, quando seu tio Gilberto Goulart de Andrade assumiu a direção da Rádio Nacional, não pode deixar de atender o seu pedido e se transferiu para a emissora vinculada ao governo federal.

Voltou a fazer o programa de auditório na Nacional tempos depois, aos sábados. Na Tupi, seu amigo Manoel Barcelos continuou com programa semelhante.

Para relançar o Programa Paulo Gracindo, procurou o locutor César Ladeira, que admirava por seu trabalho na cobertura do carnaval pela Rádio Clube, e propôs que ele fizesse a locução comercial. Em troca, durante o carnaval, Ladeira faria a animação e Gracindo a leitura das publicidades.

Trabalharam juntos por um tempo, mas quando Gilberto Goulart de Andrade resolveu trocar a Rádio Nacional pela Rádio Tupi, Paulo Gracindo o acompanhou novamente, celebrando o mais alto contrato daquela época.

Nesse período  se aproximou do seu primo, também da Rádio Tupi, Túlio Gracindo, filho de Ignácio Brandão Gracindo. Foi por meio da esposa dele, Carmem, que conheceu a prima dela, Dulce Xavier da Silva, que tinha 16 anos de idade à época. Casou-se com ela um ano depois, em 1942. Tiveram três filhas — Lucila, Lenora e Teresa — e um filho, Epaminondas Gracindo, o Gracindo Jr.

Dulce era filha do alagoano de Viçosa Francisco Xavier de Araújo, que fez fortuna no Rio de Janeiro em vários empreendimentos imobiliários. Era proprietário da Rádio Ipanema.

Quando terminou seu contrato com a Tupi em 1946, Paulo Gracindo tentou voltar para a Rádio Nacional, mas Victor Costa lhe ofereceu o salário irrisório de 9 mil cruzeiros. Além disso, a grade da programação estava repleta de estrelas.

Pensava se aceitaria ou não a proposta, quando foi procurado por Eurico Silva, da Rádio Nacional, que lhe convidou para interpretar o papel do personagem Albertinho Limonta na novela radiofônica “O Direito de Nascer”. A novela fez absoluto sucesso e permaneceu por dois anos no ar. Paulo Gracindo estava de volta às interpretações teatrais.

Paulo Gracindo em Bandeira 2, como o inesquecível bicheiro Tucão

O sucesso da radionovela facilitou a conquista do horário das 11 às 11h30 na Rádio Tupi. Em 1962, esse horário já era das 9h30 às 15h10, com interrupção somente para “A Hora do Pato”, de Jorge Curi.

Com uma carreira consolidada como animador de programa de auditório e radioator dramático, Paulo Gracindo surpreendeu a todos, em 1953, ao aceitar o papel de comediante no programa Balança Mas não Cai da Rádio Nacional, atendendo ao convite do roteirista Max Nunes.

Quem escrevia o Balança Mas não Cai era a dupla Mário Brasini e Max Nunes, seus amigos. Num almoço, em meio a uma conversa, Brasini lhe propôs uma troca: “você está escrevendo um programa chamado ‘24 Horas da Vida Alheia’. Eu escrevo nesse programa, que é mais meu gênero, e você vai ser parceiro do Max”.

Max Nunes aceitou na hora, mas lhe pediu: “Eu quero um negócio bom que você tem no seu programa, que é uma visita que um parente pobre faz a um parente rico”. Gracindo confessou que se inspirou para fazer esse quadro no seu sogro, que era muito rico.

O parente passou a ser primo no quadro Primo Rico, Primo Pobre. Quem distribuía os papéis era um cidadão de nome Floriano Faissal, que colocou Gracindo como o Primo Pobre. No ensaio, foi alertado da troca, mas insistiu. Houve discussão e sem se entenderem, na hora de entrar no palco, Floriano Faissal disse: “Sabe de uma coisa? Vocês façam o que quiserem!”.

Com o fim da chamada Era do Rádio, Paulo Gracindo iniciou sua carreira como ator de novelas da Globo em 1967, com A Rainha Louca, que contou também com a participação do seu filho, Gracindo Jr.

Começou a se destacar na TV em 1971, com o papel do bicheiro Tucão em Bandeira 2. Mas o sucesso aconteceu em 1973, com Odorico Paraguaçu em O Bem-Amado de Dias Gomes. Essa interpretação lhe deu o prêmio de melhor ator da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e o Prêmio Televisa.

Além de uma robusta história nos palcos, rádios e tvs, Paulo Grancindo também faz parte da história dos carnavais, emplacando sucessos como “Cabeleira do Zezé“, uma parceria com o compositor João Roberto Kelly que estourou no carnaval de 1964 numa interpretação de Jorge Goulart.

Entre dezenas de músicas de sua autoria, fez sucesso também “O velho Gagá” em 1961, interpretado por Jackson do Pandeiro. Esta em parceria com Almira Castilho.

Paulo Gracindo faleceu em 4 de setembro de 1995 no Rio de Janeiro. Tinha 84 anos de idade e sofria de câncer de próstata, além não reconhecer mais ninguém por ser portador de Alzheimer. Foi sepultado no Cemitério de São João Batista.

9 Comments on Paulo Gracindo, o alagoano que nasceu no Rio de Janeiro

  1. Carlos Roberto Aquino Barbosa // 25 de maio de 2021 em 09:57 //

    fico muito feliz em ler as vidas dos antepassados alagoano, chego ao ponto de acreditar que nossas vidas realmente são feitas de coisas boas e nós tiramos proveitos das coisas boas por esses cotidiano realizados por eles no passados.
    fatos que na minha nunca eu iria saber.
    abraços.

  2. André José Soares Silva // 25 de maio de 2021 em 12:00 //

    Orgulho de ser Alagoano

  3. Onaldo Edison Araújo // 25 de maio de 2021 em 12:34 //

    Matéria bastante elucidativa da saga familiar desse grande ator.

  4. Billy Magno // 25 de maio de 2021 em 12:47 //

    O Floriano citado no texto era Floriano Faissal.

  5. Maria Angelica Ribeiro // 25 de maio de 2021 em 16:59 //

    Era o melhor ator do Brasil fazia personagens bondosos como o padre de Roque Santeiro ao maldoso e engraçado Odorico Paraguaçu e o romântico Maciel de o Casarão. Era o máximo! Super versátil!

  6. Tania Lanschi Ferreira // 8 de junho de 2021 em 23:37 //

    Minha avó Aída Passos Guimarães Ferreira era irmã da Tia Argentina, mãe do Paulo Gracindo. Apesar do meu pai ser primo em primeiro grau, não tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente.🙄

  7. Assisti ao Paulo no Teatro Dois de Julho em Salvador. Ele só, levantou aquela multidão. PARABÉNS Paulo imortal.🙏🙏jo

  8. Parabéns a TICIANELI pelo grande trabalho de pesquisa histórica da vida do brilhante ator PAULO GRACINDO.

    É uma história comovente, que nem encontrei no Wikipédia. Nela vemos que nem todos os que nascem em berço de ouro vivem num mar de rosas, chegando, por ironia do Destino, a caírem no fundo do poço.

    Paulo Gracindo, na reviravolta de sua vida, tinha tudo para terminar como um sujeito sem futuro. Mas ele teve algo que falta a muitos jovens de hoje – o respeito pelos pais. Mesmo tendo deixado claro ao pai, em um bilhete, que não o amava, e até o temia, após fugir, Paulo Gracindo em nenhum momento o desrespeita. Quando alguém lhe conta que o pai estava mal, um outro filho rancoroso teria esperado o pai morrer, retornando apenas para receber a herança. Mas ele retorna para ver o pai ainda vivo.

    Acredito que esse foi o motivo por PELÓPIDAS GUIMARÃES BRANDÃO GRACINDO, o grande ator Paulo Gracindo, que fora abençoado com uma longevidade – Epaminondas Hipólito Gracindo, seu avô paterno, que rompera relações com a sua família, vivera até os 67 anos, e seu pai, Demócrito Brandão Gracindo, partiria deste mundo terreno mais cedo ainda, aos 44 anos, enquanto o protagonista de O BEM AMADO chegaria aos 84 anos de idade.

    “Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra”
    Êxodo 20, 12

  9. Izabel Magalhães // 9 de março de 2024 em 18:15 //

    Amei ler sobre a vida de “Paulo Gracindo”, que história!
    Gosto muito de biografias

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