Paulo Dias e Criança, os vidraceiros mais famosos de Maceió
Paulo Dias da Silva, o filosofo amável da transparência, talvez tenha sido um dos primeiros profissionais em Alagoas a trabalhar sua imagem à altura das boas agências de publicidade da atualidade.
Não foi possível determinar sua origem, mas nasceu em alguma data próxima de 1915 e tinha uma característica marcante: sua altura era inferior a um metro e meio.
Também não se sabe como aprendeu a profissão, mas, como consta na Junta Comercial, sua firma foi registrada em 16 de março de 1936, sob nº 5.172. Já estava em atividade desde 2 de julho de 1934.
Se estabeleceu na então Av. Nilo Peçanha, nº 218. Essa via, a partir de 28 de novembro de 1937, passou a se denominar Av. Moreira Lima. Era uma loja de duas portas vizinha a casa onde se instalou a Eletrodisco.
Seus anúncios nos jornais chamavam a atenção pela criatividade. Convocava seus clientes a “cristalizar a vida”. “Vamos por vidros diante de tudo que nos angustie”. E assinava: “O único vidraceiro da terra, o filosofo amável da transparência é: — PAULO DIAS”.
Em outubro de 1938, continuava a se anunciar como “O único no seu gênero” e que aceitava chamadas para o interior do Estado. Seu endereço já era Av. Moreira Lima, nº 241.
Segundo Félix Lima Júnior, era “baixo, forte, moreno claro, anda sempre com um chapéu de cortiça, tipo colonial” e “bom profissional, trabalhador e honesto”.
Permaneceu como “o filosofo amável da transparência” até fins de 1952, quando voltou a dar demonstrações de sua criatividade publicitária. Félix Lima Júnior descreve o que aconteceu:
“Quando em fins de 1952, tratou-se, em Maceió, de escolher candidato à Prefeitura da cidade, vaga com a renúncia do sr. Joaquim Leão, surgiram dois candidatos: o próprio Leão e o Cel. Lucena Maranhão.
Paulo Dias aproveitou a oportunidade e publicou, nos jornais, uma fotografia sua, fardado não sei de que, pois a Guarda Nacional já não existia, e as cheganças não estavam funcionando, — com os seguintes dizeres:
Interventor Paulo Dias, candidato único de Maceió a governador da cidade de vidros”.
Ainda morando e trabalhando na Av. Moreira Lima, casou-se Dona Edite (faleceu em 20/12/2016) e tiveram os seguintes filhos: Terezinha, Gorete, Fátima, Paulo Dias Filho, Manoel e Salete. Destes, somente Paulo Dias Filho está vivo.
Com a morte de Paulo Dias, no início dos anos 70, a vidraçaria mudou-se para a Rua da Alegria, 164, ao lado da Casa Guido, e passou ser tocada por seu filho do mesmo nome. Anos depois foi para o Beco São José e atualmente está localizada na Rua 16 de Setembro, na Levada.
É um dos mais antigos estabelecimentos comerciais de Maceió. Em 2023 completou 89 anos de atividade ininterrupta.
O gigante “Criança”
O outro vidraceiro a fazer história na capital foi Vandelin Rufino de Araújo, o Criança. Diferente de Paulo Dias, Criança tinha 2,02m, um gigante que tinha dificuldade em andar pelas calçadas de Maceió, cheias de placas dos estabelecimentos penduradas de forma perigosa. Era comum vê-lo caminhando pela rua por causa desses obstáculos.
Ganhou este apelido quando adolescente, por ser alto e sempre brincalhão. Apesar de alegre, não gostava que o fitassem por ser alto. Mas era inevitável.
Vandelin nasceu em Maceió no dia 21 de julho 1927 e cursou, de forma incompleta, somente o 1º grau. Ainda jovem, foi tentar a vida no Rio de Janeiro, onde apendeu a profissão.
Não deu certo por lá e quando voltou a Maceió para trabalhar com o irmão Luís Araújo, que tinha a Vidraçaria VICORSA, na Rua Boa Vista, vizinho ao IBGE. Lá também trabalhavam outros familiares: Jadier (irmão), Alex (sobrinho) e os primos Reinaldo e Vera.
Profissional dedicado, cuidava dos negócios da firma com muito zelo, acompanhado detalhadamente o funcionamento da empresa. Era comum vê-lo arrodeando a enorme mesa de trabalho, sempre com um lápis preso na orelha. Outra mania era a de não beber água gelada: preferia a do filtro de cerâmica.
Casou-se com Maria José Rufino de Araújo em 18 de janeiro de 1969 e foram pais de Mônica Maria Rufino de Araújo e Marcos Antônio Rufino de Araújo.
Depois de muitos anos tocando a Vicorsa, ele e o irmão foram trabalhar na Vidraçaria São Paulo, na Rua do Sol.
Acumulou capital e experiência e logo inaugurou sua própria vidraçaria, a Santa Mônica, no Beco São José, que depois passou para a Rua Joaquim Távora e teve seus últimos dias na Rua do Sol, onde fechou as portas em 1992, após o seu falecimento no dia 4 de maio.
O produtor cultural Marcos Rufino, seu filho, lembra dele como “um pai atencioso, sempre presente, não media esforços para fazer tudo pela família que era tudo para ele”. Com a família e amigos, era muito brincalhão.
Marquinhos, como é mais conhecido — apesar de ser também muito alto —, elogia a corujice que seu pai tinha com o neto, que mesmo morando no Rio de Janeiro, onde sua filha cursava Residência em Medicina, recebia diariamente, por telefone, o carinho do avô.
Foi morador da Rua Prof. Virgínio de Campos, no Farol, e da Rua do Imperador, no Centro.
Conheci o Paulo dias vidraceiro amigo do meu pai. Lembro do chapéu esquisito que o mesmo usava. Muito querido pela sociedade alagoana naquela época
Sou sobrinho do criança, adorei a resenha. Só faltou nominar tio Luís Araújo, dono da Vicorsa, onde tio Criança começou. A Vicorsa era uma vidraçaria onde componentes da família trabalhavam juntos( os irmãos, tios Criança e Jadier, o sobrinho Alex( que ainda tem uma vidraçaria) e os primos Reinaldo e Vera)
Zé Milton, incorporamos as suas informações ao texto. Obrigado pela contribuição.
Conheci o Criança quando eu era comerciário na loja de disco Cantinho da Música, que ficava na avenida Moreira Lima.
Era um “boa praça”! Alegre e brincalhão. Era cliente da loja e sempre passava por lá para pedir uma música.
Guardo boas lembranças dele!
Lembrei da música que o Criança pedia para ouvir. Falava que lembrava moço, e acho que servia no exercito. ” NADA ALÉM” (1938) na voz de Orlando Silva
Conheci o Sr. Paulo Dias “Vidraceiro”, era amigo do meu pai, Carlos Bastos de Oliveira, que tinha seu ponto comercial, ao lado da Vidraçaria Paulo Dias, na Moreira Lima 227, era a Casa da Construção. O Sr. Paulo Dias era mesmo baixinho, usava chapéu e fumava charuto. Conheci também sua esposa D. Edite, e seu filho Paulino que tinha mais intimidade. Saudades daqueles tempos bons.
Meu Pai Jadier é meus tios amados !🦅🙏🏻🙏🏻
Boas lembranças de nossa família, muito feliz pela merecida homenagem ao Tio Vande, Jadier e aos demais.
Nossa! Que emoção! Que linda homenagem. Muito feliz!
Só lembranças boas desse tio querido