Pariconha perde o ex-prefeito José Correia
Às 16h deste sábado, 6 de janeiro de 2024, faleceu José Correia de Souza, uma das maiores lideranças da política e do sindicalismo sertanejo em Alagoas. Natural de Pariconha, onde nasceu em 26 de novembro de 1941, Zé Correia, como era mais conhecido, tinha 82 anos de idade.
Era um dos últimos combatentes do grupo organizado pela Ação Católica e pelo Movimento de Educação de Base naquela região, que se destacaram pelo enfrentamento aberto à ditadura militar e aos governantes locais, a partir da Cooperativa e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Água Branca.
José Correia, em depoimento, relatou que foi o próprio padre que estimulou a formação do sindicato, ainda em 1962. “Um belo dia, o padre chegou e disse: a vontade de vocês é criar o sindicato? O Julião está criando sindicato aí, a zona da mata de Alagoas; é um comunista. É bom que a gente crie antes que ele crie“.
Após o Golpe Militar de 1964, os setores da Igreja mais ligados aos movimentos sociais iniciaram uma discussão política que evoluiu para a organização da Ação Popular – AP. Como consequência, o trabalho social também passou a ter forte conotação política.
Foi assim que em Pariconha se formou uma base da AP, realizando trabalho político com expressiva participação das lideranças locais. Além de Zé Novaes, o grupo contava com os filhos de João Correia Sobrinho e Maria São Pedro Correia, os irmãos José, Geuza, Josué e Jaime. Geraldo, Judite, João e Gilberto Correia tiveram participação menor.
Com a presença de dirigentes nacionais, a AP instalou em Pariconha uma Escola de Quadros, responsável pela formação de dezenas de militantes no sertão. Esse trabalho foi descoberto pela Polícia em 1968, após um episódio ocorrido durante a campanha de Lamenha Filho em Água Branca.
Os envolvidos foram presos em dezembro daquele mesmo ano. Dezenas de trabalhadores rurais foram detidos. Destes, Zé Novaes, Zé Correia (que era o presidente do Sindicato) e Josué Correia foram transferidos para a DOPSE em Maceió. Dias depois também presos Aldo Arantes, Gilberto Franco, Dodora, Rosa e seus filhos.
Aldo Arantes e Josué Correia confirmaram que Gilberto foi levado ao Riacho Salgadinho onde sofreu torturas, incluindo a simulação de afogamento. José Correia também informou que foi torturado. Em um interrogatório, o coronel Adauto derrubou o conteúdo de um cachimbo aceso na sua cabeça, quando ele estava imobilizado por algemas.
Mesmo com as torturas, a polícia não sabia da verdadeira identidade de Aldo Arantes e de Gilberto Franco. As acusações eram por atos subversivos em Pariconha, principalmente a panfletagem e posse de jornais que pregavam a revolução comunista.
No dia 19 de junho de 1969, a Justiça Militar condenou Roberto Ferreira (Aldo Arantes) e Juarez Etcheverria (Gilberto Franco) a seis meses de prisão cada. A mesma decisão absolveu todos os outros processados. O procurador militar Carlos Alberto Borges, ao fazer a denúncia, identificou que Roberto Ferreira, Juarez Echeveria, Maria Auxiliadora e Rosa de Oliveira não eram trabalhadores rurais.
Ainda em 1969, Aldo Arantes e Gilberto Franco fugiram da Delegacia do DOPSE na Rua Cincinato Pinto.
A partir de 1987, José Correia liderou o movimento de emancipação política de Pariconha, então um distrito de Água Branca. A reivindicação foi vitoriosa e a criação do município constou da Constituição Estadual de 5 de outubro de 1989. Foi confirmado pela lei publicada em 7 de abril de 1992, data comemorada como a da emancipação. A instalação ocorreu em 1º de janeiro de 1993.
José Correia foi o primeiro prefeito do município. Escolhido pela Assembleia Legislativa, exerceu o cargo interinamente até 31 de dezembro de 1992.
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