Padre Amâncio e as Estatísticas Eclesiásticas das Alagoas de 1865
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O sacerdote católico Manoel Amâncio das Dores Chaves chegou a Alagoas em 1843, como se deduz por seus escritos na apresentação dos dados estatísticos sobre a igreja católica em Alagoas no ano de 1865. Lá está: “eu tinha que socorrer-me somente ao auxílio de
alguns amigos e aos conhecimentos práticos que tenho desta província, onde resido há 22 anos; e, para as cifras e datas, à minha curta
memória do que tenho lido e ouvido”.
Sobre sua ordenação, há pesquisas sobre ele indicando que provavelmente participou das últimas turmas do Seminário de Olinda, entre 1849 e 1850. Seu nome surge em várias edições do Diário de Pernambuco em 1849. Foram publicadas oito poesias e alguns anúncios oferecendo aulas particulares de Latim, Francês, Música e Geometria. O endereço da casa era na cidade de Olinda. Na página 2 do Diário de Pernambuco de 20 de agosto de 1850, uma curta nota confirma que já era um sacerdote naquela data: “O padre Manoel Amancio Chaves tem mudado o seu nome para Manoel Amancio das Dores Chaves”.
Não há informações sobre como e onde se deu o início da sua ação paroquial, mas sabe-se que em 1853 era o professor de Gramática Latina, Francesa e Filosofia na Vila de Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, atual Marechal Deodoro, em Alagoas.
No ano seguinte teve uma rápida passagem, como substituto, pela cadeira de Gramática Latina e Retórica do Liceu de Maceió. Em 1855 já estava em Porto Calvo, ministrando seus conhecimentos de latim.
Depois esteve em Atalaia, lecionando ali também a mesma disciplina. Foi removido para Maceió mais uma vez por determinação do Ofício nº 217, de 26 de agosto de 1859. Contrariado, apelou ao governo para se manter em Atalaia, mas não conseguiu. Em Maceió passou a ser, interinamente, professor de Latim do Liceu.
Como essa cadeira era problemática e o Padre Amancio havia demonstrado qualidades para ministrá-la, o então diretor de Instrução Pública, José Correia da Silva Titara, solicitou dias depois (Ofício nº 236 de 10 de setembro de 1859) a sua efetivação, argumentando que as aulas em Atalaia eram inúteis, pelos poucos alunos. Permaneceu no Liceu até 1861, quando ocorreu a sua provisória extinção.
Foi autorizado então a continuar com as aulas em sua modesta casa, na Rua da Imperatriz, nº 47 (atual Rua do Sol), onde contribuiu para a formação de vários intelectuais alagoanos. Além de ser profundo conhecedor da língua latina, era um notável orador sacro, tradutor e poeta.
Nesse período, iniciou sua participação na política e no jornalismo. Foi deputado provincial nas legislaturas 1858-59, 1864-65 e 1866-67, e fundou, em 2 de setembro de 1863, o jornal Mercantil, em sociedade com o também professor do Liceu, Filinto Elysio da Costa Cutrim.
Foi nesse periódico que publicou, ainda em setembro de 1863, quatro artigos rebatendo o viajante francês Adolpho Assier, que meses antes havia apontado suas artilharias para o Brasil, avaliando o seu grau de civilização nas páginas do periódico parisiense Revue des Deux Mondes. Essa polêmica também frequentou o Diário de Pernambuco (edições nº 212 a nº 215) no ano seguinte. Avalia-se que a divulgação dos escritos do Padre Amancio em Recife se dava pela ligação desse jornal com a diocese pernambucana e porque o francês Assier representava um país defensor das reformas no ensino, que limitavam a intervenção da Igreja Católica na educação.
Foi também no Diário de Pernambuco, de 24, 26 e 29 de maio de 1865, que publicou as Estatísticas Eclesiásticas da Província das Alagoas, estudo encomendado pelo vigário capitular de Pernambuco.
Em Maceió, foi possível encontrar algumas das suas ações como sacerdote. Em 14 de dezembro de 1864 ele estava benzendo a pedra fundamental do início da obra de instalação do encanamento de água potável de Bebedouro para o centro de Maceió. Em Bebedouro tinha um irmão de nome Izidoro Ribeiro Campos, que era professor das primeiras letras. Outro irmão foi Francisco Jacob da Cunha Chaves.
Entre 1865 e 1867, quando era o primeiro pároco da Paróquia Nossa Senhora Mãe do Povo, em Jaraguá, iniciou a reconstrução da Capela da Imaculada Conceição, na Pajuçara.
Suas últimas aparições nos impressos da época são de 1874, quando foi citado como um dos redatores da Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico Alagoano.
Padre Amâncio faleceu em 4 de novembro de 1876, vítima de laringite. Morava então na Rua do Livramento, nº 33. Em sua homenagem, a antiga Rua do Cafundó, em Jaraguá, passou a ser, no início do século XX, Rua Padre Amancio. É atualmente a Rua Cel. Pedro Lima.
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Muito grato, prezado Ticianeli.
Boa contribuição. No entanto uma correção. Vila de Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, atual Marechal Deodoro. Santa Luzia do Norte, anteriormente Santa Luzia de Siracusa.