Padre Afonso de Albuquerque Melo, o primeiro jornalista alagoano
O político iniciou seus trabalhos como jornalista logo após o francês Adolphe Emilio de Bois Garin deixar o Íris Alagoense, transformado no O Federalista Alagoense em 1832
Afonso de Albuquerque Melo nasceu nos idos de 1802 na cidade de Alagoas, hoje Marechal Deodoro. Sua família, Calheiros de Melo, era muito influente em Santa Luzia do Norte. Seu avô, também batizado como Afonso de Albuquerque Melo, era o proprietário do Engenho Água Clara, instalado na margem do Rio Mundaú.
Seus primeiros passos na educação foram guiados por seu tio, cônego Antônio Gomes Coelho, vigário colado da freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Alagoas.
Como acontecia com todos os jovens da capitania que tinham condições, completou seus estudos no Seminário de Olinda, de onde saiu ordenado presbítero em 1827. Voltou à cidade de Alagoas para ser coadjutor do seu tio.
Com a morte do cônego Antônio Gomes Coelho, esperava-se que Afonso de Albuquerque Melo assumisse o seu lugar, mas a cúpula da igreja enviou um novo padre para essa freguesia. Não foi bem recebido. Na sua primeira missa viu muitos jovens revoltados rasgando a sua provisão episcopal, forçando a sua saída da cidade. Este fato fornece indícios de que o jovem padre Afonso já exercia razoável liderança política na sua comunidade.
Em 1829, confirmando sua projeção no mundo da política, padre Afonso de Albuquerque Melo foi eleito para a Câmara Municipal das Alagoas. Nessa condição foi recebido na corte pelo imperador D. Pedro I, que tendo conhecimento do episódio da expulsão do padre, se refere a Afonso como o “Capelão dos Moços”.
Na década de 30, já o encontramos como suplente eleito para o 2º Conselho Geral da Província, que funcionava na velha capital. Em 1932, já era titular deste Conselho. Para a 1ª Legislatura da Assembleia Provincial (1835-1837), Padre Afonso apareceu como suplente, mas assumiu o mandato no período. Em seguida foi reeleito para as seis legislaturas seguintes.
Em maio de 1838, ocupou por alguns dias uma cadeira na Câmara dos Deputados em substituição ao deputado Rodrigo de Souza da Silva Pontes, que acumulava o mandato com a presidência da Província. Em 21 agosto de 1845 voltou a assumir como suplente, desta feita na vaga do deputado Miguel do Sacramento Lopes Gama. Permaneceu no cargo até o fim dos trabalhos legislativos daquele ano.
Como titular, foi eleito deputado geral para a 7ª Legislatura (1848 a 1851), interrompida por Decreto em 19 de fevereiro de 1849. Voltou a ser eleito para a Legislatura seguinte (1849 a 1852), agora como Cônego.
Com a polarização política na Província das Alagoas se dando entre Lisos e Cabeludos a partir de 1844, Padre Afonso tomou partido dos Lisos, se vinculando ao grupo liderado por José Tavares Bastos. Essa célebre disputa, que herdava as contradições inicias da província entre conservadores e liberais, foi, de fato, o primeiro grande embate pelo poder político local envolvendo os principais grupos econômicos do norte e do sul da Província. O episódio terminou por fornecer o embrião para formação política partidária de Alagoas.
Padre Afonso foi uma personagem destacada dos acontecimentos, alguns violentos, que marcaram este período da história das Alagoas. Sua contundência lhes trouxe muitos desgastes. Quando da sedição dos Lisos, que contou com a ajuda de “bandoleiros” das matas de Porto Calvo, foi ele que viabilizou a participação do famigerado Vicente de Paula.
Com estes problemas, Padre Afonso encerrou a sua participação na política em 1852 e voltou a ser vigário na freguesia de Nossa Senhora da Conceição, já na condição de Cônego da Capela Imperial (a partir de 25 de março de 1849), visitador da Diocese e Vigário-Geral da Província. Além disso, era também proprietário de terras em Atalaia. Faleceu aos 72 anos em Alagoas, atual Marechal Deodoro.
O primeiro jornalista alagoano
O incipiente jornalismo alagoano que surgiu na segunda quadra do século XIX era profundamente vinculado à política. Segundo o historiador Douglas Apratto Tenório, “os guias de opinião vão defender seus partidos sem nenhuma obrigação com o equilíbrio, com a crítica justa ou com as aspirações reais da população”.
Em 1831, o presidente da província de Alagoas era o paraibano Manoel Lobo de Miranda Henriques. Recebido com desconfiança, o governante resolveu se aproximar dos alagoanos e informá-los melhor dos seus feitos. Para tal, comprou do negociante pernambucano João Batista Franco uma tipografia no valor de 860$905. O dinheiro veio de uma coleta entre os seus partidários.
Assim, foi montada a primeira tipografia em Alagoas, A Patriótica, que foi instalada na casa nº 3 da Rua do Livramento. Em seguida mudou-se para a Rua do Comércio, nº 6. O nome A Patriótica era uma referência à Sociedade Patriótica Federal, organizada em todo o país pelos liberais.
Como eram raros os tipógrafos no Brasil, estrangeiros eram trazidos para montar as composições e operar as máquinas. A Patriótica trouxe do Recife o francês Adolphe Emile de Bois Garin, que trabalhava no Espelho das Brazileiras (lançado em fevereiro de 1831) e redigia bem em português. Veio ganhando 10$000.
O Diário de Pernambuco de 12 de julho de 1831 assim noticiou a transferência do profissional francês: “Adolfo Emilio de Bois Garin, indo estabelecer em Maceió uma tipografia, faz ciente ao público que segue viagem para as Alagoas, pelo paquete Niger, levando consigo dois artistas, a saber, Prosper Chevenaux e Charles Viard. Quem tiver negócio com os sobreditos, dirija-se à sua casa, rua da Soledade, nº 441”.
O primeiro jornal a ser impresso em Alagoas, na Tipografia Patriótica, circulou no dia 17 de agosto de 1831, o Iris Alagoense, que já tinha lançado o primeiro número semanas antes com impressão na Bahia. O redator era Garin, auxiliado por dois jovens aprendizes alagoanos, João Simplício da Silva Maia e Bartolomeu José de Carvalho.
Garin terminou por ser alvo, literalmente, dos embates entre os grupos políticos locais. Após publicar uma correspondência que manchava a reputação de um proprietário de terras, foi atingido, na noite de 23 de janeiro de 1832, por tiros de pistola, saindo ferido no peito e com mais doze caroços de chumbo no corpo. Voltou para Recife imediatamente.
No dia 18 de fevereiro de 1832, com o nº 50, o Iris Alagoense circulou pela última vez. Quatro dias depois, o porta-voz dos liberais voltou às ruas com outra denominação, agora era O Federalista Alagoense.
Auxiliado pelo advogado pernambucano Felix José de Melo e Silva, quem assumiu a editoria do jornal, em agosto de 1832, foi um dos líderes dos liberais alagoanos, padre Afonso de Albuquerque Melo, que passou a ser o primeiro jornalista alagoano.
Permaneceu no Federalista somente até o ano seguinte, quando seu grupo político, os “exagerados“, perderam espaço para os “moderados“, representado pelo padre Francisco do Rego Baldaia.
Não se tem informações sobre as últimas realizações do cônego Afonso de Albuquerque Melo. O último registro encontrado sobre ele é de um batizado no sítio Pedreiras em Santa Luzia do Norte, Alagoas no mês de abril de 1887.
Fonte: Jornais da época, Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, nº 40, de 1987, e Pesquisa do professor Douglas Apratto Tenório para o fascículo nº 8 de Memórias Legislativas, 1998, editado pela Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas.
Apesar de não ter feito nenhum comentário tenho acompanhado todos os detalhes da história de Alagoas. Muitas histórias que não conhecia e guardei em nossos arquivos. Parabéns e agradeço pelas histórias.