Os teatros de Maceió

Peça A Mascote apresentada no Polytheama em 1905

Em meados do século XIX, os grupos teatrais que chegavam a Maceió faziam suas apresentações, geralmente dramalhões, em espaços improvisados nos galpões ou armazéns desocupados. O palco quase sempre era uma montagem de tábuas sobre barricas de cimento ou de farinha de trigo. A iluminação precária utilizava lamparinas que queimavam óleo de peixe. Nesses tablados desfilavam também os manipuladores de marionetes, mágicos, ilusionistas e ventríloquos.

Não havia poltronas e nem cadeiras. Cada espectador que levasse a sua, ou contratasse os serviços de menores para esse transporte. A orquestra era composta por, no máximo, meia dúzia de músicos, recrutados entre melhores das bandas militares ou escolares.

Nos anos seguintes, com a crescente presença dessas troupes, a capital se viu obrigada a instalar espaços cênicos mais dignos. E assim foi feito com o surgimento de teatros, quase sempre associados às Sociedades Dramáticas, também fundadas nesse período.

Um anúncio em O Provinciano de 21 de setembro de 1836, uma quarta-feira, informa sobre a realização em Maceió “de um pomposo de variado espetáculo”. A programação foi assim detalhada: “Depois da orquestra desempenhar uma das suas melhores sinfonias, representar-se-á a muito interessante peça que se intitula O Parricídio Frustrado ou o Filho Natural. Essa peça é do insigne Antônio Xavier, que em todos os teatros onde tem ido à cena, tem merecido os mesmos aplausos. E é de esperar que mereça o mesmo conceito de um público não menos iluminado, qual o de Maceió”.

Não foi possível identificar onde aconteceu este espetáculo, mas uma pesquisa de Bráulio Leite Júnior, relatada por Abelardo Duarte em seu livro Autores alagoanos & Peças teatrais, registra a existência na capital, em 1830, do Teatro da Imperatriz Amélia. A confirmação está num documento assinado pelo Marquês de Caravelas, ministro do Império:

“Ilmo. Exmo. Senhor — Sua majestade o Imperador, atendendo ao que lhe representou Antônio Lopes Alvite, houve por bem conceder-lhe, por Portaria da data deste, a permissão que requereu de se denominar Teatro da Imperatriz Amélia o que atualmente tem a Vila de Maceió, o que participo a V. Excia. para a sua inteligência. Deus, guarde a V. Excia.

Passo em 25 de maio de 1830″.

A seguir, apresentamos um breve histórico sobre cada um dos teatros de Maceió, contando com as informações em antigos jornaisdo excelente trabalho de Félix Lima Júnior em História dos Teatros de Maceió, de 1961, e de uma publicação da Revista Casa dos Artistas (RJ) de 24 de agosto de 1937, edição comemorativa do 19º aniversário do Retiro dos Artistas (foi criada em 24 de agosto de 1918). As informações foram repassadas à revista pelo professor Luiz Lavenère e pelo major Bonifácio Silveira.

Teatro Maceioense, depois Cinema Delícia, na Rua do Sol em 1930

Teatro Maceioense

Inaugurado em 1846, pertencia à Sociedade Dramática Particular Maceioense. Após adquirir um prédio recém-construído (1845), essa instituição foi, por décadas, a proprietária da principal e mais importante casa de espetáculos da capital. Ficava na Rua do Rosário, futura Rua do Sol, bem próximo à Catedral.

Após os dois primeiros anos de existência, o Teatro Maceioense paralisou suas atividades. Em abril de 1850 surgiram os protestos de alguns sócios, que passaram a exigir o funcionamento da sociedade. Um deles publicou nota no Correio Maceioense, de 14 de abril de 1850, rogando ao tesoureiro e demais membros da instituição que declarassem “o que pretendem fazer da casa e mais móveis do Theatro desta Capital; visto que há mais de dois anos não se reúnem para promoverem alguma representação”.

A cobrança surtiu efeito e no dia 12 de julho a diretoria convocava publicamente seus sócios para uma assembleia geral, marcada para o dia 24 daquele mês, “a fim de deliberar-se acerca do que melhor lhe convier ao interesse comum dos mesmos sócios”. A reabertura das atividades só ocorreu no dia 14 de setembro de 1850, quando os sócios foram prevenidos em nota publicada no Correio Maceioense, que podiam “mandar receber os seus bilhetes de entrada em casa de sr. tesoureiro João d’Almeida Monteiro”. Quem assinou a nota foi o 1º secretário José Correia d’Araújo.

No início de 1851, o teatro dava sinais que estava funcionando plenamente, a ponto de não ser possível prorrogar as apresentações da Companhia Robert por falta de pauta naquela casa de espetáculo.

O ponto alto da história desse teatro foi a presença do imperador D. Pedro II e da imperatriz Teresa Cristina na noite de 1º de janeiro de 1860. Segundo Abelardo Duarte, “O Teatro achava-se decorado internamente com gosto artístico, salientando-se a tribuna imperial”. Foi o maior público recebido pelo Maceioense.

A peça apresentada pela Companhia Dramática Nacional foi 29 ou Honra ou Glória. dirigida pelo ator Duarte Coimbra. D. Pedro II anotou em seu diário: “Teatro como o de Petrópolis quase — Representaram o 29 melhor do esperava, são cômicos de profissão“.

O inusitado deste episódio foi o custo para manter a Companhia Dramática Nacional em Maceió. Ela fazia suas apresentações em novembro quando foi contratada para permanecer até 15 de janeiro. Foi preciso investir “dois contos de réis” dos recursos estaduais, incluindo aí os custos com a montagem da tribuna imperial.

O Teatro também funcionava como auditório para palestras, solenidades e assembleias de instituições, como ocorreu em 1º de novembro de 1869, quando ali realizou-se a instalação da Associação Tipográfica Alagoana de Socorros Mútuos. Um mês após, no dia 2 de dezembro, o local serviu para as comemorações do aniversário do imperador D. Pedro II.

No dia 28 de setembro de 1881 foi a vez de sediar a instalação da Sociedade Libertadora, instituição que liderou em Alagoas a luta contra a escravidão. O ato foi encerrado solenemente com duas alforrias.

Em outubro de 1897, o já velho e desgastado Maceioense pedia reparos, como informou um jornalista do Gutenberg, que propôs a restauração do antigo teatro argumentando que custaria, no máximo, “20 contos”.

O Orbe rebateu cobrando a necessidade de Maceió ter um teatro “com condições e regras d’arte; e mais que tudo isso, com a higiene e em bom local”. Revelou que o prédio foi construído há 52 anos e que “não merece o nome de Teatro, porque lhe faltam todos os preceitos da arte”.

Ainda em outubro de 1897 foi tornado público que o Teatro Maceioense tinha sido fechado pela Inspetoria de Higiene do Estado.

Já enfrentava, desde 1895, a concorrência do cinema e seus precursores. O primeiro deles a desembarcar em Maceió foi cinetoscópio, que havia chegado ao Rio de Janeiro em 7 de dezembro de 1894.

A primeira projeção de cinema em Maceió somente aconteceu no dia 27 de outubro de 1897. Como o Teatro Maceioense estava interditado, os filmes foram exibidos no térreo do edifício da antiga Intendência Municipal, na Praça dos Martírios.

O prédio do Maceioense, já reformado, recebeu em 7 de março de 1899 autorização da Inspetoria de Higiene para voltar a funcionar. A Sociedade Dramática Particular Cavalheiros da Época, que era então a locatária, investiu em importantes melhoramentos na principal casa de espetáculos da capital. Luiz Lucariny foi o arquiteto responsável pela reforma.

No mesmo ano, em agosto, a Inspetoria de Higiene Pública proibiu terminantemente “o uso de fumar-se dentro do Teatro Maceioense”.

Ainda em 1908 o Teatro Maceioense passou a ser divulgado como Cinema Delícia, dotado de um aparelho Pathé. Mas continuava a apresentar peças de teatro e a receber palestras, como a de Osório Duque Estrada, autor da letra do hino nacional, que em 1908 fez conferência sobre O Leque e Alma do Povo.

Nessa época, já havia sido adquirido pelo comerciante Manoel Fabriciano Carneiro Tiririca, que residia no Mutange e ao falecer, em 6 de julho de 1918, deixou o prédio para seu filho Renée Tiririca.

Os filmes exibidos eram produzidos pelas francesas Pathé, Gmont e Eclair. Celio, Parquali e Ambrosio eram as italianas. A Nordosk era dinamarquesa. Nos elencos dos filmes brilhavam Asia Nielsen, Francisca Bertini, Waldemar Psylander, Elba Thompson, Pina Minicheli, Bela Hesperia, Mario Bonard e Max Linder.

Após a 1ª Guerra Mundial, com a Europa vivendo uma das suas maiores crises, a cinematografia norte-americana se expandiu e chegou a Maceió nos filmes da marca Passarinho Azul. Em seguida desembarcaram as produções da Fox-Films, em 1917 e da Paramount, em seguida, revolucionando a arte da cena muda, principalmente pela nitidez, que deixava ver os rostos de William Farnum, Wallace Reid, George Walsh, Teda Bara, Eddie Polo, Dorothy Dalton, Pearl White e vários outros. Surgiram também os filmes seriados e o primeiro a ser exibido em Maceió foi Mistérios de Nova York.

O Maceioense também recebia bailes de carnaval, a exemplo do festejado em 1911, quando realizou três bailes, nos dias 25, 26 e 28. “O Theatro acha-se decorado a capricho, iluminação a giorno abrilhantará a este grandiosíssimo festival uma esplêndida orquestra dirigida pelo conhecido professor Antônio João de Lima”, noticiou um dos jornais da capital.

Em 9 de maio de 1911, entrou novamente em reforma e o “Cinema Delícia que ali funcionava resolveu suspender as sessões temporariamente, prometendo avisar ao público logo que sejam ultimados os serviços de conserto do referido prédio”. Recebeu novos móveis e foi pintado.

Foi reaberto no dia 13 de maio. Com um novo cinematógrafo, passou a funcionar regularmente. “A empresa do Cinema Delícia compromete-se a não repetir nem um só films, que são todos da afamada casa Pathè-Frères”, anunciava o Gutenberg.

O Cinema Delícia foi citado como em funcionamento numa edição do Gutenberg de setembro de 1911 e em março de 1914 os Orestes chocavam Maceió ao dançarem no famoso palco um “escandaloso maxixe”.

Ainda em 1914, mas no dia 11 de outubro, seu palco foi ocupado pelo drama O Modelo Vivo, com Antonio Lopes, Nunes Vieira, Joana Pereira, Etelvino Lima e Iago Coelho.

Em 15 de novembro de 1915, foi reinaugurado após nova reforma. A festa de reabertura contou com a cantora Claudina Montenegro e o barítono Santiago Pepe.

No final de outubro de 1916, quem subiu ao palco do Delícia foi o tenor chileno Giovanni Araya e a soprano italiana Rina Zambelli.

Vista aérea da Catedral de Maceió e do Cinema Delícia na Rua do Sol na década de 1920. Acervo Fondation Latécoère

O Moço Corredor no Delícia

The Ramblin’ Kid ganhou, no Brasil, o título de O Moço Corredor. Era mais um dos filmes do gênero  faroeste exportado pelos EUA para o mundo. Foi lançado em 1923 e em seus 60 minutos de duração dominava a performance do famoso ator Hoot Gibson, quase sempre montado em um belo cavalo.

Foi anunciado para ser exibido em Maceió ainda em 1923, no Cinema Delícia. Na noite da sua apresentação, a casa estava lotada. Os espectadores, cada qual com sua cadeirinha de junco, se amontoavam o mais perto possível da tela, onde três músicos tentavam vencer a barulheira infernal da plateia executando o foxtrote Hindustão.

O filme começa e a mocinha, Laura La Plante, surge sendo disputada pelo mocinho e por alguém não muito simpático. O ambiente da fita era o de uma competição, as tradicionais corridas de cavalos.

Hoot Gibson, que era quem fazia o coração da mocinha bater mais forte, tinha que vencer a corrida para tê-la como prêmio. O adversário, matreiramente, raptou o artista e o dopou, abandonando-o em um matagal, ao lado do seu fiel cavalo.

A corrida começa e nada do mocinho acordar. A plateia, desesperada, não aceitava tal situação e protestava em voz alta. Quando tudo parecia perdido, eis que o cavalo resolve acordar seu dono e lhe aplica umas cabeçadas. Funcionou!

Ainda tonto, Hoot Gibson monta e volta à corrida. No momento em que ele começa a ultrapassar os concorrentes, os espectadores entram em delírio e a multidão abandona as cadeiras e corre em direção à tela, como se com isso turbinassem o animal que conduzia o mocinho.

O Delícia virou um inferno, todo mundo a gritar enquanto as cadeiras voavam, roupas eram rasgadas e muita gente pisoteada.

Quando Hoot Gibson entrou na raia final para vencer a corrida, o tumulto duplicou. O pianista, acompanhado pelos outros dois músicos, foi visto fugindo do Delícia aos gritos: “Vão pisar o diabo que os carregue!”.

Cinema Delícia, em primeiro plano, visto do Mirante próximo ao futuro Colégio Guido

The End do Delícia

Em novembro de 1926, os jornais indicavam que os negócios no Cinema Delícia não iam bem. Numa nota divulgava que a proprietária do Teatro Cinema Delícia havia notificado judicialmente à firma Silva & Cia. Para que desocupasse o referido prédio no prazo de três meses.

Três anos depois, o Almanak Laemmert, do Rio de Janeiro, já registrava que o Cine Theatro Delícia era de propriedade da Empresa Capitólio.

Na década de 1930 rareiam os anúncios sobre o que acontecia no velho cinema. Surgem ainda informações sobre peças de teatro que ali se apresentaram, mas deixando evidente que era como segunda opção. O Teatro Deodoro era o preferido pelos grupos.

Exemplo disso foi a peça “A Rosa Vermelha”, encenada grupo teatral pernambucano “Gente Nossa”. Estava no Deodoro até 22 de abril de 1932, mas como somente tinha conseguido pauta até aquela data, continuaram as apresentações no Delícia entre os dias 23 e 25 de abril.

A Companhia Irajá, em outubro de 1934, chegou a nunciar apresentações no Cinema Delícia, mas, na última hora, mudou para o palco para o Teatro Deodoro.

Em junho de 1936 o Diário da Manhã, ao noticiar um jantar no Clube Fênix, cita Moacyr Miranda como o subgerente do Cinema Delícia. Antes fora ator e comerciante de ferro velho.

Com o falecimento do proprietário, Renato Tiririca, em 4 de junho de 1938 — era irmão de Renée Tiririca e filho de Manoel Fabriciano Carneiro Tiririca —, Moacir adquiriu o prédio e manteve o cinema em funcionamento até o início da década de 40, quando o vendeu a uma companhia de seguros, que o demoliu em 1945.

Foi com esse dinheiro que Moacir Miranda construiu, em 1948, o Cine Lux, na Ponta Grossa.

O Teatro Minerva funcionou na Rua do Macena, atual Rua Cincinato Pinto. Foto do acervo de Alípio Ribeiro, cedida por sua filha Cleusa Ribeiro

Teatro Minerva

Sabe-se muito pouco dele. Félix Lima Júnior (Teatros de Maceió) informa que foi citado no jornal O Noticiador de 19 de outubro de 1855 como o local onde foi apresentada, em um espetáculo lírico, a estrangeira Madame Anne Giradort.

Ela cantou trechos de O Barbeiro de Sevilha, Ernani e O Trovador. Foi acompanhada pelo professor Manoel Felipe Santiago na parte de Nabucodonosor.

Um anúncio de 1866 o localiza na Rua do Macena, futura Rua Cincinato Pinto, no Centro de Maceió.

Prédio do Montepio dos Artistas Alagoanos em fotografia de agosto de 1961

Teatro do Montepio dos Artistas

No dia 29 de outubro de 1897, o Gutenberg noticiava que o Montepio dos Artistas festejaria no domingo, 31 de outubro, o 14º aniversário de sua instalação. Na programação constava a inauguração do “novo edifício especialmente construído para funcionamento das aulas…”, e na segunda-feira à noite “um variado espetáculo em que tomarão parte alguns sócios do Montepio e outros jovens que obsequiosamente prestam seu concurso a essa diversão dramática em benefício da associação”. Lá também estavam as bandas da Filarmônicas Minerva, Artística e da Força Policial.

Essas informações indicam que a partir de 1897 a sede do Montepio oferecia espaço adequado para “diversão dramática”, como confirma O Orbe de 15 de novembro de 1898 ao anunciar que “no teatrinho da benemérita sociedade Montepio dos Artistas Alagoanos realizar-se-á hoje, à noite, um espetáculo com a apresentação do drama A Sogra e da aplaudida comédia As Alienadas.

O jovem instrumentista Manoel Bezerra Lima, o Nezinho Cego, também esteve no teatrinho do Montepio dos Artistas em 9 de novembro de 1907. Natural de Pão de Açúcar, era, no início do século, um dos mais festejados violonistas brasileiros.

Em novembro de 1908, durante a posse da diretoria do Montepio, no teatrinho houve espetáculo encenado pelos atores J. Vianna, J. Cardoso e Julieta Vianna.

Rua Sá e Albuquerque em Jaraguá, onde funcionou o Teatrinho da Thalia

Teatro de Jaraguá

No Gutenberg de 3 de outubro de 1886 surge a informação que a Sociedade Dramática Particular Beneficente Thalia a Musa da Comédia, uma das nove da mitologia grega —, fundada dias antes, estava ultimando os preparativos para inaugurar seu teatrinho em Jaraguá:

“Na verdade, com os melhoramentos feitos nos dois prédios em que vai funcionar a sociedade, tem se procurado todos os cômodos possíveis para as exmas. famílias que frequentarem os espetáculos, já abrindo arcadas e ventiladores, tornando por demais fresco e aprazível o teatrinho, igualmente pelo lindo e elegante salão que estão preparando no edifício contiguo, para recreio das exmas. famílias, salão este em que é permitido nos curtos de intervalos dos espetáculos, danças e algumas valsas etc.

Há também lugar reservado para o botequim, onde os snrs. sócios encontrarão cervejas, licores e outras bebidas.

O salão de espetáculo é todo assoalhado, com necessário declive e muito ventilado, tornando-se assim mais fresco do que o da Maceioense.

Com tais melhoramentos fica o teatrinho, um lugar de recreio magnífico, digno de ser frequentado pelas pessoas mais exigentes de nossa sociedade e é de esperar que o nosso público não negue à Diretoria o seu valioso e necessário concurso. O Poder do Ouro e Mascotte na Roça são as peças em ensaios para a inauguração da sociedade e deve ter lugar no dia 16 do corrente [outubro de 1886]”.

O Poder do Ouro, de Dias Guimarães, e Mascotte na Roça, de Arthur Azevedo, foram apresentadas sete dias depois do previsto, no dia 23.

Os Estroinas e Guerra aos Nunes! foram ao palco no dia 7 de dezembro, uma terça-feira. “Bonds grátis, depois do espetáculo, para os senhores sócios de Maceió”, avisavam os diretores.

No dia 26 de fevereiro de 1897, a Sociedade Thalia apresentou seu 4º espetáculo, uma produção do dr. Affonso Olindense. Em cena A filha mártir e a comédia Atribulações de um estudante.

Ainda em 1897, mas no dia 18 setembro, subiu ao palco o drama Gaspar, o serralheiro e a comédia Engoli um camundongo. Em novembro ali foi encenado O nobre plebeu, em três atos, e a comédia, em quatro atos, Os melhoramentos da Capital.

Como os jornais anunciavam os espetáculos informando que haveria “bondes expressos à porta do Theatro“, deduz-se que ficava na Rua Sá e Albuquerque, por onde transitavam esses veículos em Jaraguá.

Serraria Modelo e Fábrica de Tecidos Santa Margarida, na esquina, onde funcionou o Bazar Comercial.

Teatrinho do Bazar Comercial

O Bazar Comercial, uma espécie de mercadinho, ficava na Rua Conselheiro Saraiva, nº 66 (depois 65 e 25). Pertencia à firma Coura & Cavalcante.

João Coura era alagoano, filho de João Bezerra Coura e Francelina Bezerra Coura. Casou-se com Alice Dowsley Cavalcante, filha de Guilherme Dowsley Cavalcante e Maria Miranda Cavalcante. Tiveram 11 filhos.

O Bazar era o mesmo Mercado de Jaraguá, o primeiro de Maceió, que foi inaugurado em junho de 1904. Funcionava no prédio da esquina entre a Rua Conselheiro Saraiva (depois Avenida da Paz) e a antiga rua Mato Grosso, aquela que dá acesso à Praça Rayol.

Em 25 de janeiro de 1906, João Coura divulgou que passaria a se chamar João Coura Cavalcante, incorporando o sobrenome da esposa.

Ainda em 1906, o Bazar Comercial foi vendido à firma Pinheiros & Barros (Manoel de Araújo Pinheiro e José Bezerra Barros). Esta sociedade foi desfeita em 30 de junho de 1909, ficando o Bazar Comercial somente para José Bezerra Barros.

A existência do Bazar Comercial como espaço para apresentações teatrais surgiu nos jornais a partir de 1907, quando, no domingo 28 de abril, a Sociedade Aliança Dramática Jaraguaense ali apresentou o drama O dedo de Deus e a comédia Uma noite perdida. Não era ainda anunciado como teatro.

No mês seguinte, a Aliança Dramática Jaraguaense já divulgava o Bazar como sendo a sede da sociedade e onde estava o seu teatro.

Em 19 de outubro de 1909, o Gutenberg informou que o Teatrinho do Bazar Comercial, em Jaraguá, começara a receber reparos e que seria “restabelecido” em breve.

Por ter havido algum desacordo entre os sócios da Jaraguaense, a apresentação de 27 de novembro de 1909 foi anunciada como a “primeira recita da reorganização da ‘Aliança’ na qual tomará parte a distinta atriz portuguesa Joanna Pereira”.

Houve espetáculo na noite de 18 de dezembro de 1909. Subiram ao palco o drama A família maldita e a comédia Paris na roça.

Nos primeiros meses de 1910, a Aliança Dramática ainda realizou apresentações teatrais, mas a última notícia sobre ela nos jornais, em 3 de março de 1910, informava que estava exibindo “films cinematográficos”.

Aterro de Jaraguá, futura Av. da Paz, no início do século 20, onde se instalou o Teatrinho da Talma Jaraguaense

Teatrinho da Talma Jaraguaense

A Sociedade Dramática Particular Talma Jaraguaense, fundada em julho de 1897, homenageava o ator francês François-Joseph Talma. Aclamado como o melhor ator de sua época, nasceu em Paris no dia 15 de janeiro de 1763 e faleceu em 19 de outubro de 1826.

Ainda em 1897, no mês de dezembro, subia ao palco do Teatrinho da Talma o drama A dívida de honra e a “comédia original de um amador, em um ato, O tio Brandão”.

Em 22 de julho de 1899 foi ocupado pela peça O Colar, do sócio Alfredo Novaes. Em seguida foi apresentada a “jocosa comédia” de Júlio César Machado, A senhora está deitada. A diretoria rogava aos sócios o obséquio de enviarem suas cadeiras até às 6 horas da tarde no dia do espetáculo.

Os jornais se referiam ao “elegante teatrinho da Talma”. Segundo Félix Lima Júnior, funcionava num armazém localizado no antigo Aterro de Jaraguá (Av. da Paz).

Antes, em Jaraguá, existiu a Sociedade Recreativa Talma. Estava em funcionamento entre 1891 e 1892.

Teatro Polytheama, inaugurado em 1905 na hoje Praça Sinimbu

Teatro Polytheama

O jornal Gutemberg, da terça-feira, 20 de junho de 1905, divulgava em suas NOTAS DIÁRIAS que tinha sido inaugurado no sábado anterior, 17 de junho, o Theatro Polytheama, de propriedade da empresa Pereira & Cia, de José Pereira de Barros.

“O buffet esteve bom, tanto que agradou perfeitamente aos espectadores. Os artistas Rossi, Demoulin, Jorge, Dormas e Horminies saíram-se perfeitamente bem, conquistando gerais aplausos“, detalhava a nota.

Antes da sua inauguração oficial, no dia 17 de junho de 1905, o Polytheama já tinha sido utilizado, como atestou o Gutemberg de 9 de maio — um mês antes — ao noticiar que havia recebido no dia anterior (8) a visita dos “duetistas Rossi que sábado próximo [13 de maio] se exibirão na estreia do Polytheama”.

Segundo Abelardo Duarte, em seu livro Autores Alagoanos & Peças Teatrais, o Polytheama “não preenchia nem as condições de um mau teatro, porque era péssimo. Não possuía camarotes”.

Após exatamente 160 dias da sua inauguração — ocorreu no dia 23 de novembro de 1905 —, o Gutemberg publicou a informação que o Theatro Polytheama estaria fechando as portas. A causa era a “deficiência de receita“.

O jornal tratava de explicar os motivos: “Parece-nos que semelhante fracasso resulta tão somente de serem muito frequentes os espetáculos numa semana”. Segundo o jornalista, em algumas semanas aconteciam de quatro a cinco funções.

“O recurso pecuniários da população não lhe permitem excessos nas despesas. Daí o retraimento e inevitável prejuízo, porque parece de primeira intuição que antes duas casas boas, cheias, à cunha, do que 10 casas vazias“, ensinava o jornal, alertando ainda que havia uma “crise agudíssima” nos “tempos correntes”.

A próxima notícia publicada sobre o teatro surgiu em 11 de julho de 1906. Uma pequena nota informava que “será arrematado amanhã o prédio em que esteve o Teatro Politeama, para pagamento de impostos estaduais“.

No dia 11 de abril de 1907, o Gutemberg revelou que o terreno onde foi construído o Polytheama era alvo de alguma disputa na Justiça. A nota parabeniza o advogado Demócrito Gracindo pela vitória na causa em que defendeu Joaquim da Silva Costa, conseguindo para este um “mandato de manutenção nos terrenos ocupados pela atual fábrica Reino de Flora, antigo Polytheama“.

No ano seguinte, em 10 de maio, o advogado Demócrito Gracindo fez publicar no Gutemberg um texto ocupando 2/3 de página, explicando a pendenga judicial envolvendo o Polytheama. Havia uma disputa entre a empresa Pereira & Cia e Joaquim da Silva Costa sobre quem tinha realmente construído o prédio do teatro da Rua Floriano Peixoto (atual Rua do Imperador).

Demócrito Gracindo argumentava que “Joaquim da Silva Costa requereu e obteve cordeação em vinte metros de terreno a Rua Floriano Peixoto para uma construção ‘entre o chalet de sua residência e a Ponte dos Fonsecas‘…”. Atualmente essa área está ocupada pela Casa Jorge de Lima e casas vizinhas.

Não se tem informações sobre que destino teve tal fábrica Reino de Flora, mas o teatro voltou a funcionar, no dia 8 de setembro de 1907, sob a direção do major Américo Rego.

Para reabrir, o Polythema passou por reforma, “achando-se a área destinada aos camarotes e cadeiras assoalhada e completamente coberta“. O primeiro espetáculo dessa nova fase aconteceu no dia 25 de setembro de 1907.

Em nota publicada no dia 21 de agosto de 1908, o Gutemberg informou que o prédio foi arrendado pelo Coronel Américo Maia, que era também proprietário do Café Colombo High-Life, e que seria reinaugurado em breve com algumas novidades. “Serão instalados vários e importantes jogos esportivos, trabalhando também no gracioso teatro uma companhia de variedades“.

De fato, no dia 23 de agosto, um domingo, aconteceu a reinauguração com um espetáculo da companhia de Negri Appiani. Houve danças e cantos das irmãs Bonals, exibição de cinematografo e do artista cômico Guido Appiani, que “deixou de cantar suas belas cançonetas por não ter comparecido a pianista, por motivo plenamente justificado, a moléstia de um filho”. O sucesso só não foi maior porque naquele dia choveu muito.

No início de outubro de 1908, surgiram os primeiros sinais de que o teatro não estava rendendo o esperado. Américo Maia divulgou que estava aceitando “Anúncios e reclames” para as paredes internas do Café Colombo e para a fachada exterior do Polytheama, tudo por preços módicos.

Prédio  do Polytheama em O Malho de 1º de maio de 1914, durante a Festa da Árvore em Maceió

Em fevereiro de 1909, ao anunciar a estreia do Cinema Veneza, que tinha filmes que agradaram “pela sua nitidez e valor cômico“, surgem mais sinais de que o Polytheama não estava recebendo o público esperado. “É pena que estes espetáculos tenham sido pouco concorridos“, comentou um jornalista.

No final do ano seguinte, 1910, a programação do Polytheama estava resumida a apresentação de filmes. Em outubro, após anunciar que no dia 23 seria a última apresentação da empresa Munier & Cia, responsável pelo Cinema Ideal (que ocupava o Polytheama), foi divulgado que o teatro passaria novamente por reformas e seria reaberto em dezembro como um centro de diversão.

Polytheama fechou o pano com apenas cinco anos de existência. Anos depois o prédio foi demolido.

Bonifácio Silveira e as brincantes de folguedos alagoanos

Teatro Santo Antônio

Mesmo tendo uma carreira militar e política com relativo destaque, o Major Bonifácio Silveira será sempre recordado pelo seu envolvimento com as artes e as festas populares de Maceió. Um detalhe importante: nunca bebeu, fumou ou jogou. Para ele, alegria tinha que ser natural.

Envolvido com o teatro desde 1887, na Sociedade Dramática Pantheon Alagoano, tem-se registrado a sua participação como ator em novembro de 1896 da peça Lazaro, o pastor que foi apresentada no Club João Caetano. Bonifácio interpretou o “arriscado” papel de Lázaro e foi “muito aplaudido”, como registrou o jornal O Orbe.

Participou ainda de várias instituições e entidades culturais, sempre contribuindo para a realização dos seus eventos. Nos jornais da época, seu nome surge em quase todas as listas de pessoas que ajudavam as causas sociais e culturais de Maceió.

Mas foi em Bebedouro, onde morava, que organizou as festas que entraram para a história da cidade. O Natal daquele bairro foi registrado por todos os memorialistas da época. Nos carnavais de Maceió, Major Bonifácio era sinônimo de folia. Graças a ele, seu bairro ficou conhecido como a República da Alegria.

Foi ele quem criou a Sociedade Bebedourense, que tanto promoveu as artes cênicas no início do século XX. Em sua chácara, improvisou um pequeno teatro e, depois, recebeu dos amigos o Teatro Santo Antônio, que funcionou entre 1909 e 1930 na Rua Dr. Passos de Miranda.

Foi inaugurado na noite de 8 de dezembro de 1909 com a apresentação da peça A Espada do Condestável, um drama em cinco atos de Garret. Bonifácio atuou no principal papel. Ao final, foi-lhe entregue a escritura do imóvel e descerrada uma pedra de mármore, na entrada, com os dizeres: “A BONIFÁCIO SILVEIRA, O POVO DE BEBEDOURO”.

Segundo Félix de Lima Júnior, era um “prédio assobradado, com três portas e três janelas, no primeiro trecho da rua Passos de Miranda, entre os trilhos da Companhia Alagoana de Trilhos Urbanos (atual Av. Major Cícero de Góis Monteiro) e da The Great Western of Brasil Railway Company (atual Rua José Moreira)…”.

Em 16 de dezembro de 1905, o grupo dramático da Sociedade Auxiliadora dos Cristãos ali exibiu o drama A Família Maldita, para uma plateia avaliada em mais de 800 pessoas.

O Teatrinho, como era conhecido, foi melhorado em dezembro de 1916. Reformaram o pano de boca e as dependências interiores.

Nos festejos natalinos ali realizados naquele ano, seu palco recebeu os “bailes pastoris”. Na rua em frente, Rua Dr. Passos de Miranda, uma barca exibia fandangos e marujadas. Nos outros coretos, reisados e outras funções. Num palanque especial, ficava a Banda de Música da Polícia.

Teatro Deodoro na década de 1950

Teatro Deodoro

A ideia de se ter um teatro de grandes dimensões em Maceió começou a tomar forma ainda em 1898, no governo de Manoel José Duarte. Naquele ano, no dia 16 de setembro, em homenagem à emancipação política do Estado, teve início a sua construção no antigo Largo do Cotinguiba, também chamado Largo das Princesas e Praça da Constituição, atual Praça Deodoro.

O projeto já era o do arquiteto Luiz Lucariny, que, anos depois (maio de 1905), foi acusado por um colunista do Jornal de Debates de plagiar nesta obra a Grande Ópera de Paris, o Palais Garnier. O Gutenberg defendeu Lucariny argumentando que o projeto foi escolhido, entre várias propostas, por profissionais da Escola Politécnica do Rio de Janeiro.

Naquele 16 de setembro de 1898, durante o lançamento da pedra fundamental, algo de incomum aconteceu: durante a execução do hino nacional e hasteamento da bandeira do país, observou-se que o pavilhão estava invertido, de cabeça para baixo. Essa informação foi divulgada pelo jornal Gutenberg, que era contra a sua localização ali e se referia à construção como sendo de um “theatro encaiporado“.

As obras da casa de espetáculo, que seria o Teatro 16 de Setembro, foram interrompidas no dia 31 de dezembro do mesmo ano, quando já se encontravam bem adiantadas. Como os recursos vinham de loterias estaduais e elas foram proibidas, a construção parou.

Demonstrando que a natureza também não concordava com a ocupação da praça por um teatro, uma forte ventania atingiu Maceió no final de março de 1900 e parte da construção desabou.

Em 1º de março de 1905, Decreto assinado pelo governador Joaquim Paulo Vieira Malta, irmão de Euclides Malta, autorizava a demolição do que sobrou dos escombros do Teatro 16 de Setembro e definia que o material nele empregado fosse reaproveitado “em outra obra menos dispendiosa, erigida para o mesmo fim em local mais apropriado”.

No final de abril o governador Paulo Malta explicou ao Congresso Alagoano que o novo teatro seria erguido “no fundo daquela praça, feitas as devidas desapropriações das casas que ocupam aquele terreno”.

Informou ainda que os recursos para a construção sairiam de um caixa especial, “não obstante ser essa obra, segundo respectiva planta, de menores proporções que a demolida, mas em todo caso obedecendo as regras modernas e sendo condigna do adiantamento de nossa capital”.

pedra fundamental foi lançada no dia 11 de junho de 1905. A construção foi coordenada pelos mestres-de-obras Antônio Barreiros Filho e Oreste Secelli. Durou cinco anos e, em 1905, chegou a utilizar 150 operários.

Em janeiro de 1908, o Gutenberg denunciou que o prédio em construção estava abandonado e servindo de dormitório para “indigentes, chagados, leprosos, erisipelados, edemaciados, homens e mulheres, numa promiscuidade assustadora, de péssimo efeito, repugnante e comovedora”. A fedentina no local era insuportável, considerando que também era utilizado como sanitário público.

No final de junho de 1909, editais da Secretaria de Governo faziam as chamadas dos concorrentes para a conclusão das obras do teatro. Em agosto o jornal Gutenberg informava que as obras tinham sido reiniciadas. O contratado foi o “operoso coronel A. Barreiros Filho”.

Restauração do interior do Teatro Deodoro em 1946. Foto da Ilustração Brasileira

Para a decoração interna foi contratado o pintor, decorador e artesão Oreste Secelli. Italiano de Florença, morava em São Paulo, onde chegou em 1896 já como professor de artes decorativas, graduado pela Escola Profissional de Artes Decorativas e Industrias de Florença.

Abelardo Duarte, em Autores Alagoanos & Peças Teatrais, descreveu o espaço para o público do teatro na noite de sua inauguração como “coberto de luzes e guirlandas de flores naturais“. Destacou ainda “o belo pano de boca ostentando uma das quedas da Paulo Afonso“. As cortinas eram de veludo azul.

dr. Vinicius Maia Nobre identifica que os projetistas das casas de espetáculo de então, principalmente dos teatros, tinha cuidado extremado com a acústica. A possibilidade de reverberação do som dependia da capacidade de absorção pelos materiais empregados e até do número de espectadores, que que também funcionavam como tal.

“Daí se ter tantas cortinas e tapetes, que ali estavam não só por sua beleza, mas como técnica de aprimoramento do som emitido“. O conceituado engenheiro afirma que “Lucariny sabia disso desde a Itália e daqui de Penedo, quando projetou e foi construído o Teatro Sete de Setembro“.

O arquiteto Luiz Lucariny era o autor do projeto. Faleceu em 14 de julho de 1907 sem ver sua obra concluída. Originalmente tinha 39 camarotes, 400 poltronas e arquibancadas e gerais para mais mil espectadores.

Na inauguração foram apresentados os dramas Um Beijo, da autoria do alagoano J. Britto (José Ângelo Vieira de Britto), e O Dote, de Arthur Azevedo, encenados por Antônio Ramos e Lucilia Peres. Nascido em Palmeira dos Índios, J. Britto foi morar no Rio de Janeiro ainda muito jovem, conseguindo vaga como praticante do Correio Geral. Foi jornalista, poeta e teatrólogo. Escreveu mais de uma dezena de peças teatrais, entre elas Um Beijo, destinada especificamente para a inauguração do Teatro Deodoro.

O Teatro foi entregue ao público às 13 horas com a presença do governador Euclides Malta e várias autoridades. A banda da Força Policial “tocou várias peças do seu repertório”.

Um episódio bizarro, não confirmado, ocorreu durante a entrada pomposa do governador Euclides Malta para a inauguração daquela casa de espetáculos. Alguém, da galeria, gritou:

— Doutor Ocride, o povo não quer teatro, o povo está é com fome!

Os mais antigos contavam que sua excelência olhou para cima, à procura do autor do protesto, e largou um palavrão, o primeiro dito no Teatro Deodoro:

— Vá para a casa da puta que o pariu!

primeiro diretor do Deodoro foi o coronel Antônio Barreiros, nomeado em 5 de novembro, dias antes da inauguração. Provavelmente era o pai ou o mesmo “operoso coronel A. Barreiros Filho” que fora contratado para construir o teatro.

No Salão Nobre do Teatro Deodoro já funcionaram a Biblioteca Pública, a Câmara dos Vereadores de Maceió e a Justiça Federal.

Ali também aconteceram bailes oficiais promovidos pela Intendência Municipal (Prefeitura), banquetes e recepções do Governo do Estado. Os presidentes da República Nilo Peçanha e Washington Luiz foram recepcionados neste espaço.

Vinte e três anos depois de inaugurado (1933) o prédio passou por uma rápida restauração. O Estado de Alagoas era governado pelo interventor Afonso de Carvalho.

Em 1946, após novas restaurações, o Deodoro recebeu a visita do Teatro de Amadores de Pernambuco, que encenou Primerose de Cavaillet. Era interventor Federal no Estado o dr. Guedes de Miranda. Por carência de hotéis na época, o TAP ficou hospedado em casas de famílias.

terceira restauração, em 1954, foi forçada por um incêndio que destruiu os mais importantes trabalhos do cenógrafo italiano Oreste Secelli, inclusive o pano de boca original inspirado na cachoeira de Paulo Afonso. O Deodoro foi reinaugurado em 1957.

Em 1975 houve mais uma intervenção e em 1988 foi interditado, mergulhando numa das suas mais longas restaurações. Ficou dez anos fechado ao público, provocando prejuízos incalculáveis às artes cênicas alagoanas. Foi reaberto com estardalhaços em 1998.

No final de 2007, o Deodoro voltou a ser fechado para obras, só reabrindo em setembro de 2010. Em janeiro de 2014, novamente o teatro cerrou suas portas para uma rápida restauração de dois meses, voltando a funcionar em março, quando recebeu a Valsa nº 6 de Nelson Rodrigues.

Complexo Cultural Teatro Deodoro foi a obra mais recente da velha casa de espetáculos. A estrutura anexa teve sua construção iniciada em 2011, com previsão de término em um ano, mas somente foi concluída em dezembro de 2014.

Fábrica Alexandria em 1920, no Bom Parto

Teatro Alexandria

A Fábrica Alexandria, inaugurada em outubro de 1911 no Bom Parto, na antiga Estrada para Bebedouro, existiu por décadas, levando para o bairro e para os seus operários alguns benefícios, entre eles a construção de centenas de moradias.

Ao lado da fábrica surgiu uma feira livre e se instalou também o Teatro Alexandria, espaço reservado para shows e apresentações artísticas. Funcionava como cinema às sextas-feiras e sábados. Não foi possível identificar o ano que entrou em funcionamento, mas 1925 a direção da fábrica havia criado um Centro Recreativo.

O time de futebol dos trabalhadores da empresa (Associação Atlética Alexandria) também fez história ao sagrar-se campeão alagoano de 1947. Havia sido fundado em 28 de novembro de 1935.

Por iniciativa do sindicato dos seus trabalhadores, foi também implantada, em agosto de 1932, uma escola para dos filhos dos operários. Era dirigida pela professora Maria Alves dos Santos.

Cine Teatro Floriano

Cine Teatro Floriano

Entrou em funcionamento no mês de dezembro de 1912 para ser preferencialmente um cinema. Foi instalado na Rua do Comércio pela Empresa Conte, do italiano/paraibano Stefano Conte, que em Maceió casou-se com Flávia de Araújo Lima Caldas Xexéo, filha do professor Mateus d’Araújo Caldas Xexéo e de Maria Francisca Araújo Caldas Xexéo.

Conte, ainda em 1912, já havia arrendado os cinemas Helvética e Delícia.

Entre as novidades para a época, o Floriano oferecia os serviços de dois bufetes: um interno, para atender os ingressavam no seu salão, e outro voltado para a rua do Comércio. Podia-se comprar neles conservas, frutas, queijos, manteigas, doces e cervejas.

Uma de suas atrações era a orquestra, considerada pela imprensa como “harmoniosa e mágica”.

O futuro Capitólio, Cinearte e Cine São Luiz também recebeu em seu palco alguns artistas, a exemplo de um grupo de chineses, “exímios prestidigitadores em magia branca e acrobatas extravagantes”. Foram elogiados pelo Diário do Povo em 1916.

O uso intensivo do palco para teatro levou, dois anos depois, em 21 de agosto de 1918, o correspondente do Diário de Pernambuco em Maceió, ao anunciar uma recepção em dos salões daquela casa de espetáculos, a se referiu a ela como “Theatro Cinema Floriano”.

Em 30 de janeiro de 1917 foi adquirido por Hypolito Paurílio em sociedade com Raul Brito. Foi reaberto duas semanas depois.

Quando Floriano “falou”, em abril de 1930, inaugurando em Maceió o cinema falado, encerrava-se ali o ciclo das orquestras ao pé da tela, que muito contribuíram para que essas casas tivessem características de teatro. Os modernos aparelhos super Photóphone da Rádio Corporation, eram os primeiros alto-falantes a serem instalados no Norte e Nordeste com essa qualidade. O filme Folies 1929 inaugurou esse som.

Rua Barão de Jaraguá, antiga Rua da Igreja, no início do século XX, onde se instalou o Teatrinho São Vicente de Paulo

Teatrinho São Vicente de Paulo

Pelo O Semeador de 24 de agosto de 1916, sabe-se que a Escola Dramática São Vicente de Paulo estrearia dois dias depois, no sábado, em seu teatrinho, o espetáculo de inauguração dessa instituição, que seria abrilhantado pela Filarmônica São Vicente de Paulo.

O evento, em benefício da construção da igreja matriz do bairro de Jaraguá, foi a apresentação do “drama do conhecido literato A. Carrascosa…”.

O teatro era localizado na Rua da Igreja (atual Barão de Jaraguá), nº 14, onde anteriormente funcionou o Cinema Victória. Em 1926 ainda existia.

Teatro Cinema Helvética no sobrado da Farmácia Fidelidade (com uma tabuleta) na Rua do Comércio em 1906. Foto de Luiz Lavenère

Teatro Cinema Helvética

Inaugurado em 22 de outubro de 1910, ainda como Cinema, era uma filial da “importante casa pernambucana dos srs. A. Girrot & Cia. Incontestavelmente a mais importante do País, na atualidade”, anunciava o jornal. Era representada em Alagoas pelo sócio Coronel Manoel de Araújo Pinheiro.

Ocupava o “confortável prédio situado a rua do Comércio, sobre a Farmácia Fidelidade (existiu ali até 1917)”, que fora “luxuosamente preparado”. Félix Lima Júnior localiza esse cinema no andar superior, ou sobreloja, do nº 71 da Rua do Comércio, atual nº 352. Era o imóvel vizinho ao que ficava na esquina entre a Rua do Comércio e Av. Moreira Lima.

O espaço era vasto e higiênico, além de belamente decorado, como descreveu o jornal Gutenberg de 14 de outubro de 1910. Tinha motor elétrico e operava sob a direção do alagoano Luiz Machado, tratado nos anúncios como “competente e hábil eletricista”.

Em 13 de dezembro de 1910, menos de dois meses depois de inaugurado como cinema, o seu palco já recebia a apresentação de “um grupo de gentis cançonetistas espanholas, que acabam de fazer época em Pernambuco e que gozam grande nomeada de todo sul do País”, divulgou um dos jornais.

Os anúncios nos jornais passaram então a receber o cabeçalho de Teatro ou Teatrinho, mantendo abaixo o título de Cinema Helvética.

A partir de janeiro de 1911, o Helvética passou a ser explorado pela empresa Flores & Cia em combinação com a Munier & Cia, de Recife. Depois, por breve período, foram exibidos filmes da The South American Taus, do Rio de Janeiro.

No palco, nesse período, se apresentaram vários artistas. Os cançonetistas Brandão e Amintas estavam na capital em janeiro de 1911 com a Salada Musical. Em maio foi a vez do cômico Brandão Sobrinho fazer sucesso, devidamente acompanhado pelo saxofone de Narciso Maia pelo piano de Edith Camerino.

Em abril, a portuguesa Bela Zazá encantou a plateia. Casa lotada, com gente em pé. Foi recebida, na porta, pela Banda da Polícia e pelo proprietário. Antes da portuguesa cantar O Ciúme e o Teu Olhar, o público viu alguns filmes, entre eles O Filho do Assassino e A Pesca do Salmão.

Bela Zazá também provocou comoção nas ruas Maceió ao desfilar pela Rua do Comércio usando uma saia-calça (jupe-culote). Agradava a alguns, mas aborrecia as beatas, que cobravam a presença da Polícia para acabar com aquele acinte aos bons costumes.

Em 9 de maio de 1911, o Gutenberg publicou a seguinte nota: Theatro Cinema Helvetica – N’esta casa de diversões que tanto nos tem deliciado será escolhido hoje o encantador film d’arte do fabricante Gaumond medindo 500 metros, O Filho de Locusto. Sempre sucesso. Ingressos a 500 rs”.

A partir de junho de 1911, a Munier & Cia, de Recife, voltou a operar. Em outubro passou para a empresa Clínio, Fortes & Cia.

Nota publicada, em junho de 1911 no Gutenberg, recomendava que os frequentadores deviam observar o programa ao comprar os ingressos e “também pedimos o obséquio de que não é justo nem lícito com uma só entrada assistirem as 3 seções”.

Em setembro de 1911, o cinema foi adquirido pelo coronel Álvaro Flores (Flores & Cia) e suas exibições passam a ser divulgadas como Cinema Popular. Os preços eram menos da metade dos cobrados anteriormente pelo Cinema Helvética.

Em 1912, foi arrendado ao mesmo italiano/paraibano Stefano Conte do Cine Floriano, que em João Pessoa, onde fundou a Empresa Cinematográfica Conte, havia arrendado, no final de 1911, o Cineteatro Rio BrancoCinema Popular e o Cinema Pathé.

Quem veio da Paraíba para gerenciar estas duas casas foi Tobia de Paci.

Foi Conte quem também, em 1917, instalou outra sala de exibição na Levada, como noticiou o Diário do Povo de 16 de janeiro daquele ano: “Inaugurou-se, anteontem, no princípio da Rua 16 de Setembro, o Cinema Popular, pertencente à Empresa Conte. A função inaugural teve animadora concorrência”.

Em 1917, a partir de 15 de março, o prédio do antigo Teatro Cinema Helvética (Rua do Comércio, nº 71, 1º andar) foi ocupado pelo “elegante” Cine Pathè, que promovia sorteios de “brindes de valor” para atrair o público. Também inovou ao divulgar que os que desejassem receber pelo correio “as descrições completas de todos os filmes de sucesso, pode dirigir-se à gerência, deixando nome e residência” (Diário do Povo de 23 de março de 1917).

Rua do Comércio fotografada da esquina da Av. Moreira Lima em 1937. O Cine-Teatro Moderno ocupou o sobrado à esquerda da foto

Cine-Teatro Moderno

Funcionou na Rua do Comércio, nº 324, no prédio que foi ocupado posteriormente pelo escritório da Companhia Alagoana de Fiação e Tecidos. Pertencia a Antônio Araújo Azevedo, da família Azevedo de Coruripe. Estava em funcionamento em 1919. Há registros da passagem por seu palco do maceioense José Luiz Rodrigues Calazans, o Jararaca, o famoso parceiro de Ratinho.

Teatro do Park Club

Propriedade do português Loureiro e do agrimensor Joaquim Goulart de Andrade, era uma área de diversão com teatrinho ao ar livre.

Ficava na esquina da Rua da Alegria com a Rua Melo Morais, antiga Rua do Apolo (onde atualmente está o Banco do Nordeste). Esse terreno pertenceu à família do Marechal Floriano Peixoto, depois aos Irmãos Maristas, do Colégio Diocesano, que ocupava o terreno vizinho, voltado para a Rua do Macena.

Segundo Félix Lima Júnior, por lá passaram as cançonetistas Glorinha, Consuelo e Marina, e um barítono de nome Rihouet. Cândida Palácios também foi aplaudida no Teatrinho do Parque Clube.

Em 1905 foi citado pelo jornal O Evolucionista como já sem funcionar.

Cine Teatro São José em Fernão Velho

Cine Teatro São José em Fernão Velho

Foi inaugurado, na tarde de 1º de maio de 1917, com a presença do governador Baptista Acioly e de outras autoridades. A iniciativa para sua construção partiu de um dos proprietários e diretor da fábrica de tecidos Companhia União Mercantil, o dr. Antônio de Melo Machado. Considerado como um espaço “elegante”, era iluminado por energia elétrica.

Durante a inauguração, inserida nos festejos do Dia do Trabalho, houve retreta com a Banda 30 de Outubro e cinema ao ar livre. Nesse dia foram apresentados os dramas As vontades de Letícia e A filha do Mar, este encenado pela Escola Dramática São Caetano.

Além das peças, houve também apresentação musical. “O professor Joca cantou três interessantes cançonetas e a senhorita Magalhães Costa a valsa Depois de um Sonho. A orquestra esteve a cargo do professor Nuno Pimentel”, descreveu o correspondente do Diário de Pernambuco.

A partir dos anos 30 funcionou prioritariamente como cinema e, em 1937, era o único a não ter sonorização em Maceió. O São José funcionou, com suas sessões dominicais de cinema, até a década de 1980, quando já pertencia a Manoel Jose Teixeira. Seu prédio foi demolido em 1997, um ano após a falência da fábrica, para dar lugar a um empreendimento comercial.

Nas décadas de 60 e 70, seu palco recebeu vários shows musicais. Estiveram por lá Orlando Silva, Cauby Peixoto, Marinês e Sua Gente, Raul de Barros e Luiz Gonzaga. As peças teatrais, em sua maioria, eram montagens dos operários da fábrica de Fernão Velho. Sua lotação era um pouco superior a 300 espectadores.

Prédio do Asilo de Mendicidade, após o Quartel da PM e ao lado da Cadeia de Maceió. Foi lá que funcionou o Cineteatro Floriano Peixoto a partir de 1938

Cine Teatro Floriano Peixoto

Foi inaugurado em 24 de maio de 1938 e funcionou por muitos anos nas dependências do Quartel Geral da Polícia Militar de Alagoas, no Centro de Maceió, recebendo posteriormente a denominação de Cinema Marechal Floriano Peixoto. Mesmo tendo sido também destina a ser teatro, não foi possível identificar nenhuma apresentação de peças em seu palco.

Sua entrega ao público ocorreu no mesmo dia em que se inaugurou o retrato de Getúlio Vargas na sala do comando da Polícia Militar, então dirigida pelo capitão do Exército Theodoreto Camargo do Nascimento, como registrou o jornal carioca Beira-Mar, de 18 de junho de 1938.

No ato de aposição da foto, que teve a participação de várias autoridades, entre elas o interventor Osman Loureiro, o comandante da PMAL explicou que a data de 24 de maio foi escolhida por comemorar “o heroico feito de Tuyuty”, lembrando a Guerra do Paraguai e seu líder, o general Manuel Luís Osório, a quem associou Getúlio Vargas por possuírem “bravura pessoal”.

Também esclareceu que a inauguração do “Cine-Theatro” era uma homenagem ao “Marechal de Ferro”, e que era uma iniciativa “deste comando, dentro de suas próprias economias”.

Após o interventor descerrar a bandeira nacional que cobria o retrato de Getúlio Vargas, todos se dirigiram ao cine teatro onde assistiram “à passagem de um cinejornal, um ‘short’ [curta] e um desenho animado”.

“A impressão de todos os presentes foi a melhor possível, pois as acomodações do cinema do Regimento, apesar de modestas, são bastantes confortáveis“, avaliou o jornal Beira-Mar.

Segundo Félix Lima Júnior, no livro Pequena História da Polícia Militar de Alagoas, o local era parte do antigo Asilo de Mendicidade.

Jornais da época confirmam que, no final de janeiro de 1935, “ultimou-se o serviço de adaptação da parte da frente, ala esquerda, do antigo Asylo de Mendicidade, em sede de Departamento de Saúde Pública, adaptação esta constante de oito grandes salões, duas salas destinadas ao laboratório e farmácia, gabinetes sanitários, etc”. Mais tarde, esse espaço ficou conhecido como Hospital da Polícia Militar.

Félix Lima Júnior relatou ainda que no prédio do antigo Asilo de Mendicidade, “foi preparado salão especialmente para conferências e exibições cinematográficas”.

O Asilo da Mendicidade, que foi inaugurado em maio de 1887, teve ainda um dos seus espaços utilizados pelo Corpo de Bombeiros. Outra área atualmente é ocupada pelo Comando do Policiamento da Capital.

Cine Floriano Peixoto sofreu várias reformas em sua história e na última delas, realizada pelo comandante coronel Paulo Ney, em outubro de 1978, recebeu 250 novas poltronas. Estas instalações mantinham a destinação original de também funcionar como auditório do Quartel Geral da Polícia Militar do Estado de Alagoas.

Segundo a jornalista e escritora Elisabeth de Oliveira Mendonça, em seu livro Sesquicentenário da Polícia Militar de Alagoas, de 1983, no Floriano Peixoto eram exibidos “os filmes que passaram pelo Cinema São Luiz, um dos melhores da cidade”.

No período em que publicou o livro, as sessões aconteciam às quartas-feiras (às 19h30), sábados (20h20) e domingos (15h e 19h30).

O acesso ao salão de exibição se dava com a apresentação de uma carteira de identificação. Para manter o cinema, havia um pequeno desconto mensal nos vencimentos dos militares.

No início dos anos da década de 1980, o responsável pelo cinema era o Cb PM Adeildo Mendonça.

O “Cinema do Quartel”, como também ficou conhecido, funcionou até 1998, quando os custos com aluguel de filmes inviabilizaram a existência daquela sala de exibição.

Segundo o oficial PM e jornalista Silvio Teles (“Briosa: a história da Polícia Militar de Alagoas no olhar de um jornalista“), houve ainda uma tentativa de reativação do cinema durante o período em que corporação foi comandada pelo coronel José Rubens de Freitas Goulart. O cinema foi reformado entre 2007 e 2008, mas não voltou a funcionar.

No início de 2014, parte do prédio do antigo cinema foi ocupado pela estrutura do 1º Centro de Saúde da Capital, que deixou de atender em seu endereço tradicional na Praça das Graças. O convênio entre a Secretaria Estadual de Saúde e a Polícia Militar de Alagoas permitiu a utilização do prédio do Hospital da PMAL e do cinema tendo como retribuição a oferta de serviços médicos e ambulatoriais para os policiais militares e seus familiares.

Ironicamente, com estas mudanças, o edifício recuperou a sua destinação inicial: oferecer serviços médicos e ambulatoriais. Mas os equipamentos do “Cine-teatro Floriano Peixoto” continuam lá, lembrando que o grande salão já foi palco de emoções que somente o cinema é capaz de produzir.

Show Terra à Vista do Grupo Terra no Teatro de Arena em 1976

Teatro de Arena Sérgio Cardoso

Inaugurado em 14 de julho de 1972, ocupa uma das dependências do Teatro Deodoro, onde funcionou o bar e que, então, estava fechado há dez anos por causa de uma pendenga judicial.

Segundo Bráulio Leite Jr, seu idealizador, era um teatro de bolso: “O teatro de arena é aquele que não possui palco. O seu nome provém de areia porque eram os antigos anfiteatros onde combatiam gladiadores e onde, na Roma antiga, os leões devoravam os cristãos – um espaço circular coberto de areia, não importando o tamanho, como ainda hoje o são as arenas para touradas ou as arenas de circos”.

A ideia surgiu diante da iminência do Teatro Deodoro entrar em reforma por longo período. Bráulio Leite Jr. era o diretor do Deodoro e reivindicou esse equipamento ao governador Afrânio Lages, argumentando que seria uma necessidade diante da possibilidade de paralisação da vida cultural e artística da cidade.

Foi construído pelos engenheiros e técnicos da Secretaria da Educação Walter Coelho BrêdaLeônidas Dias e Juvenal Gomes de Barros.

O seu espetáculo inaugural contou com a presença dos renomados atores Sérgio Cardoso (dirigiu a montagem), Jardel Filho e Naná Magalhães, esta uma alagoana. A peça, que fez muito sucesso, foi “O Homem da Flor na Boca”, de Luigi Pirandello.

Houve ainda um segundo espetáculo, Sérgio Fala e Diz, quando foram recitados O Descobrimento, de Menotti Del Pecchia; A Serra do Rola-Moça, de Mário de Andrade; O Operário em Construção, de Vinícius de Moraes; Poema de Linha Reta, Fernando Pessoa e O Cântico Negro, de João Régio.

Na plateia estavam o governador Afrânio Lages, Aurélio Buarque de Holanda, Romeu de AvelarPaschoal Carlos Magno, presidente da Casa e do Teatro do Estudante do Brasil, e Valdemar de Oliveira, representando o Teatro de Amadores de Pernambuco.

Com ar refrigerado e boa acústica, sua capacidade é de 200 espectadores. Já foi considerado como um dos mais modernos do Brasil.

No dia 18 de agosto de 1972, um pouco mais de um mês após a sua participação na inauguração do Arena, um ataque cardíaco matou Sérgio Cardoso no Rio de Janeiro. Tinha 42 anos de idade. Em sua homenagem surgiu o Teatro de Arena Sérgio Cardoso.

Teatro Linda Mascarenhas

Teatro Linda Mascarenhas

O Espaço Cultural Linda Mascarenhas (teatro e galeria) pertence ao Instituto Zumbi dos Palmares, uma autarquia estadual vinculado à Secretaria de Estado de Educação. O IZP também administra a TV Educativa de Alagoas (TVE), as Rádios Educativas FM Maceió e Arapiraca, e a Rádio Difusora AM.

Reconstruído em abril de 2001, originalmente com 100 poltronas, funciona num prédio erguido nas dependências do Centro Educacional de Pesquisas Aplicadas (CEPA), na Av. Fernandes Lima, nº 1047, Farol.

O IZP foi criado pela Lei nº 6.224, de 8 de janeiro de 2001. Sua estrutura foi disciplinada pela Lei Delegada nº 48, de 30 de dezembro de 2022. A TV Educativa foi instituída por Decreto de junho de 1969, mas somente inaugurada em 1984. A Rádio Difusora, a Pioneira, foi ao ar em 16 de setembro de 1948.

De 2015 a outubro de 2018 esteve em reforma. Foi reaberto após ter sido refeita toda a parte elétrica, impermeabilizado o teto, recebido pintura, recuperação de carpetes e cadeiras, reparos hidráulicos, conserto de portas e a aquisição de novos aparelhos de ar condicionado.

Em 2019, o teto desabou. Está sem uso.

Auditório da Difusora em sua inauguração com Zezé de Almeida ao piano. Futuro Teatro de Bolso Lima Filho

Teatro de Bolso Lima Filho

Foi inaugurado, ainda sem essa denominação, em 16 de setembro de 1948 como o auditório da Rádio Difusora, ocupando o segundo pavimento daquele prédio. Durante duas décadas foi palco para os programas de auditórios da emissora. Tem capacidade para 180 espectadores.

Atualmente faz parte do Centro de Belas Artes de Alagoas (Cenarte), equipamento da Secretaria Estadual de Cultura.

Foi batizado como Teatro de Bolso Lima Filho após o falecimento do homenageado. Lima Filho era o músico e comerciante paraibano, de João Pessoa, Francisco José de Araújo Lima (16 de junho de 1902 – 24 de janeiro de 1961). Dirigiu a Rádio Difusora e, por muitos anos, o radioteatro daquela emissora.

Jofre Soares no Centro Cultural Sesc

Teatro Jofre Soares

Pertence ao Sesc Alagoas, Unidade Centro. Está instalado na Rua Barão de Alagoas, esquina com a Rua Augusta. Tem capacidade para 120 pessoas.

Ocupa um antigo sobrado, do século XIX, que foi restaurado em 1997. No local são desenvolvidas atividades das artes cênicas, artes visuais, audiovisual, literatura e música. O prédio possui galeria de artes, cineteatro, musicoteca, estúdio de gravação e espaço panorâmico.

Teatro do Colégio Marista de Maceió

Teatro Marista Ir. Augusto Tomé

Localizado na Av. D. Antônio Brandão, Farol, com entrada pela Rua Geremias Porciúnculas, é um dos equipamentos do Colégio Marista de Maceió. Foi inaugurado em novembro de 1998 e entre 2012 e 2018 permaneceu fechado em reforma para readequação de todo o sistema de incêndio.

Com estrutura para receber até 430 espectadores, distribuídos na plateia (350) e no mezanino (80), possui bons camarins e um porão espaçoso, que serve como depósito dos cenários. Climatizado, com boa acústica e poltronas confortáveis, é um dos melhores da capital.

Auditório do Sindicato dos Bancários de Alagoas

Teatro dos Bancários

Pertence ao Sindicato dos Bancários de Alagoas e situa-se na Rua Marechal Roberto Ferreira, Centro. Tem capacidade para 100 espectadores. É mais utilizado pelo próprio Sindicato para reuniões, assembleias, palestras e outros eventos desse gênero.

Foi inaugurado em 1997.

Teatro Arte Pajuçara

Teatro Arte Pajuçara

Inaugurado em 2004 como Sala José Carlos Lyra, foi o resultado da adaptação de um dos dois cinemas do Centro Cultural SESI — anteriormente foram os Cines Art Pajuçara 1 e 2. O outro era a Sala Elinaldo Barros. As duas salas funcionaram até junho de 2013, quando o Sesi anunciou que fecharia as portas do seu Centro Cultural.

Após quatro meses sem funcionar, foi reaberto em 7 de novembro daquele ano como Arte Pajuçara, passando a ser administrado por quatro novos sócios: Felipe Chaves Guimarães, Werner Bagetti, Milton Pradines e Marcos Sampaio, o Marcão, que tinha sido o coordenador do Centro Cultural Sesi.

Recebiam, à época da reabertura, o patrocínio da V2 Construções, Grupo Ferreira Hora e Banco Cidadão. Em 2018 tinha o apoio da Usina Coruripe, Rádio Quântica e do Núcleo Zero.

O cinema e o teatro, este com capacidade para 170 espectadores, compõem o Centro Cultural Arte Pajuçara. Fica galeria do Edifício Ana Maria, na Av. Dr. Antônio Gouveia, 1113, Pajuçara.

Teatro Gustavo Leite

Teatro Multiplex Gustavo Guilherme Leite

É o principal equipamento do Centro Cultural de Exposições de Maceió. Fica na Rua Celso Piatti, s/n, em Jaraguá. Inaugurado em 29 de outubro de 2005, oferece 1.251 lugares.

Homenageia o cenógrafo e produtor cultural Gustavo Guilherme Leite, que na década de 1980 coordenou o primeiro projeto de interiorização do teatro alagoano. Participou e criou vários projetos culturais que contribuíram para o enriquecimento das artes em Alagoas.

Entre os primeiros espetáculos ali apresentados estão Moliére Imaginário, do grupo mineiro Galpão (8 de dezembro de 2005), e a peça Amo-Te (17 de dezembro de 2005), dos atores Danielle Winits e Daniel Dantas.

Apresentação do grupo Zambak na Sala Preta da Ufal

Teatro Sala Preta

O Espaço Cultural Universitário da Universidade Federal de Alagoas, na Praça Sinimbu, foi criado em 1991 pela Resolução n° 42/91 de 4 de setembro de 1991, do Conselho Universitário.

A Sala Preta, uma das suas dependências, recebeu essa denominação por ter essa cor em suas paredes. Aceita até 50 pessoas.

Teatro Auditório Oscar Sátyro do Ifal Campus Maceió

Teatro Auditório Oscar Sátyro

Funciona das dependências do Instituto Federal de Alagoas, Campus Maceió, na Rua Mizael Domingues, 530, Centro.

Como preconiza seu Regulamento, “o auditório destina-se prioritariamente ao uso da comunidade acadêmica do Ifal/Campus Maceió e à realização de congressos, conferências, seminários e demais eventos socioculturais, artísticos, técnico-científicos, atividades de cunho acadêmico, colação de grau, recepção aos/às novos/as alunos/as, atividades administrativas, colóquios, workshops e atividades afins, promovidos preferencialmente pelo Ifal, que terá prioridade nas pautas, desde que se ajustem às instalações e não sejam incompatíveis com a utilização de um bem público”.

Foi reinaugurado, após reforma, em 23 de abril de 2018. Recebe até 340 espectadores num ambiente climatizado e com poltronas confortáveis.

Oscar Sátyro Correia foi professor da instituição por décadas. Em 1937, ainda no Liceu Industrial de Alagoas, na Praça Sinimbu, já era o professor de Trabalhos de Metais e Fundição.

Outros

As diversas fontes de pesquisa registram ainda a existência de vários outros Teatrinhos em Maceió.

O da Rua Ângelo Neto, no Farol, era dirigido pelo dr. Baltazar Mendonça. Funcionou antes da década de 1930.

No Bom Parto, funcionou outro no imóvel que depois sediou o Grupo Escolar Cincinato Pinto. Nele se se apresentaram vários amadores, entre eles Bonifácio Silveira e Luís de Carvalho.

O do Club Recreio Instrução e Caridade 16 de Setembro, instituição criada em 1907 no Bom Parto e que tinha como presidente o major Antônio Martins Murta (Rua do Bom Parto, nº 46), em 6 de maio de 1910 — aniversário do presidente —, apresentou espetáculo no “teatrinho do futuro grêmio, no Bom Parto”, como noticiou o Gutenberg. Esse Club, em 1907, mudou sua denominação para “7 de Setembro”. Já existia na Cambona o Clube Dançante 16 de Setembro.

Pequenos palcos também funcionavam nas escolas, a exemplo dos teatrinhos da antiga Escola Normal na Rua do Sol, onde depois se instalou o Grupo Escolar Fernandes Lima; do Liceu Alagoano, na Rua do Livramento, onde esteve posteriormente o Fórum de Maceió; o do extinto Colégio Coração de Jesus, na Praça dos Martírios; e o do Colégio 15 de Março, do professor Agnelo Barbosa, na esquina da Rua da Alegria com a Rua do Açougue, futura Av. Moreira Lima.

Na virada do século 19 para o 20, surgiu em Maceió o primeiro grupo teatral infantil. Era denominado Atletas da Cruz e pretendia utilizar como teatro um espaço no fundo do Sobrado Camocho, na Rua 2 de Dezembro, próximo à Praça D. Pedro II. Não usou. No dia da estreia, quando apresentariam O Filho Pródigo, os jovens atores se desentenderam e os Atletas da Cruz deixaram de existir. Informações colhidas por Félix Lima Júnior com Paulino Santiago.

5 Comments on Os teatros de Maceió

  1. Excelente matéria, Ticianeli! Parabéns.
    Nunca havia lido nada tão interessante sobre teatros em Alagoas.
    De 1947 a 1963, vivi ali na rua Dias Cabral, atrás do Teatro Deodoro, que eu achava maravilhosamente lindo, completando a beleza da Praça Deodoro, monumento de minha adolescência. Ali vi todas as peças da ATA e apresentações de grupos os mais variados, como também debates políticos.

  2. Miguel Gustavo de Paiva Torres // 23 de maio de 2023 em 08:30 //

    A história das artes cênicas em Alagoas impressiona. Transparece o amor popular no decorrer dos séculos pelo teatro e pelo cinema. Poucos conhecem esse legado histórico.

  3. Carlos Volney // 29 de maio de 2023 em 09:33 //

    Como sempre, excelente publicação. Está de parabéns mais uma vez.

  4. Billy Magno // 1 de janeiro de 2024 em 01:34 //

    Ticianeli, parabéns pelo resgate magnífico da memória teatral de Maceió, isso é importantíssimo. Grande abraço.

  5. Aristóteles, o filósofo grego, conceitua que o teatro é a imitação do comportamento humano, e através das encenações permite, aos que o assistem, aprender um pouco mais sobre si mesmos e a sociedade em que vive. (José Antonio Rosa). Teatro e Cinema são para um grupo seleto de espectadores. Parabéns pela coletânea informativa sobre os nossos teatros. Muitos, nem imaginam essa variedade de teatros em Alagoas.

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