Os jesuítas em São Francisco
Publicado na Revista do Ensino de julho/agosto de 1927 como trecho do livro Alma das Alagoas
Craveiro Costa
A Companhia de Jesus dominava a península ibérica. Dominava o mundo cristão. Com o estabelecimento de um governo geral no Brasil vieram os primeiros jesuítas e à frente deles a figura veneranda de Manoel da Nóbrega. Mais tarde, em 1553, com Duarte da Costa, veio o grande José de Anchieta.
Chegaram deliberados à catequese dos selvícolas. O homem primitivo do Brasil, em estado de absoluta inocência, ainda não contaminado pela corrupção colonial, seduziu os missionários da Companhia. Vieram e fizeram obra preciosa.
Piratininga recebeu a primeira missão e tornou-se sede da província da Ordem. Aí ficaram Nóbrega e Anchieta. Navarro foi mandado para Porto Seguro. Para Espírito Santo foram Simão Gonçalves e Affonso Braz. Desses pontos irradiou a catequese para toda a colônia.
Tenazes nos seus desígnios, cultos, práticos, conhecedores da alma humana, os jesuítas começaram por aprender a língua geral, o tupi, e por meio dela entraram facilmente em relações amistosas com os selvícolas, atraindo-os ao seu convívio. Pela música e pelo canto fascinavam-nos; pela pompa do culto católico seduziam-nos.
Ao redor de cada colégio formava-se logo a aldeia indígena, numerosa e diligente. As terras da Companhia, desbravadas e cultivadas pelos índios, tornaram-se centros agrícolas invejáveis e foram pontos iniciais de muitas cidades brasileiras.
Novos padres foram enviados para o Brasil dado o êxito das missões.
A Capitania de Pernambuco recebeu também os apóstolos das selvas. A catequese estendeu-se, penetrando nos sertões.
Na segunda metade do século XVII, mais ou menos, a Ordem determinou o estabelecimento de uma missão no São Francisco. Vieram, abnegados, os missionários. Os seus nomes perderam-se, embora a obra ficasse nas crônicas da colonização.
Acima de Penedo, sete léguas, foi fundado o aldeamento. Índios coropatás, aconans e cariris, que erravam pelas margens do São Francisco, depredando nas suas excursões, foram seduzidos pelos missionários impávidos. Em breve, formaram um núcleo numeroso e ativo.
Erigida a capela, construíram os padres a residência da missão, colégio ou convento, um casarão sobre pilares abrigadores contra a montante das inundações. Em 1875, padres recoletos de Urubá ainda dirigiam o aldeamento laborioso. A missão prosperara.
Por toda parte, na colônia, os jesuítas mostravam à evidência que os seus processos conduziam mais rapidamente ao convívio da sociedade nascente o indígena escarmentado. Não que a brandura, a lei de Jesus, a bondade, a palavra inspirada na piedade cristã e as práticas da liturgia católica fossem os únicos meios da catequese dos jesuítas: — eles também sabiam impor-se à obediência pelos recursos extremos da violência.
Elemento de trabalho, exclusivamente destinado aos labores mais ásperos, os padres, como os colonos, escravizavam o índio. Entre os dois senhores daquela nova espécie de gado travou-se uma luta sem tréguas. Triunfaram, por muitos anos, os padres dos seus antagonistas, amparados pelos favores que a metrópole lhes prodigalizava, chegando a entregar-lhes o monopólio daquela escravatura.
Clamavam os jesuítas, bradavam os colonos. A presa era disputada bravamente.
O declínio da Companhia de Jesus, em Portugal, e, por fim, expulsão dos jesuítas entregaram o patrocínio dos índios aldeados ao governo. A situação dos selvícolas, porém, continuou a mesma — de opressão.
Do antigo aldeamento do São Francisco surgiu Porto Real do Colégio. Mas apagaram-se os vestígios da obra dos jesuítas. O convento o tempo derruiu; a igreja foi demolida para em seu lugar construir-se a matriz atual. Apenas ficou a memória dessa obra civilizadora. Obra valiosa a dos jesuítas, no Brasil, não se pode negar, mesmo despindo-a das lendas que a envolvem…
Muito boa a pesquisa, me orgulho ser desta terra ribeirinha que ,e tão admirada por nos colegienses
Orlando santos
Artista plástico e contador
Muito bom essa leitura.