Origem do Parque Memorial Quilombo dos Palmares na Serra da Barriga
Os primeiros passos para restaurar a memória de Zumbi e do Quilombo dos Palmares na Serra da Barriga foram dados ainda em julho de 1972, quando os jornais anunciaram que o Governo do Estado de Alagoas e o Projeto Rondon iniciariam a mobilização de estudantes, historiadores e arquitetos, com o apoio do 20º Batalhão de Caçadores, para realizar o levantamento de todo o anfiteatro do antigo Quilombo dos Palmares, em União dos Palmares, Alagoas.
No final daquele ano os jornais continuavam a divulgar que a Serra da Barriga seria “transformada num parque turístico, com a reconstituição física e histórica do Quilombo dos Palmares, que reuniu mais de meio milhão de negros rebeldes durante quase um século”. (Jornal do Commercio – RJ – de 29 de novembro de 1972).
O mesmo jornal lembrava que os trabalhos estavam sendo coordenados por uma equipe do Projeto Rondon e que contaria com a participação de estudantes de história, sociologia, arquitetura e engenharia, além do Governo de Alagoas. Previa-se então que o Parque seria inaugurado em 1973.
Revelando que até aquela data nada havia sido realizado, em 31 de agosto de 1973 o Diário de Pernambuco publicou que “os universitários que participarão da próxima operação nacional do Projeto Rondon vão efetuar um levantamento que representará a reconstituição histórica do Quilombo de Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, considerado o maior movimento de libertação negra do País”. Detalhava: “a operação, em janeiro de 74, se desenvolverá em duas etapas distintas…”.
Não ocorreu o planejado pelo Projeto Rondon, mas a ideia de se ter o Parque Histórico de União dos Palmares prosperou, surgindo assim o Projeto Zumbi. O então governador, Afrânio Lages; o prefeito da capital, João Sampaio, e o comandante do 20º BC, coronel Laury Capistrano, tornam público seus entusiasmos por esse projeto.
Foi criada então uma Comissão Executiva para iniciar a construção do Parque Histórico Estadual de Zumbi. A sua primeira reunião ocorreu no dia 14 de junho de 1974 no Palácio dos Martírios, em Maceió, sob a presidência do governador Afrânio Lages. Nessa reunião, o industrial João Lyra e o proprietário rural Luís Soares Pinto entregaram ao Governo documentos autorizando a utilização da Serra da Barriga para a construção do Parque.
Também se determinou que a Secretaria de Viação, por meio do DER, elaborasse o projeto da estrada até a Serra da Barriga e que a CEAL apresentasse o plano de eletrificação do local. O prefeito João Sampaio também demonstrou apoio o projeto ao informar que estava desapropriando uma área em Maceió para nela erigir uma estátua de Zumbi, concebida artisticamente por Lourenço Peixoto, com sugestões de Jayme de Altavila.
O comandante do 59º Batalhão de Infantaria Motorizada — assumiu essa denominação em 21 de novembro de 1973 —, coronel Laury Capistrano, elogiou o empreendimento e citou o Parque Brigadeiro Sampaio, no Ceará, destacando que era um fator de desenvolvimento cívico-social e também de Segurança Nacional. O prefeito de União dos Palmares, Afrânio Vergetti, afirmou o seu propósito de colaborar em todas as iniciativas e externou o seu contentamento por saber que em breve o Parque seria inaugurado.
A reunião contou também com a participação do secretário da Viação, Ezequiel Alves; prof. Aloisio Galvão, coordenador estadual do Projeto Rondon; economista Ivan Scalla, coordenador executivo do Projeto Rondon; eng. Corintho da Paz, diretor da CEAL; jornalista Walmir Calheiros e capitão Gilson Dantas.
Afrânio Lages deixou o governo em 15 de março de 1975 sem inaugurar o Parque Histórico Estadual de Zumbi.
I Encontro sobre o Parque Histórico Nacional de Zumbi
O projeto somente voltou a ser tratado pelo Projeto Rondon em junho de 1979. Foi consultada a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) sobre a viabilidade da implantação do Parque Histórico Estadual de Zumbi na Serra da Barriga. Houve o sinal verde e imediatamente o Governo do Estado, a Universidade Federal de Alagoas e o Projeto Rondon estabeleceram um plano para realizar os estudos necessários para o empreendimento.
Foi assim que, em 3 de outubro de 1979, nos últimos dias do mandato do reitor Manoel Ramalho na Universidade Federal de Alagoas, foi assinado um Convênio para a implantação do Parque Histórico Nacional do Zumbi na Serra da Barriga em União dos Palmares. O pacto envolveu o Governo do Estado, Ufal, Senec, Ematur, IHGAL, Projeto Rondon e as prefeituras de Maceió e União dos Palmares.
Com a posse do reitor João Azevedo, em dezembro de 1979, o prof. Aloisio Galvão, coordenador estadual do Projeto Rondon, reforçou a necessidade de levar adiante o projeto por sua importância para o desenvolvimento de Alagoas, principalmente para o turismo.
No início de 1980, a Universidade Federal de Alagoas procurou Aloísio Magalhães, diretor-geral do Sphan/Pró-Memória em Brasília, para também saber se o Parque em União dos Palmares contraria com o apoio daquela instituição. João Azevedo foi orientado a envolver outros atores no projeto, trazendo amplitude para a iniciativa e, principalmente, contando com as representações do movimento negro.
Para elaborar as bases desse projeto foi então organizado o I Encontro sobre o Parque Histórico Nacional de Zumbi, que se realizou em Maceió nos dias 22, 23 e 24 de agosto de 1980 no Centro Social D. Adelmo Machado, na Ponta Grossa. Promoveram o evento o Ufal, CAPES, CNPq, PRÓ-MEMÓRIA, Projeto Rondon e Prefeitura de União dos Palmares.
Quando divulgou o Encontro, o reitor João Azevedo explicou à imprensa que se buscava discutir os termos de referência do Projeto Zumbi, mas também se promoveria o ato oficial de tombamento da casa onde nasceu Jorge de Lima, em União dos Palmares, transformada em sede do Centro de Estudos Afro-Brasileiros da Ufal.
O Encontro teve abertura solene no auditório da Reitoria com a presença do reitor João Azevedo, Cláudio Moura Castro e Manuel Marcos Formiga do Capes, e Aloísio Magalhães do Sphan/Pró-Memória. Em seguida, já no Centro Social D. Adelmo Machado, os participantes se dividiram em quatro grupos de estudos para a elaboração dos objetivos e metodologia de trabalho.
Foram estas as conclusões apresentadas:
Quanto à Metodologia de Trabalho (Estrutura e Estratégia)
1. Deverá ser criado um Conselho Geral para elaborar o projeto final do MEMORIAL DE ZUMBI de acordo com as diretrizes traçadas nesse encontro.
2. A composição desse Conselho Geral seria: representantes de Entidades presentes nesse encontro pessoas que tenham um trabalho consequente em relação à situação do negro no Brasil, pessoas indicadas pela comunidade da Serra da Barriga e da comunidade negra de Maceió. ficou ainda estabelecido que no mínimo 2/3 do grupo de trabalho serão constituídos pelos representantes dos movimentos negros.
2.1. Fica instituída uma Comissão do Plenário, composta de cinco membros eleitos por esse, para convocar o Conselho Geral do MEMORIAL ZUMBI dissolvendo-se tão logo esse se instale no prazo de três meses. Serão seus membros um representante:
da UFAL
da SPHAN/PRÓ-MEMÓRIA
da Comunidade Negra de Maceió
da comunidade negra da Bahia
de entidade Negra de Brasília
Observação:
— Por deliberação do plenário, decidiu-se que os representantes das entidades negras seriam escolhidos em suas bases durante reuniões que contarão com a presença dos participantes e dos não participantes do Seminário.
— Da mesma forma, a Ufal e a SPHAN/PRÓ-MEMÓRIA ficaram de indicar seus representantes após consulta às suas organizações.
— Por aclamação do plenário o sr. Zezito Araújo foi escolhido como representante da comunidade negra de Maceió.
Quanto aos Objetivos
1 – Estabelecer como polo de uma cultura de libertação do negro. Esta cultura da libertação objetiva:
1.1 – Promover humana e socialmente as massas de origem africana e de todos os segmentos oprimidos do país;
1.2 – Exigir a devolução à comunidade afro-brasileira da riqueza que ela criou e que lhe foi usurpada;
1.3 – Resgatar a memória de Palmares e da comunidade afro-brasileira como base de luta.
2 – Integrar a comunidade local e as comunidades negras no projeto e na execução do Memorial de Zumbi.
3 – Funcionar como centro de informação, documentação e divulgação popular e acadêmica.
4 – Exigir do Sistema Oficial de Ensino a correção dos currículos escolares, omissos e injustos com a comunidade afro-brasileira.
5 – Constituir-se em um ponto de concentração dos movimentos negros do país e do exterior.
6 – Constituir um tribunal antirracista para julgamento dos casos de discriminação.
7 – Fazer respeitar as religiões afro-brasileiras.
8 – Promover a participação do negro em todos os níveis de decisão do país.
9 – Resguardar juridicamente os direitos humanos da comunidade afro-brasileira tais como: posse da terra, integridade física e oportunidade de emprego.
10 – Solidarizar-se com todos os movimentos negros internacionais, assim como os de todos os povos oprimidos.
11 – Reconhecer, em especial, o papel e os direitos da mulher negra.
Como se percebe, o projeto não mais atendia somente ao objetivo desenvolvimentista ancorado no turismo. O Parque passaria também a cumprir um importante papel simbólico na luta contra o preconceito racial e pela afirmação da cultura afro-brasileira.
Os participantes desse encontro também estiveram na Serra da Barriga, em União dos Palmares, onde foram recebidos num almoço pelo prefeito Manoel Gomes de Barros.
No dia 28 de outubro de 1980, o Correio Braziliense anunciava que a Comissão Plenária indicada no I Encontro estava reunida em Brasília e havia definido que o Conselho Geral seria eleito no 20 de novembro em Maceió, durante um “encontro de caráter nacional” a ser realizado em Alagoas.
Max Luterman, Zezito Araújo, Dulce Maria e Joel Rufino, membros dessa Comissão, disseram à imprensa que as primeiras reuniões visavam a criação do Parque Histórico Nacional de Zumbi, mas os movimentos negros avaliaram que “Parque” distorcia os objetivos, que era o de ali criar um polo “de uma cultura de libertação do negro”. O projeto passou então ser conhecido como Memorial Zumbi.
Semana Zumbi em União dos Palmares
Como desdobramento do I Encontro sobre o Parque Histórico Nacional de Zumbi, realizado em Maceió nos dias 22, 23 e 24 de agosto de 1980, a Ufal, por meio da Coordenadoria de Extensão Cultural, promoveu nos dias 20, 21 e 22 de novembro desse mesmo ano a Semana Zumbi, na Casa Jorge de Lima em União dos Palmares. Contou também com a participação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional / Pró-Memória, do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), da Prefeitura de União dos Palmares e do Projeto Rondon.
Além da exposição dos trabalhos do pintor Willy Mello, da apresentação do Bloco Ileayê da Bahia, de grupos folclóricos da Ufal e de um churrasco oferecido pela Prefeitura de União dos Palmares, os pontos altos da Semana Zumbi foram o anúncio da aquisição da Casa Jorge de Lima pela Ufal, onde se instalou o Centro de Estudos Afro-Brasileiros (Ceab), e a eleição e posse do Conselho Geral do Memorial Zumbi, como estabelecido no I Encontro meses antes.
Zezito Araújo e a Associação Cultural Zumbi
Em 8 de agosto de 2014, numa entrevista para a então mestranda em Sociologia Ábia Denise Marques Pinheiro de Lima, autora do estudo “Luzes para uma face no Escuro: a emergência de uma rede de valorização da expressividade afroalagoana”, o professor Zezito Araújo, que foi fundador da Associação Cultural Zumbi (ACZ) em 1981, revelou como se deu o seu envolvimento com o projeto que buscava a criação do Parque Histórico Nacional de Zumbi.
Tinha sido contratado pela Ufal pouco tempo antes, quando ocorreu o I Encontro sobre o Parque Histórico Nacional de Zumbi em agosto de 1980. Durante a abertura, no auditório da Reitoria, lá estava ele sentado na última fila.
“Compunham a mesa o Aloísio Magalhães, que era do IPHAN, o professor Aloísio Galvão, que era daqui de Alagoas, o Abdias Nascimento, que todo mundo reconhece como uma das maiores lideranças do movimento negro do mundo, não só do Brasil, e tantos outros que estiveram aqui. E o Abdias Nascimento fez a seguinte indagação: ‘Professor João Azevedo [então reitor da Ufal], como é que você faz um evento desse aqui em Alagoas, e não convida os professores negros da universidade? Não tem professor negro nessa universidade, não?’. Eu nunca esqueci essa fala. Claro, ele não falou isso de forma crítica, mas em tom de brincadeira. E o professor João Azevedo percebeu que eu estava lá atrás e disse: ‘Tem sim, olhe o professor Zezito ali. Foi contratado agora no começo do ano. Zezito, venha para cá para mesa’. Veja, eu não tinha a mínima experiência, nenhuma relação com a temática, com Zumbi, eu não sabia do que se tratava. Mas eu, evidentemente, tava lá e fui, compus aquela mesa”.
Dias depois, o professor Zezito foi convocado pelo reitor João Azevedo a integrar o Projeto:
“Ele me chamou depois que terminou o evento, que durou uma semana e teve a presença do professor Décio Freitas, do professor Clóvis Moura, do professor Manuel Correia de Andrade — aquelas pessoas que escreveram sobre a história de Zumbi foram convidadas para participar desse seminário. Ele me chamou e disse: ‘Olha, Zezito, você vai trabalhar junto com o Décio Freitas’ — que foi um dos pioneiros a rever a história de Zumbi dos Palmares. E no ano seguinte foi criado o CEAB, e foi quando começamos essa trajetória. […] Eu fui morar em União dos Palmares, foi uma das missões que o professor João Azevedo me deu. Houve a reforma na Casa Jorge de Lima, que é da Ufal, eu residi um ano e meio lá, morando em União, foi dada a infraestrutura mínima para que eu me estabelecesse lá. E foi quando nós iniciamos todo o trabalho do tombamento e desapropriação dos terrenos da Serra da Barriga”.
Esse trabalho resultou num relatório “Serra da Barriga: exposição de motivos para o tombamento”, publicado em 1985.
Sobre a Associação Cultural Zumbi, Zezito Araújo disse que surgiu em 1981 a partir de um grupo que frequentava as rodas boêmias do Mestre Duda. Foi a primeira organização de negros alagoanos para a luta contra o preconceito racial.
Em 1984, por discordar que o foco principal da entidade fosse o Parque da Serra da Barriga, um grupo se afastou dessa entidade e criou os Filhos de Zumbi, que existiu por dois anos. A Associação Cultural Zumbi existiu até 1992.
Memorial Zumbi
Após a realização da Semana Zumbi em União dos Palmares, onde houve a eleição e posse do Conselho Geral do Memorial Zumbi, ocorreu um ato em Maceió, no dia 29 de novembro de 1980, onde os 15 membros do Conselho foram apresentados à imprensa. Tiveram um mandato de quatro anos.
Durante o evento, o antropólogo Abdias Nascimento esclareceu que o objetivo do projeto era o de “reatar as lutas encampadas no Brasil colônia por Zumbi”. Durante seu discurso, pediu às autoridades presentes que destruíssem o monumento ao bandeirante Domingos Jorge Velho erguido em Atalaia, Alagoas, por ter sido ele “um perseguidor do elemento negro”.
O Conselho Geral, por sua vez, elegeu um Conselho Executivo, que foi presidido inicialmente por Olímpio Serra. Quem secretariava era Joel Rufino dos Santos. A tesouraria ficou ao encargo do advogado Carlos Alves Moura.
Foi esse Conselho Executivo que solicitou no início de 1981 para criação do Memorial Zumbi: Parque Histórico Nacional e o tombamento da Serra da Barriga.
I Simpósio Nacional sobre o Quilombo dos Palmares de 1981 em Maceió
Promovido pelo Centro de Estudos Afro-brasileiros da Ufal e pelo Projeto Zumbi, esse simpósio teve caráter nacional e aconteceu no Auditório Guedes de Miranda, na antiga Reitoria da Universidade Federal de Alagoas, entre os dias 16 e 20 de novembro de 1981.
O singular sobre esse evento é que seus registros foram encontrados em um relatório confidencial do Serviço Nacional de Informações, produzido pela “Agência Recife”. Como todas as reitorias da época tinham uma Assessoria de Segurança e Informações (ASI), é provável que o SNI tenha optado em utilizar a estrutura de Recife por considerar que a Ufal era uma das promotoras do evento.
É por esse relatório que se sabe das vaias dirigidas pelos estudantes aos militares convidados a participarem da mesa de abertura, no dia 16 de novembro. As vaias somente pararam quando reitor em exercício, prof. Radjalma Cavalcante, pediu aos estudantes, liderados pelo DCE da Ufal, que dessem uma trégua nas manifestações, destacando a importância do Simpósio.
A mesa de abertura contou com 21 participantes: reitor em exercício, Radjalma Cavalcante; governador em exercício, Theobaldo Barbosa; embaixador da Nigéria, Thimothy Anaele Mgbokwere; embaixador do Zaire, Kasasa Cinyanta; embaixador da Costa do Marfim, Charles Providence Gomis; embaixador do Gabão, Victor Magnana; embaixador de Gana, Kwasi Asante; embaixador do Togo, Jjababou Nana; secretário de Educação de Alagoas em exercício, Douglas Apratto Tenório; representante do comandante do 59º BIMtz, tenente Lima Machado; representante do comandante da Polícia Militar de Alagoas, major Edvaldo Terto da Silva; delegada do MEC em Alagoas, Maria Teônia de Barros; representante do comandante da 20ª CSM, tenente Osvaldo Ghisi; representante do diretor geral do Cesmac, Ivan Vasconcelos; representante do presidente do Conselho Estadual de Educação, Elias Passos Tenório; representante do presidente do Tribunal de Justiça, Hélio Rocha Cabral; arcebispo metropolitano de Maceió, D. Miguel Fenelon Câmara; representante do presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas, dep. Jorge Quintela; representante do comandante da Capitania dos Portos, capitão-tenente Genildo de Castro Lessa; coordenador do Simpósio, Décio Freitas; e o deputado federal pelo Rio Grande do Sul, Carlos Santos.
Convidados pela Ufal, participaram do evento: historiador Clóvis Moura (SP), professor da USP Arnaldo Contier (SP), cineasta alagoano Carlos Diégues (RJ), professora da UFBa Eugenia Lucia Nery, historiador Voltaire Schilling (RS), historiador Mário Maestré Filho (RJ), atriz e cantora Zezé Mota (RJ), historiador Joel Rufino dos Santos (RJ), socióloga Lélia Gonzales (RJ), deputado federal Carlos Santos (RS); historiador da UFPE Manuel Correia de Andrade (PE), historiador Vicente Sales (DF); Josemir Camilo de Melo (UFPB), Silvio Frank Alem (UFPB), Sergius Gonzaga (UFRGS), Marc Jay Hoffnagem (UFPE), professor Hamiltom Bernardes Cardoso (SP), professor José Otávio da Fundação José Américo (PB), Luis Roberto Barros Mott (UFBa), jornalista Mauro de Felice (DF), arcebispo de João Pessoa D. José Maria Pires (PB), historiador Décio Freitas (Ufal), senador Teotônio Vilela (AL), deputado estadual Jorge Quintela (AL), historiador Moacir Santana (Ufal), professor Zezito Araújo (Ufal) e professora Reny Dalva Lacerda Gomide (Ufal).
Além dos embaixadores que compuseram a Mesa de Abertura, na relação dos convidados consta na relação dos convidados o embaixador do Senegal, Victor Magnagna.
Outra informação importante que consta do documento confidencial do SNI é a composição do Conselho Deliberativo do Memorial Zumbi-Parque Histórico Nacional: Olímpio José Trindade Serra (BA), presidente; José Rufino dos Santos (RJ), secretário; Carlos Alves Moura (DF), tesoureiro; Clóvis Antunes Carneiro (AL); Abdias Nascimento (RJ); Dulce Maria Pereira (DF); Edson Santos Tosta (BA); Ernane Mero (AL); João Ferreira Azevedo (AL); José Batista dos Santos (União dos Palmares, AL); Manoel Marcos Maciel Formiga (DF); Paulo Ferreira (Ouro Preto, MG); Wanda Chase (PE) e Zezito Araújo (AL).
O Simpósio foi aberto na noite de 16 de novembro, no antigo Auditório da Reitoria, na Praça Sinimbu, e continuou na manhã seguinte, às 9h, com uma conferência do historiador Décio Freitas sobre os Problemas Teóricos e Metodológicos da História de Palmares.
No início da tarde o professor Arnaldo Contier (USP) discorreu sobre os mesmos Problemas Teóricos e Metodológicos, mas abrangendo a História Colonial. Às 17h teve início uma Mesa Redonda sobre O Legado dos Palmares, moderada por Décio Freitas e com a participação dos seguintes debatedores: Cacá Diegues (cineasta), Moacir Santana (Ufal), Eugenia Lucia Nery (UFBa), Voltaire Schilling (RGS), senador Teotonio Vilela (AL), Jorge Quintela (deputado estadual (AL) e o jornalista Mauro de Felice.
À noite os participantes foram recebidos pelo governador em um jantar no Palácio dos Martírios.
No dia 18 de novembro, pela manhã, houve a conferência do historiador Clóvis Moura (SP) sobre a Formação Social Palmarina. Após tarde livre, a Formação Social Palmarina voltou a ser tema do Seminário com a conferência do professor Mário Maestri Filho, da Universidade Católica de Louvaid, na Bélgica. Ainda naquela mesma noite foi realizada a Mesa Redonda Significado de Palmares para os Negros Brasileiros, moderada por Clóvis Moura e debatida por Zezé Mota (RJ), Joel Rufino dos Santos (RJ), Lélia Gonzalez (RJ), deputado Carlos Santos (RS), jornalista Hamilton Bernardes Cardoso (SP) e Zezito Araújo (Ufal).
A programação do dia 19 de novembro teve início, pela manhã, com a conferência da professora Reny Dalva Lacerda Gomide (UFAL), abordando os Aspectos Sociais de Palmares. À tarde, a conferência sobre O Nordeste no Século XVII foi apresentada pelo professor Manuel Correia de Andrade (UFPE), seguida de Mesa Redonda sobre Palmares na História Brasileira. Foi moderador Mário Maestri Filho. Debateram: Josemir Camilo de Melo (UFPb), historiador Vicente Sales (Fundação Pró-Memória), Silvio Frank Alem (UFPb), Manuel Correia de Andrade (UFPE); Marc Jay Hoffnagen (UFPE), Roberto de Barros Mott (UFBa), historiador José Octávio (Fundação José Américo de Almeida). À noite a Prefeitura Municipal de Maceió promoveu uma recepção aos convidados.
O Simpósio foi encerrado no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, após a última conferência apresentada pelo professor Sergius Gonzaga (UFRGS), sobre Palmares na Literatura Brasileira. No final da manhã houve o encerramento com distribuição de placas para os embaixadores.
No início da tarde, ônibus transportaram os convidados até a Serra da Barriga, em União dos Palmares, onde foi celebrada uma missa campal, oficiada pelo arcebispo da Paraíba, D. José Maria Pires, com texto de D. Pedro Maria Casaldáliga Plá, bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso.
Segundo o relatório do SNI, o orador mais “agressivo” foi D. Pedro Casaldáliga. O agente destacou o trecho mais contundente: “Esses irmãos negros, mesmo humilhados, devem reerguer seu padrão maior, que é a cultura, lutando contra a escravidão que apenas acabou no papel, mas continua existindo em nossa pátria”.
Na Serra da Barriga foi erguido um marco do Memorial Zumbi, onde foi inscrito o seguinte texto: “Neste local, deverá se erguer um polo de luta pelo direito e pelo resgate dos heróis negros que dignificaram este país”. Esse objetivo foi reafirmado durante as falas dos diretores do Conselho Deliberativo do Memorial. Pretendiam tornar a Serra da Barriga a capital do “Estado Negro e Democrático de Palmares, um local permanente de peregrinação e encontro de todos os brasileiros que lutam, sem preconceitos, pela democracia”.
Antes da volta a Maceió, no final da tarde, foi realizada uma visita à Casa de Jorge de Lima, adquirida pela Ufal para sediar o seu Centro de Estudos Afro-Brasileiros.
Paralelamente ao I Simpósio Nacional sobre o Quilombo dos Palmares, o Conselho Geral e o Deliberativo do Memorial Zumbi-Parque Histórico Nacional realizaram várias reuniões em Maceió. Utilizaram o Auditório do Centro de Ciências Biológicas da Ufal, na Praça da Faculdade.
No dia 18 de novembro, pela manhã, o Conselho Deliberativo se reuniu e foi apresentado o relatório da Diretoria. Depois foram realizadas as comunicações dos demais membros e apresentado o plano para captação de recursos.
O Conselho Geral se reuniu no dia seguinte, quando tomou conhecimento do Relatório do Conselho Deliberativo e conheceu as propostas de novos sócios. À tarde houve Sessão Aberta.
Tombamento da Serra da Barriga
Em 21 de julho de 1985, o Jornal do Brasil noticiou que o então ministro da Cultura, Aloísio Pimenta, anunciara o tombamento da Serra da Barriga para que ali fosse instalado o Memorial Zumbi. Disse ainda que havia entrado em contato com o governador Divaldo Suruagy para lhe comunicar que já estava buscando recursos para as obras. O anúncio ocorreu durante uma palestra, em Belo Horizonte, no Encontro Estadual da Comunidade Negra.
Quando da homologação do tombamento da Serra da Barriga em 20 de novembro de 1985, assinado em União dos Palmares, Carlos Moura, então assessor para Assuntos Afro-Brasileiros do Ministério da Cultura, comentou sobre a importância do Memorial Zumbi, argumentando que não se queria somente construir ali uma obra monumental no sentido arquitetônico e de documentação cultural, mas constituir um elemento vivo para a eliminação de um dado essencial no Brasil que é o preconceito racial. “O Memorial não se definirá a partir do dualismo maniqueísta negro e branco, mas quer a colaboração de todos no resgate da identidade brasileira. Outra não poderia ser a característica do projeto inspirado em Zumbi dos Palmares, mas cumpre ressaltar que os negros brasileiros reivindicam o comando do memorial”, disse o professor Carlos Moura. A homologação do tombamento foi publicada no Diário Oficial da União em 31 de janeiro de 1986.
Ainda em 1985, o mesmo Jornal do Brasil, de 1º de dezembro, divulgou que o arquiteto Oscar Niemeyer seria o responsável pelo projeto do Memorial na Serra da Barriga.
No dia 21 de janeiro de 1986, o ministro da Cultura, Aloízio Pimenta, recebeu Niemeyer em Brasília e o convidou a criar o projeto do Memorial Zumbi. No dia 24 de abril de 1986, Niemeyer entregou, em doação, o projeto e a maquete ao ministro da Cultura, que era então Celso Furtado.
As terras da Serra da Barriga foram doadas ao Memorial por seus proprietários em 21 de março de 1988. Nessa mesma data o Decreto nº 95.855, assinado pelo presidente Sarney, transformou a Serra da Barriga em Monumento Nacional para “estudos antropológicos, arqueológicos, históricos, ecológicos, reflorestamento das áreas naturais”, passando a ser um Parque Nacional. Isso permitiu a retirada dos antigos moradores do lugar. Não se compatibilizavam com a política de preservação adotada.
A mobilização para a construção do Memorial Zumbi, na Serra da Barriga, passou a envolver novos atores a partir de 13 de maio de 1988, quando o presidente José Sarney aproveitou a data da abolição da escravidão para anunciar no programa Conversa ao Pé do Rádio que estava criando a Fundação Palmares “que se destina à promoção da raça negra para tornar possível a presença do negro em todos os setores de liderança deste País, numa fecunda revolução de resgate de uma dívida que ainda permanece. Pela educação, pela criação de oportunidades de trabalho e pela participação. Acudir os bolsões de pobreza, miséria e marginalização social em que ainda se debatem muitas parcelas do povo brasileiro. Completar a grande obra da emancipação”. Assim noticiou o Correio Braziliense do dia seguinte.
Somente dez anos depois, em 7 de abril de 1998, a Fundação Cultural Palmares passou a administrar o Memorial Zumbi. Nesse mesmo dia a posse sobre a Serra da Barriga foi repassada a esta entidade pela Secretaria de Patrimônio da União, como consta na Certidão nº 047 de 1998. Mantinha o objetivo de administrar as ações para a sua manutenção e preservação.
A partir de 1999, quando Zezito Araújo foi nomeado secretário de Estado de Defesa e Proteção das Minorias, ficou mais fácil a interlocução com a Fundação Palmares e a gestão dos recursos desta instituição destinadas a Alagoas. Surgiram assim, em 2001, os primeiros investimentos no que poderia vir a ser um museu temático na Serra da Barriga. A SEDEM, a Fundação Palmares e o Sebrae uniram esforços para a construção de um palácio para reuniões, uma casa de farinha, casa de orações e torres de observações. As trilhas da serra ganharam mirantes.
Toda a área do platô foi cercada por uma paliçada e as construções em taipa buscavam reproduzir o deveria ter sido a arquitetura do Quilombo.
A Secretaria de Estado de Defesa e Proteção das Minorias assumiu assim, na prática, a gestão da Serra da Barriga e do seu principal evento, as festividades do Dia da Consciência Negra.
Nesse período, as denominações Parque Nacional Zumbi ou Memorial Zumbi foram sepultadas. Surgiu então o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, que foi implantado em seis fases, entre 2001 e 2007.
A reinauguração do Parque Memorial ocorreu em 2007, após a conclusão da última fase, que terminou sendo alvo de uma CPI do Senado. Investigava-se as Oscips que atuavam em Alagoas, como noticiou o Jornal do Brasil de 3 de dezembro de 2007.
Em 2017, a Serra da Barriga também foi reconhecida como Patrimônio Cultural do Mercosul, um símbolo de luta e resistência contra a escravidão e uma referência cultural.
Tantos contribuíram, para assegurar a preservação desse espaço sagrado de lutas e vitórias. Homens e mulheres que mantém vivo o sonho de liberdade do grande comandante Zumbi. Destaco o trabalho incansável do querido professor Zezito Araújo.
Muito bom fazer êsse documento sôbre serra da barriga em União dos Palmares.
Só tenho a te agradecer, prezado Ticianeli, a publicação desta matéria acerca do Zumbi dos Palmares.