O republicano hino de Alagoas
Entre os historiadores não há a menor dúvida sobre a influência exercida pela Revolução Francesa na formação do ideário republicano no Brasil. A independência dos Estados Unidos da América também foi referência para o movimento que derrubou a monarquia.
Quando a República foi proclamada oficialmente, em 15 de novembro de 1889, numa cerimônia realizada na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, havia muito entusiasmo e alegria entre os revolucionários vitoriosos. Ali perceberam que o novo regime não tinha símbolos a serem utilizados em suas comemorações.
Cantou-se então o hino francês, a Marselhesa, e ergueu-se uma bandeira muito parecida com a dos americanos. Saltava aos olhos a urgência de se ter novos símbolos, que substituíssem os monárquicos. Havia também a necessidade de rapidamente apagar os vestígios do antigo regime e do seu principal líder, D. Pedro II.
Assim, nos meses seguintes foram erguidas estátuas e monumentos republicanos. As vias públicas e repartições perderam denominações que faziam referência a datas, fatos e nomes da monarquia.
O principal investimento nos símbolos se deu em torno da elaboração da nova bandeira, novo hino e novos heróis.
Para escolher o hino foi lançado um concurso em 22 de novembro de 1889. O evento realizou-se no dia 20 de janeiro de 1890 no Teatro Lírico e contou com a participação de 29 concorrentes.
Deodoro da Fonseca, que estava presente, não gostou do que ouviu e como também já havia recebido vários pedidos para manter o antigo hino, resolveu salomonicamente: naquele mesmo dia decretou a manutenção somente da música da composição anterior e adotou o escolhido pelo concurso como Hino da Proclamação da República. Foi composto por Leopoldo Miguez e José Joaquim Medeiros e Albuquerque.
O hino, reconhecido como do Brasil, era de autoria de Francisco Manuel da Silva (1795/1865) e foi apresentado em 1823 em comemoração à Proclamação da Independência do Brasil. Havia outro, composto por Dom Pedro I, mas Francisco Manuel achava o seu mais vibrante e triunfal, sem negar sua admiração pela “Marselhesa”.
Em abril de 1831, o hino de Francisco Manuel da Silva voltou a ser executado para comemorar a abdicação de Pedro I. Recebeu para tal uma letra de Ovídio Saraiva e ficou conhecido como “Hino 7 de Abril”.
Uma década depois voltou a ser lembrado durante os festejos da coroação de Dom Pedro II em 1841. Recebeu nova letra e mudou de nome, passando a ser o “Hino da Coroação”.
Em 1869, já era reconhecido como hino nacional e serviu como tema da peça “Fantasia Sobre o Hino Brasileiro”, uma composição do pianista e compositor norte-americano Louis Moreau Gottschalck. Ele mesmo executou a peça durante um sarau no Paço Imperial.
Após a proclamação da República, o hino permaneceu sem letra até julho de 1909, quando, em novo concurso, a poesia de Joaquim Osório Duque Estrada foi vencedora.
Entretanto, a oficialização do hino encontrou problemas ao ter que enfrentar discordâncias entre os legisladores sobre os diversos projetos de lei que regulamentavam o símbolo do país.
Esse embaraço somente foi resolvido em 1922, quando o Brasil comemorava o centenário da independência. O presidente Epitácio Pessoa enviou Projeto de Lei ao Congresso e após a sua aprovação, o sancionou no dia 6 de setembro de 1922, véspera da data comemorativa.
Alagoas
O hino de Alagoas foi o terceiro entre os estados do país a ser oficializado após a instalação da República. Antes, somente o Rio de Janeiro e Santa Catarina tinham instituído seus hinos.
Lembrando que Bahia, Sergipe, Espírito Santo e Rio Grande do Sul já tinham os seus desde o período monárquico.
Quem primeiro compôs e ofereceu um hino ao Estado, em 15 de dezembro de 1889, foi o engenheiro civil e músico Misael Domingues.
Sua composição chegou a ser apresentada, durante as comemorações do primeiro mês da República, na Sociedade Dramática Particular Pantheon Alagoano, executada pela Euterpe Alagoana.
O mesmo Misael Domingues havia lançado em Recife, no começo daquele mesmo mês, a valsa “Viva a República”, editada por Préalle & C.
O hino composto por Misael não vingou.
Foi o governador Gabino Besouro, em 1894, quem demonstrou intenção em estabelecer os símbolos do Estado de Alagoas.
Provavelmente, seu interesse por eles tenha sido despertado após ser indicado pelo governo da República, em 1893, como presidente da Comissão de Propaganda e Colonização do Norte da República.
Besouro solicitou ao bacharel e poeta Luiz Mesquita a composição da letra do hino, que lhe foi apresentada em 15 de fevereiro de 1894. Imediatamente, o governador abriu inscrições para o concurso que escolheria a música. Os compositores foram comunicados por convite, nele já constando a letra do hino.
No dia 1º de abril de 1894, quando se encerraram as inscrições, estavam habilitadas nove composições, assinadas pelos pseudônimos de oito candidatos: Benedito Raimundo da Silva — que inscreveu duas músicas —, Joaquim Antônio de Almeida Crispim, Pedro Adolfo Diniz Maceió, Tito Rodrigues Fróes, Dr. Misael Domingues, José Barbosa de Araújo Pereira e José Alves da Silva. Um dos autores não teve seu nome mantido nos registros que sobreviveram ao tempo.
Na tarde do domingo, 27 de maio de 1894, “no jardim do palacete do Congresso” (do livro Traços e Troças de Pedro Nolasco), atual Praça D. Pedro II, houve a execução pública dos hinos pela banda do Batalhão Policial.
Formavam a comissão julgadora os músicos: Inácio Joaquim da Cunha Costa, Manoel Laurindo Martins Júnior e Isaac Newton de Barros Leite.
Segundo Pedro Nolasco, o público não podia se manifestar durante as apresentações. Somente após a execução de todas as músicas poderia se pedir a repetição da que mais agradou.
A multidão ouvia de pé, “silenciosa, uns agrupados em derredor das estantes, outros trepados nos bancos do jardim; a calçada do palacete ao lado da matriz, regurgitando de povo, homens, senhoras, crianças, acompanhadas de aias, o chalé fronteiro repleto de pessoas gradas, o governador do Estado, o Dr. Intendente, deputados, senadores, magistrados”, descreve Nolasco.
Após a execução do primeiro hino, de José Alves, quando somente seu filho o aplaudiu, o “segundo tocado obteve os aplausos da multidão, que aplaudiu delirante, abanando os chapéus, com lenços, acenando com as bengalas e guardas-sol”.
Ao final das apresentações, os presentes pediam em altos brados a repetição do segundo, que até então tinha o seu autor no anonimato, como exigia o concurso. “As manifestações tornaram-se calorosas, o entusiasmo subiu de ponto”.
Em meio aos pedidos da multidão, o professor Felinto invadiu a área reservada para os músicos, discutiu com José Barreto (oficial de segurança), trepou num banco e discursou rouco enquanto o povo continuava a pedir a reapresentação do segundo hino.
Foi então que o professor Valério de Farias Pinheiro divulgou que o autor era Benedito Raimundo. “O povo foi buscar o professor Benedito, regente da Minerva, trouxe-o em triunfo, trajando croisé preto, calças e colete de casimira azul-claro, cartola; o hino foi repetido, exigiram que o autor executasse a parte de piston, instrumento que ele tocava divinamente”.
Terminada a apresentação, a multidão invadiu o chalé onde estava o governador. “Este recebeu o povo com afabilidade e declarou que respeitaria a unânime manifestação de sua vontade”. A vontade popular se sobrepunha à comissão julgadora, que praticamente foi obrigada a concordar com o veredito das ruas.
Mas as manifestações não pararam aí. Formou-se rapidamente um cortejo para acompanhar o governador até o palácio, que naquela época ficava a poucos metros, na descida da ladeira da Praça dos Palmares, continuação da Rua do Comércio. O cordão foi devidamente acompanhado pela banda tocando o hino,
Depois rumaram para a casa do maestro vitorioso, onde, “ao estourar da cerveja, se fizeram muitos brindes”. A comemoração se estendeu por vários dias, todos motivados pelo prêmio de 2:000$000 réis que o governador autorizou entregar ao Benedito “Piston”.
No dia 6 de junho de 1894, foi publicado o Decreto nº 57, passando Alagoas a ter seu hino oficial.
“Atendendo que os hinos e cantos nacionais são considerados de elevada importância política, porque mantendo o sentimento de patriotismo e produzindo no cidadão o entusiasmo pelas gloriosas tradições de seu país, o incitam à prática de atos de civismo;
E tendo, de acordo com este pensamento, mandado abrir concorrência pública para o fim de ser escolhida a música, que acomodava à poesia do bacharel Luiz Mesquita, composta neste intuito, viesse a ser o hino do Estado;
Considerando que executadas perante numeroso auditório no dia 27 de maio último as nove composições musicais apresentadas, foi calorosamente aclamada pelo povo a classificada sob o nº 9, de que é autor o cidadão Benedito Raimundo da Silva;
E finalmente, atendendo que a comissão nomeada para dar seu parecer sobre as mesmas composições se pronunciou igualmente em favor da de nº 9;
Decreta:
Artigo único. Fica adotada como hino do Estado de Alagoas a composição musical do cidadão Benedito Raimundo da Silva, baseada na poesia do bacharel Luiz Mesquita.
Palácio do Governo do Estado de Alagoas, em Maceió, 6 de junho de 1894.
GABINO BESOURO
Ildefonso Cantidiano da Silva”
Os autores do Hino de Alagoas
Luiz Mesquita nasceu em Maceió, no dia 14 de abril de 1861. Foi casado com Amélia de Araújo.
Era filho do capitão Ildefonso de Paula Mesquita Cerqueira, chefe da Contadoria da 1ª Seção do Tesouro Provincial e taquigrafo, tendo prestado serviços à Assembleia Provincial. Morava na Rua do Comércio, nº 27 e aposentou-se em 1890. Sua mãe foi Adelina da Conceição Mello Mesquita.
Sabe-se que Luiz Mesquita teve três irmãs: Ana de Paula Mesquita, Maria de Paula Mesquita e Clara Mesquita, que se casou com o filho do dr. Ambrósio Machado. Deste casamento tiveram as filhas: Wanda e Antonieta de Araújo Mesquita, que faleceu em 22 de agosto de 1907, com apenas 10 anos de idade.
O autor da letra do hino de Alagoas concluiu o bacharelado em Ciências Jurídicas e Sociais no dia 16 de outubro de 1885 na Faculdade de Recife. Segundo o jornal Gutenberg de 17 de outubro de 1885, “fazendo em atos extraordinários o 4º e o 5º anos”.
Após concluir o curso de Direito em Recife, voltou a Alagoas e, em 1887, foi nomeado promotor público da comarca de Porto Calvo. Neste mesmo cargo também esteve em Alagoas (atual Marechal Deodoro) e Pilar.
Durante dois anos, entre 1889 e 1891, foi juiz municipal e de órgãos de Traipu, cargo exercido em São Miguel dos Campos e na antiga Alagoas. Por motivo de saúde, afastou-se das suas atividades no Judiciário.
Em 1907, morava em Maceió na Rua do Livramento, nº 45.
Foi deputado estadual, entre 1913 e 1917, e professor do antigo Liceu Alagoano, onde iniciou lecionando Retórica e depois assumiu a cadeira de Português, até a sua aposentadoria.
Como jornalista, colaborou a partir de 1883 com o Diário da Manhã. Escreveu também para a Gazeta de Notícias; Gazeta de Alagoas; O Momento, do qual foi redator-chefe; Gutemberg; A Tribuna e Jornal de Alagoas, quase sempre assinando com pseudônimos.
Luiz Mesquita faleceu em Maceió no dia 4 de setembro de 1918. Escrevia diariamente no Jornal de Alagoas a coluna “Prato do Dia”, onde exercia a crítica literária.
***
Benedito Raimundo da Silva nasceu Maceió no dia 31 de agosto de 1859. Ficou mais conhecido como Benedito Piston por dominar como poucos este instrumento musical.
De origem humilde, aprendeu música com seu pai, Francisco Antônio da Silva, e aos 11 anos de idade já dava mostras do grande instrumentista que viria ser.
Aos 18 anos, em 1877, já apresentava suas primeiras composições e se integrou à banda de música “Dos Artistas”, vinculada à Sociedade Recreio Filarmônico Artístico e que tinha como maestro Valério de Farias Pinheiro.
Com o afastamento deste maestro em 1884, Benedito Piston assumiu a regência pela primeira vez em sua carreira de maestro.
Entre 1887 e 1889, esteve à frente da banda da Sociedade Recreio Filarmônico Minerva, rival da “Dos Artistas”.
Em 1890 assumiu a banda de música da Escola Central. Cinco anos depois liderava a da Sociedade Beneficente Euterpe Alagoana. Esteve ainda na Escola de Aprendizes Marinheiros (1899) e no Batalhão Policial (1903-04 e 1909-11).
Foi responsável pela organização das bandas do Montepio dos Artistas Alagoanos, da Filarmônica Eufrosina, da 5.ª Companhia de Caçadores, da Euterpe Miguelense e do Tiro Alagoano.
Em outros estados, foi regente de orquestras e ensaiador do 40.º Batalhão de Manaus, do 4.º Batalhão de Recife, além de corpos musicais da Bahia e Rio de Janeiro.
Além do Hino do Estado de Alagoas, também foi autor da música do Hino do 1º Centenário da nossa emancipação política, em 1917, com letra de Jaime de Altavilla.
O seu Hino do 4º centenário do descobrimento do Brasil foi classificado em 2º lugar no Rio de Janeiro, em concurso realizado no fim do ano de 1899.
Benedito Raimundo da Silva deixou dezenas de composições em vários ritmos. Levantamento realizado por Moacir Sant’Ana, Billy Magno e Antônio Melo Barbosa identificou pelo menos, em números parciais, 291 títulos, mas podem passar dos 400. Poucos foram impressos ou publicados em revistas.
Em 1906, o jornal Evolucionista de 15 de março revelou que ele e o Dr. Miguel Omena pretendiam fundar uma sociedade para formar uma orquestra voltada para a música clássica.
Surpreendentemente, no ano seguinte as notícias publicadas sobre o maestro indicavam que havia desistido deste e de qualquer outro projeto.
Tinha 48 anos de idade e as várias notas veiculadas no Gutenberg expunham que atravessava momentos difíceis: “O professor Benedito Silva não desejando procurar recurso na arte musical, tem para vender seu esplêndido arquivo a qualquer banda marcial”.
Manteve suas atividades até 1917, quando se registrou a sua participação como compositor da música do Hino do Centenário.
Faleceu em Maceió no dia 14 de maio de 1921. Tinha 62 anos de idade e sofria de paludismo pernicioso, além de viver na pobreza e esquecido.
Foi homenageado pela Câmara Municipal de Maceió, que denominou de Ladeira Prof. Benedito Silva uma importante via no bairro de Bebedouro.
As críticas ao Hino
Provavelmente como resultado da efervescência cultural provocada pelo Modernismo do início dos anos 20, o Hino de Alagoas passou a receber duras críticas.
Quem primeiro abriu fogo contra ele foi o historiador Moreno Brandão em um artigo publicado no semanário O Índio, de Palmeira dos Índios, edição de 18 de dezembro de 1921.
Brandão advogava que havia necessidade de se fazer “uma correção do lapso que no mesmo se encontra em um dos seus versos”, sem “desvalidar o autor da poesia”, cujos “belos versos” são reconhecidos.
Solicitou então que o governo atendesse aos que desejavam ouvir o verso corrigido, “para que não perdure, em uma composição perfeita, inaturável solecismo”. Defende que ele fique “expurgado de um descuido de que se acham símiles nas maiores sumidades da literatura mundial”.
Essa proposta teve repercussão na Academia Alagoana de Letras, que em reunião realizada no dia 27 de setembro de 1922 discutiu os erros da letra do Hino de Alagoas. Aurino Maciel propôs que o governo a alterasse. A iniciativa não prosperou.
Em 1928, durante a conferência “A Música em Alagoas“, o hino sofreu novo ataque. Desta feita em sua música. A artilharia foi disparada pelo professor Luiz Lavenère, que encontrou alguns plágios na obra de Benedito Piston.
Avaliando que a memória do som é infiel e traiçoeira, Lavenère salientava que o artista pode, de forma involuntária e de boa fé, “invadir a seara alheia, convencido de que está fazendo obra sua”. “Foi o que aconteceu a Benedito Silva, compondo o Hino do Estado das Alagoas”, identificou.
E continuou: “Sem o querer, sem saber que plagiava, Benedito Silva compôs a sua obra com o material alheio: Hino Brasileiro, A Marselhesa, a Norma”. “Quero crer que Benedito Silva não tivesse deliberadamente incorrido nessa falta”.
Lavenère foi duro também com a comissão julgadora, “se houve”. Considerou que ela deveria ter sido “mais versada no assunto e evitado que uma Lei do Estado amparasse uma obra defeituosa e prejudicial aos créditos de seu autor”.
A reação mais contundente, entretanto, veio de Graciliano Ramos. Nomeado, em 18 de janeiro de 1933, diretor de Instrução Pública de Alagoas, o escritor resolveu suspender a execução dos hinos em todas as escolas públicas do Estado.
O ex-prefeito de Palmeira dos Índios se referia à letra do hino como uma estupidez cheia de solecismos e patriotadas de fazer cair o queixo. “Gente de espinhaço mole, pernas bambas, cachaço envergado, cantando hinos guerreiros!… Ora, isto é positivamente imoral. Patriotadas assim de amor febril cantam-se no Pernambuco Novo (rua das prostitutas em Palmeira dos Índios)”.
Essa atitude não repercutiu bem e isso pode ter influenciado na decisão do Governo de prendê-lo em 3 de março de 1936. Acusado de ser comunista, foi levado para Recife e depois para o Rio de Janeiro, onde permaneceu no presídio da Ilha Grande por nove meses, sendo libertado em 13 de janeiro de 1937.
Ainda em 28 de fevereiro de 1935, em sessão do Instituto Histórico e Geográfico, Moreno Brandão reproduziu as críticas de 1921 e apresentou proposta de envio de correspondência ao governador solicitando a modificação da letra.
Segundo pesquisa de Moacir Santana, Moreno Brandão queria corrigir o erro de concordância do verso “Ide, algemas que o pulso prendias”. Apresentava como solução a alteração dos dois primeiros versos da quarta estrofe, que deixaria de ser:
“Ides, algemas que o pulso prendias
Desta Pátria outros pulsos prender!”
Para ser cantada assim:
“Ide, algemas tenazes e frias,
Outros pulsos escravos prender”.
A comissão encarregada de tratar deste assunto, formada por Jaime de Altavila, Barbosa Júnior e Antônio Valente, apresentou parecer em 26 de julho de 1935, indicando que outros versos também deveriam ser modificados “diante de sua falta de métrica e de suas expressões desusadas”.
Cinco dias depois, o sócio Guedes Lins apresentou na sessão do IHGAL a proposta do adiamento do assunto, que somente voltou a ser discutido em 31 de agosto, quando uma nova comissão foi constituída para tratar da reforma do hino. Era composta por Paulino Rodrigues Santiago e Barreto Cardoso.
Em relatório de 29 de setembro, a comissão apresentou as modificações na letra do hino de Alagoas. Não sofreram alterações somente as estrofes 6, 9 e 12. Para a comissão do IHGAL o hino deveria ficar assim:
Alagoas, Estrela radiosa,
Que refulge ao sorrir das manhãs,
Da República és filha graciosa,
Engastada entre Estrelas irmãs.
A alma pulcra dos nossos avós,
Como bênção de amor e de paz,
Hoje paira, a fulgir, entre nós
E maiores, mais fortes nos faz.
Tu, liberdade formosa,
Altaneira hosana entoas.
Salve, ó terra vitoriosa,
Glória à terra de Alagoas!
Filhos seus, esta terra adoramos
Como estranhos jamais quererão,
Pois o solo da Pátria beijamos
Como outrora o romano varão,
Nesta gleba de sonhos ardentes
Só palpitam, como almas de sóis.
Corações, corações de valentes,
Almas grandes de grandes heróis.
Tu, Liberdade formosa,
Triunfal hosana entoas
Salve, ó terra gloriosa,
Berço de heróis, Alagoas!
Ide, algemas tenazes e frias,
Que impolutos soubemos romper.
Nestes céus, nas azuis serranias
Nós, só livres podemos viver…
E se a luta voltar, hão de os bravos
Ter a imagem da Pátria por fé!
Não procria Alagoas escravos:
Vence ou morre, mas sempre de pé!
Tu, Liberdade formosa
Ridentes hinos entoas,
Salve, ó terra grandiosa
De luz, de paz, Alagoas!
Salve, ó terra, este vivido exemplo,
De progresso e labor que ora dás,
Há de abrir-se as cortinas do templo
Da harmonia, do amor e da paz!
Eis! Cantos de glória ressoam
E aos teus pés os rosais vêm florir!
Há clarins e fanfarras que atroam,
Proclamando o teu grande porvir!
Tu, Liberdade formosa,
Ao trabalho hosana entoas,
Salve, ó terra futurosa,
— Glória à terra de Alagoas!
O dr. Ezechias da Rocha foi mais além: defendeu que se compusesse outro hino, inteiramente novo. Depois de muita discussão resolveu-se não apresentar o hino alterado e aguardar um melhor momento para solicitar do governo uma nova composição.
Em 22 de setembro de 1935 foi a vez de J. Barbosa Júnior publicar na Gazeta de Alagoas o artigo intitulado “O Hino do Estado“, analisando a letra do hino e pedindo que fossem realizadas as devidas correções.
Com a implantação da ditadura liderada por Getúlio Vargas em 10 de novembro de 1937, foram suspensas as eleições e o Estado Novo aprovou rapidamente uma nova constituição, confirmando a dissolução do Congresso e de todos os órgãos legislativos.
Foi com base nessa Carta de 1937 que o predomínio da União sobre os estados e municípios chegou a vedar a utilização de bandeiras, hinos ou escudos por estes últimos. Somente em 15 de novembro de 1946 foi que estes símbolos foram reintroduzidos.
A primeira grande divulgação do hino de Alagoas ocorreu em agosto de 1957, quando foi gravado em disco e distribuído em todos os municípios. A iniciativa foi do comandante da Força Policial, coronel Murillo Pinto Pereira Luz.
Brandão: “Não há plágio!”
O músico, compositor, cantor e arranjador alagoano José Gomes Brandão analisou comparativamente, a pedido do Portal História de Alagoas, os hinos de Alagoas e do Brasil para identificar o plágio apontado por Luiz Lavenère em 1928.
Seu estudo concluiu rapidamente que não havia o plágio poético: “está absolutamente descartado, uma vez que é muito fácil para qualquer interessado fazer o comparativo entre os respectivos poemas, onde jamais se encontrará alguma semelhança”.
Para verificar a existência de plágio musical, Brandão editou, na mesma tonalidade, as partituras “com as respectivas melodias e sequências harmônicas num único documento em que se pode analisar cada compasso na forma vertical”.
“Os pentagramas estão assim distribuídos: o primeiro contém a harmonia do Hino Nacional e o segundo, a melodia. No terceiro está a harmonia do Hino de Alagoas; no quarto, a sua melodia”. [Ver no final do texto].
Explicou que dessa forma qualquer um pode observar os compassos e compará-los entre os dois hinos. “Basta atentar para a quantidade das cabeças de notas e suas hastes com seus respectivos desenhos para chegar a uma conclusão óbvia. Se os desenhos forem diferentes, as músicas também são. Leve-se em consideração a possibilidade de um mesmo desenho, porém com as cabeças de notas sinalizadas ou assentadas em pontos diferentes do pentagrama, o que resulta numa melodia também diferente”.
Comentando apenas os compassos 1 e 2, onde se iniciam as introduções dos hinos, Brandão constata que “os desenhos das notas são exatamente iguais, com uma única diferença na segunda nota do Hino Nacional que recebe as letras TR em sua parte superior, para uma execução diferenciada”
Continua: “Ao se atingir o compasso 2, vê-se, claramente, que os desenhos, apesar de semelhanças em algumas notas, no pentagrama do Hino Nacional contamos 10 cabeças de notas, enquanto no de Alagoas apenas 6. E assim, pode-se fazer a comparação em toda extensão da melodia”.
“Observe-se, ainda, as sequências harmônicas de ambos os hinos. Da mesma forma que as cabeças de notas podem ser comparadas, as letras correspondentes às cifras também. Neste caso específico, seria preciso a audição de cada caso, numa frase musical completa, por exemplo, para se ter a ideia do resultado harmônico. Desnecessário dizer para os estudiosos, entretanto, para aqueles que desconhecem a leitura musical e análise harmônica é preciso esclarecer que só temos sete notas musicais na escala diatônica: Dó (C) – Ré (D) – Mi (E) – Fá (F) – Sol (G) – Lá (A) – Si (B). As letras entre parêntesis representam as cifras”.
Brandão conclui que não se tem como evitar “que tais cifras ou acordes não serão repetidos, ainda que na mesma sequência, se temos somente sete notas (cifras)? Com a língua falada e escrita o mesmo acontece. Todos pronunciamos as mesmas palavras e usamos o mesmo alfabeto para escrevê-las. Aqui, não quero mostrar qualquer comparação com a figura do plágio, mas é preciso chamar a atenção que umas ou outras coincidências fazem parte do contexto musical sem ferir a honestidade intelectual do compositor”.
O centenário hino de Alagoas
Composto no final do século XIX, naturalmente o hino refletiu o contexto político, social e cultural da época.
Muitos dos seus termos já caíram em desuso e por isso, de vez em quando o hino volta a sofrer críticas. Principalmente é cobrada a sua atualização. Essa possibilidade suscita um amplo debate sobre a pertinência ou não das atualizações de hinos.
Como esse embate já se deu várias vezes sem resultados concretos, podemos, pelo menos, informar o significado de alguma das palavras utilizadas nos versos de Luiz Mesquita.
Radiosa: feminino de Radioso. Dicio, o Dicionário Online de Português, cita radioso como algo brilhante ou cintilante. O Priberam (Portugal) também entende o adjetivo como brilhante e resplandecente.
Refulge: no Aurélio, o verbo refulgir significa brilhar intensamente, resplandecer, refulgurar. Em Dicio, refulge vem do verbo refulgir. O mesmo que: relumbra, rebrilha, reluze, reluz.
Donosa: no Aurélio, donoso é donairoso, gracioso, galante, bonito, formoso, belo. Em Dicio, donosa é o feminino de donoso. Que tem donaire; elegante, gracioso, gentil.
Pulcra: para o Aurélio, pulcro significa gentil, bela, formosa. Em Dicio, o mesmo que formosa, bela, delicada, mimosa.
Hosana: no Aurélio é hino eclesiástico. Saudação, aclamação, louvor. Em Dicio, qualquer canto ou saudação de louvor, de aclamação ou de alegria.
Varão: para o Aurélio é um indivíduo do sexo masculino. Homem adulto, corajoso, esforçado, respeitável. Em Dicio, aquele que é corajoso, esforçado; quem age sem medo; viril.
Ridentes: que ri; sorridente. Satisfeito, alegre, contente. Vicejante, verdejante. Assim define o dicionário do Aurélio Buarque de Holanda. Em Dicio: que se mostra vivo, que tem aspecto fértil ou vivaz; vigoroso ou viçoso: montes ridentes.
Ovante: para o Aurélio é triunfante, jubiloso, vitorioso. Em Dicio, triunfante; diz-se de quem recebeu ovação, aclamação pública.
Sus: não tem nada a ver com o Sistema Único de Saúde. É uma exclamação para dar ânimo, coragem, segundo o Aurélio. Para o Dicio, usa-se para incitar ou animar, significando Eia!, Coragem!, Ânimo!, Acima: Sus, amigos, chegou o momento!
Letra do Hino de Alagoas
Letra completa da poesia a que se refere o Decreto nº 57, de 6 de junho de 1894, assinado por Gabino Besouro:
Alagoas, estrela radiosa,
Que refulge ao sorrir das manhãs,
Da República és filha donosa,
Maga Estrela entre estrelas irmãs.
A alma pulcra de nossos avós,
Como bênção de amor e de paz,
Hoje paira, a fulgir, sobre nós,
E maiores, mais fortes nos faz.
Tu, liberdade formosa,
Gloriosa hosana entoas:
— Salve, ó terra vitoriosa,
— Glória à terra de Alagoas!
Essa terra quem há que idolatre-a
Mais que os filhos que filhos lhe são?
Nós beijamos o solo da Pátria,
Como outrora o romano varão!
Nessa terra de sonho ardente
Só palpitam, como almas de sóis,
Corações, corações de valentes,
Almas grandes de grandes heróis!
Tu, liberdade formosa,
Triunfal hosana entoas:
— Salve, ó terra gloriosa,
— Berço de heróis! Alagoas!
Ide, algemas que o pulso prendias
Desta Pátria, outros pulsos prender!
Nestes céus, nas azuis serranias,
Nós, só livres, podemos viver…
E se a luta voltar, hão-de os bravos
Ter a imagem da Pátria por fé!
Que Alagoas não procria escravos:
Vence ou morre!… Mas sempre de pé!
Tu, liberdade formosa,
Ridentes hinos entoas:
— Salve, ó terra grandiosa,
— De luz, de paz, Alagoas!
Salve, ó terra que entrando no templo,
Calma e ovante, da indústria te vás;
Dando às tuas irmãs este exemplo,
De trabalho e progresso na paz!
Sus! os hinos de glórias já troam!…
A teus pés os rosais vêm florir!…
Os clarins e as fanfarras ressoam,
Te levando em triunfo ao porvir!
Tu, liberdade formosa,
Ao trabalho hosana entoas!
— Salve, ó terra futurosa,
— Glória à terra de Alagoas!
Gravação do Hino de Alagoas completo, com a letra de 1894
No mesmo período em que a Lei Estadual 2.628, de 23 de setembro de 1963 modificou o Brasão de Armas e criou a Bandeira do Estado de Alagoas, por iniciativa de Théo Brandão, também resolveu-se reduzir a letra do hino para facilitar a sua execução pública. Ficou assim:
Alagoas, estrela radiosa,
Que refulge ao sorrir das manhãs,
Da República és filha donosa,
Maga Estrela entre estrelas irmãs.
A alma pulcra de nossos avós,
Como bênção de amor e de paz,
Hoje paira, a fulgir, sobre nós,
E maiores, mais fortes nos faz.
Tu, liberdade formosa,
Gloriosa hosana entoas:
— Salve, ó terra vitoriosa,
— Glória à terra de Alagoas!
Salve, ó terra que entrando no templo,
Calma e ovante, da Indústria te vás;
Dando às tuas irmãs este exemplo,
De trabalho e progresso na paz!
Sus! os hinos de glórias já troam!…
A teus pés os rosais vêm florir!…
Os clarins e as fanfarras ressoam,
Te levando em triunfo ao porvir!
Tu, liberdade formosa,
Ao trabalho hosana entoas!
— Salve, ó terra futurosa,
— Glória à terra de Alagoas!
Hino de Alagoas reduzido após 1963. Versão popularizada por Eliezer Setton
Um belo hino
Diferente dos críticos dos meados do século XX, o historiador Golbery Lessa vê qualidades no hino de Alagoas: “Sem ter a grandiosidade da bélica canção francesa [Marselhesa], o hino alagoano tem uma das mais belas melodias entre às dos hinos estaduais, não chafurda no militarismo ou no bairrismo e é surpreendentemente lírico (“Aos teus pés os rosais vêm florir”).
Identifica também a presença do sentimento modernista no hino: “O trabalho e a indústria são exaltados como valores supremos, apesar dos preciosismos parnasianos e das imagens poéticas românticas. Surpreendentemente, talvez o próprio Quilombo do Palmares chegue a ser referido nesse trecho: “Nestes céus, nas azuis serranias, nós só livre podemos viver”.
O historiador e professor Douglas Apratto localiza o surgimento do hino num momento turbulento em que o ideário republicano estava sendo implantado. O vice-reitor do Centro Universitário Cesmac lembra que o governador Gabino Besouro, um penedense, foi um dos líderes republicanos no Brasil e que a sua decisão de instituir o hino e o brasão de Alagoas suscitou muito interesse.
Apratto avalia o hino de Alagoas, “como os demais hinos, é pomposo, barroco, mas é um hino muito bonito”.
O cantor e compositor Eliezer Setton também acha que o hino de Alagoas, acima de tudo, é uma bela canção, “afinal, é o que se espera de um hino, antes mesmo de ele cumprir a missão cívica”.
“Muito me orgulha poder afirmar que o Hino de Alagoas é um dos divisores de águas em minha trajetória artística”, reconhece o renomado músico alagoano, que muito contribuiu para a popularização do hino alagoano.
“Mesmo fazendo uso de palavras rebuscadas, próprias da poesia da época (final do século XIX), o casamento estético da letra com a melodia resiste ao tempo para nos transmitir a ideia de pertencimento que se traduz no melhor dos civismos” constata para afirmar que o Hino de Alagoas “findou por consolidar a minha alagoanidade diante dos demais conterrâneos”.
E conclui: “Uma pessoa me disse uma vez, assim do nada, que eu era o cara mais alagoano que ela conhecia. Agora há pouco, em uma Live durante a pandemia, o multiartista alagoano Marlon Rossy me apresentou como o Sr. Alagoas. Me senti, federativamente, o próprio Rolando Boldrin, que é o Sr. Brasil”.
Hino à paisana
A primeira vez que o hino de Alagoas foi executado em público com o acompanhamento de um violão foi durante o lançamento do disco Ventos do Nordeste, o terceiro da vitoriosa carreira musical de Eliezer Setton. A apresentação aconteceu no Teatro Deodoro em 17 de maio de 2000.
Eliezer explica que a música Não há quem não morra de amores pelo meu lugar, que estava no CD, já vinha sendo apresentada antes em alguns shows, recebendo elogios e tratada por algumas pessoas como um novo hino de Alagoas.
Hino de Alagoas em ritmo de frevo, versão de Eliezer Setton
Assim surgiu a ideia de utilizar o hino associado à música em um show de forró. “Tive dificuldades em conseguir as notas para tocar em um violão e pedi a ajuda ao maestro Antônio Carmo, que foi quem harmonizou e me deu a cifra. Passei para o violão e fiquei muito contente com o resultado, era como se eu estivesse descobrindo uma musicalidade não percebida até então no hino que tantas vezes ouvi em minha vida escolar”, lembra Eliezer.
Durante o show, quando a banda executava um número instrumental, Eliezer simulou que havia um chamado telefônico urgente para ele e saiu do palco. Os músicos encerraram a apresentação e também deixaram a cena. Com as luzes apagadas, Eliezer, que estava de preto, voltou ao palco de roupa branca, somente com o violão, e apresentou pela primeira vez em Alagoas o hino em “vestimentas” populares.
Funcionou como preparação para a execução da música Não há quem não morra de amores pelo meu lugar, que veio em seguida, acompanhada no palco por um boi de carnaval. “Foi um momento mágico”, recorda o artista, que surpreendeu o público no encerramento do show atendendo aos pedidos de bis, não com um dos forrós do repertório do show, mas com o hino, que foi novamente executado, mas desta feita com o acompanhamento improvisado da banda que estava toda de volta ao palco.
“Aquilo nos revelou que a música Hino das Alagoas tinha tocado as pessoas de uma forma que nenhum de nós esperava. Não era um momento solene e nem um evento oficial: era um show de lançamento de um CD de forró. Foi isso que me fez ver que essas obras precisavam ser revisitadas com outros olhares”, frisa o filho do também grande artista Setton Neto.
A partir de então Elizer Setton passou a ser convidado para inúmeras solenidades, onde cantava suas versões do hino de Alagoas e do Brasil. Nessa fase, explicava em entrevistas que os hinos haviam sido “aquartelados”, ficando suas execuções restritas às solenidades oficiais. Quando eram executados em público, por bandas militares, sempre se associava às fardas dos músicos destas corporações.
Em 2004 Eliezer Setton ousou novamente e gravou uma versão do hino em frevo no CD O carnaval alagoano de Eliezer Setton.
Como pretendia valorizar estas composições como músicas, produziu em 2009 o CD Brasil – Hinos à Paisana, apresentando dez dos mais representativos hinos do cancioneiro cívico brasileiro, devidamente vestidos com nova roupagem, com o acompanhamento de música popular.
Novas versões do Hino de Alagoas
Em 2004, o então secretário estadual de Cultura, Edberto Ticianeli, acertou com Júnior Almeida, também comissionado da Secult, a realização de uma Oficina de Produção Musical a acontecer no Estúdio G sob a direção de Fernando Nunes, um consagrado músico e produtor musical nascido em Maceió e então morando em São Paulo.
Hino de Alagoas em versão de Jurandir Bozo, produzida sob a direção de Fernando Nunes
Nessa mesma conversa se estabeleceu que o resultado da Oficina deveria ser a gravação de duas versões do Hino de Alagoas.
Fernando Nunes lembra do dia em que recebeu um telefonema do seu grande amigo e parceiro de música, Júnior Almeida, convidando-o para uma missão musical especial.
“A ideia seria eu fazer um Workshop de produção musical. Eu já vinha produzindo vários artistas ao longo da minha carreira na música pela Bahia e Rio de Janeiro, inclusive artistas da cena alagoana como o próprio Júnior Almeida, banda OXE, banda $ifrão, entre outros…”, recorda o baixista e produtor.
Continua: “O desafio seria com o nosso hino de Alagoas. Escolhemos dois artistas da cena atual e eu expliquei como fazer um arranjo, dirigir e gravar em tempo real na frente de uma plateia interessada em saber como seria possível essa experiência”.
Hino de Alagoas em versão de Vitor Pirralho, produzida sob a direção de Fernando Nunes
Fernando Nunes recorda que foi um momento muito especial, pois era o hino que cantava nos seus tempos de estudante do Colégio Sagrada Família.
“Escolhemos Jurandir Bozo, da Poeira Nordestina, e o raper Vítor Pirralho e Unidade. Com as ideias e contribuições desses ótimos artistas fizemos do Estúdio G um laboratório musical e construímos duas inusitadas versões do nosso hino, cada uma com a assinatura e estilo dos artistas convidados”, conta o produtor, que também revelou que foi “uma aventura musical inesquecível desse alagoano aqui apaixonado por nossa cultura”.
Primeiros hinos das Províncias brasileiras
Foram raras as Províncias brasileiras que tiveram hinos antes de se tornarem Estados. Os poucos existentes deste período somente foram oficializados após a Proclamação da República, com a institucionalização das novas unidades federativas.
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O hino da Bahia, por exemplo, existe desde 1823. Ali, em 2 de julho, ocorreu o último embate contra as forças portuguesas e a Bahia conquistou sua libertação e consolidou a independência do país, proclamada em 7 de setembro do ano anterior.
Conhecido como Hino de 2 de julho, seus autores foram Ladislau dos Santos Titara (letra) e José dos Santos Barreto (música). Somente foi oficializado como tal em 20 de abril de 2010, quando o governador em exercício, Jaques Wagner, sancionou a Lei Estadual n° 11.901, publicado no Diário Oficial do Estado de 21 de abril do mesmo ano.
O hino reconhecido como oficial era o do Senhor do Bonfim, de autoria de Péthion de Villar e musicado pelo maestro e compositor Remígio Domenech, em 1923, a pedido de um membro da Irmandade do Senhor do Bonfim.
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O hino de Sergipe também tem origem remota. Foi oficializado pela Assembleia Provincial em 5 de julho de 1836. A letra é do poeta e professor Manoel Joaquim de Oliveira Campos e a música do Frei José de Santa Cecília, ambos sergipanos.
A melodia do hino foi inspirada em trecho da peça L’Italiana in Algeri de Gioachino Rossini e tinha como título “Alegrai-vos Sergipanos”. Seus versos se remetem a emancipação política da então Capitania de Sergipe del-Rei da Capitania da Bahia de Todos os Santos, em 8 de julho de 1820.
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O último dos hinos a ter origem antes da República foi o do Rio Grande do Sul, que nasceu para homenagear as forças farroupilhas vitoriosas no combate de Rio Pardo, em 30 de abril de 1838.
O inusitado na origem desse hino é que foi composto pelo maestro da banda de música do 2º Batalhão do Exército Imperial, que havia sido derrotado e aprisionado.
Joaquim José de Mendanha era mineiro e um músico muito famoso e reconhecido como grande compositor. Mesmo derrotado e preso, aceitou compor uma peça musical que enaltecia seus adversários.
Mais tardes, outros maestros identificaram que Mendanha usou dos seus conhecimentos para “compor um plágio” de uma valsa de Strauss. A letra veio do músico e poeta capitão Serafim José de Alencastre, das tropas farrapas.
Um ano depois, o hino recebeu uma nova letra, de autor desconhecido e passou a ser tratado como Hino da Nação e executado como Hino Nacional da República Juliana.
Em novembro de 1839, com a derrota dos Farrapos, surgiu a terceira letra para o hino. O autor foi Francisco Pinto da Fontoura, vulgo “o Chiquinho da Vovó”.
Esta versão, que mais agradou ao povo gaúcho, foi a escolhida como hino do Rio Grande do Sul por uma comissão de intelectuais que, em 1934, organizava a “Semana do Centenário da Revolução Farroupilha”.
Com a escolha da letra, o Instituto Histórico do Rio Grande do Sul, contando com a colaboração da Sociedade Rio-Grandense de Educação, recebeu a harmonização de Antônio Corte Real.
Em 1966, após perder a segunda estrofe, foi oficializado como Hino Farroupilha ou Hino Rio-Grandense pela Lei nº 5.213 de 5 de janeiro.
Hinos após República
Quem primeiro apresentou seu hino nesse período foi o Rio de Janeiro, já nos primeiros dias após o 15 de novembro de 1889. Foi composto pelo maestro João Elias da Cunha com letra do poeta fluminense Antônio José Soares de Souza Júnior. Ficou conhecido como Hino 15 de Novembro.
Foi oferecido ao primeiro governador do Estado do Rio de Janeiro, Francisco Portela e oficializado em 29 de dezembro de 1889. Muitos anos depois foi adaptado para o canto coral pelo maestro César Guerra-Peixe.
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O hino do estado de Santa Catarina surgiu em 1892 e foi sancionado pela Lei Estadual nº 144, de 6 de setembro de 1895, durante o governo de Hercílio Luz. A letra é de Horácio Nunes Pires e a música de José Brazilício de Souza.
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O hino do Espírito Santo foi criado em 1894, com letra de José Joaquim Pessanha Póvoa e música de Arthur Napoleão.
A letra tomou como base um poema de Pessanha Póvoa escrito em 1880 para a mocidade daquela província e que foi apresentado na reabertura da biblioteca. Um maestro local compôs a melodia para aquela ocasião e que não prevaleceu quando se tornou o hino do Estado.
Em 1891, o então governador Antônio Aguirre assinou decreto estabelecendo que o hino oficial seria escrito por Ubaldo Rodrigues de Andrada Pereira e musicado por José Pereira de Azevedo. Não deu certo.
Somente em 1894, por iniciativa do dr. Urbano da Cunha Faria, foi que o maestro e pianista fluminense Artur Napoleão elaborou uma nova melodia para o poema de Pessanha.
O hino foi oferecido ao governador Muniz Freire e oficializado em julho no mesmo ano.
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Minas Gerais tem um hino ainda não oficial também desse período, mas sem nenhuma relação com as ideias republicanas.
Durante muitos anos “Oh! Minas Gerais“, com letra de José Duduca de Moraes e Manoel Araújo foi considerada como o hino oficial do Estado.
A melodia foi tomada emprestada de uma canção tradicional napolitana “Vieni Sul Mar!“, que chegou ao Brasil no repertório das companhias líricas que se apresentavam no país no fim do século XIX e início do século XX.
A primeira versão foi escrita e gravada em 1912 por Eduardo das Neves. Já ostentava o título “Ó Minas Gerais” e fazia homenagem ao couraçado brasileiro batizado com o nome do estado.
Em 1985, a Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais instituiu um concurso público para escolher do hino oficial do Estado. A comissão julgadora não gostou de nenhuma das 72 composições inscritas.
Novo concurso foi realizado em 1992, tendo a assembleia Legislativa estipulado como tema a Inconfidência Mineira. Foram inscritas 570 composições, todas desclassificadas por não alcançarem os padrões estabelecidos de métrica, tema e qualidade.
Depois destas tentativas, “Oh! Minas Gerais” voltou a ser considerada como a melhor opção desde 2015, quando uma proposta de emenda à Constituição Estadual pretende torná-la o hino oficial daquele Estado. Ainda não foi votada.
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O hino do Estado do Pará surgiu por iniciativa do fundador do Colégio Progresso Paraense, o professor pernambucano Arthur Teódulo Santos Porto, por ocasião das comemorações o tricentenário da fundação de Belém.
A composição de Teódulo recebeu a música do maestro paulista Nicolino Milano e foi adaptada e arranjada para canto coral pelo maestro Gama Malcher.
Foi cantado pelos alunos do Colégio Progresso Paraense em 1895 e publicado nos “Annaes” daquela instituição de ensino no mesmo ano.
O hino somente passou a ser oficialmente reconhecido como Hino do Pará após a publicação da Emenda Constitucional nº 1, de 29 de outubro de 1969.
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O hino do Estado do Ceará surgiu em 29 de julho de 1903 como parte das comemorações dos 300 anos da fundação daquele estado, que recebeu os primeiros portugueses em 31 de julho de 1603.
A ideia de se compor o hino do Estado para os festejos partiu de alguns intelectuais coordenados pelo Barão de Studart.
A Comissão incumbiu Alberto Nepomuceno de Oliveira da tarefa. Este cearense de Fortaleza é considerado como o “pai” do nacionalismo na música erudita brasileira.
O hino recebeu também a contribuição de Thomaz Pompeu Lopes Ferreira, responsável pela letra, e do maestro Zacarias Gondim, que fez a orquestração.
Foi executado pela primeira vez no dia 31 de julho de 1903. Entretanto, somente em 5 de dezembro de 2003 foi que o governador do Ceará, Lúcio Gonçalo de Alcântara, publicou o Decreto Estadual nº 27.275 tornando-o o hino oficial.
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O hino do Paraná, a bandeira e o brasão foram adotados em 1947.
Criado no ano de 1903, o hino tem como autor da letra o paranaense Domingos Nascimento. Bento Mossurunga foi o responsável pela música.
Foi oficializado pelo Decreto-lei Estadual nº 2.457, de 31 de março de 1947.
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O hino do Acre foi composto pelo médico e poeta Francisco Mangabeira, que prestava serviços médicos no acampamento do Exército na localidade de Capatará, em 5 de outubro de 1903. A música foi criada pelo compositor cearense Mozart Donizeti.
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O hino do Estado da Paraíba foi escrito por Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo e musicado por Abdon Felinto Milanês.
Sua primeira apresentação foi no dia 30 de junho de 1905. Somente oficializado em 1979.
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Em 27 de fevereiro de 1908, realizou-se no Teatro Princesa Isabel, em Recife, “grandioso concerto vocal-instrumental de D. Francisco de Souza Coutinho e Nicolino Milano”.
“Pela primeira vez nesta capital executar-se-á o Hymno a Pernambuco, composição de Nicolino Milano”, anunciava o Jornal do Recife de 21 de janeiro daquele ano.
Entusiasmado com o hino, alguns jornalistas passaram a cobrar do governo que promovesse concurso para a escolha de uma letra para a obra do maestro Milano, um paulista, filho de italianos.
O Jornal do Recife voltou a informar um mês depois, em 27 de março, que “os senhores Oscar Brandão e Carlos Dias Fernandes escreveram [letras] para o hino a Pernambuco, composição de Nicolino Milano”.
Após passar pelo crivo de uma “comissão de competentes” (com parecer de J. B. Regueira Costa e Bianor de Medeiros), a letra de Oscar Brandão saiu-se vencedora, “apesar de serem encontrados alguns senões”.
O principal “senão” encontrado pelo governo de Sigismundo Gonçalves foi o fato do vencedor, Oscar Brandão, ser umbilicalmente ligado a Dantas Barreto, que liderava a oposição às oligarquias “rosista”, que se organizava em torno do senador Rosa e Silva.
Foi por isso que Oscar Brandão venceu, mas não levou o prêmio de 5.000$000 (cinco contos de réis). Mais que isso: com a desculpa que ainda haveria a análise das duas letras por outros poetas, seu hino foi esquecido e o de Carlos Dias Fernandes passou a ser executado.
Mas também houve uma campanha contra o outro hino, principalmente movida pelo Diário de Pernambuco, que no dia 27 de março de 1908 advertia que não deveria merecer atenção a letra escrita por Carlos Dias Fernandes, considerando que “sobre quem pesa a acusação de um crime infamante. Seria do mais desagradável efeito que o hino de Pernambuco fosse escrito por um literato que, por muito talento que tenha a lhe aureolar o nome, sofre neste momento os efeitos da pronúncia por crime de falsificação de estampilhas”.
Carlos Dias foi preso no dia 23 de fevereiro de 1908 no quartel do 1º Batalhão de Polícia em Recife e julgado em 30 de maio de 1908. No dia 6 de junho o juiz dr. Sérgio Loreto anunciou sua absolvição.
Em 16 de janeiro de 1909, a sentença foi reformada pelo Supremo Tribunal Federal e ele voltou a ser preso em 30 de julho para cumprir um ano e oito meses de cadeia.
Ainda em 1909, após campanha movida pelos colegas estudantes de Direito, foi perdoado pelo presidente da República e libertado no dia 16 de outubro.
Com a eleição do general Dantas Barreto para o governo de Pernambuco em 1911, Oscar Brandão passou a assumir várias delegacias de Polícia, criando sérios atritos com os grupos políticos adversários.
Deixou Pernambuco no final da década de 1910 por questões políticas. Quando voltou, em 1922, Oscar revelou em reunião do Instituto Histórico e Geográfico de Pernambuco que o hino que estava sendo executado, de Carlos Dias Fernandes, não fora o vencedor do concurso de 1908.
Informou ainda que a Prefeitura de Recife já havia passado a executar a letra do seu hino e o Estado de Pernambuco logo também realizaria esta mudança.
Em 30 de outubro de 1952, quando Oscar Brandão da Rocha já tinha 70 anos de idade e vivia doente e na pobreza, o prefeito de Recife, Jorge Bezerra Martins, assinou a Lei nº 1.872, de 9 de setembro daquele ano, estabelecendo o pagamento de Cr$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros) ao autor da letra do hino pernambucano.
Entretanto, o não pagamento pelo governo do Estado do prêmio de 1908 não foi esquecido. Em 1978, Carlos Drumond de Andrade publicou uma série de artigos no Jornal do Brasil cobrando o cumprimento do acordo.
Em Recife, Mauro Mota e outras lideranças culturais também passaram a cobrar o pagamento. O Governo aceitou pagar aos seus herdeiros, mas não concordou com os cálculos apresentados, que atualizavam a dívida para Cr$ 6 milhões.
A proposta do então secretário de Educação e Cultura José Jorge de Vasconcelos Lima foi a de pagar Cr$ 200 mil, valor do maior prêmio cultural concedido pelo governo de Pernambuco na época.
Não se sabe se esse pagamento foi efetivado.
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O hino do Maranhão tem a música do maestro Antônio Carlos dos Reis Rayol e a letra foi criada pelo professor Antônio Batista Barbosa de Godóis, com variações para orquestração e canto do maestro Antônio de Assis Republicano.
O hino foi oficializado pela Lei nº 167.562 de 30 de março de 1911, sancionada pelo governador Luís Antônio Domingues da Silva.
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O hino do Rio Grande do Norte foi composto em 1918 pelo escritor e senador José Augusto Meira Dantas, que tinha este mandato pelo Estado do Pará.
A música é de autoria do maestro José Domingos Brandão, também natural da cidade de Ceará-Mirim.
Foi declarado oficial pela Lei nº 2.161, de 3 de dezembro de 1957, durante o governo de Dinarte Mariz, em solenidade realizada em frente ao Palácio Potengi, com uma apresentação da Banda de Música da Polícia Militar.
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Foi o governador Júlio José de Campos quem tomou a iniciativa para oficializar, pelo Decreto nº 208, de 5 de setembro de 1983, como hino do Mato Grosso a “Canção Mato-grossense”.
A letra é de autoria de Dom Francisco de Aquino Corrêa e a música foi composta pelo maestro e tenente da Polícia Militar Emílio Heine.
A “Canção Mato-grossense” foi cantada em público pela primeira vez durante a cerimônia principal das comemorações do bicentenário de fundação de Cuiabá, em 8 de abril de 1919.
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A Lei nº 650, de 30 de julho de 1919, oficializou o hino, as armas e o pavilhão do Estado de Goiás.
A bandeira e o brasão permanecem os mesmos, mas o hino original de 1919, com letra do professor Antônio Eusébio de Abreu e música do pianista Custódio Fernandes Góis, não mais existe.
Foi alterado pela Lei nº 13.907, de 21 de setembro de 2001, que modificou os versos e a música do hino oficial daquele Estado.
O atual tem a letra do professor José Mendonça Teles e a música do maestro Joaquim Jayme.
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O Piauí, a exemplo de outros estados, também criou o seu hino pressionado pelos eventos de data comemorativa de centenário.
Em 1923, o Piauí festejava cem anos da sua adesão à Independência do Brasil, quando se realizou a Batalha do Jenipapo (13 de março de 1823).
A letra, um poema de Antônio Francisco da Costa e Silva, foi musicada pela maestrina Firmina Sobreira Cardoso e pelos musicólogos Cirilo Chaves Soares Carneviva e Leopoldo Damasceno Ferreira.
Sua oficialização como hino do Piauí se deu pela Lei nº 1.078, de 18 de julho de 1923.
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O hino de Rondônia, também conhecido como “Céus de Rondônia”, era o poema “Céus do Guaporé”, de autoria de Joaquim de Araújo Lima, escrito em 1951 na Estação Guajará-Mirim enquanto aguardava o trem para Porto Velho.
Joaquim de Araújo Lima foi o quarto governador e o primeiro civil do Território Federal do Guaporé. Esse engenheiro baiano assumiu em 9 de junho de 1948 e concluiu o mandato em 22 de fevereiro de 1951.
Foi ainda superintendente de Abastecimento do Vale Amazônico e diretor geral da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, em substituição ao então coronel Aluízio Ferreira.
Em 1962 o poema foi musicado pelo juiz de Direito da Comarca de Porto Velho, o maranhense José Vicente de Mello e Silva. Contou com os arranjos do maestro Francisco de Morais, mestre da Banda de Música da Guarda Territorial, e com a colaboração do músico Antônio Pereira Dantas.
O título foi modificado para “Céus de Rondônia” pelo paraense, técnico do governo e governador interino Enos Lins, que também fez algumas intervenções na letra e na rima, segundo pesquisa do historiador Francisco Matias.
Foi este hino que passou a ser executado em cerimônias oficiais no então território federal do Guaporé.
Em 1965 foi adotado também como hino de Porto Velho.
Quando houve a implantação do Estado de Rondônia, em 1981, a canção, já com o nome “Céus de Rondônia”, foi oficializada pela constituição estadual.
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A melodia do hino de Brasília (DF) foi tocada pela primeira vez em público na inauguração do Caseb, o primeiro colégio da cidade, em maio de 1960, com a presença ilustre do então presidente Juscelino Kubitschek.
No ano seguinte, em 19 de julho de 1961, foi oficializada como hino de Brasília pelo Decreto nº 51.000, assinado por João Goulart após passar pelo crivo de uma comissão especial do então Ministério da Educação e da Cultura.
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Até 1967 São Paulo não tinha hino. Atendendo a uma proposta do deputado Ruy Oswaldo Codó, foi o então governador Abreu Sodré quem aprovou a Lei nº 9.854, de 2 de outubro daquele ano, estabelecendo que seria aberto concurso público para o “Hino dos Bandeirantes”, “cuja letra e tema invocarão os feitos históricos dos paulistas, ressaltando o dinamismo do seu povo, o seu amor ao trabalho, a pujança do seu progresso e a sua decidida vocação para a liberdade”.
O prêmio foi estipulado em 10 mil cruzeiros novos para a melhor letra. A música seria escolhida em outra etapa.
Em junho de 1968, a comissão encarregada de julgar o concurso deu parecer pela não aceitação das propostas dos 234 concorrentes por não satisfazerem “as condições mínimas que se deve, razoavelmente, exigir da letra de um hino oficial de S. Paulo”. Propôs a realização de um novo concurso.
Não houve novo concurso para a letra do hino e, em 1974, o governador Laudo Natel resolveu que a letra oficial do hino seria o poema Hino dos Bandeirantes de Guilherme de Almeida, que foi combatente no Movimento Constitucionalista de 1932 e conhecido como o “Poeta da Revolução”.
Essa decisão foi levada à Assembleia Legislativa e transformada na Lei nº 337, de 10 de julho de 1974.
Faltava então a música. Para resolver isso a Lei Estadual nº 793, de 3 de dezembro de 1975, institui outro concurso público para a elaboração da música do “Hino dos Bandeirantes”, que foi realizado sob a responsabilidade da então Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia.
Novamente a comissão julgadora resolveu não escolher nenhuma das concorrentes. Isso permitiu que três participantes passassem a divulgar seus trabalhos. Assim, circulam três versões não oficiais do hino: de Spartaco Rossi, Sérgio de Vasconcellos-Corrêa e Mozart Kail.
O maestro Spartaco Rossi, que faleceu em dezembro de 1983, foi o compositor da Canção do Expedicionário, também com letra de Guilherme de Almeida.
Sérgio de Vasconcellos-Corrêa é maestro e jornalista e autor de várias composições reconhecidas e premiadas. Foi ainda pioneiro do ensino de música pela TV entre 1961 e 1962.
O professor e músico profissional Mozart Kail é um dos autores do hino do Centenário de Botucatu e vencedor de um concurso musical na cidade de São Vicente, litoral de SP. Tocando trombone de vara foi solista das grandes orquestras brasileiras.
Alguns críticos identificam que a dificuldade na composição da música para o hino de São Paulo se deve à letra complexa, sem refrões, rimas e estribilho do poema.
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O hino do Mato Grosso do Sul foi escolhido por concurso e instituído pelo Decreto nº 3 de 1º de janeiro de 1979.
Tem a letra de Jorge Antônio Siufi e Otávio Gonçalves Gomes. A música é do maestro Radamés Gnattali.
O hino ressalta as belezas naturais do Estado e cita diversos personagens da sua história.
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O hino do Amazonas surgiu por força da Lei nº 1.404, de 1º de setembro de 1980.
Até aquela data existiam vários hinos informais executados como oficiais.
Houve concurso púbico e saíram vencedores o maestro amazonense Cláudio Santoro, autor da música, e o poeta Jorge Tufic Alaúzo, autor da letra.
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A “Canção do Amapá” foi adotada como hino oficial do Estado do Amapá pelo Decreto nº 8, de 23 de abril de 1984.
A letra tem origem no poema homônimo de Joaquim Gomes Diniz. A música e arranjos são de autoria do maestro Oscar Santos.
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O hino do Estado de Roraima é de autoria de Dorval Magalhães, poeta e escritor roraimense. A música é do maestro Dirson Félix Costa.
O hino foi escolhido por concurso promovido pelo Governo de Roraima em 1996.
Em 26 de agosto de 2015, a governadora Suely Campos sancionou a Lei nº 1.007 instituindo como Hino Cultural de Roraima a música “Roraimeira” de autoria de José Maria de Souza Garcia, mais conhecido como Zeca Preto.
A Lei indica sempre a sua execução na abertura anual dos trabalhos legislativos; na abertura de todos os eventos folclóricos e culturais do Estado de Roraima; e nos demais casos expressamente determinados pelos regulamentos de cerimônias de cortesias nacionais e interestaduais.
Na prática, funciona como outro hino oficial daquele Estado.
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O hino do Estado do Tocantins foi oficializado pela Lei Estadual nº 977, de 30 de abril de 1998.
Tem letra do escritor, poeta e desembargador Liberato Costa Póvoa, que faleceu em faleceu em 25 de dezembro de 2019, e a música foi composta pelo bacharel em Direito e Oficial de Justiça Abiezer Alves da Rocha.
Em outubro de 2011, o então deputado estadual Sargento Aragão apresentou Projeto de Lei para a escolha de um novo hino, por concurso, argumentando que o existente carrega um “erro histórico”.
O parlamentar citou o trecho do hino “De Segurado a Siqueira o ideal seguiu” para classificá-lo como incoerente por trazer o nome de Teotônio Segurado e de Siqueira Campos como os únicos expoentes do processo de luta pela criação do Tocantins.
O projeto ainda não foi votado.
Uma verdadeira aula de História como jamais me ocorreu, durante todos os anos que ocupei as bancas escolares. Para mim, uma surpresa fantástica, fascinante! Como tantas outras aqui publicadas, uma matéria de tamanha magnificência para a nossa cultura, não se encontra com facilidade em qualquer biblioteca, traduzindo, no meu modesto entendimento, o resultado de uma pesquisa resultante de uma arduidade um tanto extenuante.
É oportuno salientar a minha grata satisfação com a publicação da matéria que retrata o plágio entre os dois hinos, visto que qualquer interessado pode examinar o assunto de uma forma mais detalhada e realizar uma comparação com razoável grau de facilidade.
Quero expressar a você os meus agradecimentos, caro Edberto Ticianeli, e parabenizá-lo pelo brilhante trabalho com que Alagoas está sendo presenteada, tendo você à frente deste extraordinário espaço virtual.
Um forte abraço.
Simplesmente, esplêndido, no que concerne aos caracteres: musicológicos, hermenêuticos, filosóficos, políticos, poéticos, históricos, costumes, didáticos, sociológicos, cívicos e, como endosso, o amor febril à pujança da (nossa) alagoanidade. É como observo não “de visu”, mas com esbelta imersão analítica. Veritas est.