O Prado Alagoano da Av. Manguaba
A primeira corrida de cavalos que se tem registro no Brasil aconteceu no 25 de maio de 1814 no Rio de Janeiro. A raia foi improvisada na Praia de Botafogo e contou com a presença da família real e das elites econômicas da cidade.
O esporte rapidamente se espalhou pelo país, mas demorou um bom tempo para organizar a primeira instituição responsável pela promoção deste tipo de competição. Somente em 1849 foi que surgiu o Club de Corridas no Rio de Janeiro. Considerado como o primeiro clube estritamente esportivo criado na cidade. Provavelmente um dos primeiros do Brasil.
Em Alagoas, a organização deste esporte começou a ser pensada em 1888, quando já se projetava o Prado Alagoano, como registrou o jornal Novidade, do Rio de Janeiro, em 3 de outubro daquele ano.
A ideia somente começou a ganhar corpo a partir de 1894, quando o jornal Gutemberg, de 18 de setembro, anunciou que as obras do Prado tinham começado no mês anterior e que já se encontravam bem adiantadas:
“O local fica em boa posição, perto da cidade e junto a linha de bondes do Trapiche da Barra. […] Das arquibancadas depreende-se uma linda vista, donde se descortina todo o Porto de Jaraguá e os principais edifícios da capital, ficando a Matriz bem ao centro do Prado”, descreveu o jornal. A linha de bonde ficava na Avenida Manguaba, antiga Estrada do Trapiche da Barra.
As terras que deram origem ao Prado, Trapiche da Barra e Pontal pertenceram a Bernardo Marinho de Oliveira.
O entusiasmado repórter do Gutenberg continuou: “Enfim, tornar-se-á o Prado Alagoano o lugar predileto dos rendez-vous do nosso público nos domingos e dias santificados, ficando assim preenchida a falta de distração constante, que tanto temos almejado. E nada mais agradável que um passeio num arrabalde, açoitado pelas brisas salinas do grande Atlântico, ouvindo boas pilhérias e lindas composições das nossas músicas marciais e extasiando-nos nos belos olhares das gentis ladies alagoanas”.
Mas não foi fácil para os seus idealizadores levarem o empreendimento à frente, como expôs a última informação da nota acima. “Convém que os srs. Acionistas não desanimem-se e concorram com seus compromissos, afim de que tenhamos o mais breve possível esse importante melhoramento em nossa capital. Prossigamos no progresso de nosso Estado”.
Na sequência, e por vários dias, são publicados Avisos no mesmo jornal chamando os acionistas a pagarem as cotas atrasadas referentes às primeiras e segundas entradas “de 50 e 25 %”. A cobrança pública foi assinada por Tibúrcio A. Carvalho, o tesoureiro; Dr. Firmino T. da Morada e José Amorim Leão.
No dia 6 março de 1895, uma nota publicada no Gutenberg voltou a cobrar cotas atrasadas, as segundas e terceiras. Informava ainda que “os que ainda não fizeram as primeiras entradas perderam o direito de acionista e estão nulas as suas assinaturas…”.
A publicação orientava que o escritório da Sociedade “está novamente funcionando provisoriamente à rua do Macena, nº 32”. Assinam, José Joaquim de Aguiar, Tibúrcio de Carvalho e Firmino Morada. Uma nova diretoria havia tomado posse.
Os problemas, entretanto, não eram somente oriundos da falta de pagamento das cotas dos acionistas. Em março de 1895, os jornais publicaram esclarecimentos do litígio que surgiu entre o empreiteiro da construção do Prado, Manoel Vieira Xavier e o diretor-gerente da sociedade e capitão do Exército, José Joaquim de Aguiar.
O conflito surgiu devido a ampliação dos serviços contratados e a falta de pagamentos. A pendenga foi parar na Justiça e terminou por inviabilizar a inauguração do Prado na data prevista.
Como consequência, o valor das ações despencou a tal ponto que o Gutenberg de 12 de setembro de 1895 publicou o seguinte anúncio: “Compra-se ações da companhia Prado Alagoano com abatimento de 80%. A tratar-se nesta tipografia”.
Provavelmente, o comprador tinha a informação privilegiada sobre o andamento das obras no Prado, que foram concluídas no início de outubro de 1895, um mês após o anúncio da compra das ações. A informação da conclusão da obra foi publicada no Diário de Pernambuco de 3 de outubro.
Os desentendimentos entre o capitão do Exército José Joaquim de Aguiar e o comerciante Manoel Vieira Xavier, motivados pelas obras do Prado Alagoano, terminaram por resvalar para a violência. O jornal Orbe de 27 de janeiro de 1897 informou que no dia 20 daquele mês, o estabelecimento comercial de Manoel Vieira foi invadido por soldados do 33º Batalhão de Caçadores, “aqui estacionado”, e o seu proprietário foi agredido fisicamente por orientação do citado capitão Aguiar.
Como também era fornecedor do Batalhão do Exército, o comerciante tentou rescindir o contrato. O Ministério da Guerra não aceitou e nomeou como comandante da unidade o Coronel Gouveia e a investigação da agressão ficou a encargo do major Ildefonso Martins.
O processo de Manoel Vieira contra o Prado se arrastou na Justiça por vários anos. Ele pretendia receber 19 mil réis pelos prejuízos sofrido.
Em maio de 1898 foi eleita nova diretoria, mas a inauguração do Prado somente aconteceu em 1900.
Primeiro páreo
Durante o mês de setembro de 1900, vários jornais do país publicaram o anúncio da corrida de inauguração do Prado Alagoano, programada para o dia 30.
Além de informar que o escritório da sociedade estava instalado na Rua do Comércio, nº 137, em Maceió, a publicidade detalhava os páreos do evento festivo, incluindo a cotação para cada corrida.
Esta primeira competição também foi a abertura do Stud Book Alagoano, uma espécie de livro de registros genealógicos dos animais. As inscrições podiam ser feitas por telegrama ou carta.
Não se encontrou o registro do resultado deste primeiro páreo, mas várias corridas aconteceram nos meses seguintes, a exemplo da divulgada pelo jornal Trocista de domingo 2 de dezembro de 1900: “SPORT – Damos abaixo os nossos palpites para as corridas de hoje no Prado Alagoano: 1º Páreo – Expresso; 2º Páreo – Republicano; 3º Páreo – Pirilampo; 4º Páreo – Boy; 5º Páreo – Vampa; e 6º Páreo – Brilhante. Ao Prado!”.
Em 1901, há registros de competições em benefício do Asilo de Órfãos, como informou o Jornal do Brasil de 7 de maio de 1901, noticiando o páreo do domingo, 5 de maio.
No final daquele mês, no dia 29 de maio, o Diário de Pernambuco informou que “Em benefício do patrimônio do bispado de Alagoas realizaram-se com grande concorrência diversas corridas no Prado Alagoano”.
Em 20 de fevereiro de 1902, o Jornal do Brasil divulgou uma informação importante: “Reaberto o Prado Alagoano, que vai realizar em março um grande prêmio”. Não se sabe por quanto tempo durou a paralisação e quais os motivos.
Em meados da primeira década do século XX, o parque esportivo era uma referência tão importante na região que a rua principal, atual Av. Siqueira Campos, passou a ser conhecida como Rua ou Avenida do Prado Alagoano. Mais tarde, toda a área ficou conhecida como Prado, que deu o nome ao atual bairro de Maceió.
A paralisação das atividades voltou a acontecer, como publicou o Jornal do Brasil de 18 de novembro de 1908: “Na vasta área do antigo Prado Alagoano foi hoje, festivamente, inaugurada uma linha de tiro, cabendo o prêmio de honra ao Dr. Euclydes Malta, Governador do Estado, o qual foi o único atirador que atingiu o alvo à distância de 300 metros, com carabina Mauser”.
Foi reaberto em 6 de novembro de 1910 e realizou várias corridas. O Gutemberg, ao noticiar que o Prado voltava a atividade depois de muito tempo fechado, informou que a direção da sociedade estava “confiada aos senhores Manoel Vieira Chaves e coronel Ezequiel Pinto”.
No dia 30 de julho de 1916, o Prado Alagoano não mais existia, após alguns anos fechado. Em seu lugar surgiu o Jockey Club de Alagoas, liderado por Sátyro Costa e Manoel Porto. No arrendamento, indenizaram o Prado Alagoano em 12:000$00.
Em janeiro de 1917, nova direção do Jockey Club de Alagoas era composta por Arsênio Fortes, Maciel Pinheiro e Issac Menezes.
Sete anos depois, o local foi citado pelo Jornal de Recife de 3 de outubro de 1918, que reproduziu nota do Jornal de Alagoas. Era uma denúncia: “após as diversões domingueiras do Prado Alagoano, os jockeys cavalgam os animais e passam em vertiginosas carreiras pelas principais ruas”.
As competições voltaram a acontecer dois anos depois, como informa a nota publicada no Diário de Pernambuco de 10 de agosto de 1920: “Na vigência do corrente mês será reaberto o Prado Alagoano, cujas funções estavam suspensas há bastante tempo”. Voltou a funcionar no dia 4 de setembro.
Nesse período, o Prado recebeu ao seu lado o Cemitério do Caju, que depois foi denominado de São José. Foi construído às pressas para receber as centenas de vítimas da Gripe Espanhola que assolou Maceió a partir de outubro de 1918.
É provável que as atividades do Prado nesta nova temporada não tenham durado por muito tempo, considerando que no dia 6 de setembro de 1924 o Jornal do Comércio do Amazonas divulgou que: “Um grupo de capitalistas adquiriu o Prado Alagoano em Maceió, que começará a funcionar em breve”. Foi reinaugurado, após uma reforma completa, em dezembro desse mesmo ano.
No dia 13 de março de 1936, o Diário da Manhã (PE) informava que dois dias depois, um domingo, o Jockey Club de Alagoas seria reaberto sob nova diretoria. Nesse período, realizou vários páreos. A instituição era dirigida por Manoel de Oliveira Bastos, Oscar Peixoto e Pedro Lisboa.
O bairro do Prado
Em 1945, a Av. do Prado Alagoano era denominada Av. 5 de julho em homenagem a data do levante dos 18 do Forte de Copacabana em 1922. Em setembro de 1955, esta via foi urbanizada, ganhando um canteiro central.
Este passou ser o endereço do Parque de Exposições que recebeu a 1ª Exposição Agropecuária e de Produtos Derivados de Alagoas, inaugurada em 17 de dezembro de 1944, “onde outrora existiu o antigo Prado Alagoano”, como registrou O Campo (RJ) de fevereiro de 1945. Alguns jornais registravam o local como Parque do Prado.
Esta pesquisa não conseguiu identificar a data da última atividade do Prado Alagoano.
Ednor Bittencourt, no livro Picadas e Ferroadas, de 1987, assim registrou as suas lembranças do Prado Alagoano:
“Quando havia corrida, afixavam na Praça Deodoro, às vésperas, cartazes com o programa e o nome dos animais com os respectivos jóqueis. De lá, saíamos no bonde do Prado ou do Trapiche com o mano Fred e Ernandi Passos, seu amigo e também amante do belo e nobre esporte. No jóquei, juntávamos-nos aos não menos aficionados turfistas Américo Rego e Francisco Rocha Cavalcante (Chico Rocha).
Era um espetáculo fora do comum. Apostavam e vibravam nos momentos mais emocionantes da corrida, torcendo pelos animais por eles previamente escolhidos e tidos como favoritos. Às vezes, ‘entravam pelo cano’ e procuravam não demonstrar fraqueza, aguentando o ‘galho’. Tomavam cerveja Cascatinha com pipocas, enquanto eu e Fred, usávamos Sisi, refrigerante de sabor agradável, hoje substituído pelo tradicional guaraná”.
A principal herança do Prado Alagoano para a cidade foi ter influenciado na denominação de um dos mais aprazíveis bairros de Maceió.
Foi um prazer ler suas inteligentes pesquisas e comentários.Abraço grande.Vera Romariz
Derby do Prado.
Cenário dos campeonatos Alagoano 1918/19 de Foot ball, Época das LIGAS. (LDA ) e esportes Terrestres .
Onde muitos craques do verdadeiro futebol desfilaram :Jose Edgar (Zezé)
Aroldo Cardoso Zagallo
Granja
Manola
Gondim
Peter Jurisch (O inglês bom de bola) ajudou no ponta pé do futebol em Maceiò.
Edgar de Góes Monteiro (Galo)
Mario Gomes
Sidney Fellows ( O Habilidoso Alemão dono do meio campo.
Excelente materia.
Muito boa essa matéria parabéns
Como era linda a arquibancada do Prado e o cemitério São José, deveria ser uma área ou campo bem cuidado, nas proximidades da Pecuária.