O Mijãozinho da Praça Sinimbu
A origem do famoso menino mijão, colocado na Praça Sinimbu pelo prefeito Sandoval Caju nos primeiros anos da década de 1960, é europeia, mais precisamente da cidade de Bruxelas, na Bélgica.
A menção mais antiga a ele é de 1452. Segundo a lenda, havia desaparecido o filho de um rico proprietário e quando foi encontrado cinco dias depois, estava urinando em público. Aquela imagem deu tanta alegria ao pai que ele mandou esculpir uma estátua no local onde achou a criança.
Na verdade, foi uma obra encomendada ao arquiteto e escultor flamengo Jérôme Duquesnoy, o Velho (ou Hieronymous Duquesnoy I), em 1618, para ornar uma fonte pública.
Em 1745 foi roubada por soldados ingleses e encontrada dois anos depois na cidade de Gramont, na França, por granadeiros franceses.
Informado do achado do menino mijão, o rei Luiz XV vestiu-o com uma roupa de marquês e nomeou-o ‘Chevalier de l´Ordre de Saint Louis’. A pequena imagem (tem aproximadamente 50 centímetros) era reconhecida como brigadeiro de honra de vários regimentos e recebia continência das tropas.
Voltou a ser roubada em 1817 por Antoine Lycas, que foi condenado perpetuamente a trabalhos forçados.
A estatueta é o símbolo mais importante da cidade de Bruxelas e uma réplica sua fica na esquina da Rue de l’Etuve com a Rue de Chêne. A original é mantida no Museu da cidade.
Conhecida como o Manneken Pis (garoto que urina), tem um imenso guarda-roupa com mais de 780 vestimentas para cobrir sua nudez durante algumas festividades da cidade.
O Manequinho carioca
Existe outro Mijãozinho importante, mas este fica no Rio de Janeiro, em frente a sede do Botafogo de Futebol e Regatas. Tem cerca de um metro de altura.
Sua história é bem diferente da do colega Belga. Quem o esculpiu foi o consagrado pintor, escultor e caricaturista Belmiro Barbosa de Almeida Júnior.
Em 1906, ele estava na casa de um amigo e viu a filhinha dele dando os primeiros passos. Notou algo diferente nela. Sabia que naquela idade normalmente as crianças têm o tronco muito maior do que as pernas, mas isso não se verificava nela.
“Assim, pensei no “Mannekin Pis” de Bruxelas e comecei a modelar o meu Manequinho, servindo-me do modelo da menina”, confessou mais tarde a um repórter.
Terminou o trabalho, fez a forma em gesso, mas como pretendia fundi-lo a cera e retocá-lo para bronze, e como nessa época não encontrou ninguém apto a executar tal tarefa, guardou a forma.
Em abril de 1911, teve que ir Paris para compor as peças para o Mausoléu do presidente Afonso Pena. Aproveitou a viagem, levou a forma em gesso do Manequinho e lá mandou fundir em bronze. Suas proporções são: 105 x 45 x 22 cm.
De volta ao Brasil, dedicou esta sua obra ao prefeito do Rio de Janeiro, Rivadávia Correia mandando gravar a seguinte inscrição: “Homenagem ao carácter reto e independente do Dr. Rivadávia Correia”.
Em 1912 a estátua estava exposta no edifício do Cinema Pathé, na Av. Rio Branco, e foi vista até pelo marechal Hermes da Fonseca, presidente da República.
Dois anos depois, Belmiro de Almeida aceitou vender a peça à Prefeitura da capital Federal. Sua compra foi autorizada no final de maio pelo Conselho Municipal (Projeto de Lei nº 54 de 1914). Quando autorizado passou a ser o Decreto nº 1.649, de 3 de novembro de 1914.
Custou aos cofres municipais 20 contos de réis.
E assim o Manequinho começou a “mijar” em público. Colocado sobre dois degraus na então Praça Floriano Peixoto, atual Cinelândia, de frente para o Palácio Monroe. Tinha a pressão da água controlada por uma torneira.
As senhoras e a Igreja da época não gostaram da nudez e do pinto do Manequinho e cobraram das autoridades o fim daquela “indecência“.
Sua micção pública foi interrompida em 1919, quando o prefeito Paulo de Frontim jogou o menor mijão em um depósito. Houve reação da imprensa e da Sociedade Brasileira de Belas Artes, mas não surtiu efeito.
Em 1922, na gestão do prefeito Aloar Prata, o Manequinho voltou urinar em praça pública, mas em outro local, no fim da praia de Botafogo, perto do antigo Pavilhão Mourisco. O lugar anterior tinha sido ocupado pelo “Manecão”.
Passou a ser mascote do Botafogo em 1957, quando vestiram-no com a camisa do clube alvinegro. A partir de então, quando o alvinegro é campeão, o Manequinho aparece com o uniforme.
O Manequinho ainda esteve em outros logradouros da cidade até ser roubado no dia 27 de julho de 1990. Houve comoção pública e o botafoguense José de Almeida Coimbra bancou os custos da produção de uma réplica da escultura.
Como o molde original havia sido preservado, o escultor e professor ítalo-brasileiro Amadeu Zani, fundiu nova estátua. Ele guarda boa parte da memória das peças exibidas nas ruas do Rio.
Esta reprodução foi instalada no espaço à frente da sede do Botafogo, na Wenceslau Brás, para sua preservação.
Por seu valor artístico e histórico, o Manequinho foi tombado em 2002 pela prefeitura do Rio de Janeiro, passando a ser patrimônio da cidade (Decreto nº 2221-02).
Em setembro de 2008, um vândalo “capou” o Manequinho e a Prefeitura teve que gastar R$ 5 mil para refazer o seu “pinto“. Após a reposição do “bilau”, o Botafogo de Futebol e Regatas assumiu definitivamente a posse do monumento.
Uma outra reprodução do Manequinho está na Pinacoteca do Estado, no Parque da Luz em São Paulo.
O Mijãozinho de Maceió
O primeiro Mijãozinho instalado na Praça Sinimbu era uma peça de bronze claramente inspirada no Manequinho carioca. Foi esculpida pelo consagrado artista plástico Lourenço Peixoto.
Fazia parte do mural de azulejo ali erguido durante a reforma realizada entre 1961/62 pelo então prefeito Sandoval Caju (de 1º de fevereiro de 1961 a 8 de abril de 1964, foi cassado). A Praça foi reinaugurada em 24 de fevereiro de 1962.
O projeto da praça foi de Lauro Menezes, arquiteto autodidata e funcionário da Prefeitura da Capital.
Nesta reforma, a praça Sinimbu recebeu novo traçado e a Rua Sargento Benevides foi prolongada até a Rua do Imperador, dividindo a área em duas partes.
Na quadra em frente à antiga residência do poeta Jorge de Lima — que ganhou a denominação de Praça Jorge de Lima — foi instalado um mural de azulejo com motivos nordestinos.
Uma pequena piscina circundava o equipamento e o Mijãozinho, em destaque, “urinava” a água para abastecer o local.
Segundo publicado no Diário de Notícias do Rio de Janeiro em 12 de maio de 1961, a denominação da praça atendeu ao pedido do jornalista Luiz Luna, que cobrou ao prefeito uma homenagem ao poeta Jorge de Lima.
Foi atendido, como comprova o telegrama enviado pelo professor José Tavares, então secretário geral da Prefeitura:
“Satisfação comunicar ilustre amigo que o sr. prefeito Sandoval Caju, acatando sua oportuna sugestão, está preparando uma nova praça pública em Maceió, a qual denominará Jorge de Lima, em homenagem ao grande alagoano”.
O Mijãozinho de Lourenço Peixoto permaneceu no local até meado dos anos 80, quando foi vandalizado e serrado ao meio. Sua parte superior provavelmente foi vendida no peso em algum ferro velho.
Ainda nos anos 80, um novo Mijãozinho foi colocado na mesma plataforma, mas como o material utilizado foi o cimento, logo apresentou desgastes. Foi recuperado em 1992 pelo prefeito Pedro Vieira.
Não foi possível identificar o escultor desta nova peça, mas, diferente da anterior, lembrava a escultura de Bruxelas.
Pouco tempo depois, o “menino” voltou a ser quebrado à altura das coxas. Os seus restos foram descobertos jogados nas proximidades do balneário do SESC em Guaxuma.
Em 16 de março de 2022, após o restauro de toda a estrutura pelo arquiteto Nelson Braga, mestre restaurador Victor Cornejo e sua equipe, o Mijãozinho foi recolocado na Praça Sinimbu, uma escultura do artista plástico Reinaldo Lessa.
***
O Mijãozinho da Praça Sinimbu não foi o único a funcionar como fonte em Alagoas. A Praça Padre Cícero em União dos Palmares também hospedou um menino mijão durante algum tempo.
Excelente recordação! Então essa parte desmembrada da praça Sinimbú se chama praça Horge de Lima? Oportuna a recente colocação da escultura do poeta no local.
Simplesmente fantástico. Verdadeiramente uma aula de história e socio-cultural.
Parabéns.
E onde está agora? depois de encontrado no Sesc. Vai ser restaurado? E ond será colocado .?
O texto interessante. Mas não tem as fontes de consulta. No
Excelente materia !!!
Nascido em 26 de maio de 1960 meu pai sempre nos levou para passear na praça ” Sinimbú”
Quando vi a escultura” lembrei e fotografei.
Uma grande aula de história e feliz homenagem a Jorge de Lima em ter seu nome dado à praça. Uma pena q no mundo existam pessoas com espírito de vandalismo e total falta de educação que se torna impossível a preservação de um patrimônio histórico!
sou Ricardo Menezes filho do sr.Lauro Menezes.
essa foi a praça da minha infancia e dos meus irmãos.
agradeço pela lembrança e saudades !
Bom dia… Matando saudades da praça e do menino….
Obrigada.
Porque não colocar outro menino mijão na Praça
Praça é uma das recordações de minha infância.
A propósito de restauração. Nossas Praças breve serão meras recordações de um passado distante. Não consigo aceitar que as praças que homenageiam os Marechais Deodoro e Floriano, primeiro e segundo presidentes do país estão deploráveis. A estátua equestre de Deodoro está sem os ramos de louro, o cavalo sem rédeas, e o Marechal sem parte da espada. A praça marechal Floriano, é quase uma cena do apocalipse. A estátua desprovida da sua beleza original.
Quando teremos de novo as nossas Praças?
Leiam a reportagem.
No dia 16/03/2022 foi recolocado um novo Mijãozinho.
Para o bem da população, a história faz parte da educação e como relembrar é certificar que algo existe ou existiu, talvez e só talvez um prefeito educado e compromissado com a educação, venha restaurar nossas praças.
Excelente história. Parabéns a todos e todas pela recuperação da praça.
Mas, se não me falha a memória, o nome gravado na placa era Mi Joãozinho.