O histórico Festival de Verão de Marechal Deodoro

Frevo nas ruas de Marechal Deodoro durante o II Festival de Verão em 1971. Foto de O Cruzeiro de 28 de abril de 1971

Quem teve a iniciativa de promover um Festival de Verão em Marechal Deodoro foi a professora Solange Lages, inspirada em acontecimento semelhante realizado, à época, em Ouro Preto, Minas Gerais.

Cavalhada nas ruas de Marechal Deodoro durante o Festival de Verão de 1971. Foto de O Cruzeiro de 28 de abril de 1971

Com graduação em Letras Clássicas pela Universidade Santa Úrsula em 1959 e graduação em Direito pela Universidade Federal de Alagoas em 1964, Solange, filha do médico e professor José Lages Filho e de Sônia Berard Lages, coordenava em 1970 um grupo jovem formado por pintores, jornalistas, intelectuais e artistas.

“Podemos transformar Marechal Deodoro na capital da cultura, mas, para isso, é necessário conscientizar governo e particulares para que desenvolvam os recursos naturais aqui existentes”, declarou a idealizadora ao Diário de Pernambuco de 29 de dezembro de 1970, dias depois da realização da primeira edição do evento, que ocorreu no sábado (26) e domingo (27) daquele mesmo mês.

A então professora Solange Lages pretendia criar na cidade histórica e antiga capital de Alagoas, museus de arte popular, sacra, pinacotecas, além da exploração das riquezas naturais. Destacava que a Lagoa Mundaú e a Manguaba ofereciam condições de navegabilidade e beleza que não se via em outros lugares do mundo.

Solange Lages Chalita, a idealizadora do Festival de Verão de Marechal Deodoro

Ao avaliar o êxito do Festival, frisou que o principal objetivo tinha sido conquistado, que era o de conscientizar a população e os governantes para as possibilidades do município. Solange revelou ainda que outro resultado foi o anúncio do governo do Estado da intenção de apoiar as medidas para promover o turismo em Marechal Deodoro.

Com a presença de dez mil turistas, a fraca estrutura existente na primeira edição do evento não suportou a demanda. Ainda na noite do sábado, todos os restaurantes da cidade fecharam as portas por falta de estoque de alimentos e bebidas.

Foram gastos no projeto somente Cr$ 7 mil, obtidos de usineiros, industriais e bancos. A Phillips contribuiu com 1.500 lâmpadas, que foram alimentadas por energia fornecida pela CEAL.

Na programação, houve uma corrida de jangadas com 51 competidores e denominada “Prova à Vela Assis Chateaubriand”, uma exposição de arte popular no antigo Palácio do Governo, que foi coordenada por Marcelo Teixeira, então Diretor de Extensão Cultural da Secretaria de Educação.

As peças exibidas eram da coleção de Theo Brandão. Além delas haviam xilogravuras, artesanatos diversos, alguns deles de artistas pernambucanos. O pintor Pierre Chalita expôs parte do seu acervo de arte sacra mostrando mais de duzentas peças.

Nas ruas, notava-se a presença dos jovens do movimento hippie, que participaram animadamente dos folguedos populares e passaram a utilizar o Convento de São Francisco para dançarem ao som de radiolas portáteis.

Na noite do domingo, último dia, uma centena deles resolveu tomar banho sem roupas na Lagoa Manguaba. A população não gostou e a polícia teve que intervir. Um estudante de medicina foi detido acusado de distribuir “panfletos subversivos”.

O II Festival de Verão de Marechal Deodoro

Os hippies estavam pacificamente no I Festival de Verão. Foto do Diário de Pernambuco de 29 de dezembro de 1970

Para a sua segunda edição, o evento sofreu alteração no seu período de realização, deixando de ocorrer em dezembro de 1971, passando a se estender por mais de uma semana, entre os dias 29 de janeiro e 6 de fevereiro de 1972. Solange Lages havia sido nomeada, em março de 1971, diretora do Departamento de Ciência e Cultura da Secretaria de Educação.

A abertura oficial do II Festival aconteceu às 15 horas do sábado, com a presença do governador do Estado, Afrânio Lages, do ministro da Indústria e Comércio, Marcos Vinicius Pratini de Moraes, e dos presidentes do IAA e da EMBRATUR.

Neste ano, o evento recebeu ajuda do Governo Federal após ter o projeto aprovado no Conselho Federal de Cultura. Nesta proposta, os realizadores justificavam que a iniciativa tinha como finalidade despertar o gosto pela cultura, criar na comunidade consciência capaz de preservar o cabedal histórico e artístico de Alagoas.

Pretendiam ainda dar publicidade às criações artísticas locais, descobrir vocações, preservar as tradições folclóricas, incrementar o turismo e promover a comercialização do artesanato, fonte única de renda de determinadas faixas da população.

No programa daquele ano constava a realização de espetáculos de arte erudita, danças folclóricas, exposição de pinturas e arte popular, exposição fotográfica e monumentos históricos e artísticos do Nordeste, feira de artesanato, cursos sobre arte em geral, projeções cinematográficas, concurso de poesia, contos e de música popular.

O II Festival, que estava orçado em Cr$ 96.150,00, solicitou ao Conselho Federal de Cultura uma ajuda no valor de Cr$ 45.000,00. O relator do processo foi o pernambucano Ariano Suassuna, que, na sessão plenária de 11 de novembro de 1971, reconheceu as finalidades culturais do evento, mas recomendou a exclusão da “verba nº 1 — Cursos”. Foi concedida a ajuda para “concursos, espetáculos e exposições, no valor total de Cr$ 35.500,00”, como informou o Boletim do CFC.

O III Festival de Verão de Marechal Deodoro

Artesanato nas ruas de Marechal Deodoro durante o Festival de Verão de 1970. Foto de O Cruzeiro de 28 de abril de 1971

Com a Empresa Alagoana de Turismo, Ematur, criada no ano anterior, realizando intensa campanha para envolver os maceioenses no evento, ocorreu o III Festival de Verão de Marechal Deodoro entre os dias 2 e 4 de fevereiro de 1973.

Contando com o apoio publicitário da Embratur, que distribuiu pôsteres coloridos sobre Marechal Deodoro em todo Brasil, o sucesso desta edição já estava assegurado no mês de janeiro, quando não existia mais nenhuma residência para alugar na cidade.

Para resolver este problema, a Empresa Alagoana de Turismo, Ematur, definiu uma área para as barracas dos campistas. Neste mesmo período, também estava sendo inaugurada na Praia de Jacarecica, em Maceió, uma área semelhante, mas com estrutura montada pelo Camping Clube do Brasil. Teve vida curta devido as moscas do Lixão municipal instalado nas proximidades.

Para melhor organizar a crescente presença dos bares e restaurantes, a Ematur cadastrou os interessados ainda em Maceió, que foram devidamente habilitados. A Ematur funcionava no mesmo prédio da Estação Rodoviária, no bairro do Poço.

Essa melhor organização foi destacada pela imprensa nacional, que também elogiou a tranquilidade reinante na antiga capital durante o Festival.

O Correio Braziliense de 18 de fevereiro de 1973 avaliou assim os objetivos alcançados: “Os próprios habitantes de Marechal Deodoro começam a considerar o Festival como um acontecimento irreversível e fator decisivo na melhoria das condições da cidade a curto prazo, pois se reflete exatamente no período em que ele se realiza”.

E continuou: “Melhoria das condições da estrada, recuperação paulatina dos monumentos e prédios históricos, melhor sinalização urbana, maior interesse pelo roteiro fluvial, surgimento de novos empreendimentos e intercâmbio de valores culturais, são agora apontados como resultantes que beneficiam diretamente a cidade em razão do Festival de Verão”.

Dezesseis artistas expuseram suas obras no Convento de São Francisco e no Palácio Velho. Neste, houve a participação da comunidade, com a mostra de artefatos e utensílios de pesca, além do trabalho de crianças das escolinhas de arte de Maceió. Na tarde do sábado, dezenas de crianças pintaram toda a longa calçada da Praça Pedro Paulino sob a orientação do pintor Getúlio Motta.

O IV Festival de Verão de Marechal Deodoro

Exposição de arte popular em Marechal Deodoro. Foto de O Cruzeiro de 28 de abril de 1971

Com mais ênfase nas apresentações folclóricas do Estado — foram 16 manifestações diferentes —, foi realizado, entre os dias 1º e 3 de fevereiro de 1974, a 4ª edição do Festival de Verão.

Coube a Carmem Lúcia Dantas, recém-chegada do Rio de Janeiro e da equipe de Solange Lages no Departamento de Assuntos Culturais, falar na abertura do evento, ao lado do governador Afrânio Lages, do prefeito de Marechal Deodoro, Danilo Dâmaso, e do presidente da Ematur, empresário Guido Santos.

Solange Lages havia assumido, em março de 1973, em comissão, o cargo de Diretora do agora Departamento de Assuntos Culturais (DAC) da Secretaria de Educação e Cultura, de onde somente saiu em março de 1975.

Nesta edição, os recursos do Conselho Federal de Cultura também financiaram a reedição do livro “Folguedos Natalinos”, de Theo Brandão. Do orçamento do DAC saíram os recursos para outro impresso: um álbum com 30 pranchas sobre o patrimônio alagoano, desenhadas pelo pintor alagoano Pierre Chalita.

Como nos eventos anteriores, além dos grupos folclóricos, houve a apresentação de espetáculos musicais, exposições artísticas, artesanato e concurso literário.

No primeiro dia, sexta-feira, ocorreu a apresentação da Orquestra Sinfônica de Pernambuco e Beto Leão foi responsável pela mostra de teatro e do filme “Joana Francesa”, dirigido pelo alagoano Cacá Diegues e com locações em União dos Palmares.

Luiz Gonzaga e a alagoana Leureny Barbosa fizeram os shows do sábado e Vinicius de Morais, Toquinho e a cantora folclórica Ely Camargo fecharam a programação artística no domingo.

Cinco concursos literários atraíram a atenção dos contistas e poetas alagoanos. Competição valorizada pelo júri e principalmente pelo seu presidente, o alagoano Aurélio Buarque de Holanda.

A premiação em dinheiro era atraente. Para os contos, dois prêmios: “Graciliano Ramos”, com Cr$ 1.500,00, e “Breno Acioly”, com Cr$ 1.000,00. As poesias concorriam a: “Jorge de Lima”, com Cr$ 1.500,00; “Jayme de Altavila”, com Cr$ 1.000,00; e “Guimarães Passos” com Cr$ 500,00.

A corrida de canoa e a Cavalhada também atraíram a atenção dos turistas, que estavam em maior número torcendo para os cavaleiros “vermelhos” ou “azuis” na simulação da luta medieval entre mouros e cristãos.

O V Festival de Verão de Marechal Deodoro

Afrânio Lages, Benedito Ib, Manduca Cavalcanti e Danilo Dâmaso assistem a um show no Convento São Francisco durante o V Festival de Verão em 1975. Foto de O Cruzeiro de 19 de março de 1975

Realizado entre os dias 28 de fevereiro e 3 de março de 1975, o evento começou a sofrer a sua primeira crise de identidade. Considerado pela imprensa como o maior até aquela edição, o Festival foi criticado por não conseguir definir o seu público alvo.

O Diário de Pernambuco de 9 de março de 1975, ao reconhecer que o evento foi criado para promover a arte e a cultura do Nordeste, identificou que ele havia perdido um pouco de sua originalidade.

“Afora suas bens montadas exposições e apresentação de grupos folclóricos, o que vimos naquela cidade foi, na realidade, jovens perambulando sem rumo por suas ruas, numa euforia um tanto quanto à base de bebidas, “curtindo” uma festa para a qual estavam completamente alheios”, avaliou o jornal pernambucano.

A crítica do Diário de Pernambuco expõe que até aquele momento, “o Festival não conseguiu definir para quem está dirigido nem a que nível”, e isso se refletia na programação, a exemplo da falta de atrações diurnas. Durante o dia sobrava uma caminhada de 10 quilômetros até a Praia do Francês.

Um novo problema antecedeu a abertura do Festival: o Cônego Orestes ameaçou fechar todos os templos durante as festividades. Parte da população endossou a decisão do vigário por avaliar que o Festival era “uma festa profundamente profana” e devassa, “onde o vale-tudo é uma constante e que até os princípios de pudor e de respeito às regras morais são postas de lado para dar lugar ao descontraimento, provocado exclusivamente pelos hippies”. (Diário de Pernambuco de 17 de janeiro de 1975).

Como ocorreram shows no Convento São Francisco, pode-se concluir que o Cônego Orestes foi convencido e deixou as portas dos templos abertas para as milhares de pessoas que circularam em Marechal Deodoro naquele fim de semana.

Esta edição foi realizada pelo Governo do Estado de Alagoas, Secretaria de Educação de Alagoas, Prefeitura de Marechal Deodoro e Empresa Alagoana de Turismo. Segundo os realizadores, foram investidos mais de Cr$ 200 mil.

O governador Afrânio Lages abriu o evento às 20 horas da sexta-feira, dia 28 de fevereiro. No Convento São Francisco houve a apresentação do Coral Universitário da Ufal. Na Praça do Convento, Leureny Barbosa e Beto Batera comandaram a festa, enquanto os grupos folclóricos se distribuíam pela cidade.

No sábado, às 18 horas, foi a vez do Quinteto Harmorial no Convento São Francisco. Depois, na Praça, os shows da Banda de Pau e Corda e Dorival Caymi. Quinteto Violado e Luiz Gonzaga encerram o Festival no domingo.

Mais um Festival, o Brasileiro de Cinema de Penedo em 1975

Entrada do Cine São Francisco em Penedo durante o I Festival de Cinema de 1975. Foto de Ayrton Quaresma para a revista O Cruzeiro

Dois meses antes do V Festival de Verão de Marechal Deodoro tem início em Penedo outra iniciativa importante de Solange Lages, que ainda dirigia o Departamento de Assuntos Culturais da Secretaria de Educação e Cultura de Alagoas.

Com abertura no dia 9 de janeiro de 1975 e com última edição em janeiro de 1982, o Festival de Cinema foi idealizado com objetivos diferentes do Festival de Marechal Deodoro. Surgiu neste período uma queda de braço entre Solange Lages, que advogava a atração de turistas a partir da valorização do acervo histórico e artístico de Alagoas, e a Ematur, que pensando mais no aspecto econômico do turismo, indicava a realização de shows e a atração de personalidades renomadas do mundo artístico para ampliar a divulgação de Alagoas na mídia nacional.

Para justificar a escolha de Penedo, o DAC esclareceu que o município estava incluído no Plano de Recuperação das Cidades Históricas do Nordeste, tinha um rico acervo arquitetônico e oferecia infraestrutura para eventos como aquele. Havia uma “vocação natural para o turismo”, divulgou.

O Festival, que teve início numa quinta-feira, 9 de janeiro de 1975, e se estendeu até o domingo, dia 12, serviu para atrair a atenção de Solange Lages e sua equipe, que a partir do ano seguinte não mais cuidariam do Festival de Verão de Marechal Deodoro.

O VI Festival de Verão de Marechal Deodoro

Acampamento na Praia do Francês durante o Festival de Verão de 1975. Foto de O Cruzeiro de 19 de março de 1975

A partir de março de 1975, com Divaldo Suruagy no governo, o DAC não se envolveu como antes no evento de Marechal Deodoro. Na prática, foi a Ematur, presidida pelo jornalista Dêvis de Melo, que assumiu a coordenação do Festival de Verão a partir deste ano.

“O casario colonial. As igrejas Barrocas. O sol espargindo luzes na superfície da Lagoa. A lua cobrindo de prata os velhos sobrados. Os folguedos colorindo as tradições. O artesanato espalhado em pedras de forma irregular. O filé e o labirinto decorando as janelas em arco”, foi assim que a Empresa Alagoana de Turismo, Ematur, anunciou a realização do VI Festival de Verão de Marechal Deodoro, que teve início no dia 20 e foi encerrado no domingo, 22 de fevereiro de 1976.

Neste ano, entre os trabalhos expostos no Convento São Francisco destacava-se a obra de Mestre Deodato, famoso em todo o Brasil por suas talhas em madeira.

As principais atrações musicais foram Miltinho e Dóris Monteiro. Alguns grupos de samba também passaram a ocupar os palcos da cidade. Entre os grupos musicais nativos, o destaque foi para a primeira apresentação do histórico Grupo Terra, que passou a ter cadeira cativa no Festival.

Outra informação envolvendo o Festival foi anunciada pelo presidente da Ematur no Diário de Notícias de 24 de fevereiro de 1976. Era sua intenção realizar o evento no mês de novembro. Essa alteração não se consumou.

O VII Festival de Verão de Marechal Deodoro

Turistas na Praia do Francês em 1975. Foto de O Cruzeiro de 19 de março de 1975

Realizado de 4 a 6 de março de 1977, esta edição ocupou novos espaços, revelando que as atividades de recuperação arquitetônica já estavam acontecendo na cidade.

As exposições foram distribuídas na Casa em que nasceu o Marechal Deodoro, onde ficou parte do acervo do Museu Theo Brandão, e no antigo Palácio Provincial, que recebeu os artistas plásticos, fotos dos monumentos históricos, pinacoteca do Mobral Cultural e artistas estreantes.

Na Praia do Francês foram montados bares e restaurantes, onde os turistas ouviam a Banda de Pífanos do local, além das bandas de música dos SESI e da Sociedade Musical Carlos Gomes.

As programações das tardes eram voltadas para as crianças, que participavam de uma bandinha infantil e do teatro de marionetes.

A pesquisadora Aglae de Lima Oliveira, que era famosa à época por ter participado de um programa de televisão, o “8 ou 800”, onde respondeu sobre Lampião, fez palestra no Cine Deodoro sobre costumes regionais.

Os principais shows ocorreram na Praça Pedro Paulino. No sábado quem subiu ao palco foi a banda pernambucana “Acalanto”. No domingo, o encerramento ficou ao encargo de Alceu Valença.

No Convento São Francisco estiveram o Coral da Universidade Federal de Alagoas, no sábado, e no domingo o show “Alagoas – sua terra, sua gente”, com o Coral Expressionista de Maceió.

Ainda no sábado, a partir das 23h30, houve uma seresta que reuniu os maiores nomes da música alagoana e percorreu as principais ruas da cidade até a madrugada do domingo.

O VIII Festival de Verão de Marechal Deodoro

Dorival Caymmi no Festival de Verão de 1975. Foto de O Cruzeiro de 19 de março de 1975

A principal alteração desta edição foi a ampliação dos eventos na Praia do Francês, que passou a receber shows maiores. O Festival ocorreu entre os dias 24 a 26 de fevereiro de 1978.

No Francês também foi montada uma área para camping. O público do VIII Festival foi calculado em 20 mil pessoas.

Outras novidades foram as presenças do Trio Elétrico Tapajós na Praia do Francês e a Escola de Samba Jangadeiros.

O Convento de São Francisco recebeu a Orquestra de Câmara de Recife, regida pelo maestro Eliazar de Carvalho.

A partir das 16 horas já se podia assistir aos recitais de Benedito Lins, Selma Teixeira, Tereza Braga e Anilda Leão, além dos concertos de violino do maestro Cussy de Almeida e do pianista alagoano Joel Bello Soares.

Palcos armados no cais da lagoa e em frente ao Palácio Provincial apresentavam artistas populares. Em um deles esteve o Quinteto Violado.

Participaram também: Orquestra Armorial II de Pernambuco, Grupo Focus de Dança Contemporânea da Bahia, Quinteto de Sopro Cromácio Leão de Pernambuco, Grupo Chorinho Novo, Grupo de Dança Contemporânea da Universidade Federal de Bahia sob a direção de Clyde Morgan, Oriano de Almeida, Grupo Terra e Jogral de São Paulo.

O Festival foi realizado pela Ematur e Secretaria da Indústria e do Comércio do Estado de Alagoas, contando ainda com a participação da Funarte, Mobral, Ufal, Senec e Prefeitura Municipal de Marechal Deodoro.

O IX Festival de Verão de Marechal Deodoro

Jovens músicos na Praia do Francês em 1975. Foto de O Cruzeiro de 19 de março de 1975

Depois de três anos sem ser realizado, o Festival voltou a acontecer, em sua 9ª edição, entre 12 a 14 de fevereiro de 1982.

A programação foi elaborada pela Ematur e Departamento de Assuntos Culturais da SEC, constando de shows artísticos e com um trio elétrico no Francês, o Tapajós. À noite, as atrações se apresentavam na cidade de Marechal Deodoro.

Guilherme Palmeira abriu o evento às 20 horas. Em seguida, às 21 horas, houve um concurso de orquestras e às 23 horas aconteceu a apresentação do “Chorinho de Marechal”. Na noite do sábado, 13, a abertura dos shows em praça pública ficou ao encargo do conjunto alagoano “Asas da Imaginação”. Em seguida vieram Reginaldo Rossi e Oswaldinho. A partir das 23 horas houve a Seresta no Palácio.

1983 sem Festival

Trio Tapajós na Praia do Francês durante o Festival de Verão de 1978

O Festival de Verão programado para 1983 foi suspenso após o prefeito do município, Manoel Messias dos Santos (PDS), fugir da cidade, acusado de deixar um rombo na prefeitura de Cr$ 200 milhões.

“Devido às irregularidades administrativas na Prefeitura, não poderá realizar este ano o Festival de Verão, atração do calendário turístico nacional e que serve para divulgação das belezas naturais da região, com destaque especial para a Praia do Francês, porto histórico construído pelos franceses para contrabandear pau-brasil”, noticiou o Jornal do Brasil de 3 de janeiro de 1983.

O X Festival de Verão de Marechal Deodoro

Em 1984 foi realizada a 10ª edição do evento. Aconteceu no período de 10 a 12 de fevereiro. Além das tradicionais apresentações e exposições, neste ano houve o I Campeonato de Surf da Praia do Francês, com patrocínio da Coca Cola.

Já não tinha mais o mesmo público que antes e o interesse e participação da comunidade também não era o mesmo dos primeiros anos. Há registros de ainda foram realizados os 11º (1985) e 12º (1986), mas numa dimensão distante do que se poderia denominar como Festival.

As causas do fim

Carmem Lúcia Dantas integrou a equipe do DAC a partir de 1974

O veterano jornalista Bernardino Souto Maior, que cobriu todos os Festivais para o Diário de Pernambuco e outros jornais, avalia que a mudança de governo foi determinante para o fim do evento.

“Houve uma quebra de continuidade com a mudança de governo e faltou entusiasmo”, revela Bernardino, destacando ainda que conseguiu uma boa divulgação do Festival no Diário de Pernambuco, graças a dois alagoanos que dirigiam o jornal: Antônio Camelo, nascido em Murici, e Anchieta Hélcias, de São Luís do Quitunde.

José Elias, outro jornalista da velha guarda, avalia do mesmo modo que Bernardino Souto Maior, mas observa que se o Festival tivesse continuado, “haveria o risco de se transformar em um foco de violência, com drogas e outras ilegalidades”.

Outro que identificou este mesmo problema foi o engenheiro Vinicius Maia Nobre. Para o experiente professor, a equipe de Divaldo Suruagy ligada ao turismo não conhecia bem o setor e teve “um pouco de despeito ou mesmo inveja” da turma do governo anterior, de Afrânio Lages, que era bem mais “antenada”.

Gabriel Mousinho, outro jornalista com muitos anos no batente da imprensa alagoana e nacional, também indicou que o fim do evento ocorreu por falta de interesse dos governantes que sucederam a Afrânio Lages. “Desinteresse completo pela arte e cultura. Paralelamente, gastaram muito com outras atividades, a exemplo da contratação sem critérios de bandas que encheram as burras com os recursos públicos. Um desastre cultural que o povo e os artistas não mereciam”, frisou.

Carmem Lúcia Dantas, que trabalhou durante muitos anos com Solange Lages, inclusive nos Festivais de Verão de Marechal Deodoro e de Cinema em Penedo, avalia que os dois eventos entraram em decadência quando a prioridade passou a ser o turismo. “A Ematur passou a realizar os eventos enquanto o DAC não demonstrava muito interesse” recorda a museóloga.

Luiz Gonzaga durante o Festival de Verão de 1975. Fo de O Cruzeiro de 19 de março de 1975

Durante algum tempo, houve enfrentamento público entre as diferentes visões dos nossos Festivais. O grupo que se aglutinava em torno de Solange Lages criticava os desvirtuamentos do projeto inicial e sofreram ataques por terem tomado este posicionamento. A partir do setor de comunicação de órgãos governamentais partiram até  difamações para atingir Solange Lages.

Outro componente a ser considerado foi a mudança da política estadual para o turismo, que, a partir de 1981, com a Ematur dirigida por Manoel Cavalcante Neto (Manduca), voltou suas energias para aparelhar e vender Maceió como o destino turístico mais importante de Alagoas.

Essa preparação já vinha acontecendo antes, principalmente na rede hoteleira da capital, que antes contava, em 1971, com apenas três hotéis classificados e 326 leitos/dia, e em 1981 tinha uma oferta de 2 mil leitos/dia.

Outra modificação importante, que aproximou o litoral sul de Alagoas da sua capital foi a entrega da Rodovia Divaldo Suruagy em 4 de março de 1979. Esta obra, com as Pontes Divaldo Suruagy e Eng. Celso Araújo (havia sido inaugurada no 13 de agosto de 1978, construída pela Concic-Portuária), atraiu para Maceió os investimentos em hotéis programados para Marechal Deodoro, que ficou a 40 minutos do centro da capital.

No mesmo período em que Marechal Deodoro realizava seu último Festival de Verão, a Ematur passou a promover em Maceió o Festival do Mar, cuja primeira edição foi em dezembro de 1983. Durava uma semana e envolvia 150 eventos distintos. O presidente da Empresa Alagoana de Turismo nesta época era Caio Porto Filho.

Um dos maiores legados deixados pelo Festival de Verão de Marechal Deodoro foi a consolidação de uma política de recuperação e preservação do patrimônio cultural e arquitetônico em Alagoas. Penedo e Marechal Deodoro foram os primeiros municípios a receber investimentos e controle sobre seus patrimônios históricos.

Isso, sem sombra de dúvidas, se deve a Solange Lages e ao grupo de intrépidos jovens que formaram com ela o primeiro grande movimento para valorizar estas características em nosso Estado.

8 Comments on O histórico Festival de Verão de Marechal Deodoro

  1. fernando antonio mendonça gumarães // 7 de abril de 2019 em 20:23 //

    outra pessoa muito importante no festival de verão de Marechal Deodoro foi o professor José Geraldo Wanderley Marques.professor de biologia da UFAL

  2. Luiz Soares da Silva // 20 de abril de 2019 em 10:13 //

    O Clube Fenis Alagoano serviu de berço, para a idéia do Festival de Verão de Marechal Deodoro.
    A turma do volei, por sinal muito atuante, em função da grande disputa, com o CRB, envaidecida com o Festival de Woodstop, nos Estados Unidos.
    Assim, sob a Presidência do Ardel Jucá e Geraldo (treinador do time), alem dos jogadores, Luiz Soares, Napoleao, Canhoto, Marcos Gameleira, entre outros, do time principal; juntamente, com os jogadores do juvenil: Cesar, Fernando Quaresmo, Ronaldo Lessa e, alguns outros.
    O Governador era Lamenha Filho; que por sinal, foi envolvido, graças a uma de sua filha, que fazia parte da turma do volei.
    A idéia se multiplicou como rastilho de pólvora, entre os jovens alagoanos. E assim Marechal foi invadida de mascates e camelôs. Casas e casarões foram alugadas, as ruas enfeitadas, dava vida ao contexto do mundo hippie.
    Lembro-me bem de uma boite de nome – DIVINA COMÉDIA, que funcionou num prédio antigo de primeiro andar. A porta de acesso foi substituida, por um belo CAIXÃO DE DEFUNTO, sem fundo, de modo a permitir a entrada.
    Para evitar a ociosidade durante o dia, imaginamos curtir a Praia do Francês. Assim, ficou acertado, que todos iríamos pra lá, usando uma “trilha” que os poucos praeiros utilizavam, usando animais para transportar o pescado.
    Conhecia, de longas datas aquele praia, pois era o nosso esporte a pesca de rede à mar aberto, nas pedras à noite pegando lagostas e aratus, além da caça submarina. Era a nossa base, comandada pelo Edson Sotero – Da DROGAL, meu cunhado.
    Pois bem, foi assim que aquele recanto paradisíaco, foi inserido no contexto turístico internacional.
    Há são muitas as lembranças daquele PRIMEIRO FESTIVAL DE VERÃO DE MARECHAL DEODORO!

  3. O BARECHAL ,foi um dos points mais importante dos dois primeiros Festivais. Decoração interna com páginas do Pasquim nas paredes com frases icônicas do momento. Som maravilhoso e a bebida era Daikiri.

  4. Angela Canuto // 24 de abril de 2019 em 11:39 //

    Lembro com emoção dos primeiros festivais de verão promovidos em Marechal Deodoro.Recordo que alguns hippies usavam uma faixa na testa que dizia “ Eu não sou causa , sou consequência. Parecia um tempo diferente…

  5. SEBASTIÃO IGUATEMYR CADENA CORDEIRO // 22 de abril de 2020 em 10:18 //

    LEMBRO BEM DO MONTURO DRINK´S , AONDE O AMIGO RUI MONTENEGRO ( COLESQUIM ) , QUE ERA ASSESSOR DO DEP. JOSÉ COSTA . ERA NOSSO POINT NAQUELE FURDUNÇO , AO LADO DOS AMIGOS PAULO NEY E MÁRIO ZÉ BURRO . FOI UMA CURTIÇÃO , NUNCA ME ABRI TANTO NA MINHA VIDA . CULMINOU COM UM “BODE” DO COLESQUIM E SEU APELO DESESPERADO : ” PAULO NEY . . . TOME CONTA DO MEU BAR ! ” MUITO TEMPO DEPOIS , A GENTE ( NÓS TRÊS ) AINDA SE ABRIA COMENTANDO ESTE FATO ( TODOS JÁ SE FORAM , SÓ RESTA A MIM TESTEMUNHAR AS OCORRÊNCIAS . . . )

  6. Tamisa Vicente // 22 de março de 2022 em 10:03 //

    Gostaria de saber mais informações sobre esse festival, será que poderia me enviar o contato do pesquisador do texto ?
    agradeço imensamente!

  7. Marcos Ferreira // 23 de março de 2022 em 15:53 //

    Ideia fantástica da Profa. Solange Lages. Embora as dificuldades de locomoção para Marechal, a afluência foi muite grande.
    Um dos pontos de maior sucesso foi o BARECHAL. Bar com decoração das paredes feita com jornal PASQUIM. Som da melhor qualidade. Além da cerveja o Daikiri de maracujá.
    Muitas Hiistórias….

  8. Verdade Seja dita. Era 1975, Valter meu IRMÃO, tinha um Jeep 54 da Willy, famoso garassuma de guarda lamas quadrados, de cor cinza, sem capota, com um apito no escape, era uma apitasso infernal…
    Estavam com a gente: Mário Barros, Renato e Raimundo do Tio Miguel Ilisio, Geraldo e Flávio Gomes de Barros, Valter Almeida e Eu.
    Naquela época saímos de Anadia por Boca da Mata, NÃO existia Asfalto, estrada de Barro. Só existia
    Asfaltada a BR. 316, e a BR. 101…
    A rodovia da Br. 101 pra MARECHAL DEODORO, pela Tabela e a Matinha estava para ser asfaltada, sendo executados aterros, existia muitas máquinas trabalhando no trecho da BR. 101 até MARECHAL DEODORO.
    MEU ENCANTO pela primeira vez, em ver aquele mundão de águas da Lagoa Manguaba… Foi muito prazeroso, movimentação pelo dia era na Praia do FRANCÊS, com shows de Artistas diversos, entre Eles Luiz Gonzaga, Milton Nascimento, e Reginaldo Rossi…
    Lembro do grande SUCESSO de Reginaldo Rossi, ” nesse corpo meigo e tão pequeno há uma espécie de veneno tão gostoso de provar, monour amor meu bem má
    Famme”… tinha APRESENTAÇÕES de Bandas de Pife, GUERREIRO, TAIEIRAS, Baianas, entre outros folclores…
    MUITO bom, muitos hippies, e um
    Público de turistas com mulheres usando biquínis que eram novidades e chamavam ATENÇÃO dos homens…
    O Prefeito era Danilo, que usou a casa onde nasceu MARECHAL DEODORO, e colocou uma mesa enorme para dar frutas e café da Manhã para aqueles músicos e pessoas de apoio.
    A NOITE as festividades eram no centro Histórico, duas boates improvisadas com músicas mecânicas, uma no Mercado Público era Samba, Lambada e FORRÓ. A outra era paga pra ter acesso, funcionava na escola DEODORO na Praça Pedro Paulino,
    COM bandas de músicas, tocando frevos, Sambas e M P B.
    Tenho boas lembranças e muitas saudades…
    Eita VALTER FESTEIRO, ANIMADO, E BOCA QUENTE…

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