O Grito poético do modernista Francisco Valois
Francisco Valois de Andrade Costa nasceu na Av. Santos Pacheco nº 243, em Maceió, no dia 4 de junho de 1932. Era filho de Valois Licínio Costa e Alice de Andrade Costa.
Com a morte de seu pai em 1935 e de sua mãe no ano seguinte, quando tinha somente quatro anos de idade, foi morar em União dos Palmares sob os cuidados do seu tio José de Góes Andrade e de sua avó Maria de Góes Andrade, viúva do Tabelião Público Leocádio Pereira de Andrade.
Foi em União dos Palmares que, em 1940, iniciou o curso Primário no Grupo Escolar Rocha Cavalcante, aluno de D. Maria Leal Feitosa.
Em 1942 mudou-se para Maceió com sua avó e continuou o curso Primário no Grupo Escolar Pedro II. Voltou a morar em União dos Palmares no ano seguinte e lá concluiu este ciclo de ensino no Rocha Cavalcante.
No início de 1945, já em Maceió novamente, iniciou o Ginasial no Colégio Guido de Fontgalland. Em 1949, esteve no Colegial no Colégio Estadual de Alagoas. Voltou para o Colégio Guido de Fontgalland em 1950 e lá concluiu o Ginasial no ano seguinte. Somente iniciou seu curso de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito Alagoas em 1953. Concluiu em 1957.
Casou-se com Helena de Oliveira Costa e tiveram os seguintes filhos: Rosane Maria, Marco Aurélio, José Luís, Luciana Maria e Silvana Maria. São seus netos: Polianne, Priscila, Monike, Rodrigo, Francisco Valois, Layanne, Túlio César, Thaysa, Talles Henrique e Luana Christine. Seus bisnetos: Ana Beatriz e Luiz Guilherme.
O poeta
Em 1946, com apenas 14 anos de idade, já participava das atividades culturais no Colégio Guido. No ano seguinte começou a se destacar ao apresentar suas poesias nas reuniões do Grêmio Floriano Peixoto. Passou também a colaborar com a revista Mocidade, fundada e dirigida por José de Souza Alencar.
Coincidentemente, neste mesmo ano surgiu, a partir de Recife, o que veio a ser conhecido como o “Movimento Regionalista de 1947”. Eram a primeiras manifestações culturais da “geração de 45”, formada principalmente por estudantes dos cursos de Direito que participaram da luta pela redemocratização, contra a ditadura do Estado Novo.
Em 1947 eles davam vazão à consciência literária reprimida. Toda essa energia criativa, que buscava a renovação literária, artística e científica, encontrou guarida nos suplementos literários dos jornais, espalhando o movimento por outros Estados nordestinos.
Foi assim que o adolescente Francisco Valois passou a ser num dos poucos “combatentes” desta segunda fase do regionalismo modernista de Alagoas, que ganhou força com as crônicas dominicais do escritor José Augusto Guerra no Jornal de Alagoas.
Movido por esta inquietude poética, Francisco Valois enviou, em outubro de 1947, um dos seus sonetos para a Revista Careta no Rio de Janeiro. “Saudade” foi publicado na edição de 26 de outubro, seguido de duras críticas.
Saudade
Saudade: meu coração em latejo,
Meus ominosos olhos a chorar!…
Saudade: Minha mente em triste almejo,
Vivendo, eternamente, a meditar.
Saudade: meu triste olhar sem lampejo,
Minha face com prantos a rolar.
Saudade: as aves em lúgubre arquejo
Pousadas nas palmeiras a pensar…
Saudade de meu lar casto e querido,
Do luar que prateia entre palmeiras;
Saudade de meu vergel, tão florido!
Ó infância de pura beldade!
Onde estão as belas manhãs fagueiras?!…
Ó meu Deus como é triste esta saudade!
As críticas foram publicadas logo abaixo do soneto:
“Estão erradas no ritmo: o primeiro, o quinto, o décimo primeiro, o décimo segundo e décimo terceiro; tem sílaba demais o sétimo. Esses versos, prezado poeta, ficariam melhor em outra forma poética que não o soneto, o qual não tolera ‘fraquezas’ como as que aí se notam; rimas forçadas, ausência de enredo etc. Arranje isso numas quadrinhas de sete sílabas. Quando o Sr. Paulo de Gois Andrade se dirigir a nós diretamente, escalpelaremos o trabalho que o senhor diz ser da autoria dele”.
Nesse período, quando suas publicações eram encontradas em quase todos os números da revista Mocidade, também começou a escrever Hai-Kais e em 1950 já era considerado por Carlos Moliterno como um dos pioneiros no Brasil nesta arte.
Em 1º de agosto de 1950, foi um dos fundadores e dirigentes, ao lado de Arnoldo Jambo e Edson Zambrano, da revista literária Caeté, que circulou seu primeiro número naquela data, mas de forma reduzida, em formato de jornal. O segundo número foi para as ruas somente em julho de 1951. Era definida como uma revista de letras, artes e ciências, mas sem regularidade na periodicidade.
Foi a partir da repercussão dos seus escritos e de sua visão empreendedora, que em 1951, aos 19 anos de idade, Valois passou a integrar o corpo de redatores do Jornal de Alagoas como tradutor de telegramas.
Em 9 de setembro de 1951, Jorge de Lima publicou no texto De Poesia ,uma coluna no Suplemento Letras e Artes do jornal A Manhã (RJ) informações sobre uma visita que fizera a Maceió em meados do mês anterior.
Inicia assim o artigo: “Conheci pessoalmente há poucos menos de um mês os poetas novos de Alagoas. No mesmo dia de minha chegada a Maceió, Carlos Moliterno e Francisco Valois me entregaram seus livros inéditos para eu lesse. Li-os à noite desse dia de reencontros. Acho que esses dois poetas poderiam figurar em qualquer antologia moderníssima do jeito do que há pouco publicou o poeta Fernando Ferreira de Loanda”.
Sobre Valois, Jorge de Lima escreveu que era um jovem tímido e de poucas palavras, mas que “provocou-me mais que admiração, — ternura e comunicação poética. Depois de eu haver lido várias vezes um de seus sonetos, tive o prazer de ouvi-lo declamado por ele, num passeio de lancha que o Prefeito de Maceió nos proporcionou”.
E concluiu: “Faço daqui um apelo aos dois citados poetas a que me enviem os originais de seus livros, para minha frequente leitura”. Jorge de Lima tinha lido os originais de O Grito.
No dia 4 de julho de 1952, Valois estava em São Paulo participando do I Congresso de Escritores Infanto-Juvenis. Viajou em companhia de Cléa Marsiglia e Edson Zambrano graças à ajuda do governador Arnon de Melo. Lá apresentou a tese Da Influência do Folclore na Literatura.
O Grito
Dias depois de voltar a Maceió, lançou o livro O Grito — estava pronto desde 1949 e foi publicado pela Edições Caeté. Apresentava 35 poemas modernos e 17 “Hai-Kais”.
Chama de Amor foi um desses “Hai-Kais”:
“Amor — luz que embaça…
Poeira… Chama… Fogueira…
E logo — Fumaça…”.
A arte da capa do livro é do pintor Lourenço Peixoto. O Grito foi dedicado a “Arnon de Mello, Arnoldo Jambo, Carlos Moliterno, Jorge Cooper, José Augusto Guerra, Pe. Teófanes Barros, Romeu de Avelar, Silvio de Macedo, Théo Brandão e Wanderley de Gusmão”, além de “José e Maria de Góes Andrade, tio e avó, cujas mãos ampararam o meu destino de órfão”; aos tios Carlos e Ceciliano, aos primos Afrânio, Paulo, Dalma e Nadir e a memória de seus pais.
Quem prefaciou o livro foi o então também modernista Carlos Moliterno, que se referiu a Valois como “o grande poeta menor“, em dúbia referência aos 17 anos incompletos do autor e à sua baixa estatura física.
No Diário de Pernambuco de 19 de outubro de 1952, o crítico Mauro Mota assim ouviu O Grito de Valois: “Aparentemente é o grito de uma poesia que não ‘tem o pudor de falar alto’. Só na aparência. No mais, é uma voz tênue e tímida. A voz natural de um menino com bem raras afetações no sotaque. Como poderia ser o canto de um menino sem mãe e sem pai, dentro da noite de sua província, nesses lugares que são os únicos no mundo onde vemos a noite e o aceno dos seus fantasmas? Um canto tocado dessa mágoa, um canto de comovedora melodia”.
Avaliou ainda que “todas as comunicações de Francisco Valois têm essa experiência de sofrimento. E é essa experiência que, um dia, poderá conduzi-las às fronteiras do inextinguível”.
“Uma coisa é certa: com Francisco Valois não chegou um diletante nem um aventureiro. Chegou um poeta para realizar seu destino”, concluiu.
O livro teve sua edição esgotada rapidamente.
Ecos do Grito
O sucesso do livro colocou Francisco Valois de vez como um dos líderes do grupo que orbitava a revista Caeté, projeto responsável por “um pouco de agitação ao ambiente intelectual da terra”, segundo Carlos Moliterno.
O seu primeiro número chegou ao público pelas mãos de Arnoldo Jambo, Francisco Valois e Edson Zambrano. Tinha a pretensão de “pugnar por uma participação do escritor nos dramas que inquietavam os homens”.
O Conselho de Redação era composto por Théo Brandão, Romeu de Avelar, Sílvio de Macedo, Paulo Albuquerque, Carlos Moliterno, Hercílio Fonseca, Gilberto de Macedo, Wanderley de Gusmão.
No segundo número foi dirigida por Francisco Valois e Carlos Moliterno. Edson Zambrano era o secretário. No número seguinte, de outubro de 1951, foi publicada por Romeu de Avelar e Carlos Moliterno. Francisco Valois já não mais participava.
Em 15 de março de 1953, ao ser entrevistado pelo Diário de Pernambuco sobre o lançamento da Revista Acaiéme, esclareceu que o projeto desta publicação surgiu após ele ter se afastado da direção da revista Caeté.
Explicou que na condição de participante do “segundo regionalismo literário das Alagoas”, era um rebelde “em face de quaisquer atividades de ordem acadêmica, fui e continuo sendo muito intransigente com os imortais”, se referindo aos membros da Academia Alagoana de Letras.
Revelou que havia lançado a revista Caeté com o propósito de divulgar os novos valores da terra, “todavia, os meus companheiros de empresa, que, de início, muito enalteceram a minha ideia e consequentemente me emprestaram todo o apoio, no sentido de que Alagoas apresentasse um movimento digno de realce, foram, justamente, os que primeiro fracassaram, acatando os imortais e supostos escritores, já superados pelo tempo e pelo espaço”.
Preferiu se afastar. “[Pretendia que] os esclarecidos pudessem melhor analisar a minha condição de ‘novo’, a minha independência literária, embora o ambiente exigisse um certo servilismo e mesmo não comportasse uma divisão de grupos, dado o número muito pequeno de homens que se interessassem pelas coisas do espírito”, justificou.
Esse seu antagonismo com a Academia levou o seu livro O Grito a não ser escolhido em 1952 para receber o Prêmio Othon Bezerra de Mello, oferecido pela Academia alagoana de Letras.
Em entrevista ao Diário de Pernambuco em 11 de janeiro de 1953, Valois explicou que a AAL alegou que o seu livro era de poesias “modernistas” e “herméticas”, “não chegando à compreensão dos acadêmicos”. Na verdade, argumentou, houve um desentendimento entre ele e a “Egrégia Entidade de Letras”, motivado por haver “atacado aquela Colenda Instituição em artigo publicado no suplemento literário da Gazeta de Alagoas, edição de 27 de outubro de 1949”.
“O certo é que concorri a esse prêmio, não com o intuito de ser o detentor dos 20 contos de réis, mas somente para ver até que ponto chegaria a Academia Alagoana de Letras, quando do julgamento dos livros apresentados. Isto é, em que grau de atraso literário estariam os julgadores”, esclareceu.
Eram os últimos embates dos modernistas contra “as fortalezas do parnasianismo”, como Otto Maria Carpeaux definia o academicismo reinante em Maceió. Essa corrente resistia, mesmo após ter perdido para o “Moderno” um dos seus pilares: Jorge de Lima.
Em janeiro de 1953, em parceria com a poetisa Cléa Marsiglia, Francisco Valois já anunciava o lançamento para breve da revista Acaieme “para a divulgação dos valores da terra alagoana. Mas ela só divulgará, estritamente, a mensagem dos ‘novos’ da província”, informou em entrevista ao Diário de Pernambuco de 11 de janeiro daquele ano.
Dois meses depois explicou ao repórter do Diário de Pernambuco (14 de março de 1953) o que ele e a sua sósia no empreendimento pretendiam realizar: “[Queremos fazer] alguma coisa que provoque escândalo na esferas literárias da Província, que mobilize todas as suas forças intelectuais e que alcance a melhor repercussão nos centros literários mais adiantados do país”.
Circulou seu único número em fins de março, contendo a colaboração de Valdemar Cavalcanti, Alfredo Brandão, Sérgio Milliet, Haroldo Bruno, Jorge de Lima, Reynaldo Beirão, Lêdo Ivo, Breno Accioly, Cléa Marsiglia, Francisco Valois, José Gonçalves de Oliveira e ilustrações dos pintores Darcy Penteado (paulista), Lourenço Peixoto e outros. Tinha o formato do “Jornal de Letras”.
Ainda em 1953, Francisco Valois passou a dirigir também a Revista Fênix Alagoana, órgão oficial do Clube Fênix Alagoana e provavelmente sendo o pioneiro na crônica social em Alagoas. a revista circulou até o ano seguinte.
Assinava também as colunas semanais Homens, Letras & Fatos, na Gazeta de Alagoas e Bailes de Muitas Artes do Jornal de Alagoas, nos suplementos literários destes impressos.
Em 1954 foi morar em Recife, onde foi admitido como redator do Diário de Pernambuco, e teve participação nos movimentos literários, convivendo com César Leal, Fernando da Câmara Cascudo, Carlos Pena Filho, Mauritônio Meira, Mauro Mota, Aderbal Jurema, Edmir Regis, Edilverto Coutinho, Edmir Domingues, José Gonçalves de Oliveira, Fernando Craveiro, Wilton de Souza (artista plástico), Oliveiros Litrento, Altamiro Cunha (cronista social), Fernando Vasconcelos Coelho e outros.
No ano seguinte voltou a Maceió para estabelecer vínculos empregatícios com a Caixa Econômica Federal de Alagoas e concluir, em 1957, seu curso de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito Alagoas iniciado em 1953.
Na Faculdade, continuava a escrever seus sonetos e Hai-Kais, a exemplo deste de 1956:
No espelho do lago
A Lua se banha nua
Num mergulho vago.
Em 1958, quando já tinha resolvido seus conflitos com a Academia Alagoana de Letras, recebeu os prêmios literários “Aloisio Branco” e “Arthur Ramos“. No ano seguinte, seu ensaio “Dos XIV alexandrinos aos poemas telúricos” conquistou o Prêmio Arthur Ramos. Ainda em 1959 recebeu o Prêmio Sabino Romariz com “Canção em forma de soneto”, ambos da AAL.
Em 1964, passou a colaborar também para o suplemento literário do Correio de Maceió.
O economiário
Francisco Valois foi admitido na Caixa Econômica Federal de Alagoas em 16 de maio de 1950. Tinha 17 anos e foi contratado como Auxiliar de Escritório. No mesmo dia foi designado para a Função Gratificada de Auxiliar de Gabinete da Presidência, lotado na Secretaria Geral sob a supervisão de Carlos Ramiro Basto.
Mesmo não sendo um servidor efetivo, participou da fundação da Associação dos Servidores da Caixa Econômica Federal de Alagoas – ASCEFAL, que se instalou em 2 de agosto de 1953. Francisco Valois era o vice-presidente da diretoria.
Em 5 de outubro de 1954, foi aprovado em concurso público para o cargo de Escriturário da mesma instituição, classificando-se em 1º lugar. Enquanto aguardava ser chamado para assumir as mesmas funções que já exercia, passou alguns meses em Recife, de onde somente voltou no ano seguinte.
Com a extinção da função gratificada de Auxiliar de Gabinete da Presidência em 10 de fevereiro de 1956, foi transferido para a recém-criada Agência de Penedo, onde passou a exercer a função de Caixa.
Em 15 de novembro do mesmo ano já estava de volta à sede da CEFAL, onde foi lotado como substituto na chefia da Carteira de Depósitos. Pouco tempo depois foi designado para a Secretaria Geral, encarregado dos encargos do núcleo de pessoal.
Cada vez mais envolvido com a CEFAL, Valois foi rapidamente sendo chamado para cumprir funções de destaque na direção da instituição, se consolidando também como liderança da sua categoria, os economiários.
Unificação das Caixas Econômicas
Uma das aspirações dos servidores de então era a unificação das Caixas Econômicas, possibilidade que foi aventada pela primeira vez em 1946, quando o presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, chegou a elaborar um projeto com esse fim.
A partir de então, constituiu-se uma Comissão Pró-Unificação das Caixas Econômicas Federais do país para a criação da Caixa Econômica do Brasil.
Foi essa comissão que, em 1951, conseguiu que o deputado federal Dario de Barros (SP) apresentasse o Projeto de Lei de nº 518/51 com esse intuito. Foi duramente criticado e acusado de ter copiado o projeto de 1946. Em 30 de setembro de 1953 a Comissão de Economia rejeitou o projeto.
O assunto voltou a ser levantado durante o 1º Congresso Nacional das Associações Economiárias, realizado em São Paulo entre 9 e 14 de novembro de 1959.
Francisco Valois, que representou a Associação dos Servidores da Caixa Econômica de Alagoas — ocupou a terceira secretaria da Comissão Executiva do Congresso —, foi o autor da tese “Da Necessidade de Unificação das Caixas Econômicas Federais e Institucionalização do Regime Jurídico dos Economiários”, contendo um anteprojeto de Lei que pretendia ver encaminhado ao Poder Legislativo. O relator foi o carioca Carlos Lenine Vilanova.
A plenária do Congresso aprovou uma moção de aplauso a Valois e recomendou que “a tese fosse impressa e distribuída às Associações de todas as Caixas Econômicas, para estudo e, após, submetida ao próximo Congresso”.
No II Congresso Nacional de Associações Economiárias, realizado em Recife, em 1961, Valois voltou a representar os economiários alagoanos sendo eleito Presidente de Comissão de Estudos.
Também representou sua Associação no Congresso Nacional Extraordinário de Associações Economiárias realizado no Rio de Janeiro em 1962, onde foi eleito Presidente do encontro.
A unificação voltou a ser discutida novamente já no governo militar de Castelo Branco, quando o presidente da Caixa do Rio de janeiro, Antonio Viana, apresentou um plano de unificação. Um projeto foi enviado à Câmara dos Deputados, mas a “maioria” resolveu segurá-lo até receber orientação do Executivo.
Em 1968, o presidente general Costa e Silva demonstrou interesse na unificação e pelo Decreto nº 63.417, de 11 de outubro daquele ano, designou uma Comissão Interministerial, dos Gabinetes da Fazenda e do Planejamento, para em 30 dias elaborar o anteprojeto de unificação.
Ainda em 1968, no dia 28 de novembro, o presidente da Comissão Executiva do Encontro Nacional de Associações Economiárias, Artur Ferreira, em entrevista ao Diário de Notícias, indicou que essa unificação tinha sido apoiada unanimemente no Congresso da categoria e que seria a grande solução para os problemas vividos pela instituição.
“Lembrou o Sr. Artur Ferreira de Sousa Filho que a unificação das Caixas foi tese levantada em 1959, durante o I Congresso das Associações Economiárias, pelo representante alagoano Francisco Valois”, informou o Diário de Notícias.
Somente em 31 de julho de 1970, após um longo período de transição, as Caixas foram formalmente unificadas simbolicamente com a inauguração da sede da Caixa Econômica Federal (CEF) no Rio de Janeiro.
Gerente
Após ter sido nomeado Subsecretário Geral em 20 de maio de 1962, Secretário Geral em 20 de novembro de 1964 e de Chefe de Gabinete da Presidência entre 1º de julho de 1969 e 31 de julho de 1970, Francisco Valois foi nomeado, em 1º de agosto de 1970, para a função de Gerente da Agência Central da Filial de Alagoas da CEF, hoje Agência Rosa da Fonseca, cabendo-lhe a sua implantação.
Um ano depois foi designado para como Chefe da Divisão de Pessoal e em 20 de dezembro de 1971 chegou à Gerência de Operações da filial de Alagoas, substituto imediato do Gerente Geral.
Assumiu a Gerência Geral (Superintendente de Negócios) em 1º de julho de 1977, ocupando a vaga deixada por seu titular, João Paulo Moury Fernandes Netto, que havia sido designado para a Coordenação Regional da CEF, no Nordeste, com sede em Recife.
Francisco Valois aposentou-se a pedido, por tempo de serviço, em 5 de agosto de 1981.
Acadêmico
Durante o período em que foi economiário e mesmo depois de sua aposentadoria, Valois manteve sempre acesa a chama do jornalista e do homem das ciências e das letras.
Foi ele quem, em 1970, fundou a Tribuna Economiária, órgão da Assefal. Editou também por muitos anos a Revista da Academia Alagoana de Letras e a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas.
Coordenou ainda os Suplementos Literários Tribuna Cultural, da Tribuna de Alagoas; Cultura, de O Diário; Letras & Artes de O Jornal; Letras & Artes, da Tribuna de Alagoas; Tribuna Literária, da Tribuna do Sertão, de Palmeira dos Índios.
Somente em 22 de setembro de 1972 foi admitido na Academia Alagoana de Letras na vaga deixada por Reynaldo Gama, passando a ocupar a cadeira 24. Nesse período também foi empossado na Academia de Letras e Artes do Nordeste e aceito como sócio correspondente da Academia Paraibana de Letras.
Teve participação ainda na Associação dos Diplomados pela Escola Superior de Guerra (Adesg), tendo publicado o trabalho em grupo “Irrigação e sua Importância para o Desenvolvimento de Alagoas“, por ocasião do IV Ciclo de Estudos sobre Desenvolvimento e Segurança, promovido em Maceió.
Em parceria com Carlos Moliterno, Luiz Renato de Paiva Lima e Manuel Teles, criou a revista Letras & Artes em 1980.
Foi assessor técnico da Secretaria de Planejamento em 1983 e no ano seguinte era o Coordenador de Planos e Programas da mesma Secretaria.
Chefiou o gabinete da Secretaria de Comunicação Social e da Secretaria de Cultura em 1985, compondo também o Conselho Estadual de Cultura. Chegou a subsecretário da Secult em 1987.
Foi empossado como sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas em 29 de janeiro de 1986. Ocupou a cadeira 56, cujo patrono é Estevão de Menezes Pinto.
Na Assembleia Legislativa Estadual, foi Assessor Parlamentar Especial e depois integrou a Comissão de Redação Final da Constituição do Estado de Alagoas.
Em 2001 foi nomeado Coordenador de Administração e Planejamento da Fundação Municipal de Ação Cultural.
Francisco Valois faleceu em 30 de dezembro de 2007. Em sua homenagem, a Prefeitura da capital denominou como Rua Doutor Francisco Valois, uma via do bairro da Serraria.
Obras
O Grito: Poesia, Maceió: Ed. Caeté em 1952 (poesia).
Rosa da Manhã Nascente, Maceió: SERGASA 1979, (poesia);
A Noite Reinventada, Maceió: Edições Catavento, 2001;
Irrigação e Sua Importância Para o Desenvolvimento de Alagoas, Maceió: Ed. Edisa, 1973 (trabalho de grupo da ADESG, coautoria);
Discursos Acadêmicos – Editora Edisa, 1973 – Maceió-AL;
Testamento Poético de Jorge de Lima, 1958, (conferência).
Originalidade e Intemporalidade de um Poeta, 1976, (conferência);
Jorge de Lima – Vida e Poesia, 1976 (conferência);
Da Influência do Folclore na Literatura (tese apresentada no Iº Congresso de Escritores Infanto-Juvenis, São Paulo, 1952);
Um Soneto e Três Poemas, Revista da AAL, n. 5, p. 15-16;
Tirania da Fonte, Revista da AAL, n. 6, p. 17-20 (poesia);
Poemas, Revista da AAL, n. 7, p. 31-32;
Poemas, Revista da AAL, n. 8, p. 12-16;
Poemas, Revista da AAL, n. 9, p. 14-16;
Poemas de Francisco Valois (Signo Estelar e O Menino e o Relógio), Revista da AAL, n. 10, p. 11;
Hai-Kais, Revista da AAL, n. 11, p. 19-20;
O Movimento Modernista de 22 foi Eclipsado Pela Geração 45, Revista da AAL, n. 11, p. 83-93 (entrevista com Jorge Cooper);
A Alta Cultura Está Sendo Morta Pela de Massa, Revista da AAL, n. 12, p. 45-50, (entrevista Wanderley de Gusmão);
Discurso Necrológico, Revista da AAL, n. 12, p. 73 (poesia);
Preservação e Renovação, Revista da AAL, n. 12, p. 167-173 (discurso de recepção);
Orfeu das Solidões Marinhas, Revista da AAL, n. 13, p. 77-95 (entrevista com Carlos Moliterno);
Dois Poemas de Francisco Valois: Soneto Inacabado e E Agora, Drummond? Revista da AAL, n. 13, p. 136-138;
Reynaldo Gama, Revista da AAL, n. 13, p. 267-268;
Lições de uma Vida, Revista da AAL, n. 14. p. 329-335;
Um Poema e Quatro Hai-Kais, Revista da AAL, n. 15, p. 127;
Jorge de Lima: Tradição, Transição & Modernidade, Revista da AAL, n. 17, p. 169-171;
Oração de Saudação ao Acadêmico Jayme Lustosa de Altavila, Discurso Pronunciado em Sessão Solene da Academia Alagoana de Letras em 14 de setembro de 2000, Revista da AAL, nº 18, p. 331-335;
Devaneio Cultural, Revista da AAL, n. 19, Maceió, AAL, 2003, p. 135-138 (ensaio);
Valdemar Cavalcanti, Revista IHGAL, Maceió, 2004, v. 46, p. 154-164;
Da Necessidade de Unificação das CEF e da Instituição do Regime Jurídico dos Economiários (tese);
Com Soneto e Tirana da Fonte participou de Notas Sobre a Poesia Moderna em Alagoas. Antologia, de Carlos Moliterno, p. 222-223;
Matheos de Lima – O esteta da palavra e Memória de jornal – Perfis & depoimentos.
Inéditos
Jorge de Lima, tradição, transição & modernidade.
O soneto no cancioneiro alagoano.
Alguns poemas
Chama de Amor
“Amor – luz que embaça …
Poeira…Chama…Fogueira…
E logo – Fumaça…”.
Os olhos
“Os olhos são rios
cheios de peixes cegos;
são o retrato mudo
da morte sempre viva.
São um poco profundo
refletindo nuvens brancas,
onde os acontecimentos vão se retratar;
são o quadro, o espelho
das visões (fantástico!);
a flor, a face obscura
que acolhe o sono;
são o anel do silêncio
onde funde-se o mistério:
a lâmpada, o opaco”.
São João
Os primeiros fogos se cruzam dentro da noite
e se fundem erradios entre brilho molhado das estrelas…
Balão que sobe
Balão que desce
onde o menino ficou soltando pistolão?
Vamos, Rosa, saltar a fogueira de São João.
Nas ruas, os cedros estalam e vomitam golfadas de fogo dentro da umidade da noite:
– há destinos destruídos na fumaça evocativa,
enquanto ao som da sanfona
dorme a lembrança do menino triste.
– Balão que sobe,
que sonhos levas
para as alturas?
– Balão que desce
em que bacia
ficou boiando a minha face
Atrás da parede do tempo,
ressoam os gritos estridentes do menino morto
redivivo nas explosões do meu lirismo.
São João, meu São João!…
Busca
“Olhar espraiado longínquo
buscando formas antigas
vagas imagens flutuando
nas ondas leves do sono”.
Soneto a Rosa da Manhã Nascente
Da fuligem do tempo entardecido,
emerge a rosa da manhã nascente:
— plenilúnio de agosto acontecido
vogante pelo espaço opalescente.
No canteiro do olhar anoitecido,
— fonte de orvalho puro e permanente —
opaliza-se a rosa e, renascido
o tempo, um novo mundo se pressente:
(dissimulado, o sol poreja sangue
e, no pálio do céu, a lua exangue
vela a noite da infância adolescida)
— é que a rosa de cor avermelhada
transfigurou-se em flor purificada
nascente na manhã azulecida.
Muro
Meus olhos no latejante brilho das pedras
são dois peixes dentro da lâmpada
No pátio o vento toca realejo na folhagem
— Além sou eu me reproduzindo em mim mesmo.
Das nuvens rebentam seios das amadas
adormecidas na praia
(Entre os meus dedos
as horas se escorrem líquidas)
Impossível ser pássaro
riscar no céu
num voo incontido
e retornar à infância sem horizontes.
Amigo Ticianelli, através desse seu trabalho, pude me inteirar mais sobre Francisco Valois, que tive a oportunidade de conhecer e conversar por diversas vezes em encontros de família na sua residência no Trapiche e na casa no Sonho Verde. Ele era sogro do meu cunhado João França casado com a filha caçula Silvana. Era um fidalgo de uma gentileza incomum. Em papos descontraídos em encontros em suas residências saboreando umas cervejas geladas, tive por diversas vezes a oportunidade de mim inteirar da sua cultura. Parabéns amigo pelo seu importante trabalho. Marcos Guimarães.