O Golpe Militar de 1º abril de 1964 em Alagoas
Em Alagoas, o fato político mais relevante nos dias que antecederam o Golpe Militar de 1964 foi a preparação para o comício do dia 29 de março na Praça do Pirulito (Parque Rodolfo Lins), em Maceió.
A Central Geral dos Trabalhadores (CGT), com o apoio da União Nacional dos Estudantes (UNE), União Estadual dos Estudantes de Alagoas (UEEA) e Partido Comunista Brasileiro (PCB), marcou para o dia 29 de março, um domingo, o ato de apoio ao presidente João Goulart e as suas Reformas de Base.
Na Câmara Municipal de Maceió, o vereador Juvêncio Lessa apresentou, no dia 24 de março, um requerimento de repúdio à manifestação. Foi aprovado pela maioria dos dez vereadores presentes.
Nilson Miranda, que também era vereador e dirigente do PCB, não gostou da decisão e rasgou o requerimento aprovado. Esse gesto seria utilizado, dias depois, como desculpa para a cassação do seu mandato, que ocorreu na sessão de 4 de abril, quando o parlamentar já estava foragido.
A reação ao comício se deu, principalmente, pelo anúncio das presenças de Leonel Brizola e Miguel Arraes em Maceió. Isso incomodou as forças conservadoras em Alagoas, que reagiram anunciando que o Movimento Popular pela Democracia realizaria uma manifestação no mesmo dia e hora, mas na Praça Deodoro.
Luiz Cavalcante, governador do Estado, com o argumento de que poderia haver choques entre os oponentes, desautorizou os dois comícios.
Com a desistência de Brizola, que argumentou já ter assumido compromissos no Rio Grande do Sul, e com as ameaças a Miguel Arraes, a manifestação terminou ocorrendo na sede do Sindicato do Petróleo, na Rua 2 de Dezembro, Centro de Maceió.
Djalma Falcão, no seu livro Episódios, deu informações importantes sobre a animosidade que existia em Alagoas contra Miguel Arraes. Ele conta que vinha de Recife para Maceió na manhã do dia 31 de março de 1964, quando, aproximadamente às 10h, na divisa entre Pernambuco e Alagoas, foi parado por um piquete de policiais armados de metralhadoras.
Quem comandava a operação era o delegado Albérico Barros, que reconhecendo Djalma Falcão explicou o motivo da presença policial na fronteira. “Recebi ordens do Secretário de Segurança Pública para impedir o ingresso de Miguel Arraes em território alagoano”.
E continuou: “É bom que ele volte daqui. Se chegar a Maceió, o Coronel João Mendonça (Mendonça era o Secretário de Segurança Pública do Governador Luiz Cavalcante) manda passá-lo nas armas ainda hoje. Pode acreditar no que estou lhe dizendo. Isso ficou acertado numa reunião do Coronel João Mendonça com o pessoal do açúcar, ontem, numa casa da Praça Sinimbu. Os homens que vão ‘fazer o serviço‘ já se encontram lá”.
Djalma Falcão também registrou que se a viagem fosse por via férrea, os trilhos seriam dinamitados num local entre São José da Lage e União dos Palmares.
Acrescentou ainda que um dos pistoleiros contratados tinha o nome de Osório e estava escondido na Colônia Agrícola Pindorama, em Coruripe. Tinha sido enviado a Alagoas pelo deputado José Lopes de Siqueira, proprietário da Usina Estreliana, localizada em Ribeirão, Pernambuco.
Quem fez contato com o suíço René Bertholet, superintendente da Colônia Agrícola Pindorama, para guardar o pistoleiro foi o deputado Nelson Costa. Djalma revela ainda que o juiz de Direito, Gabriel de Freitas Soares, que na época era advogado da Colônia Pindorama, conhecia toda a trama para matar Arraes, tendo denunciado isso ao deputado Claudionor Lima e ao vereador Nilson Miranda.
O jornalista Iremar Marinho, à época morando em União dos Palmares, também recorda do dia 31 de março e da mobilização para impedir a entrada em Alagoas de Miguel Arraes.
“Eu estava, à tarde, no centro da cidade, na escola de datilografia de Dona Rosinha, esposa de Maurino Veras, dono do Cine Brasília, quando Antônio Aragão, exímio datilógrafo, no cartório de seus pais, Sanelva Aragão e Dona Esmeralda Valença, chegou à calçada e exortou, em tom irônico, que Maurino pegasse seu fuzil e fosse para a estação ferroviária participar do cerco local contra a passagem de Miguel Arraes e sua comitiva. Aragão obteve de Maurino Veras a resposta de que era funcionário público e não poderia participar daquele tipo de tarefa”.
Iremar testemunhou que viu as armas arregimentadas contra o então governador de Pernambuco: “Ao sair da escola de Dona Rosinha, passei pela praça vizinha à estação ferroviária e vi vários cidadãos palmarinos, com espingardas e cartucheiras nas mãos, se acomodando num dos vagões do trem de carga. Era o cerco, com a ordem para fuzilar Miguel Arraes e todos os que viessem com ele”.
A véspera
José Moura Rocha, em Os ricos não tugem e os pobres não mugem, lembra dois episódios que aconteceram na véspera do golpe militar. O primeiro envolveu Jayme Miranda, que segundo Moura Rocha chegou até a sua casa na Praça do Centenário, desceu da garupa de uma lambreta e entrou pedindo uma arma e refúgio.
Argumentando que na vizinhança morava o capitão Vieira, do Exército, Moura disse que não podia garantir a segurança dele. Explicou que a casa vizinha dos Pedrosas, parentes do Jayme, tinha sido invadida e todos foram presos. Jayme Miranda não encontrou refúgio e nem a arma que precisava.
O segundo episódio teve como protagonista o então deputado Claudenor de Albuquerque Lima, que ao lado do também deputado Abrahão Moura, dois janguistas ferrenhos, tinham um acordo desde de 1963 para dar suporte armado no embate contra os que ameaçavam derrubar João Goulart, mobilização que só aconteceria com a autorização de uma senha vinda de Brasília.
Assim, no dia 31 de março, duas camionetas C-10 vermelhas estacionaram na porta da casa do advogado Moura Rocha. Claudenor desceu de um dos carros e anunciou que os veículos estavam carregados de armas.
— O material está aí, prontos para o que der e vier!
Moura explicou a situação: “Destemor, lealdade, bravura; ou loucura? Com o coração aos saltos, fora-nos impossível explicar-lhe que não recebêramos a instrução de Brasília. Não tínhamos tal senha. Portanto, ele deveria escafeder-se; esconder o explosivo material bélico”. Claudenor foi embora surpreso e ressentido.
O próprio Moura revela que teve que se esconder com a família. Primeiro na casa sede da Usina Uruba, de Maurício Gondim. Depois num casebre de um trabalhador rural. Após enviar a família de volta para Maceió, Moura se abrigou na Fazenda Porangaba, da família de Abrahão Moura. Não demorou e teve que se mudar para outra fazenda em Cacimbinhas.
No dia 21 de abril de 1964, após receber a informação que não havia nada contra ele, Moura Rocha se apresentou, no Quartel do Exército, ao coronel Carlindo Simão. Permaneceu detido no local até o final da manhã, sem ser ouvido por ninguém. De lá foi levado à Penitenciária da Praça da Cadeia onde permaneceu por oito meses.
O Golpe nas Rádios
Jorge Vilar, no livro Vi, vivi, e estou contando, lembra que no dia 31 de março de 1964 apresentava na Rádio Gazeta o programa DISCOFONE, que ia ao ar entre 20h30 e 22h, quando, ao chegar ao fim do programa, entrou no estúdio o Diretor Geral da Emissora, José Barbosa de Oliveira, e perguntou sobre as notícias da queda de João Goulart.
Vilar fez-se de desentendido e disse não saber de nada. Barbosa contou o que estava acontecendo e pediu que ele ficasse na Rádio até quando ele mandasse tirar do ar, o que normalmente aconteceria à meia-noite. A Rádio ficou o ar até às 3h da madrugada transmitindo o que as emissoras do Sul noticiavam.
Dois dias depois, Jorge Vilar foi encarregado por Barbosa de entrevistar o coronel Carlindo Simão. Como Vilar era locutor esportivo e apresentador de programas musicais, avaliou que Barbosa “estava aproveitando para me entregar aos milicos e subir degraus”.
O motivo para Jorge Vilar ter tais temores era a sua participação no movimento estudantil do curso de Direito e as boas relações que tinha com Nilson Miranda, vereador em Maceió e ex-presidente do Sindicato dos Radialistas.
Ele recorda que na noite anterior, ao chegar em sua casa, perto do Mercado, lembrou que Nilson Miranda o havia presenteado com alguns livros, entre eles um sobre Che Guevara. “Apavorado, saí de casa e fui até o Vergel do Lago, na beira da lagoa. Tudo deserto. Olhei para os lados, risquei um fósforo e queimei todos os livros dados pelo companheiro Nilson Miranda”.
Dias depois, Vilar soube na Faculdade de Direito que andaram perguntando aos seus colegas se ele e Eliezer Inácio eram comunistas. Os colegas disseram que eles eram anarquistas. Segundo o radialista, isso livrou eles do pior.
Cláudio Alencar é outro radialista que registrou o dia 31 de março de 1964. No livro Histórias do Rádio, conta que estava respondendo pela Rádio Difusora por ter o diretor Humberto Cavalcanti viajado ao Rio de Janeiro.
Alencar manteve a rádio no ar enquanto aguardava instruções do coronel Gerson Argolo, chefe do Gabinete Militar do governador Luiz Cavalcante, para saber o que transmitir.
“Na medida em que a reação militar ia se consolidando, anunciávamos o que acontecia. Com a indicação do marechal Humberto de Alencar Castelo Branco para assumir a junta militar que a partir de então governaria o país, começou a caça às bruxas”.
A Rádio Progresso também foi atingida pelas forças golpistas. Já no dia 31 de março pela manhã foi retirada do ar por ter “transmitido programação subversiva”. Somente voltou a funcionar na tarde do dia 3 de abril, sem o radialista Castro Filho, que conseguiu fugir mas foi preso dias depois em Palmares, Pernambuco.
Tentativa de reação dos estudantes
Anivaldo Miranda, em depoimento à Comissão da Verdade dos Jornalistas Alagoanos, descreveu o clima de Maceió na manhã de 1º de abril.
“Eu fui despertado no dia 1º de abril pelo tio da Olga Miranda, Hélio Miranda, meu primo, que acordou nossa família na madrugada dizendo que deveríamos já nos movimentar porque o golpe estava na rua.
Diante disso, tomamos um café rápido e fomos para a rua. Não tínhamos noção da real situação. Logo depois, sentiríamos na carne que o golpe viria para valer. Fomos para a União Estadual dos Estudantes (UEEA), montamos um serviço de autofalante e começamos a tocar os hinos nacional e institucionais da civilidade brasileira, convocando os estudantes e o povo a resistir, chamando para uma passeata para 15 horas.
No entanto, por volta das 10 horas, alguém puxou a mim e a meu irmão Valdimir, que éramos da família Miranda, uma família visada, e nos avisou que o vereador Renalvo Siqueira já havia sido preso.
Em função dessa notícia, dali nós saímos para a casa de Walter Pedrosa, na Praça do Centenário (naquele tempo era fronteira de Maceió com a zona rural), e ele só teve tempo de abrir o portão porque a Polinter já vinha prendê-lo.
Nós avisamos e corremos pelo quintal, fugimos e nos machucamos nos muros com vidros e fomos parar na Pitanguinha. E o povo quando via a gente com as mãos de sangue, imaginava que havíamos matado alguém.
Foi quando um trabalhador da Petrobrás nos deu abrigo. Meu pai, à noite, foi nos buscar e nos deixou na casa de um primo, Samuel Caldas, e quando voltou para casa foi preso e amargou nove meses de cadeia”.
O empastelamento da Voz do Povo
O primeiro ato da Ditadura em Alagoas foi calar a imprensa e destruir a possibilidade de comunicação da forças de esquerda. O semanário A Voz do Povo, jornal do PCB dirigido por Jayme Miranda, foi invadido e teve seus equipamentos quebrados, jogados na rua e queimados.
O jornalista Anivaldo Miranda, que era filiado ao PCB e trabalhava no jornal, recordou que os agentes do Dops receberam ajuda da juventude fascista da Patrulha Nacional Cristã, um agrupamento liderado pelo professor de francês Vanilo Galvão Barros.
“Todos que odiavam os comunistas, sindicalistas, se dirigiram para a Voz do Povo para invadir o jornal, empastelar sua sede, quebrar as suas máquinas e fazer fogueira com seus móveis e papéis em plena rua, em cena de vandalismo que não se via em Alagoas desde os tempos coloniais”.
O jornalista Ricardo Neto também lembra do empastelamento da Voz do Povo. “Vi pela janela do jornal Gazeta, junto com Batista Pinheiro, Ilmar Caldas e Zadica, quando a Polinter começou a quebrar tudo. Todos de metralhadora. Uma lembrança muito viva, pela violência como se deu. Para mim, foi um choque. Aí nós caímos na real. Eu era repórter de polícia e o chefe da Polinter, que eu conhecia, estava lá”.
O Jornal de Alagoas, na sua edição de 5 de abril de 1964, informava que o chefe geral da Polinter, Albérico de Barros, “ocupou o jornal comunista ‘A Voz do Povo’, onde conseguiu apreender grande quantidade de importantes documentos entre os quais um deles que visava a eliminação de altas autoridades de Estado de Alagoas”.
Prisões no Sindicato da Petrobras
Jandival Lyra Gabriel, o Vavá, um dos fundadores do Sindicato da Petrobras em 1961, revela em seu livro Memórias de um Líder como aconteceu a ação da polícia contra o sindicato, que tinha sede na Rua 2 de Dezembro, no Centro de Maceió.
Ele conta que soube do golpe militar às 23h de 31 de março, quando saía do sindicato para lanchar em um bar que ficava na Praça D. Pedro II e ouviu pelo Repórter Esso, em edição extra. Saiu dali para avisar aos dirigentes do sindicato e mobilizar a categoria. Jandival informa que alguns colegas foram a uma rádio convocar os petroleiros.
“Eu, como delegado sindical, fui ao Tabuleiro onde era o depósito de materiais da Petrobrás e garagem dos veículos pesados. Trago três caminhões para trazer os companheiros que moravam no Tabuleiro. A maioria era de lá”, lembra.
Ele estacionou os caminhões perto do antigo Hotel Beiriz, na Rua do Sol, e pediu que todos aguardassem enquanto se dirigiu a pé até o Sindicato. Quando chegou na porta, encontrou vários policiais vestidos como cangaceiros, de mescla azul e portando metralhadoras.
“Quando tentei entrar, os militantes da Polinter puseram balas na agulha e apontaram para minha barriga e disseram: Não entra e nem sai ninguém daqui”. Jandival disse que queria falar com Alan Brandão, o vice-presidente do Sindicato.
Com o argumento de que precisava decidir se mandava ou não o pessoal de volta ao trabalho, conseguiu falar com o delegado da Polinter, Albérico Barros, o Barrinhos, a quem pediu para falar com Alan.
“Ele me disse: o Alan está preso. Eu insisti (…). Ele mandou buscar o Alan, quando o Alan chegou, piscou o olho e eu entendi que era para me mandar, porém, para confirmar (…) perguntei ao Alan: Posso mandar o pessoal voltar ao trabalho? Ele disse: Pode, pode companheiro, avise aos demais a voltarem ao trabalho”.
Barrinhos se aproximou de Jandival e pediu um cigarro. Ele conhecia o delegado, que tinha sido o piloto do helicóptero que o levava para as sondas da Petrobrás. Em seguida, Barrinhos explicou:
“Lamento muito, mas estou cumprindo ordens. A ordem sabemos foi dada pelo Exmo. Sr. Comandante do 20º BC, Carlindo Rodrigues Simão, (…) de acordo com o ofício RA/64 autorizando a Polinter a invadir o Sindicato e prender toda a Diretoria e associados que estivessem no Sindicato”.
Jandival conta que saiu dali e chegando na Rua do Sol correu até onde estavam os trabalhadores e mandou os motoristas recolherem os caminhões e todo mundo voltar para suas casas. “Não sei como os companheiros conseguiram chegar às suas casas porque ônibus não tinha neste horário”.
Após orientar o pessoal, Jandival e o motorista Paulo entraram na camionete da empresa e pela Rua do Comércio foram até a Praça dos Martírios. “Quando entro ao lado da igreja e tento descer via Cambona, olho para a Praça e vejo um ninho de metralhadoras”.
O líder sindical lembra que ainda ouviu um policial gritar para outro que era uma camionete da Petrobras. “Observo que um deles tenta pegar a metralhadora. Eu disse: corre, corre Paulo a toda velocidade. Abaixei-me e mandei que Paulo abaixasse um pouco e em toda velocidade conseguimos sair ilesos”.
De volta ao almoxarifado da empresa, Jandival ficou sabendo que uma das camionetes da Petrobras, que trocava o pessoal dos turnos de trabalho, tinha sido metralhada no posto fiscal do Tabuleiro. Um dos trabalhadores foi atingido no pé e levado para o hospital. Ele situa esse ocorrido entre 0h40 e 1h00 da madrugada do dia 1º abril de 1964.
No dia 7 de abril de 1964, o Sindicato do Petróleo sofreu intervenção. A prisão preventiva dos sindicalistas foi solicitada no dia 27 de maio de 1964. Todos foram ouvidos no 20º BC pelo capitão Uzêda. Dias depois, voltaram a ser ouvidos, agora pelo marechal Nilo Horácio de Oliveira Sucupira, que tinha saído do Rio de Janeiro para Maceió com o intuito de interrogar os dirigentes do Sindicato.
Os sindicalistas tiveram as prisões relaxadas no dia 23 de julho de 1964. Voltaram ao trabalho, mas não duraram muito na empresa. Em 30 de setembro de 1964 foram demitidos.
Golpe vitorioso
Consumado o Golpe Militar, sem nenhum obstáculo, os golpistas foram às ruas. A Gazeta de Alagoas de 3 de abril divulgou que no dia no anterior o “maceioense festejou a vitória da Democracia”. Na chamada da matéria, o jornal diz que houve uma “passeata monstro” com milhares de pessoas.
O Diário de Notícias (RJ), de 4 de abril de 1964, informa que “cerca de dez mil pessoas acompanharam a ‘Marcha da Família Alagoana com Deus pela Liberdade’, promovida pelo Movimento Democrático Feminino, chefiado pela primeira-dama do Estado, dona Mariontina Cavalcante. Participaram do desfile e concentração, colégios de Maceió, a Patrulha Nacional Cristã, o Conservatório Brasileiro de Música, seção de Alagoas, e entidades estudantis, deputados e o próprio governador Luís Cavalcanti e sua família”.
Também participaram dessa manifestação, que fechou o comércio, alguns colégios católicos, a Associação Comercial, a Federação das Indústrias e o Clube dos Lojistas.
O jornal carioca destacou ainda que a Polinter de Alagoas “empastelou o jornal comunista Voz do Povo, cujo prédio servia de sede do partido, prendendo os diretores. Foram ocupados também o Restaurante Universitário e as sedes da União dos Estudantes e DCE, onde funcionava os serviço de alto-falante divulgando noticiário subversivo”.
Após percorrer as principais ruas da cidade, a passeata foi encerrada em frente ao Palácio do Governo com a celebração de uma missa pelo arcebispo, dom Adelmo Machado. O governador Luiz Cavalcante foi muito elogiado por ter sido o primeiro governador do Nordeste a apoiar “o movimento revolucionário mineiro”, lembrou o Diário de Notícias (RJ).
Em 7 de abril de 1964, para o mesmo Diário de Notícias (RJ), o governador Luiz Cavalcante concedeu entrevista revelando que o seu envolvimento com o golpe militar tinha sido articulado bem antes e que, por sua posição entre Pernambuco e Sergipe, Alagoas e o seu governador foram elevados a uma posição de destaque entre os militares golpistas:
“A luta em Alagoas pela defesa do regime democrático começou dias antes da eclosão do movimento de Minas Gerais. Por questão de detalhes e, principalmente, pelo recuo dos agitadores, entre os quais os governadores Miguel Arrais e Seixas Dória e o deputado Leonel Brizola, o inicio da sublevação armada contra a avalancha comunista, que ameaçava dominar o país, não teve lugar no pequeno Estado. Entretanto, foi Alagoas o primeiro Estado nordestino a cerrar fileiras em torno da Democracia, mesmo quando, por sua posição geográfica, está situada entre Sergipe e Pernambuco, cujos governos eram leais ao Poder Central [de João Goulart], o que lhe seria fatal no caso de uma vitória das forças esquerdistas. E essa posição do governador alagoano foi tomada e sustentada muito antes da situação se definir a favor das tropas que defendiam as instituições”.
Os presos
Uma rápida pesquisa em jornais da época revela as pessoas que foram presas nos primeiros dias do Golpe Militar em Alagoas: Alan Rodrigues Brandão, Alcides Correia do Nascimento, Amaro Bezerra Cavalcante, Antônio Pinheiro de Almeida, Antônio Saturnino do Nascimento, Auro Calazans de Albuquerque, Avelino Francisco da Silva, Cícero Martins de Oliveira, Dirceu Lindoso e Dorival de Araújo Lins.
Mais: Eliezer Francisco de Lira, Ernande Maia Lopes, Etevaldo Dantas dos Santos, Etiene Pires de Melo, Gerson Ferreira de Souza, Gerson Rolim de Moura, Gilberto Soares Pinto, Jari Braga, Jayme Miranda, João Araújo, Jonas Paulino de Oliveira, Jorge Lamenha Filho Marreco, José Alípio Vieira, José Cabral Irmão, José de Sá Cavalcante, José Gomes da Silva, José Gonçalves de Lima, José Graciano dos Santos, José Lopes da Rocha, José Moura Rocha, José Nunes de Almeida, Josenildo Ferreira, Luiz Gonzaga Alves e Luiz Silva Barros.
Além de: Manoel Hermógenes Gomes da Silva, Manoel Lisboa Filho, Manoel Moreira da Silva, Maria Augusta Neves de Miranda, Marinete de Araújo Neves, Mário César Viana de Melo, Mário Correia da Silva, Mário Rodrigues Calheiros, Miguel Bertoldo da Silva, Ogelson Acioly Gama, Pedro Epifanio dos Santos, Petrúcio Lages, Renalvo Siqueira, Roland Benamor, Roline Sound Cavalcanti Silva, Rubens Colaço, Teófilo Alves Lins, Waldomiro Pedro da Silva e Walter Pedrosa.
Entre os presos, somente Rubens Colaço foi torturado fisicamente pela equipe do delegado Rubens Quintella. Após as prisões, os detidos ficavam recebendo a ameaça de que seriam transferidos para a Ilha de Fernando de Noronha. Circulava também o boato de que, durante o trajeto, alguns dos presos seriam atirados ao mar.
Veja mais em: OS ALAGOANOS PROCESSADOS PELA DITADURA MILITAR EM ALAGOAS.
Bela matéria, Ticianeli, parabéns!
Muito bom o resgate da história de Alagoas.
Boa matéria…
Incrivelmente atual. Vivemos tempos de propagação de idiotas que clamam por volta dos militares. Pobres idiotas.
Tenho muito orgulho de meu avô. Foi perseguido, preso, nossa família sofreu todo tipo de tortura psicológica com policiais invadindo constantemente nossa casa, empunhando metralhadoras, ameaçando matar meu avô se o achasse.
Ele morreu pobre de recursos, mas rico em decência e história.
Aos ricos de recursos, abastecidos pelo perfil vassalo de ser, apenas digo: de vocês eu e a história só teremos pena. Foram pobres diabos, de existência inútil.
Walter Pedrosa era meu pai e era estudante de engenharia civil na Ufal. Era telegrafista e já tinha 4 filhos em 64. À época foram presas 15 pessoas da minha família – Calheiros, Miranda e Pedrosa. Meu tio Nô foi preso logo depois. Tem muita coisa no livro dele Niquinha Minha Flor que trata das cartas que ele escreveu nos 111 dias que esteve preso. Sofreu durante 40 anos a perseguição por isso é foi demitido varias vezes quando se descobria algo sobre seu passado. Faz 11 anos que morreu.