O gigante Demócrito Gracindo

Cortejo do dia em 23 de dezembro de 1926 em desagravo ao governador Costa Rego, com Demócrito Gracindo, o mais alto, à frente de cartola preta. Foto de Antônio Cajueiro

Demócrito Gracindo em foto exposta no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas

Demócrito Brandão Gracindo nasceu no Engenho Boa Sorte, em Viçosa, Alagoas, no dia 28 de abril de 1884. Esse engenho foi fundado pelo português José Martins Ferreira e foi ele quem deu origem à famílias Vilela, Vital Santos e Vasconcelos Teixeira.

Demócrito, também tratado como “Cindo“, era o segundo filho do coronel Epaminondas Hipólito Gracindo e de Maria Brandão Gracindo. Seu pai foi também um advogado e político influente em Alagoas.

Deputado federal e provincial, senador estadual, Epaminondas Hipólito Gracindo era membro superior da Guarda Nacional, tendo chegado ao posto de Coronel-Comandante. Foi também Intendente municipal de Viçosa de 1893 a 1900, onde ocupou os cargos de Delegado Literário (Inspetor de Ensino Primário), Tesoureiro da Fazenda e presidente da Câmara Municipal. Era filho de Inácio Hipólito Gracindo, que ocupou o mandato de deputado provincial em Alagoas nas legislaturas entre 1840 e 1853.

O irmão de Demócrito Gracindo também teve participação política em Alagoas. Ignácio Brandão Gracindo, nascido em 14 de março de 1881, também advogado, foi deputado estadual constituinte em 1934 e continuou deputado na legislatura 1935-38. Acumulava sua participação política com a de professor de Direito Civil na Faculdade de Direito de Alagoas.

Demócrito Gracindo iniciou o curso primário em Viçosa, com professores particulares. Com 12 anos de idade, em 1896, foi estudar em Maceió, onde frequentou o curso de Humanidades no Colégio do professor Adriano Jorge e no Liceu Alagoano. Fez os preparatórios no Ginásio Pernambucano, em Recife entrou para a Faculdade de Direito do Recife, em 1899, com apenas 15 anos de idade. Concluiu seus estudos superiores em 1903. Naquela capital, participou do Grêmio Literário Aprígio Guimarães, sendo aceito no dia 15 de maio de 1901.

Coronel Epaminondas Gracindo, pai de Demócrito Gracindo

Seus pais foram morar em Maceió em 1900, quando seu genitor foi eleito deputado federal. Em 24 de janeiro de 1905, perdeu sua mãe, D. Maria Brandão.

Após sua formatura como bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, foi trabalhar no Pará, onde ocupou o cargo de Juiz de Direito na cidade de Chaves e de promotor de Guarupá. De volta a Alagoas, assumiu o cargo de Juiz substituto nas comarcas de Capela, quando ainda era o município Paraíba, e Palmeira dos Índios.

Em Maceió, no ano de 1905, com 21 anos de idade, foi nomeado professor de História Geral e Corografia Geral do Liceu Alagoano. Exercia ainda a advocacia. Destacava-se, segundo depoimento de Raul Lima, por sua oratória: “foi o dominador das massas pela eloquência maravilhosa da voz”. Entre seus clientes estava a companhia inglesa Great Western.

Ativo militante do Partido Republicano, foi presidente do Conselho Municipal e, em seguida, prefeito de Maceió entre 7 de janeiro de 1909 e 7 de janeiro de 1911. No mesmo dia que concluiu este mandato, assumiu a Secretaria dos Negócios do Interior, atendendo ao convite do governador Euclides Malta.

Como prefeito, destacam-se cinco obras: a construção do prédio da Intendência — inaugurado no dia 31 de janeiro de 1910 — e a conclusão do Teatro Deodoro, a urbanização da Praça Deodoro e da Praça Dona Rosa da Fonseca, e a pavimentação em paralelepípedos da Rua Boa Vista.

Com a morte do seu pai, em janeiro de 1911, a sua vaga de deputado federal foi preenchida por Demócrito Gracindo, escolhido em 23 de abril de 1911 e permanecendo no mandato entre junho e outubro do mesmo ano. Não houve nenhum outro pretendente ao cargo.

Anúncio do advogado Demócrito Gracindo publicado no jornal O Gutenberg de janeiro de 1907

Durante o governo de Batista Acioli, de 1915 a 1918, é nomeado Secretário do Interior e Justiça, cargo que ocupa até setembro de 1917. Seu afastamento se deu por descontentamento com o governador Batista Acioli, que preferiu apoiar Gabino Besouro, descumprindo acordo que previa a adesão ao seu nome para interventor do Estado, com o aval de Euclides Malta.

Em dezembro de 1916, também assume temporariamente a Secretaria da Fazenda após o afastamento de Firmino Vasconcelos, que disputou a Intendência da capital. Volta a ter mandato como deputado estadual nas duas legislaturas entre 1925 e 1927, quando falece.

Em 1914, associa-se ao Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, que ainda era conhecido como Instituto Arqueológico e Geográfico Alagoano. Assume a presidência do IHGA em 1919, e depois a vice-presidência, cargo que ocupa até a sua morte. Na Academia Alagoana de Letras, como fundador, ocupou a cadeira nº 1, cujo patrono é Adriano Jorge. Foi o segundo presidente desta instituição.

Foi ainda secretário da Associação Comercial e diretor da Companhia União Mercantil e do Banco Norte do Brasil, este último constituído em junho de 1925.

Seu filho Pelópidas Guimarães Brandão ficou conhecido como o ator Paulo Gracindo

Casou-se em 1908 com Argentina Passos Guimarães, que passou a se chamar Argentina Guimarães Brandão Gracindo (nasceu em 1º de setembro de xxxx), filha de Américo Guimarães Passos, despachante da Alfandega e comerciante, e Afra Amorim Guimarães, com quem teve, em 16 de julho de 1911 no Rio de Janeiro, o filho Pelópidas Guimarães Brandão, que viria a ficar conhecido como o ator Paulo Gracindo.

Antes, foram pais de outro filho, Epaminondas Guimarães Brandão, que morreu aos treze anos de idade, em 1921, quando estudava no colégio Nóbrega em Recife e contraiu infecção intestinal por um vírus durante um pic-nic, doença que o vitimou.

Américo Guimarães Passos e Afra Amorim Guimarães casaram-se em 13 de fevereiro de 1886.

O casamento de Demócrito Gracindo com Argentina Passos Guimarães foi motivo para que ele rompesse relações com o pai, que foi terminantemente contra a união do filho com a filha de Américo Guimarães Passos. Quando deu nome do pai ao seu primeiro filho, era uma tentativa de reconciliação, que não aconteceu.

Em junho de 1923, a Academia Alagoana de Letras ofereceu um jantar a Demócrito Gracindo, que estava voltando de uma “estação de cura, no sul do país”, como registrou o Jornal de Recife. Era diabético. A proposta da homenagem foi do acadêmico Guedes Miranda.

Na noite do 15 de dezembro de 1926, o governador Costa Rego sofre um atentado e escapa ileso. Dias depois, em 23 de dezembro de 1926, uma missa de ação de graças foi celebrada na Catedral de Maceió, comemorando a vida do governante.

O ato religioso foi liderado pelo bispo de Corumbá, Dom José Maurício, e reuniu uma multidão de “mais de dez mil pessoas”, segundo um jornal da época. Ao final da missa, se formou um cortejo para conduzir o governador até o Palácio dos Martírios.

Ignácio Brandão Gracindo, irmão de Demócrito

Ao chegar à sede do Governo, Costa Rego foi recebido pelo deputado Demócrito Gracindo, que falou “em nome das classes conservadoras, operários e do povo. S. s. [Sua senhoria] produziu uma vibrante oração de protesto contra o atentado ao sr. Governador do Estado, oração que foi entrecortada de aplausos, terminando, disse o orador que o povo de Alagoas ali representado por todas as classes estava desagravado e vinha trazer à casa do governador, o mais ilustre e o maior dos alagoanos vivos, o seu apoio, a sua solidariedade e o seu apreço”.

Sua estatura física elevada, que levou a oposição a denominá-lo de Estaca Maria Preta, deu margem para que fosse incluído como personagem de uma das quadras mais conhecidas nos anos 20 em Maceió:

“Quem chega a Maceió,
Quatro coisas logo avista:
A Catedral, o Farol,
O Demócrito e o Bela Vista”.

Não gostava de bajulação. Quando intendente de Maceió, um amigo lhe mandou um presente muito caro. Devolveu prontamente e explicou ao amigo:

— Se eu não fosse prefeito você compraria um presente tão caro? Quem sabe se não está pretendendo me comprar?

Faleceu no Rio de Janeiro, às 16h30 do dia 25 de setembro de 1927, quando tinha 44 anos de idade. Estava internado na Casa de Saúde Pedro Ernesto. Em Maceió, logo após a notícia do seu falecimento, todas as repartições estaduais e municipais fecharam suas portas e hastearam o pavilhão em sinal de pesar.

Vinha enfrentando a sua diabetes há muitos anos. Seu médico se recusava a tratá-lo com insulina por não ter certeza de sua eficácia. Demócrito, por sua conta, comprava a medicação, rara na época, e injetava no seu braço. Sabia os males que a doença lhe provocava e dizia que andava de braços dados com a morte.

Durante o seu sepultamento, o amigo e primo Guedes de Miranda, lembrou dos últimos momentos que teve com Demócrito Gracindo. “Ao embarcar para o Rio, numa triste manhã de agosto, tinha o pressentimento de não mais voltar para Maceió:
Seu primo, você já sabe: o discurso é você quem faz — disse-me estreitando-me num abraço em que rolava o mistério da morte…”.

Em sua homenagem, Maceió e União dos Palmares têm uma rua com o seu nome, da mesma forma que em Viçosa há uma praça lembrando o filho ilustre. Mata Grande, no sertão alagoano, tem a Escola Estadual Demócrito Gracindo

Obras

Mensagem Apresentada ao Conselho Municipal de Maceió, em sessão de 16 de janeiro de 1910. Tip. da Empresa Gutenberg, 1910;

Relatório apresentado ao governador João Batista Acioli Júnior, no dia 15 de março de 1916, Tip. a vapor da Casa Ramalho, Maceió, 1916;

José de Anchieta e Sua Obra, 1919, (discurso proferido no Teatro Deodoro, em 7 de setembro de 1919;

A Apologia da Igreja na Civilização do Brasil, 1920;

As Apólices da Dívida Pública Federal estão isentas do Imposto de Herança e Legados. Minuta de agravo e sentença, Maceió, Livraria Fonseca, 1920;

A Última Bandeira. Homenagem aos Aviadores Portugueses Sacadura Cabral e Gago Coutinho, Maceió, Casa Ramalho, 1922;

Instituto Arqueológico e Geográfico Alagoano. Discurso pronunciado por ocasião de sua posse como sócio efetivo, Revista do IAGA, v.VI, n. 2, abril/junho 1915, Maceió, 1915, Livraria Fonseca, p. 117-128 (reproduzido na revista da AAL, n. 17, pgs. 197-205);

Os Limites de Alagoas com Pernambuco, Revista do IAGA, v.9, ano 52, 1924, pág. 13-37.

3 Comments on O gigante Demócrito Gracindo

  1. Aureo Teixeira // 20 de julho de 2017 em 10:26 //

    No ano de 1908, Demócrito Gracindo, esteve na Faz. Floresta, do Cel. Izidro Teixeira e Izabel Olimpia, no povoado de Chã Preta, para assistir ao casamento da filha do casal, Francisca com José Teixeira.

  2. Roberto Barbosa // 8 de fevereiro de 2021 em 22:15 //

    Estudei No Grupo Escolar Demócrito Gracindo.

  3. Luciano Omena // 26 de fevereiro de 2022 em 23:42 //

    Muito bom essa pequena explicação sobre à vida dos ilustres dos quais sou Fã…
    “Os Gracindos” Parabéns pela publicação grande abraço!

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