O educador Higino Belo

Rua Augusta em 1911, com o Colégio 11 de Janeiro na esquina com a Rua Barão de Alagoas. Foto de Luiz Lavenère

O pernambucano Hygino Espíndola da Costa Bello nasceu em Recife no dia 11 de janeiro de 1876. Era filho do português José Marcelino da Costa Bello e de Vicência Espíndola de Mendonça. João Espíndola da Costa Bello foi o outro filho deste casal.

Seu pai, mais conhecido como Marcelino da Costa Bello, era um comerciante e também funcionário da Companhia Pernambucana de Navegação Costeira. Nasceu em Portugal no dia 4 de julho de 1846, filho de João Costa Bello.

Higino Belo ainda jovem

Sua mãe, após o casamento em 1875, passou a adotar o nome de Vicência Espíndola da Costa Bello. Era filha do também português Manoel Espíndola de Mendonça.

No dia 7 de janeiro de 1883, faleceu “Vicência Espíndola da Costa Bello, branca, Pernambuco, 27 anos, casada, Recife, bronquite”, como registrou o Jornal de Recife do dia 10 daquele mês. Pelo obituário publicado naquele mesmo dia sabe-se que Hygino e João eram seus filhos.

Em março de 1891, Marcelino casou-se novamente, desta feita com Francisca Adelaide de Miranda. O casamento aconteceu em Garanhuns, onde o irmão da noiva, dr. Nilo de Miranda, era juiz de Direito.

Dez anos após o segundo casamento, Marcelino faleceu em Recife no dia 15 de fevereiro de 1909, aos 63 anos de idade.

O primeiro registro em jornal de Hygino Bello é de novembro de 1889. Foi relacionado como um dos alunos que prestava exames ainda do 2º grau na Escola Normal de Recife. Tinha 14 anos de idade.

No ano seguinte, em agosto, já vamos encontrá-lo participando de uma entidade associativa: era o vice-presidente do Clube Literário Tobias Barreto na capital pernambucana. Em abril de 1891, também foi aceito no Grêmio Literário José Bonifácio. Já participava da Sociedade Gonçalves Dias e do Grêmio Instrutivo Normal, onde era o orador em 1891.

O Jornal de Recife de 16 de janeiro de 1892 informou que no dia anterior, numa reunião do Grêmio Literário José Bonifácio, por indicação do “sócio Hygino E. da Costa Bello”, ficou definida a data da eleição da diretoria efetiva daquela instituição. O mesmo Hygino propôs ainda que fosse publicado um jornal literário.

Em sessão do dia 12 de abril de 1892 deste mesmo grêmio, o futuro professor apresentou os seguintes trabalhos literários: Prantos da Alma, Orfãos (poesias) e um canto intitulado Uma Ilusão. Ainda em abril divulgou parte de um romance, Amor degenerado em ingratidão, o conto Uma Impressão, e as poesias Ciência e Vate.

Em novembro de 1893, prestou os exames finais do 3º ano do Curso Normal, concluindo os estudos com distinção.

Não se conseguiu descobrir a origem dos vínculos que estabeleceu, logo após a conclusão do curso, com o município de Nazaré — a partir de 1943 passou a denominar-se Nazaré da Mata —, em Pernambuco.

Foi neste município que primeiro se registrou a sua atuação como professor. O Jornal de Recife de 8 de janeiro de 1895 informou que no dia 10 de dezembro do ano anterior aconteceram os “exames de aula particular do engenho Pagy, dirigida pelo professor Hygino Espíndola da Costa Bello, sendo presidente do ato o prefeito do município de Nazaré, dr. Herculano Bandeira de Mello, e examinador o conselheiro municipal João Gonçalves da Silva Brasil…”.

No mês seguinte, também foi nomeado professor para a disciplina de Ciências Naturais em Salgueiro, Pernambuco.

Indicando que continuava a manter vínculos com Nazaré, no dia 11 de maio de 1895 foi nomeado para a representação local da Guarda Nacional com a patente de tenente.

Nesse período, assinou uma nota em defesa do Capitão Ignácio Pessoa de Mello, liderança política daquele município. Em 27 de dezembro de 1897, foi o orador do ato de comemoração do aniversário do Centro Literário Recreativo Nazareno.

Fiscal do Sal

A cidade do Penedo vista do lado do oeste em foto de Marc Ferrez em 1875

No dia 21 de janeiro de 1898, Hygino Bello embarcou no vapor Jacuhype tendo como destino a cidade de Penedo em Alagoas, como informou o Jornal de Recife de 2 de fevereiro de 1898.

Havia sido nomeado Fiscal do Sal para a 3ª Circunscrição Salineira, compreendendo as salinas nas margens do Rio São Francisco de Sergipe e de Alagoas, sob a fiscalização da Alfândega de Penedo.

O Imposto do Sal foi criado pela Lei nº 489 de 15 de dezembro de 1897 e dias depois vários fiscais foram designados nas diversas alfândegas do Brasil.

Foi nomeado pelo Portaria nº 16, de 24 de janeiro de 1898, indicado por um parente da sua mãe que era inspetor da Alfândega de Penedo, o bacharel Antônio Espíndola Ferreira de Oliveira.

Naquela cidade ribeirinha, além de cumprir suas atribuições alfandegárias, Hygino Bello rapidamente estabeleceu relações com a intelectualidade local e passou a escrever para o jornal O Penedo, dividindo a sua redação com Raymundo Miranda.

O Penedo foi fundado em 29 de maio de 1896 substituindo O Democrata. Era o órgão do Partido Republicano.

Ainda em 1898, editava a revista literária A Palavra, voltada para as mulheres de Alagoas e produzida em Penedo. Esse periódico havia começado a circular em 1888.

Casou-se em 1899, quando tinha 23 anos de idade, com a pernambucana Judy Vieira Belo. Com ela teve dois filhos: Alberto Vieira Belo e Maria Judy Belo. Em janeiro de 1926 Alberto Vieira Belo, que trabalhava com Contabilidade e seu escritório, em 1937, na Rua 1º de Março (Av. Moreira Lima), nº 222, em Maceió, casou-se com Marieta de Mesquita Cavalcante.

Hygino Bello foi ainda juiz substituto de Penedo em 1899 e, em seguida, assumiu a direção do Liceu Penedense.

Em oposição a Euclides Malta, foi eleito deputado estadual no pleito realizada no dia 1º de novembro de 1902, para a legislatura 1903/1904. Foi afastado do seu primeiro mandato em fevereiro de 1904 por decisão do governador Paulo Vieira Malta, irmão de Euclides Malta.

O argumento utilizado pelos governistas maltinos foi o de que ele não poderia ter sido eleito por já exercer o cargo de diretor do Liceu Penedense.

Redatores, tipógrafos, impressores e distribuidores d’O Luctador. Era o jornal diário de maior circulação no baixo São Francisco, publicado em Penedo, Alagoas. Sentados nas cadeiras, da direita para a esquerda: Dr. Joaquim Peixoto (Capitalista, protetor do jornal), coronel Tibúrcio Rodrigues (redator), coronel Amarantho Filho (redator-proprietário), o poeta Othon do Carmo e o professor Hygino Bello (redatores). Hygino segura um jornal nas mãos

Em 1903 começou a circular em Penedo o jornal O Luctador, de propriedade do coronel Manoel Félix do Amaranto Filho. Era impresso em máquinas Marinoni na Rua José Bonifácio, nº 8 e 10.

A partir de 27 de maio de 1907 passou a ser editado diariamente. Nesse mesmo ano, Hygino Bello foi admitido como um dos redatores do jornal. Era divulgado como sendo o jornal diário de maior circulação no baixo São Francisco.

Nas eleições de 18 de novembro de 1910 foi novamente eleito deputado estadual com 8.364 votos (legislatura 1911/1912). Já não era mais oposição a Euclides Malta.

Professor Hygino em Maceió

Após sua chegada a Penedo em janeiro de 1898 para trabalhar como Fiscal do Sal, Hygino Bello criou sólidas relações com o município ao escrever para O Penedo e editar A Palavra.

Pouco tempo depois de se estabelecer no baixo São Francisco, já era professor do Liceu Penedense, instituição que também dirigiu nos primeiros anos do século XX. O Liceu  Penedense foi criado em 1896 e extinto em 12 de novembro de 1908.

Foi para exercer o mandato de deputado estadual, a partir de 1903, que resolveu se transferir para a Maceió, onde instalou o Colégio 11 de Janeiro. Sua transferência se deu também por ter a esposa enferma.

Esse período de início de funcionamento do histórico Colégio 11 de Janeiro foi determinado a partir do registro biográfico do ex-governador de Sergipe, dr. Erônides de Carvalho, no livro Dicionário Histórico-Biográfico da Primeira República. Erônides “fez os estudos básicos em Maceió, no Colégio 11 de Janeiro e no Liceu Alagoano, onde concluiu o secundário em 1910”.

Estranhamente não foram encontrados anúncios divulgando este estabelecimento de ensino. Uma das raras citações foi localizada no Gutenberg de 9 de outubro de 1909, que descreveu o percurso de uma manifestação “em honra da memória do glorioso poeta alagoano Guimarães Passos”, e citou o Colégio Hygino Bello como referência do trajeto.

O Colégio 11 de Janeiro funcionou em Maceió na Rua Tavares Bastos (atual Rua Barão de Alagoas), esquina com a Rua Ladislau Neto, atual Rua Augusta, até o início dos anos 40.

Tipografia de O Luctador em Penedo

Por lá passaram, como alunos ou como professores, figuras ilustres de Alagoas. Pontes de Miranda foi um dos seus professores.

Nesse mesmo período, Hygino conseguiu transferir o seu vínculo com o Liceu Penedense para o Liceu Alagoano, onde também funcionava precariamente a Escola Normal de Maceió.

Seu maior compromisso com a Escola Normal se estabeleceu após o Decreto nº 401 de 23 de novembro de 1906, que reformou radicalmente a instituição e ampliou seu corpo docente.

Nesta jornada pela Escola Normal, passou pela cadeira de Geografia, Pedagogia, Metodologia e Higiene Escolar. Em abril de 1922 foi promovido à 1ª cadeira de Geografia e Corografia, quando ocupava a 2ª cadeira de Pedagogia, Metodologia e Higiene Escolar.

Seu último ano como lente desta instituição foi 1926. Voltou ainda a lecionar como interino por alguns períodos.

Em 1927, foi nomeado para 2ª cadeira de Francês do Liceu Alagoano. No início dos anos 30 foi transferido para 2ª cadeira de Português. Somente em 17 de fevereiro de 1934 assumiu a cobiçada 1ª cadeira de Português.

Mesmo tendo máxima dedicação ao ensino, Hygino Bello sempre encontrou tempo para participar da vida política e social da cidade.

Assim, logo após a Primeira Guerra Mundial, assumiu, como 1º tenente, a presidência da Junta de Alistamento Militar do distrito de Maceió. Em janeiro de 1934 era o vice-presidente do Conselho Deliberativo do Tiro de Guerra 637.

Foi tesoureiro da Sociedade Alagoana de Educação, fundada em 24 de novembro de 1929. O presidente era Mário Marroquim. Em 1930, era membro do Conselho de Ensino de Alagoas.

Higino Belo em 1916

Foi diretor da Academia do Comércio, mantida pela Sociedade Perseverança e Auxílio. Em 1929 era o vice-diretor da Academia e lente em Geografia, Português e Instrução Moral e Cívica da Escola Comercial de Maceió.

Quando a Revolução de 30 foi deflagrada, houve mobilização nas ruas de Maceió. Uma das passeatas percorreu a cidade no dia 5 de outubro. Em frente ao jornal O Diário, quem discursou foi o professor Hygino Bello.

Quando, em 1934, Silvestre Péricles de Góis Monteiro resolveu se candidatar ao governo de Alagoas, esperando ser escolhido indiretamente pelos deputados estaduais, o jornal A Notícia foi transformado no principal instrumento da campanha.

Higino Belo (grafia adotada nos anos 30), além de trabalhar na editoria do periódico, era o presidente do comitê de apoio a Silvestre. Foi durante esta campanha que, no dia 7 de março, ocorreu o tiroteio no Hotel Bela Vista. (Veja AQUI)

Doença e morte

Foi por contato com um aluno do seu Colégio que adquiriu a hanseníase. Os primeiros sintomas da doença surgiram em 1940, provocando o isolamento imediato do mestre de várias gerações.

No final de 1946, quando ainda estava no Leprosário de Maceió, recebeu a visita do também professor Geraldo Cajueiro.

Em texto escrito para a revista Mocidade, de outubro de 1946, Cajueiro relata que Higino estava vivendo “num abatimento extraordinário, quando se lembra dos antigos alunos, desta cidade que lhe deixou gratas e indeléveis recordações, não pode suportar, cai em prantos como uma criança”.

Mesmo sofrendo as limitações impostas pela doença, Higino Belo dava aulas para os outros pacientes e pessoal administrativo do Leprosário, além de ter assumido as funções de bibliotecário daquela instituição localizada no Tabuleiro, em Maceió. (Veja AQUI)

Faleceu em março de 1947 em São Paulo, onde buscava tratamento mais adequado para sua doença.

Em sua homenagem existe em Maceió a Escola Municipal Professor Higino Belo, no Farol.

2 Comments on O educador Higino Belo

  1. Mayara Bello // 7 de setembro de 2020 em 18:56 //

    Prezados,

    Sou tataraneta de Higino Belo. Meu bisavô é Alberto V. Belo e meu avô Ruy de M. Bello.
    No registro de seus netos, cada um ficou com um sobrenome diferente.
    Gostaria de acessar às obras referidas neste artigo tais como:
    Prantos da Alma, Orfãos (poesias), Uma Ilusão. Amor degenerado em ingratidão, Uma Impressão, e as poesias Ciência e Vate.

    Vocês podem me ajudar?
    Att.

  2. Linda história de Higino Bello, fiquei maravilhado. Meu pai nasceu em Palmeira dos Índios. Ele se chamava Augusto Bello de Andrade e tinha mais 3 irmãos: Antonio Bello de Andrade, Francisco e Maria. Meus avós eram: Augusto de Andrade Bello e Adelaide de Mendonça Bello. Se alguém que ler este comentário for descendente de algum destes nomes é meu parente. Gostaria muito de saber o nome de meus bisavós e conhecer meus primos. Os irmãos de meu pai nasceram em Passo de Camaragibe – Al e seus registros de batismos estão nos registros de Batismo na Matriz de Camaragibe

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