O desmaio do bandeirinha

Gol de Clóvis no clássico CSA 3 x 2 CRB, na Pajuçara em 1963. O goleiro regatiano é Pelopidas Argolo

Por Antônio Manoel

Lembro-me de um registro curioso, em Maceió, quarenta e poucos anos atrás. João Batista Cortez era um ‘bandeirinha’ da Federação Alagoana, desabridamente apaixonado pelo CSA. Esforçado cumpridor das regras, dizia-se “especialista” em impedimentos. Respeitado e correto, jamais foi pilhado, pela vigilante torcida do desafeto CRB, em qualquer fortuita bandeirada para favorecer o time de seu coração.

Batista Cortez em 1952, posando com o time do CSA, campeão daquele ano

Certo domingo, Batista Cortez auxiliava a arbitragem na partida entre CRB e Ferroviário, no estádio da Pajuçara, enquanto, à mesma hora, em Arapiraca, o CSA jogava pelo empate com o ASA, local, resultado que lhe garantiria o campeonato.

As rádios transmitiam cada ataque, lá e cá, pois, vencendo, os regatianos levariam o caneco. Desde, claro, que o ASA, em seu próprio campo, derrotasse o adversário (e já vencia por 1 a 0, placar do primeiro tempo). A dois minutos do fim (ambos os jogos iniciados britanicamente às quatro da tarde), Tonho Lima empatou para o CSA, que ficou com o título estadual.

Detalhe: Batista Cortez bandeirava lateralmente à arquibancada do CRB e, ouvido atento ao radinho de pilha de torcedor azulino, grudado no alambrado, vez por outra indagava, entredentes, de passagem: “Psiu! Como ‘estamos’ em Arapiraca?” Inquieto com o gol do ASA, que ecoou na Pajuçara e levou a massa regatiana à loucura, sofreu estoicamente até que seu idolatrado ‘azulão‘ empatou em cima da hora, calando a então celebrada euforia alvirrubra, àquela altura diante das favas contadas da vitória.

Cortez, com o apito final, em Maceió e Arapiraca, ali mesmo à beira do gramado, embora contido e circunspecto, como sempre foi, simplesmente desmaiou, tragado pela emoção.

Quinze anos depois, entrevistei-o na TV Alagoas – Canal 5 e ele, à revelia de provas testemunhais, negou peremptoriamente o fato que, embora insólito, jamais o desabonou nas quatro linhas. Poupamo-lo, evidentemente, encerrando ali mesmo a famosa história do desmaio. Afinal, o bom e honrado Batista Cortez, como qualquer torcedor que se preza, não era de ferro.

2 Comments on O desmaio do bandeirinha

  1. Maria da CONCEIÇÃO azevedo // 19 de setembro de 2015 em 16:53 //

    Idiota este torcedor, o importante que ele era honesto qdo estava EM SEU TRABALHO qdo atuava nos gramados!!! O árbitro Claúdio Régis jogou NO nosso CRB e depois que pendurou as chuteiras trabalhou como árbitro de futebol e foi um juiz honesto,mesmo apitando jogos de seu clube de coração ” O GLORIOSO CRB “!!!!

  2. Lauthenay Perdigão // 6 de janeiro de 2016 em 22:40 //

    Infelizmente essa história não está bem contada. O jogo foi – CSA 1 x Guarani 0 – pela primeira fase do primeiro turno do campeonato de 1963. O jogo foi disputado no campo do Mutange e o juiz foi Batista Cortez. Realmente ele era torcedor do CSA que conheci, muito bem, quando eu jogava no clube azulino em 1952. Em 1963 eu dirigia o departamento esportivo da Rádio Gazeta de Alagoas e transmitimos esse jogo. Eu estava na pista. Clóvis foi o autor do gol e realmente nos ultimos minutos. Quando terminou o jogo Batista Cortez deixou o campo com a mão na barriga. Ele tinha comprado uma cinta elástica no sábado e estava usando pela primeira vez. Batista Cortez já estava se sentindo mal e quando saiu do gramado sentou junto ao alambrado. Eu o atendi e foi dona Maria, mãe do Peu, que vendia raspadinho, quem cortou a cinta. E o Batista Cortez ficou aliviado. Ele não desmaiou o para quem quiser fazer uma pesquisa sobre o campeonato alagoano de 1963 dou uma dica. Uma semana antes o mesmo Guarani, jogando na Pajuçara, perdeu para o CRB por 1×0, gol de Tonho Lima. Clóvis e Tonho Lima jogaram nos anos sessenta.

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