O covarde assassinato do ex-deputado Antenor Claudino em 1973

Antenor Claudino

Antenor Claudino Freire da Costa tinha 54 anos de idade em 1973, quando foi assassinado no Centro de Maceió. Era então Procurador do Tribunal de Contas do Estado de Alagoas. Advogado bem-sucedido, foi deputado estadual de 1951 a 1955, pelo PSD (925 votos) e de 1955 a 1959, pelo PTN (1.180 votos).

Sem renovar o mandato nas eleições de 1959, permaneceu na Assembleia Legislativa como Consultor Jurídico até ser nomeado, em 1966, Chefe do Gabinete Civil do governador Lamenha Filho, com quem tinha afinidade política, entre elas a de ter participado com ele da tentativa de impeachment do governador Muniz Falcão, em 1957. No histórico tiroteio daquele na Assembleia Legislativa, compareceram 22 deputados e somente Antenor Claudino estava desarmado.

Era advogado formado pela Faculdade de Direito de Alagoas e casado com Helenita Claudino da Costa. Tiveram quatro filhos: Francisco Assis Claudino, Fernando Antônio, Maria do Socorro e Antenor Claudino da Costa Junior.

Antenor foi assassinado às 8h50 de 3 de janeiro de 1973, uma quarta-feira. Atravessava a Rua do Comércio em frente ao Banco do Estado, após ter estacionado seu carro no Tribunal de Contas — funcionava então ao lado da Assembleia Legislativa —, quando foi atingido três vezes pelas costas por um homem que trajava camisa azul e calça preta. Com uma bala na nuca e duas nas costas disparadas por revólver calibre 38, Antenor Claudino tombou sem vida.

Outras testemunhas afirmaram que eram dois homens altos e brancos e que seguiram a vítima por 200 metros, até que um deles tirou a arma de uma pasta tipo “007” e atirou na cabeça do ex-deputado.

Esquina do Banco do Estado, o Produban, onde Antenor Claudino foi assassinado

Atenor deslocava-se para seu escritório de advocacia, no Edifício Breda, onde dividia a banca com Cleto Marques Luz e Mendes de Barros.

As primeiras investigações do delegado nomeado para o caso, Moacir Magalhães Cavalcante, apontaram para crime de origem política, considerando que a vítima tinha sido deputado estadual e mantinha expressiva liderança política em Pindoba, sua terra natal e onde o prefeito, Lourival Freire da Costa, era seu irmão e muito parecido com ele. Era somente um pouco mais baixo e mais forte.

Os amigos e familiares rebateram essa possibilidade declarando que Antenor não era capaz de qualquer maldade. Sua esposa, enquanto aguardava do corpo no Necrotério de Maceió, perguntava retoricamente aos repórteres: “Já ouviu dizer que meu marido tivesse alguma intriga?”.

No dia 4 de janeiro, dia seguinte ao crime, a Polícia já tinha detido o criminoso. Tratava-se do lavrador José Aparecido Fernandes Costa, que alegou vingança. Tinha então 26 anos de idade. Disse ele que em 27 de dezembro de 1965, Antenor Claudino havia fornecido um revólver a Álvaro Barbosa e lhe deu cobertura para que matasse seu pai, o agricultor José Ferreira Costa, mais conhecido como José Aurélio. Denunciou que foi Antenor que apresentou Álvaro Barbosa à Justiça em Viçosa, após ele ter se livrado do flagrante.

José Ferreira Costa era compadre de Antenor e ambos eram filiados ao mesmo partido, mas, nas eleições municipais de Pindoba em 1965, apoiaram candidatos diferentes. Antenor votava em seu sogro, Miguel Gomes da Costa; e José Ferreira pedia votos para José Rosas.

O criminoso confessou que tinha iniciado a vingança ainda em 1966, quando matou no dia 15 de junho, em Maribondo, o agricultor José Avelino da Silva, sobrinho de Álvaro Barbosa. Foi preso em flagrante, mas dois meses depois estava em liberdade por ser então menor de idade. Confessou que não matou Álvaro Barbosa porque ele estava preso em Viçosa e que, em 1971, quando saiu da cadeia, foi morar em São Paulo.

Disse ainda que até então não sabia do envolvimento do ex-deputado com morte de seu pai, mas que ao tomar conhecimento dessa informação numa conversa com amigos, dirigiu seus sentimentos de vingança para ele.

Revelou que após o crime no Centro de Maceió, correu até as proximidades do Edifício Breda, onde tomou um táxi até Bebedouro. De lá, em outro táxi, chegou até a Rodoviária e embarcou num ônibus para Arapiraca, onde pretendia se encontrar com sua mãe, Maria José Costa. Quando passava em Satuba, resolveu descer e pernoitou numa mata.

No dia seguinte, chegou a Arapiraca e disse a sua mãe o que tinha feito. Foi aconselhado por ela a se entregar à Polícia, o que fez procurando o coronel Claudionor Rocha, Delegado Regional. Foi transferido imediatamente para Maceió. Sua mãe também foi detida.

Antenor Claudino votou em 1957 pelo impeachment de Muniz Falcão

Em novo depoimento, no dia seguinte, José Aparecido Fernandes Costa caiu em contradição e suscitou novas investigações. Helenita Claudino, esposa de Antenor, disse não acreditar na história contada por ele. Explicou que Álvaro Barbosa, após cometer o crime em 1965, procurou seu marido por ser ele um advogado. Foi orientado a se apresentar à polícia, o que aconteceu no dia seguinte.

A viúva reafirmou que seu marido nunca teve inimigos políticos e dava como exemplo a convivência que ele tinha no Tribunal de Contas com Djalma Falcão, irmão de Muniz Falcão.

Ainda no dia 6 de janeiro a Polícia alagoana tornou público que suspeitava de outros envolvidos, entre eles o primo de Lourival Fernandes Costa, fazendeiro Vitinho Fidelis (Diário de Pernambuco de 7 de janeiro de 1973) e que o delegado Manoel Soares de Carvalho estava montando um esquema para sua captura. Já havia um mandado de prisão contra ele por outro crime, ocorrido em 4 de dezembro de 1970 em Branquinha. Era acusado de ter matado o popular José Antônio dos Santos, contando com a ajuda de Lourival Fernandes Costa, tio de José Aparecido.

No dia 9 de janeiro, o juiz Newton Saldanha, da 10ª Vara Criminal, decretou a prisão preventiva do lavrador José Aparecido Fernandes Costa. Naquela data existiam mais de 20 pessoas detidas, entre elas Lourival Fernandes Costa, que teve sua prisão solicitada pelo delegado Moacir Magalhães, mas o juiz não atendeu por não encontrar indícios de sua participação, e Carlos Alberto Figueiredo — então proprietário de uma tipografia em Maceió —, primo de Lourival Fernandes Costa e seu sócio numa padaria. Foram postos em liberdade.

José Aparecido Fernandes Costa, que havia caído em contradições, foi ouvido novamente e revelou que antes do Natal esteve na residência de João Rodas e comunicou a ele sua intenção de matar o ex-deputado, ouvindo dele que poderia fazer o serviço que teria apoio em todos os sentidos.

Disse ainda que Vitinho Fidelis e Lourival Fernandes também ficaram sabendo das suas intenções assassinas e que lhe prometeram total cobertura. Isso se deu durante um almoço na fazenda Rio Branco, uma propriedade de Vitinho Fidelis.

O jornalista Bernardino Souto Maior, correspondente do Diário de Pernambuco em Alagoas, revelou, em uma de suas reportagens, que Lourival Fernandes Costa estava envolvido em outros dois crimes. No primeiro assassinou sua esposa Marivalda Costa por afogamento, no açude de sua fazenda, para receber um seguro de vida no valor de Cr$ 100 mil, contratado cinco meses antes. O segundo crime ocorreu em Murici, onde matou um cidadão e teve sua prisão decretada pelo juiz Dumouriez Monteiro Amaral.

Em 21 de janeiro a Polícia anunciou que estava concluindo o inquérito.

Lourival Fernandes Costa e Marivalda Costa

A próxima notícia sobre Lourival Fernandes da Costa surge somente um ano após o assassinato do ex-deputado Antenor Claudino. Segundo o Diário de Pernambuco de 16 de janeiro de 1974, que o tratou como autor intelectual do crime, Lourival estava em Viçosa acompanhado de amigos e familiares, entre eles seu primo Vitinho Fidelis (Ivanovich Fidélis de Moura), Aloísio Moura — irmão de Vitinho —, Carlos Alberto Figueiredo, Sebastião Ramos dos Santos e mais dois pistoleiros, quando enfrentaram a tiros todo o destacamento policial daquele município na madrugada do sábado, 12 de janeiro.

Reagiram a uma ação comandada pelo tenente José Hilário, que estava autorizado a prendê-los. Ninguém se feriu no confronto. Como resposta, o secretário de Segurança de Alagoas, coronel Nivaldo Tenório, ordenou que o delegado Rubens Quintela, da Polinter, contando com um reforço policial de 12 militares armados de metralhadoras, efetuasse a prisão de Lourival Fernandes Costa e seus capangas a qualquer custo.

Foram cercados na fazenda Rio Branco, em Pindoba, e Carlos Alberto Figueiredo foi o único a resistir, disparando seu revólver dezenas de vezes contra o comando policial liderado pelo delegado Rubens Quintela e pelo tenente José Hilário. Morreu atingido por muitos tiros. Vitinho Fidelis conseguiu fugir e um dos capangas ficou ferido. Lourival Fernandes não estava no local.

No dia 20 de março de 1974, após 9 horas de julgamento, o Tribunal do Júri da Capital absolveu, por 5 a 2, o pistoleiro José Aparecido Costa. Em sua defesa o advogado Antônio Aleixo ostentou a tese de coação moral irresistível. No mesmo dia foi colocado em liberdade. O promotor Aderval Tenório havia pedido pena máxima de 12 a 30 anos.

Houve recurso e a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça anulou a decisão do Conselho de Sentença. Em 24 de agosto de 1977, em novo júri, o pistoleiro José Aparecido foi condenado a 12 anos de reclusão, sendo recolhido imediatamente ao Instituto Penal São Leonardo, onde cumpriu a pena.

Lourival Fernandes Costa fugiu para Brasília e depois se escondeu em Formosa, Goiás, passando a ser apadrinhado por alguns políticos, principalmente o então deputado Ari Ornellas. Lá era conhecido como Primo e sua fama de matador o levou a ser temido em toda a região.

Voltou a ser notícia nos jornais em 3 de dezembro de 1982. Ampla reportagem do Correio Braziliense revelou que tinha sido ele, em 7 de novembro, o assassino de Mário Fernandes de Deus nas imediações de Planaltina. Marinho, como era mais conhecido, foi fuzilado a queima roupa com um tiro no pescoço e depois teve a cabeça separada do corpo, assim como as mãos e os órgãos genitais.

Lourival foi preso e confessou mais seis assassinatos na região de Goiás. Quando a polícia local levantou a vida pregressa do pistoleiro, descobriu que ele era alagoano e estava envolvido em três crimes, entre ele o do ex-deputado Antenor Claudino.

Lourival Fernandes Costa preso em Brasília em 1982

Em depoimento, disse ao delegado que não sentia nenhum remorso quando executava alguém e que jamais deixou uma vítima com vida. Submetido a julgamento, foi condenado a 19 anos de prisão e recolhido à Papuda.

Segundo o jornalista José Jurandir, em seu livro Os Crimes que Abalaram Alagoas, anos depois Lourival Fernandes Costa foi assassinado em Goiás por questões familiares.

2 Comments on O covarde assassinato do ex-deputado Antenor Claudino em 1973

  1. Claudio de Mendonça Ribeiro // 10 de setembro de 2024 em 09:47 //

    Muito triste esta reportagem.

  2. No final das contas, ficou esclarecido o real motivo do assassinato?

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