O assassinato do médico José Eugênio Soares em 1927 na Av. da Paz
Era tio-avô do comediante-humorista Jô Soares, que recebeu o mesmo nome em sua homenagem
Quando assumiu o governo em 12 de junho de 1924, o jornalista Pedro da Costa Rego procurou montar uma equipe de assessores de sua confiança e com capacidade técnica. Foi assim que o médico José Eugênio Soares foi requisitado ao Departamento Nacional de Saúde Pública, no Rio de Janeiro, para assumir a Profilaxia Rural no governo de Alagoas.
O jovem paraibano, que se destacava por sua elegância e modos distintos adquiridos no Rio de Janeiro, onde era reconhecido como atleta de tênis e grande enxadrista, logo passou a frequentar as rodas sociais da capital.
Com pouco mais de um ano residindo em Maceió, casou-se com Maria Aída Wucherer (19 de abril de 1926), filha do comerciante e industrial Alfredo Williams Armstrong Wucherer e Honorina Otília de Souza Goulart Wucherer.
Sua dedicação ao trabalho e honestidade de propósitos eram reconhecidas por todos. Eugênio Soares, como era mais conhecido, chegou a ser elogiado por sua participação na fiscalização das provas no Lyceu Alagoano, função que exerceu com isenção.
Foi este seu empenho que o conduziu, em março de 1927, ao cargo de Chefe do Serviço de Saneamento (ou de Higiene) do Estado de Alagoas, cujo titular, o professor Álvaro de Carvalho, tinha pedido afastamento do cargo, mas manteve-se naquele mesmo serviço. Foram eles os responsáveis por uma das vitoriosas campanhas de combate aos mosquitos na capital.
O crime e o suicídio
Quando se casou com Aída Wucherer, em 1926, Eugênio Soares passou a conviver com o jovem funcionário do Banco do Brasil Agenor Guimarães Brasileiro, que havia casado dois anos antes com Dulce Wucherer, irmã de sua esposa.
Com aproximadamente 30 anos de idade, Agenor Brasileiro apresentava sinais de desequilíbrio mental desde o dia do seu casamento, quando agrediu a esposa, quebrou móveis e rasgou as roupas.
O governador Costa Rego chegou a conversar várias vezes com ele, aconselhando-o e até ameaçando-o com processo. Ele demonstrava arrependimento, chorava e voltava a maltratar a esposa, até que houve a separação. O casal teve dois filhos.
No início da noite de 9 de agosto de 1927, uma terça-feira, Eugênio Soares e Aída Wucherer voltavam do cinema acompanhados por Dulce e uma sobrinha. Quando desceram do automóvel na porta da casa do professor Goulart, na Av. da Paz, foram surpreendidos com a presença de Agenor Brasileiro.
Exasperado e demonstrando em seus gestos sinais de descontrole, acusava o concunhado de ter aconselhado sua esposa a separar-se dele.
Como não houve resposta, Agenor o agrediu com uma bofetada. Tentou continuar a agressão, mas foi contido e dominado pelo dr. Eugênio.
Já no interior da casa, acreditando que Agenor não mais praticaria violência, o médico afrouxou a imobilização. Foi o suficiente para o bancário se desvencilhar, sacar um revólver e desferir três tiros no suposto causador do fim do seu relacionamento. Em seguida cometeu o suicídio com a mesma arma, apontando-a para o seu coração e atirando mais uma vez.
Eugênio Soares foi levado com vida para o pavilhão de Cirurgias da Santa Casa, anexo ao Hospital São Vicente, apresentando dois ferimentos graves na região peitoral esquerda. A outra bala se alojou em um dos braços.
Com hemorragia interna por ferimento no estômago, faleceu às 6h20 do dia seguinte. Foi enterrado às 16 horas do mesmo dia com grande acompanhamento.
Agenor Brasileiro baixou à sepultura horas antes (8h) do mesmo dia 10 de agosto, também acompanhado por muitos dos seus amigos e familiares.
Quem foi José Eugênio Soares?
Esse jovem paraibano era filho dos comerciantes portugueses Adolfo Eugênio Soares e Amangele (ou Amanzile) Meira de Holanda Soares, que fizeram fortuna na Cidade da Paraíba, futura João Pessoa a partir de 1930. Alguns dos seus irmãos se destacaram na vida pública, tornando a família muito conhecida naquele estado.
Eram seus irmãos: deputado Oscar Eugênio Soares; general Ivo Eugênio Soares (foi chefe do Serviço de Saúde do Exército), deputado Orris Eugênio Soares (inspetor de bancos), diplomata Pedro Eugênio Soares e o desembargador Adolfo Eugênio Soares Filho (no Maranhão).
Há registros dos estudos de Eugênio Soares em Recife e depois no Rio de Janeiro, onde diplomou-se médico na Faculdade de Medicina em 1919.
No ano seguinte já trabalhava para o Departamento Nacional de Saúde Pública, passando a ser efetivo, após concurso, em 1921.
Em 1908, quando iniciava os estudos no Rio de Janeiro, conheceu o futebol e numa das férias em sua terra natal, levou com ele alguns amigos cariocas e uma bola. Na Cidade da Paraíba a presença do esporte inglês fez enorme sucesso e ainda naquele mesmo ano, os empolgados atletas fundaram o Club de Foot Ball Parahyba.
A primeira partida de futebol daquele estado aconteceu no dia 15 de janeiro e envolveu os jogadores da agremiação recém-fundada, que se dividiram em Equipe Norte e Equipe Sul (provavelmente a que tinha os amigos cariocas do jovem estudante).
O campo foi improvisado no Sítio do Coronel Manoel Deodato e muita gente foi assistir àquele que foi o primeiro jogo realizado na Paraíba.
Por lá residiam alguns ingleses, conhecedores do futebol, que trabalhavam na Great Western. Foi um deles, Frederico Voldkes, que orientou na definição das regras das partidas de futebol.
José Eugênio Soares é reconhecido hoje como o introdutor do futebol na Paraíba e citado em vários estudos sobre o tema.
Após a sua morte em Maceió, seu nome voltou a ser lembrado em 16 de janeiro de 1938, no Rio de Janeiro, quando nasceu o filho do empresário paraibano Orlando Heitor Soares (mais conhecido como Garoupa) e de Mercedes Leal Soares.
Orlando Soares era filho de Orris Eugênio Soares, um dos irmãos do médico vitimado em Maceió.
Para homenagear seu tio, Garoupa batizou o filho recém-nascido com o mesmo nome. Esse José Eugênio Soares veio a ser o consagrado artista Jô Soares.
A viúva Aída Wucherer
Quando se casou com o médico paraibano em 19 de abril de 1926, Maria Aída Wucherer era uma das jovens mais bonitas de Alagoas. Há registros de sua participação em pelo menos um concurso nacional de beleza promovido por uma famosa revista da época.
Nasceu em Maceió no dia 11 de agosto de 1906. Era filha de Alfredo Williams Armstrong Wucherer e de Honorina Otília de Souza Goulart Wucherer (casaram-se em outubro de 1894).
Honorina Otília era irmã de Alfredo Goulart e filha do professor e homeopata Francisco de Barros Pimentel Goulart (faleceu em setembro de 1931) e da também professora Rita Umbelina de Souza Goulart.
Alfredo Wucherer era filho de Gustavo Willian Wucherer, agente em Jaraguá da Companhia Inglesa de Navegação e um dos diretores da Estrada de Ferro Central. Era também o vice-cônsul da Inglaterra em Alagoas. Alfredo tinha uma irmã de nome Suzana Wucherer,
Além de Dulce, Aída teve ainda os irmãos Anibal Goulart Wucherer, Armando Goulart Wucherer e Alberto Goulart Wucherer.
O breve casamento com Eugênio Soares lhe deu o filho Carlos Eugenio Wucherer Soares, que militou na advocacia em Maceió por muito e foi também funcionário da Petrobras, prestando serviços no Ceará.
Em 1930, se assinava como Aída Wucherer Soares e era escriturária do Serviço de Saneamento Rural de Alagoas, na Praça Sinimbu, nº 278.
Casou-se em segunda núpcias (1931) com Nelson de Barros Pimentel Goulart Braga. Ele era representante comercial e no dia marcado para o casamento estava em São Paulo onde residia seu irmão, o médico Edgard Braga (nasceu em Maceió no dia 10 de outubro de 1897), um dos poetas do grupo que realizou a Semana de Arte Moderna de 1922.
O casamento se deu por procuração e foi confirmado pelo então juiz de Paz José Caralâmpio de Mendonça Braga. Desta união nasceram Maria Thereza Wucherer Braga (em 27 de maio de 1930) e Maria de Lourdes Wucherer Gusmão (Lulu).
Com a morte de Nelson Braga em 26 de março de 1936, Aída voltou a casar em 1938, desta feita com José Caralâmpio de Mendonça Braga (faleceu em 7 de julho de 1982), com quem teve as filhas Maria Edwiges Wucherer de Mendonça Braga e Maria Rita Wucherer de Mendonça Braga.
Nos anos da década de 1950, acompanhando o marido no Rio de Janeiro, que cumpria mandatos de deputado federal, Aída Wucherer investiu no seu aprimoramento como professora de canto e teatro.
Foi graduada em canto pelo Conservatório Brasileiro de Música e fez cursos de aperfeiçoamentos em Roma, Paris e Frankfurt. Conseguiu ainda licenciatura em Filosofia e Psicologia, com Mestrado.
Em parceria com Venúzia de Barros Melo, criou em 15 de junho de 1956 o Conservatório de Música de Alagoas.
Sua atuação no teatro, no canto e nas letras a colocam como uma das mulheres que mais se destacaram nas artes em Alagoas durante o século XX, sendo responsável pela formação artística de várias gerações.
Aída Wucherer faleceu em 2000 no Rio de Janeiro.
Quem foi Agenor Guimarães Brasileiro?
Filho do comerciante Antônio Brasileiro e de Anna Guimarães Brasileiro, nasceu em 29 de março de 1896. Foram seus irmãos Arthemisia, Alayde, Antônio e Antenor.
Seu pai foi um importante comerciante, proprietário de um armazém de importação e exportação em Jaraguá. Antônio Brasileiro era filho do português Rodrigo Antônio Brasileiro Maceió. Em 1880 há registros deste como sendo o proprietário do Engenho Lameirão. Dois anos depois vendeu o Engenho Riacho Preto na Vila de Atalaia.
Agenor Brasileiro chegou a estudar na Europa, de onde voltou após o início da 1ª Guerra Mundial. Em Maceió, trabalhava no Banco do Brasil.
Em 2 de outubro de 1925, casou-se com Dulce Wucherer e tiveram dois filhos. Estavam separados quando teve um surto e assassinou o concunhado, se matando em seguida.
Trágico fim de pessoas que eram de grande importância para Alagoas. Deixaram de realizar muitas coisas para a saúde do estado. Parabéns pela narrativa. Simples, objetiva, real.
Sou Carlos Manuel de Mendonça Braga Diegues, neto de Aida e de Mendonça Braga, filho de Maria Edwiges. Estou impressionado com esse relato, que já conhecia, mas desconhecia os detalhes. Minha avó foi um expoente de vida e nas artes. Uma mulher única. Que viveu uma vida única. Inspiração pra muitos. Ela não gostava de falar sobre essa historia, mas acho importante q saibamos com detalhes desse ocorrido, apesar de ter certeza q ela deve estar bem brava, lá do outro lado da vida.
Conheço detalhes desta história contados pelo meu marido Carlos Eugênio Wucherer Soares, único filho do médico José Eugênio e da Professora Maria Aida.
Quem conseguiu ler “Uma tragedia alagoana” de Félix Lima Junior? Trata-se de um acidente de grandes proporções ou de outra tragédia familiar?
Que história impressionante! Bela narrativa! Sou pernambucano, mas Alagoas é a minha terra. Estas histórias, estas conexões entre diversos personagens, de lugares diferentes, me fazem ter ainda mais certeza que nossa querida Alagoas jamais foi coadjuvante na história do Brasil!
A sepultura dele ainda existe
Conheci Cláudio Alberto wucherer brasileiro, filho de Agenor e Dulce . Ele casou com minha avó( Valdete ramos Brasileiro ) no rio de janeiro e tinha o mesmo problema do pai, tomava remédios controlados por toda vida . Se mudaram para Sergipe onde as filhas de Valdete moravam, ele Morreu em Aracaju – Sergipe na época ainda era casado.