Novo Lino, terra de Manoel Baraúna
Vários registros sobre a origem do município de Novo Lino, em Alagoas, localizam o início de sua povoação no antigo Sítio Lino, que teria sido doado pelo imperador D. Pedro II, em 1868, ao alferes Manoel Baraúna como prêmio pela atuação como militar na Guerra do Paraguai.
O História de Alagoas identificou uma possível inconsistência nessa versão: a Guerra do Paraguai terminou somente em 1870, o que torna pouco provável essa premiação em 1868.
Quando o Decreto Imperial nº 3.371, de 7 de janeiro de 1865, criou os Corpos Voluntários da Pátria para a Guerra do Paraguai, definiu algumas recompensas para os inscritos, como as estabelecidas no Art. 2º: “Os voluntários, que não forem Guardas Nacionais, terão, além do soldo que percebem os voluntários do Exército, mais 300 rs. diários e a gratificação de 300$000 quando derem baixa, e um prazo de terras de 22.500 braças quadradas nas colônias militares ou agrícolas. Outro decreto, o de nº 3.508, de 30 de agosto de 1865, concedeu esses mesmos favores aos Guardas Nacionais, o que justificaria a premiação ao alferes Manoel Baraúna.
Entretanto, segundo informação apresentada pelo historiador Moacir Medeiros de Sant’ana no livro Contribuição à História do Açúcar em Alagoas, que registrou a presença do engenheiro Carlos de Mornay por aqui, revela que: “de 14 de novembro de 1871 até 14 de março de 1873 [Mornay] fez parte da comissão de determinação de lotes de terra para os Voluntários da Pátria, na extinta Colônia Militar Leopoldina”. Assim, fica mais evidente que se o alferes Manoel Baraúna recebeu um lote de terra por sua participação na Guerra do Paraguai, não foi em 1868.
A outra possibilidade, levantada pelo História de Alagoas, considera a informação que os soldados da antiga Colônia Militar Leopoldina, quando da sua extinção pelo Aviso de 18 de junho de 1867, receberam lotes da légua quadrada, que era a área daquele empreendimento militar. Assim está descrito num mapa do engenheiro Carlos de Boltenstern de 1871: “Légua quadrada que foi destinada aos soldados da extinta colônia militar Leopoldina”. Se a distribuição de terras se deu dessa forma, fica explicado que um militar tenha recebido um desses lotes em 1868, antes do fim da Guerra do Paraguai.
Quanto ao nome Lino, essa pesquisa identificou que a Serra do Lino, nas proximidades, já constava num mapa de 1851. No Termo Declaratório da demarcação da Colônia, essa serra é novamente citada: “Este marco ficou distante da margem esquerda do rio Manguaba quinhentas braças aproximadamente e a duzentas do caminho que pela serra do Lino comunica o Macaco com o lugar denominado Onça”. Essas menções indicam que a alguém da família Lino tinha propriedade naquela área.
Em 1871, num dos estudos mais antigos sobre Alagoas, Thomaz Espíndola se refere ao então distrito de Leopoldina, pertencente a Porto Calvo — passou a ser município em 20 de junho de 1923 —, como tendo 455 habitações e 2.098 habitantes, distribuídos por 9 quarteirões:
1. Leopoldina (distrito desde 5 de julho de 1861) – 93 habitações e 365 habitantes; 2. Macuca e Taquara – 71 habitações e 343 habitantes; 3. Frio – 65 habitações e 257 habitantes; 4. Serra de São João – 56 habitações e 260 habitantes; 5. Riacho de Pedras – 48 habitações e 272 habitantes; 6. Saipé e Caneca – 35 habitações e 214 habitantes; 7. Gavião – 34 habitações e 145 habitantes; 8. Porto da Folha – 33 habitações e 137 habitantes; e 9. São Bernardo – 20 habitações e 105 habitantes.
Em outras publicações sobre a antiga Colônia Militar é citada a existência de um segundo distrito, com 5 quarteirões:
1. Cova da Negra – 80 habitações e 429 habitantes; 2. Pilões, 51 habitações e 722 habitantes; 3. Boca da Mata – 17 habitações e 105 habitantes; 4. Roçadinho – 65 habitações e 382 habitantes; e 5. Imprensa – 65 habitações e 155 habitantes.
Em um destes estava o lote do alferes Manoel Baraúna. Com a sua morte, 20 anos após receber as terras, seus herdeiros repartiram a área e em uma delas surgiu o povoamento da futura Novo Lino. A ocupação do lugar se ampliou com a chegada das famílias Messias Dias e Guedes de Melo.
Entretanto, foi somente com a construção da rodovia BR-11 Norte (atual BR-101), que Novo Lino se desenvolveu e criou condições políticas para pleitear a sua emancipação de Colônia Leopoldina.
A BR-11 Norte permitiu uma melhor interligação entre Maceió e Recife. Essa rodovia federal se estendia de João Pessoa, na Paraíba, até Feira de Santana, na Bahia, passando por Recife, Maceió e Aracaju. A pavimentação do trecho de Alagoas, que atingia a fronteira com Pernambuco em Frios, foi iniciada em 1955, no governo de Arnon de Mello, e inaugurada em 23 de janeiro de 1961, nos últimos dias do governo de Muniz Falcão.
A emancipação de Novo Lino ocorreu em 1º de dezembro de 1962, com a publicação da Lei nº 2.490. Foram ativos responsáveis por esta conquista, entre outros, Paulo Gomes de Barros, Alfredo Soares da Silva, Manoel Claudino Lemos, Manoel Sebastião de Lemos, Antonio Buarque de Lima, Izaías Buarque de Lima, João Constâncio Lima Filho, Aloísio Tavares Cordeiro, Carlos Gomes de Barros, Caetano Cavalcante, Manoel Messias da Cruz, Dionísio Guedes de Melo, Benedito Guedes de Melo e Messias José Dias.
Muito grato, Ticianeli.
Fiquei curioso pra saber qual era o “velho” Lino que forçou a cidade a ganhar um “novo” no nome, hehehehe