Montepio dos Artistas Alagoanos
No dia 5 de agosto de 1883, um domingo, no salão do sobrado do tenente Luiz Effigenio do Rosario, ocorreu uma reunião entre artistas para organizar o auxílio a um colega, Antônio José de Araújo, que estava doente. Fez-se então uma coleta e o arrecadado foi entregue ao artista acamado. Liderados por Manoel Menezes, os profissionais ali reunidos deliberam realizar nova reunião no domingo seguinte, 12 de agosto, para discutir a organização de uma associação capaz de enfrentar situações como aquela que atingia a Antonio José de Araújo.
No dia marcado, dezenas de artistas lotaram o mesmo local e propuseram a criação do Montepio dos Artistas Alagoanos. O encontro, que novamente foi liderado por Manoel Ribeiro Menezes de Barreto, contou com a participação da banda de música da Polícia.
Os Montepios surgiram na Itália ainda no século XV, por iniciativa dos franciscanos. Os participantes dessas sociedades privadas contribuíam para um fundo que garantiam assistência aos seus familiares, quando estivessem impossibilitados de trabalhar, e uma pensão em caso de morte.
A proposta criação do Montepio dos Artistas Alagoanos foi aprovada na histórica assembleia de 5 de agosto de 1883 e imediatamente eleito o conselho provisório, que ficou assim definido: presidente, Manoel Ribeiro Barreto de Menezes; vice-presidente, professor Valério de Farias Pinheiro; 1º secretário, Carlos Rodrigues; 2º secretário, Pedro Nolasco; tesoureiro, Epaminondas Belmiro dos Santos; orador acadêmico, Manoel Raymundo da Fonseca.
A diretoria provisória reuniu-se no dia 15 de agosto de 1883, no escritório do presidente, na Rua Senador Sinimbu (atual Rua do Comércio) para elaboração dos estatutos.
No dia 6 de setembro, a sociedade foi autorizada a funcionar pelo presidente da Província, Henrique de Magalhães Salles. Para presidir inicialmente o Montepio, indicou Graciano Baptista da Lapa Dantas.
O Monte Pio dos Artistas Alagoanos (era assim grafado) foi fundado em 3 de outubro de 1883. Associava os profissionais em vários ofícios, principalmente os artesãos, como tipógrafos, pedreiros, sapateiros, oleiros, barbeiros, ferreiros, pintores, carpinteiros, alfaiates, funileiros, ourives e tanoeiros (fabricantes de barris e toneis).
Sua primeira diretoria foi composta por: Manoel Menezes, presidente de honra; Graciliano Lopes Dantas, presidente efetivo; Pedro Nolasco, 1º Secretário; Antônio Alves, 2º Secretário; Idelfonso Mesquita, orador e Luiz Efigênio, tesoureiro. Um dos seus sócios honorários foi Tibúrcio Valeriano de Araújo.
No Orbe de 24 de outubro de 1883, em um texto editorial, o Montepio dos Artistas já se encontrava em atividade e foi citado como a instituição que “procura realizar” um liceu de artes e ofícios. Entretanto, a instalação festiva do Montepio aconteceu de fato no dia 31 de outubro de 1883, às 19 horas no sobrado do tenente Luiz Effigenio do Rosário, tesoureiro da entidade.
No dia 18 de novembro de 1883, o Orbe publicou que Luzia Custodia do Amparo Ferraz, filhos e genros agradeciam aos que “acompanharam até o cemitério, o cadáver de seu sempre chorado marido, pai e sogro Miguel Archanjo Ferraz, e principalmente aos dignos cavalheiros da Monte Pio dos Artistas a iniciativa que tomaram no enterro do mesmo finado”.
A criação do Lyceu de Artes e Officios foi atribuída aos esforços e cobranças do Montepio dos Artistas em matéria do Orbe de 3 fevereiro de 1884.
O jornal informou que naquele dia houve uma festa solene para a inauguração do Lyceu, explicando que a imprensa tinha defendido a causa, mas foi o Monte Pio dos Artistas que “compreendendo que lhe interessava de perto, e que o princípio da ação lhe competia determinou, por um louvável impulso de bem fazer, criar o Lyceu de Artes e Officios“.
O Orbe registrou ainda que o presidente da província, Henrique de Magalhães Salles, ofereceu seu prestígio “convidando vários cavalheiros a cooperarem para o empreendimento”.
A inauguração do Lyceu foi noticiada pelos jornais de 6 de fevereiro de 1884. O representante do Monte Pio, Luiz Monteiro de Carvalho, usou a palavra no evento. Para administrar o Lyceu foi formada a Sociedade Protetora da Instrução.
Em 1885, o Montepio dos Artistas fundou sua primeira escola, a Escola Graciliano Lopes Dantas.
Sobre a sede dessa instituição, uma nota publicada no jornal Pátria, de 13 de novembro de 1892, informou que “no dia 15, às 4 horas da tarde, em comemoração à fundação da República, a sociedade do Montepio dos Artistas dará Posse a sua nova diretoria, inaugurando ao mesmo tempo o seu novo edifício“.
Em 1902, esse prédio já passava por nova reforma, ganhando um segundo pavimento. Essa ampliação foi anunciada no relatório do governador Euclides Malta em abril daquele ano. Em sua “Falla” aos deputados, informou que ia reformar a fachada do prédio de acordo com uma nova planta, elaborada pelo governo, e que doaria 2:000$000 à instituição, recursos retirados dos dinheiros de loteria. O projeto era de Luiz Lucaryni.
Reconheceu ainda que a sociedade Montepio dos Artistas Alagoanos continuava a prestar serviços de socorros às viúvas dos sócios e aos pensionistas inválidos, e que possuía uma biblioteca frequentada aos domingos pelos associados.
Praça do Montepio
Em sessão do Conselho da Intendência Municipal, no dia 4 de fevereiro de 1890, o conselheiro Filigonio A. Jucundiano de Araujo aprovou uma indicação com seguinte teor: “a praça em cuja frente tem sua sede a sociedade do Monte Pio dos Artista seja denominada praça do Monte Pio dos Artistas como homenagem devida a ter sido ali inaugurado o primeiro Club Republicano“.
De fato, o Centro Republicano Federalista foi fundado em 11 de julho de 1886 em evento realizado na sede do Montepio dos Artistas.
Em 1912, com o assassinato do advogado Bráulio Cavalcanti, a Praça do Montepio dos Artistas passou a homenagear o bravo filho de Pão de Açúcar. O seu busto foi inaugurado ali no dia 16 de setembro de 1917. Entretanto, a vontade popular optou por continuar a se referir ao espaço como Praça do Montepio.
No dia 10 de outubro de 1897, o Orbe publicou nota com a chapa vencedora das eleições que escolheu a direção do Montepio: presidente, coronel Domingues Lordsleem; vice-presidente, capitão Rufino Christiano Foght; 1º secretário, José Valeriano da Costa; 2º secretário, Manoel Cajazeira; Orador, capitão Pedro Nolasco Maciel; e tesoureiro, major João Guilherme Romeiro e Silva.
Em anúncio do dia 14 de janeiro de 1898, publicado também no Orbe, o Montepio dos Artistas informou que estavam abertas as matrículas em sua escola para o curso noturno.
As disciplinas das aulas de instrução elementar eram as seguintes: Português, Aritmética, Geometria, Francês Teórico, Música, Escrituração Mercantil, Desenho, Geografia e Francês Prático.
Há registros de que na sede do Montepio existia um teatrinho e que no dia 14 de setembro de 1898, por ocasião do aniversário da independência de Alagoas, foi apresentado o drama Efeitos da Infelicidade Conjugal.
No dia 11 de outubro de 1899 foi noticiado no Orbe que a eleição para a diretoria do Montepio, biênio 1899/1900, seria realizada no dia 15 daquele mês. A chapa teve a presidência do coronel Domingues Lordsleem.
No dia 2 de fevereiro de 1908 foi noticiado que houve reforma do estatuto do Montepio dos Artistas. O presidente nesse período era Almino de Oliveira Farias. Em março de 1910 o presidente era o coronel José Rodrigues Braga.
O jornal Gutemberg de 9 de março de 1911 publicou anúncio do Montepio dos Artistas informando que a Escola Noturna tinha o seguinte corpo docente: Curso Primário (1º e 2º anos), Manoel Estevam e José de Lima; Curso Elementar, (Aritmética) Benedicto Cunegundes e (Geometria Plana e Desenho) Emilio Machado; Geografia Geral, Chorographia e História do Brasil, Almeida Leite; e Curso Secundário (Português), Emílio Machado.
Em 1922, era seu presidente o deputado estadual Ângelo Martins. O Montepio dos Artistas, em 6 de janeiro de 1951, fundou a Escola Domingos Lordsleem.
Criado originalmente para auxiliar as viúvas, os filhos órfãos e qualquer um dos seus membros que fosse atingido por moléstia que o impossibilitasse de trabalhar, o Montepio dos Artistas Alagoanos cumpriu um papel também destacado no ensino e na cultura de Alagoas.
Para mensurar a sua importância, vale a pena conhecer o episódio que envolveu Pedro Nolasco Maciel, um dos seus fundadores.
O tipógrafo e jornalista Pedro Nolasco também fundou a Associação Tipográfica Alagoana de Socorros Mútuos e o jornal Gutemberg, além de ser durante sua vida redator de mais de uma dezena de jornais e professor de estenografia da Sociedade Libertadora Alagoana e do Liceu de Artes e Ofício.
Osvaldo Batista Acioly Maciel, no livro Traços e Troças, literatura e mudanças sociais em Alagoas, organizado por Sávio Almeida em homenagem a Pedro Nolasco, o descreve como “tipicamente um desses indivíduos impregnados pela cultura associativa do período”, tendo participado de inúmeras entidades.
Foi este Pedro Nolasco que surpreendeu a todos ao publicar uma nota no Orbe de 26 de janeiro de 1890 explicando um episódio acontecido no domingo 23 de janeiro, em que foi caluniado e acusado de falar de política em uma das suas conferências.
Nolasco declarou que para evitar desgostos à sua família, deixava “de fazer parte de hoje em diante de todos os clubes e sociedades, políticas ou não, que me honraram inscrevendo o meu humilde nome na lista de seus dignos associados”.
Entretanto, fez uma ressalva. “Ao Montepio dos Artistas fico pertencendo por ser uma corporação beneficente, mas resigno o cargo de orador com que me distinguiram os meus dignos companheiros”. A nota foi assinada no dia 24 de fevereiro.
Hoje, o prédio histórico do Montepio dos Artistas Alagoanos, que foi projetado por Luiz Lucariny, mesmo sendo utilizado para fins comerciais, mantêm-se parcialmente preservado.
Entretanto, a praça que homenageou o Montepio, por resolução da Intendência publicada no dia 7 de fevereiro de 1890 (O Orbe), não tem recebido o mesmo tratamento e está órfã e abandonada, precisando urgentemente de um montepio.
Olá.
Gostaria de ver mais fotos antigas que não era da época será possível.
Quantos prédios bonitos foram destruídos pela boçalidade…
Eu queria o resumo da historia da praça pois assim tem muitas coisas que se repete e a pessoa gica meio perdida
Montepio dos artista desenvolveu um papel maravilhoso.
Dois tios- avós meus foram membros do Montepio dos Artistas; são eles : Major João Guilherme Romeiro e Silva e o professor Benedicto Cunegundes.
Parabéns ao site pelo importante registro histórico.
Tudo belíssimo , hoje um Caos … a humanidade é assim uns constroem outros destróem !!! ,
Mais uma praça, sendo destruída pela prefeitura Maceió.