Miss Alagoas Enid Peixoto Braga e a carta a Darcy Vargas

Enid Peixoto Braga
Enid Braga tinha 18 anos e estudava no Lyceu Alagoano quando foi escolhida Miss Alagoas

Enid Braga tinha 18 anos e estudava no Lyceu Alagoano quando foi escolhida Miss Alagoas

Com 18 anos de idade e estudando no Lyceu Alagoano, Enid Peixoto Braga foi eleita miss Alagoas em 1936. Com esse triunfo, participou em seguida no Rio de Janeiro do certame nacional que escolheu a mulher mais bonita do Brasil.

O concurso foi organizado pelos “Diários Associados“, que produzia a revista O Cruzeiro, o veículo de maior circulação no país durante algumas décadas.

Entrevistada pelo repórter Mário Bretas do Jornal de Alagoas, Enid falou pouco, ou pelo menos se publicou muito pouco do que ela falou. A revista claramente queria fotos dela sem dar maior importância ao que tinha a dizer.

A reportagem informa que as fotografias tiveram como cenário a sua residência, prédio que atualmente abriga o Cesmac e já que foi sede do Colégio Guido, na Rua Ângelo Neto, Farol.

Veja a matéria publicada na revista O Cruzeiro em 7 de janeiro de 1939.

“Os alagoanos foram imensamente felizes na escolha de candidata no certame de “A mais linda jovem do Brasil”. Enid Peixoto Braga é um encanto de criatura. Está em pleno vigor de sua mocidade. Tem 18 anos e é uma das mais aplicadas alunas do Lyceu Alagoano.

Um repórter do “Jornal de Alagoasentrevistou a moça mais bonita da terá dos marechais, a graciosa colegial Enid Peixoto Braga, seria concorrente ao título que vai revelar ao mundo o tipo padrão da beleza da mulher brasileira.

Disse:

— Veja que ironia. Uma estudante representando Alagoas num concurso tão empolgante.

O repórter ficou pensando. Ironia? Por que ironia?

Enid Braga morava na casa que hoje é o Cesmac da Rua Ângelo Neto

Enid Braga morava na casa que hoje é o Cesmac da Rua Ângelo Neto

Estudantes foram as lindas “misses” da Finlândia, Suíça, França e Paraguay. Estudantes são as senhoritas Neyde Tinoco, Jahyra Laffitte, respectivamente, misses Estado do Rio e Paraná.

Enid prosseguiu:

— Gosto de esportes. Nado, pratico ping-pong e aprecio hipismo.

A conversa foi longa e cheia de encantos. Anoitecia quando o repórter deixou a residência de “miss” Alagoas. O farol, de instante a instante, acendia a luz iluminando o mar. Muito longe passava o “Monte Alegre“, rumo a Aracaju.

Foi assim a entrevista de Enid Braga a um repórter dos “Diários Associados“. Entrevista tomada na residência de Enid Braga, linda vivenda no bairro do Farol, dominando toda Maceió. A Maceió, que numa noite de primavera, vibrou diante da proclamação de “Miss” Alagoas, título disputado pelas mais lindas jovens da terra de Tavares Bastos.

Dentro de alguns dias a linda estudante estará nesta capital, onde disputará o título da “Mais linda jovem do Brasil”, em imponente desfile de elegância no “Grill-Room” da Urca“.

Carta a Dona Darcy Vargas

Em 1936, Enid Braga deve ter dito muita coisa inteligente ao repórter do Jornal de Alagoas, que preferiu não divulgar. Entretanto, em 1954 ela se fez lida em todo o Brasil ao publicar uma carta endereçada a Darcy Vargas, viúva de Getúlio Vargas, o presidente que tinha cometido suicídio no mês anterior, precisamente no dia 24 de agosto daquele ano.

A edição do jornal Última Hora de 16 de setembro de 1954 publicou com destaque, na página 7, o protesto da ex-miss Alagoas de 1939 contra o “Inquérito do Galeão“. Era uma posição corajosa da então funcionária pública, considerando que os militares já se mobilizavam para o golpe que só aconteceria dez anos depois, em 1964.

Enid Braga foi morar e trabalhar no Rio de Janeiro

Enid Braga foi morar e trabalhar no Rio de Janeiro

Eis na íntegra a carta publicada no Última Hora:

Carta a Dona Darcy

Recebemos:

“Sr. Redator,

Revoltada diante da humilhação que essa incrível e já famosa comissão de inquérito do Galeão pretendeu infringir à bondosa senhora Darcy Vargas, sem nenhum respeito à sua mágoa, não me contive, e lhe peço dar publicidade nas colunas do seu prestigioso jornal.

Descendente do grande Marechal Floriano Peixoto não posso deixar de ter o maior apreço pelas Forças Armadas do meu País. Entretanto, é força confessá-lo, não corresponde às tradições de cavalheirismo dos militares, esse gesto que o povo brasileiro inteiro condena.

Cordialmente,

(a.) — Enid Peixoto Braga”.

A Carta [a Darcy Vargas]

Minha nobre Senhora:

Beijo respeitosamente as vossas mãos, essas abençoadas mãos, que ainda não se cansaram de levar ao lar humilde dos pobres — que vos adoram, as dádivas da vossa bondade e o conforto moral do vosso carinho.

Ainda amargurada ante a dolorosa lembrança do desaparecimento de vosso digno esposo — o grande e incomparável Presidente Getúlio Vargas, foi com a mais profunda revolta que tomei conhecimento da atitude mesquinha desses desnaturados e cruéis inquisidores que estão maculando as tradições de cavalheirismo das Forças Armadas do Brasil.

É lamentável que esses cavalheiros, guiados pelos despautérios de um jornalista, desvairado de ódio, não se detivessem sequer diante de vossa dor!

Creia, porém, minha senhora, que os vossos sofrimentos são compartilhados por toda a família brasileira.

As crianças desprotegidas que amparastes, dando-lhes abrigo; os humildes e explorados trabalhadores em cujas casinhas toscas e desguarnecidas fostes afugentar o espectro da fome; os velhos e os velhinhos de olhares tristes e vagos que o vosso sorriso procurou consolar. Essa multidão de párias que a vossa extrema solicitude e ternura acudiu, não aceita, sem um veemente protesto, a grosseria inominável que vos fizeram.

De cada peito parte um brado de reprovação, que se une e se avoluma numa torrente de maldições aos insensíveis que vos molestaram na hora mais amarga da vossa vida.

Sirva, porém, de conforto ao vosso terno coração, nas horas tristes que viveis, a certeza de que o Brasil fiel e reconhecido à memória do vosso insigne esposo acompanha emocionado, os vossos passos nesse calvário que palmilhais. Jesus, o bom e o justo, pregador de uma doutrina de doce fraternidade, teve o seu quinhão de opróbrio e de dor. Mas, da sua morte, só ressalta a notícia da sua gloriosa Ressurreição. Os tempos passam e os maus se aniquilam. A pena que divulga a calúnia, que agride, que intriga, não tem resistência e se quebra.

O vilão, o perverso, o déspota, se fatigam das misérias praticadas e nas tramas das suas próprias maldades, encontram o castigo e a maldição.

Só o amor constrói para a eternidade“.

A vossa alegria deve estar nas bênçãos dos que amparastes e vossa glória na eternidade do vosso exemplo, de mãe extremosa, de esposa modelar e, sobretudo, de augusta semeadora do Bem. Respeitosamente

Enid Peixoto Braga

Rua Barão de Ipanema, 22, 10º andar”.

2 Comments on Miss Alagoas Enid Peixoto Braga e a carta a Darcy Vargas

  1. Elisama farias // 3 de novembro de 2015 em 11:52 //

    Poderian me dizer qual era o parentesco de Enid e Floriano?

  2. João Marcos Carvalho // 9 de junho de 2020 em 15:35 //

    Belo registro histórico !

Deixe um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*