Miguel Torres, o pintor de Viçosa
Miguel Torres de Oliveira nasceu em Viçosa, Alagoas, em 2 de fevereiro de 1904.
Aos 10 anos de idade foi morar e estudar em Maceió, onde iniciou seus aprendizados no desenho e na pintura com Lourenço Peixoto. Na adolescência, quando era aluno do antigo Liceu Alagoano, esteve muito doente.
No Rio, para onde foi em 1936, recuperou sua saúde e passou estudar com Manoel Valente e Jordão Oliveira, frequentando ainda a Escola Nacional de Belas Artes.
O primeiro registro do seu nome em jornais do Rio de Janeiro ocorreu em 23 de setembro de 1943. Numa resenha crítica sobre o Salão Nacional de Belas Artes, que aconteceu entre 11 de setembro e 10 de outubro, o alagoano é assim citado: “Miguel Torres nos mostra uma ‘Natureza Morta’ (141) muito plástica, com pinceladas certas, e bons valores nos objetos. É um novo, que ainda não conhecíamos, e que, no entanto, se apresenta otimamente”.
No Jornal do Comércio de 24 de setembro há a descrição da sua obra, na qual se via “um tampo de mesa, um violino, algumas rosas numa jarra de vidro e uma Vênus de Milo, tudo tão corretamente executado que de certo a deusa lamentará não poder, por falta de braços, tocar aquele instrumento…”.
Em março de 1945, a revista O Malho voltou a colocá-lo em evidência. O crítico H. Pereira da Silva, em sua coluna Traços Psicológicos de um Artista, avalia assim as rosas pintadas por Miguel Torres: “Pintores há, que as fixam de modo tão natural, que chegamos, por momento, a esquecer que são pintadas. Esta, pelo menos, é a impressão que nos causam as rosas de Miguel Torres, pintor ainda um tanto desconhecido”.
Avaliava o crítico que ele não pertencia a nenhuma escola: “pinta o que sente. Por isso mesmo, suas telas são tristes e revelam quase sempre o estado d’alma do seu criador”. E conclui afirmando que sem a sua arte, ele “seria talvez um vencido, ou quando muito, um medíocre”.
Um ano após, em março de 1946, Miguel Torres já não era um pintor “um tanto desconhecido”. A própria revista O Malho, do Rio de Janeiro, o trata como um “jovem pintor alagoano que conquistou com o seu esforço e seu talento um lugar ao sol nos agitados arraiais da arte brasileira”.
A reportagem exibia sua foto e a reprodução de três quadros para informar que ele estava de viagem para Alagoas e Pernambuco. “O festejado artista vai ao Nordeste, de onde saiu um dia cheio de sonhos e aspirações, a fim de colher material para uma grande exposição que será realizada à sua volta nesta capital, sob os auspícios da Associação dos Artistas Brasileiros”.
Voltou a ser notícia em dezembro de 1947, quando expôs no Salão Oficial de Belas Artes,no Rio de Janeiro. O seu quadro Velho do Nordeste recebeu menção honrosa.
Em janeiro de 1948 expôs a tela Cajus no Salão da Sociedade Brasileira de Belas Artes. Segundo a crítica publicada no Jornal do Comércio de 30 de janeiro, tinha “boas cores e valores certos”.
Quatro meses depois inaugurou, no dia 18 de maio de 1948, sua mostra particular no saguão do Museu de Belas Artes. O Jornal do Comércio identificou que as seguintes obras foram expostas: Felícia (índia mansa), Gogó da Ema (uma palmeira formando um 8 horizontal), Iglesias (uma casa em uma elevação de terreno), Flores (com bom amarelo contrastando com o azul do vaso), Canjica (natureza morta com os ingredientes da iguaria), Golpe de Sol e Cravos Vermelhos.
E ainda: Mocambo em Olinda (uma choupana entre verdes monótonos), Malmequer (o maior quadro da mostra com uma figura sentada desfolhando uma flor), Mesa de Rosas, Mesa de Cozinha, Campo de Sant’Anna, Casa de Caboclo e Jambos do Pará e Cajus.
A critica cita ainda: Cajuada (cajus espelhados sobre a mesa), Velho do Nordeste, Margem do Capiberibe, Rosas em Profusão, Abóboras e laranjas, Sobremesa, Bastão do Imperador, Pitús, Engenho de Fogo Morto, Goiabas e Beneditas.
A avaliação da exposição foi a seguinte: “Do conjunto pode deduzir-se a capacidade interpretativa do Sr. Miguel Torres, da mesma maneira que o progresso que vem fazendo, bastante seguro de si. Cremos que, com um pouco mais de liberdade, suas telas ganhariam outro vigor, mais ‘aisance’, menos prisão a certos pormenores que endurecem o trabalho, aproximando-o do que se chama, pejorativamente, ‘amadorismo’”.
Em junho de 1948, participou com duas paletas (um barco e peras e metal) da Exposição de Paletas de Artistas Contemporâneos, na Sala da Mulher Brasileira do Museu Nacional de Belas Artes.
No período de 6 a 20 de julho de 1948 foi realizada a Exposição do Joint (American Jewish Joint Distribuition Committee) no hall principal do Museu Nacional de Belas Artes. Esta mostra foi organizada pela pintora Paulina Kaz e reuniu obras de dezenas de artistas, entre elas, um quadro de Miguel Torres.
Em 11 de dezembro de 1948, o jornal Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro anunciou mais uma exposição de Miguel Torres: “Este exímio artista patrício está expondo suas telas no pequeno salão da Associação dos Artistas Brasileiros, no Palace-Hotel. É uma coleção de paisagens, figuras e natureza-morta, feitos com larga fartura e rara felicidade do colorido e volumes bem colocados em atmosfera adequada. A mostra Miguel Torres tem sido muito visitada e apreciada por conhecedores da nossa pintura, onde o artista já tem seu prestígio assegurado”.
Essa mostra antecedeu o Salão Nacional de Belas Artes de 1948, que foi aberto no dia 20 de dezembro. Miguel Torres recebeu medalha de bronze.
Em 1949, expôs na Galeria de Artes Clássicas, no Rio de Janeiro.
Seus trabalhos também foram exibidos, ainda em 1949, em Maceió, no Teatro Deodoro, e em novembro no 6º Salão Anual de Pintura realizado em Recife. O seu quadro Velho do Nordeste recebeu o primeiro prêmio. Nessa mesma mostra, Natureza Morta recebeu também o primeiro prêmio da Faculdade de Filosofia da Universidade de Recife.
No ano seguinte, voltou a Maceió para expor no Clube Fênix Alagoana.
Em 1952, Miguel Torres retornou a Alagoas definitivamente e instalou seu ateliê em Rio Largo.
Realizou, em 1958, exposições na Rua das Verduras, atual Rua Dr. Pontes de Miranda; no Cine Arte, que depois foi o Cine São Luiz, e no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas.
Em 1962, trouxe o seu ateliê para capital, onde continuou ajudando a formar inúmeros artistas alagoanos.
Sua última mostra ocorreu em 1970, no Teatro Deodoro, na capital. Faleceu em Maceió no dia 4 de setembro de 1977.
Em sua homenagem, a Galeria de Arte do Teatro Deodoro recebeu o seu nome em março de 1980. A Galeria de Arte da Aliança Francesa de Maceió também presta tributo ao pintor alagoano
Uma das vias do bairro Benedito Bentes em Maceió recebeu o nome de Rua Pintor Miguel Torres de Oliveira.
Excelente trabalho de resgate.
Para minha surpresa, visitei a galeria de artes do teatro Deodoro, e o funcionário da diretoria do teatro não conhecia aquele espaço com o nome do artista Miguel Torres. Lamentável.