Médico alagoano Luís de Góis suspeito da morte de João Dantas em 1930
João Duarte Dantas assassinou João Pessoa em 26 de julho de 1930 na confeitaria A Glória, rua Nova em Recife, por questões de ordem pessoal
O assassinato do presidente da Paraíba, João Pessoa, entrou para a história como o estopim da Revolução de 30, deflagrada em 3 de outubro daquele ano.
Ele tinha sido o candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Getúlio Vargas nas eleições de 1º de março de 1930, que foi derrotada pela candidatura de Júlio Prestes.
João Pessoa foi assassinado por João Duarte Dantas no dia 26 de julho de 1930, na confeitaria A Glória, rua Nova em Recife, por questões de ordem pessoal.
As famílias eram inimigas na Paraíba e dias antes João Dantas tivera o escritório de advocacia saqueado e algumas cartas e poemas de amor da escritora Anayde Beiriz foram retirados do cofre e divulgadas provocando um escândalo.
Após o crime, João Dantas foi preso e levado para a Casa de Detenção do Recife, onde ficou encarcerado em companhia do seu cunhado, o engenheiro Augusto Moreira Caldas, também acusado de autoria material do crime.
Na tarde de 6 de outubro, apenas três dias após o início da Revolução liderada por Getúlio Vargas, os dois detidos foram encontrados mortos na cela. O jornal Diário de Pernambuco deu a notícia no dia seguinte informando que eles teriam praticado o suicídio, tese supostamente comprovada pela presença de um bisturi e de dois bilhetes.
O Diário da Manhã de 7 de outubro detalhou que João Dantas “tinha a carótida seccionada por um profundo golpe”, e que Moreira Caldas também teve a mesma lesão, “mas o ferimento era de menor extensão, de cinco polegadas talvez”.
Entretanto, as famílias deles não aceitaram essa versão da polícia. Joaquim Moreira Caldas, irmão de Augusto, publicou o livro “Por que João Dantas assassinou João Pessoa“, em que apresentou argumentos sobre um possível trucidamento dos dois presos.
Sobre os bilhetes deixados, Joaquim explicou que eles sabiam que seriam mortos e que realmente se preparam para o suicídio, mas não teriam se matado. No livro citado afirmou que eles foram sangrados vivos com a participação de Joaquim Pessoa e Luís de Góis.
Paulo Cavalcanti, em sua obra “Da Coluna Prestes à queda de Arraes: Memórias Política“, também anotou algumas versões sobre as duas mortes. “Uns, porém, acreditavam mais na morte violenta, apontando-se ora o professor Luís de Góis como autor do homicídio, ora um fanfarrão conhecido como Terto Campos, ora militares da Paraíba, que haviam chegado com Agildo e Juraci Magalhães“.
O historiador Joaquim Inojosa também identificou os executores: “médico Luís de Góis, conhecido pelas arrogantes atitudes de vida, e o oficial da polícia paraibana, Ascendino Feitosa, tradicional inimigo da família Dantas, na Paraíba, complexado porque não conseguira voltar à cidade de Princesa…”.
Mesmo sem poder afirmar que as incisões partiram de Luis de Góis, Inojosa explica que os cortes não foram efetivados por um leigo e que ele era o único médico presente. “Quanto às coronhadas, que receberem o crânio de João Dantas, poderiam ter sido de algum soldado, mas de qualquer forma sob as ordens do tenente Ascendino Feitosa, o invasor de Teixeira, inimigo figadal de João Dantas, que iria cobrar os juros de velhas contas em atraso”.
Foi ainda Inojosa quem revelou a versão de João Pessoa de Queiroz, enviada a ele em uma carta do exílio, em Paris, datada de 22 de gosto de 1931: “A notícia da morte do Diário da Noite não está completa. Quem matou o Augusto Caldas foi Joaquim Miserável (Joaquim Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, irmão do presidente João Pessoa) e quem matou João Dantas foi o Luis de Góis. Se esse jornal desse uma nota nesse sentido, seria bom para ir documentando as coisas”.
Luís de Góis, médico alagoano
Foi Sandoval Caju, ex-prefeito de Maceió, quem revelou a origem de Luís de Góis. Em seu livro O Conversador, de 1991. O advogado paraibano e ex-prefeito de Maceió narra o momento da execução de João Dantas, quando Recife vivia sob os últimos tiroteios da Revolução de 30.
“Luís de Góis, médico, alagoano e ‘revolucionário impetuoso‘, acompanhado de dois robustos ‘enfermeiros‘, todos vestidos de batas brancas, rumou para o prédio de Detenção, onde se achava João Dantas recolhido em uma ampla cela, na companhia de um cunhado que se oferecera para prestar-lhe ‘assistência moral’, enquanto permanecesse encarcerado o ‘bravo vingador’…”
Após se apresentarem dizendo que o detento precisava de visita médica, foram levados à cela pelo carcereiro. Sandoval Caju disse que eles chegaram à cela e sem falar nada “saltaram sobre João Dantas e seu parente, subjugando-os. Manietados com barbante, os infelizes, sem chance de defesa ou reação, foram executados de maneira tão fria quanto perversa: o médico retirou da pequena pasta preta que portava um bisturi, aplicando profunda incisão na garganta de João Dantas, de cuja veia jugular secionada, jorrou forte jato de sangue que avermelhou o piso da cela, ao tempo que o vitimado caiu, exangue, ao pé de sua cama, morto! A seguir, foi a vez do cunhado que sofreu idêntica morte pelo afiado bisturi do sanguinário Góis!”
Sandoval Caju informou ainda que Luís de Góis nasceu em Alagoas no final do século XIX e que era filho de uma família de classe média, cujo maior expoente foi seu tio-avô, o baiano Inocêncio Marques de Araujo Góes, velho senador do Império nomeado Barão de Araújo Góes.
Luís de Góis estudou o secundário em sua terra natal e concluiu o curso de Medicina em 1919 na Escola de Medicina da Bahia. Depois de uma rápida passagem por Alagoas, foi para o Rio de Janeiro, de onde iniciou uma perambulação por vários estados.
Foi em Pernambuco onde mais se demorou e onde estava quando rebentou a Revolução de 30. Anos depois deixou Recife e voltou para o Rio de Janeiro. Depois ainda morou por dois anos em São Paulo, de onde saiu para passar uns tempos entre Belém e Manaus, no Norte. Voltou a Recife, onde permaneceu por mais 20 anos como clínico geral, até o seu falecimento aos 88 anos de idade.
Segundo Sandoval Caju, “Luís de Góis foi a encarnação do ‘Dr. Satã‘: em mais de 50 anos de exercício da profissão médica, não se conheceu ninguém de quem ele tivesse salvo a vida ou curado satisfatoriamente“. Não bebia, não fumava, não dançava e não jogava. Tinha 1m 55cm e era branco avermelhado “parecendo descender de anões holandeses“.
O ambiente político da época, de grande instabilidade das instituições, não permitiu a produção de documentos que pudessem dirimir as dúvidas sobre a morte de João Dantas e de Augusto Moreira Caldas.
Grande anatomista. Trazia na memória o tratado de anatomia de Testut. Tido pelos seus contemporâneos como psicopata. Em 30 durante a revolução teria sido flagrado com outro alagoano, este advogado Dr.Calmom, como livres atiradores disparando de janelas de edifício nos transeuntes.
É, ainda, necessário esclarecer que, ao tempo em que Dr. João Dantas e seu cunhado o Moreira Caldas estavam detidos, na vizinha cela, também estava o famoso Manoel Baptista de Morais “Tõe Silvino”, que já fazia 16 anos que cumpria pena e na ocasião da detenção apurou os sentidos e ouvidos se atentando a tudo quanto se passava e ouviu e conseguiu ver os assassinos do advogado Dantas. Escutou tudo, e em 1937 foi até a cidade de Teixeira/PB onde foi recebido pelo empresário Silveira Dantas, primo de João Dantas, tendo relatado com detalhes o ocorrido com João Dantas. A conversa se deu na sala da casa de Silveira Dantas, na Rua Dr. Manoel Dantas. Antonio Silvino sempre passava no Teixeira e ficava algumas horas na frente da Cadeia Velha, onde a população vinha vê-lo. Isso, registrei em um artigo que escrevi sobre a vida de Silveira Dantas. Depois, trarei mais detalhes com fotos/cartas/documentos.
Em 6 de outubro, os assassinatos do advogado João Duarte Dantas e do engenheiro Augusto Moreira Caldas completam 90 anos.
A distância dos fatos e o desaparecimento dos figurões que ascenderam ao poder na revolução de 1930 e permaneceram por décadas ditando a história, possibilitam que as versões mais próximas da verdade cheguem ao conhecimento da população.
Ao longo desse tempo, as provas vieram comprovar que a morte do presidente João Pessoa se deu por vingança pessoal, de quem sentiu a ação do estado para incendiar propriedades da família, violar seu escritório de advocacia e divulgar informações dos seus constituintes e sua correspondência pessoal, além de ofender a honra de sua noiva.
A mobilidade da história é a melhor forma de repor a verdade, mesmo que tarde a chegar.
Gostaria de saber,os motivos que levaram o corpo do Dr João Dantas ser sepultado na fazenda São Pedro, em São José do Egito-Pe
Quando um Médico que aprendeu a salvar era exímio assasino, imagine a politicalha alagoana
Vivendo e aprendendo.
A fazenda São Pedro é uma propriedade familiar dos Dantas, desde o início do século XX. Parte dela pertencia a Jacintha Dantas Caldas, irmã de João Dantas e esposa de Augusto Caldas.
Logo após o seu assassinato, João Dantas foi sepultado no Recife, pela impossibilidade de ser conduzido para o local de origem da sua família.
A Fazenda Sao Pedro tem um cemitério e uma bela capela construída em 1695, que são pontos de visitação, além de outras atrações culturais, históricas, ambientais e geográficas.