Marinho do Nordeste, o Idemar de União dos Palmares
Edberto Ticianeli
Nos conhecemos em 1977, em plena efervescência política provocada pela retomada das mobilizações dos estudantes e trabalhadores contra a Ditadura Militar. Idemar, irmão do hoje jornalista e advogado Iremar Marinho, também frequentava a Casa do Estudante Universitário (CAEU), uma espécie de irmã mais pobre da Residência Universitária Masculina da Ufal. Ficava na Rua Sargento Benevides nº 30, entre a Praça Sinimbu e a Rua 7 de Setembro.
Era um dos locais das reuniões dos estudantes que articulavam a retomada do movimento estudantil. Além de Iremar, outro ilustre alagoano também foi morador da CAEU, o ex-ministro Aldo Rebelo.
Foi num desses encontros que o Idemar convidou a mim e ao Aldo para participarmos como julgadores de um festival musical de calouros em União dos Palmares, terra natal dos irmãos Marinhos. Fizemos de tudo para demovê-lo do convite, argumentando que o nosso entendimento de música era insuficiente para julgar quem quer que fosse.
Não adiantou. Na manhã do domingo seguinte estávamos na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município para ouvirmos os pretendentes a artistas. Aldo fazia o papel do julgador mais severo e eu procurava encontrar neles as qualidades merecedoras de elogios. Mesmo com todas as limitações que tínhamos, acredito que ajudamos a escolher os melhores.
Além de organizar tudo, Idemar ainda apresentou também suas poesias e cantou algumas músicas ao violão. Foi uma grande festa e testemunhamos ali o quanto o futuro Marinho do Nordeste era querido e respeitado em sua terra. Em Maceió, já tinha conquistado o reconhecimento ao vencer um festival no ano anterior.
Idemar Marinho Barros, que nasceu em 18 de outubro de 1956, sempre se considerou um artista popular e comprometido com o cantar dos mais sofridos. Mesmo tendo formação musical e cultural para enveredar por outras áreas da produção artística, optou pela música popular e principalmente pelo repente e o cordel.
Começou a vida de artista muito cedo. Com apenas 8 anos de idade já arriscava algumas declamações e aos 13 recitava poesia para os amigos. Tinha apenas a escolaridade básica. Depois, ampliou seus conhecimentos em alguns cursos de música e literatura.
Ainda em Maceió, onde permaneceu até 1983, se apresentou em vários palcos, incluindo o Teatro Deodoro, além de continuar a vencer festivais. Foi também o organizador do Trio Gente, que, em uma determinada época foi formado por Idemar, Zé Barros e Círio Barbosa.
Por motivos funcionais, em 1983 teve que ir morar no Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar no Instituto Nacional do Câncer. Era também a chance de também desenvolver sua arte. Assim que desembarcou procurou o maestro da Orquestra Filarmônica do Rio de Janeiro, Florentino Dias, que o encaminhou para Escola de Música Vila Lobos.
Rapidamente passou a ser um dos artistas mais premiados dos festivais da cidade. Músicas como “Caminhos de Fantasias”, “A Epopeia dos Cordéis” e “Apologia a um povo forte”, compostas em parceria com Círio Barbosa, foram destaques nas competições musicais no Rio de Janeiro.
Em 1984, Adelson Alves, apresentador de vários programas de rádio de sucesso, incluindo o “Amigo da Madrugada”, na Rádio Globo, conseguiu com a Polygram Discos a gravação de um LP com o artista alagoano. Infelizmente, o registro não foi realizado por causa de uma enfermidade que deixou o produtor Luiz Roberto, ex-integrante de “Os Cariocas”, sem condições de trabalho. Ele faleceu em 1987.
Até 1990, Idemar Marinho já tinha participado de programas como “Sinal Aberto”, na TVE; “Noites Especiais da Música de Qualidade”, na Rádio Roquete Pinto; na Rádio Tamoio; no “Nossa Terra, Nossa Gente”, com Luiz Vieira na Rádio Nacional.
Ainda em 1990, apresentava, ao lado de Jacobina e Azulão, o show “Cordéis e Canções”, no Bar Maria-Maria, em Botafogo. No restaurante Samanguaia, o palco era do seu show “Viola e Voz”, de segunda a domingo.
No Rio de Janeiro, também ajudou a criar a Biblioteca Espírita Arthur Connan Doyle. Era um destacado ativista do Movimento Espírita naquela cidade.
A partir de 1999 estabeleceu domicílio em São Gonçalo, também no Rio de Janeiro, onde continuou a promover a cultura nordestina. Já era reconhecido como o Marinho do Nordeste. Veja aqui uma de suas aulas musicadas para crianças: https://www.youtube.com/watch?v=Ms2WPqRgt-I.
Em 2001, o professor Ivan Cavalcanti Proença, doutor em Literatura Brasileira, ao avaliar uma de suas apresentações, fez elogios ao artista: “Gênero e tema desta peça e a existência de autores como Idemar Marinho, provam que a Música, a Literatura, como as artes em geral, pressupõe sim, um compromisso social de quem cria, de quem já vem ao mundo com o tal dom de fazer artístico e não se limita a explorá-lo, alheio ao mundo, e em redoma de marfim. É preciso estar com, aguçar a sensibilidade em torno das gentes. Tal ‘missão’ aqui se configura. A força e a dignidade da cultura nordestina se definem (também) em Cordel — como os poemas que, em núcleos temáticos, Idemar desenvolve”.
Em novembro de 2004, tomou posse na cadeira nº 35 da Academia Brasileira de Cordel.
Foi um dos autores da música que entrou na trilha sonora da novela “América”, lançada em 14 de março de 2005. Sucesso na Globo, o drama exibia todas as noites “Girassóis Azuis II”, composição de Dulce Quental, Idemar Marinho e George Israel (Kid Abelha), que também interpretava a canção.
Ouça aqui Girassóis Azuis II:
Idemar faleceu em São Gonçalo, RJ, no dia 5 de março de 2016, após sofrer duas paradas cardíacas. Tinha 59 anos de idade e era aposentado do Ministério da Saúde. Pouco antes, concedeu depoimento à Biblioteca Nacional deixando 15 horas de gravações.
Era casado com Cláudia Barros e com ela teve os filhos Ravel e Raudive. No primeiro casamento, Idemar foi pai de Kirlian Barros e Jéssyka Barros, ambas formadas em Serviço Social e residentes em Maceió.
PARABÉNS, Edberto Ticianeli, pela matéria sobre o Idemar (Marinho Do Nordeste)! Falta apenas complementar que Idemar tem também, do primeiro casamento, as filhas Kirlian Barros e Jéssyka Barros, ambas formadas em Serviço Social, e que residem em Maceió!
Gostaria de saber mais sobre o Idemar Marinho Barros ( O Marinho do Nordeste) cordelista que como eu radicou-se São Gonçalo. Sou cordelista e atuo no município. Estou escrevendo uma série de cordéis sobre São Gonçalo, tenho interesse em incluí-lo em um desses cordéis.
#PoiZé.
Você pode conseguir mais informações com o irmão dele, Iremar Marinho (82 3328 2177 ou 82 98731 5272).
Obrigada por mostrar a trajetória desse grande artista. Orgulho em dizer que sou sua filha. Vc falava e um filme passava na minha cabeça. Gratidão por apresentá-lo aos que não conhecem o seu trabalho e emocionar, assim como fez a mim, os que já conhecem.
Só corrigindo: “Epopeia dos Cordéis”. O jornal publicou. “Bordéis” o que rendeu muitas risadas do meu pai.
Corrigi, Jéssika! Estava estranho mesmo esse título!
Informo aos interessados que a prefeitura de São Gonçalo-RJ, que apoiou Idemar Marinho em projetos e promoções culturais e educacionais, dispõe, na sua Secretaria de Cultura, de informações e material sobre a atuação dele, no município. Em Niterói e outras cidades da região, Idemar Marinho também fazia apresentações e vendia seus CDs (música e cordel).
Fico feliz em saber da existência desse artista alagoano. Moro em União dos Palmares e nunca tinha ouvido falar sobre ele. Eu sou amigo do irmão dele, fui professor da irmã dele. E eu faço parte da família Marinho que mora em Alagoas.
Saudades de Idemar Marinho, hj moro em Paraty, Rj mais minha banda Excesso Lateral tocou com ele em 1988 no Festival da Canção do Colégio Ateneu no Jardim América RJ , aonde morávamos.no qual ganhamos em 1 lugar com a musica Caminhos de Fantasia , ganhamos o 2 lugar com a Epopéia dos Cordéus e o 4 lugar tbm , lembro da musica mais não lembro do nome dela Ná época ele só tinha a Filha Kirlyan que tinha quase 2 aninhos lembro bem dela. Tocamos com ele tbm no Maria Maria em Botafogo, no Programa do Adelzon Alvez Amigo da Madrugada na Rádio.Globo na Rua do Russel na Glória RJ e no Programa Nossa Terra, Nossa Gente do Luiz Vieira na Rádio.Nacional Av.Venezuela Pça Mauá Rj, na festa do ProMetro da Pavuna tbm. Tempos bons, devido as mudanças na vida seguimos depois em sentidos diferentes, mais muito triste fiquei ao descobrir que ele faleceu em 2016. Assim.como ha pouco outro amigo ( que tocou comigo e o Idemar Marinho) faleceu de Covid no dia 1/4/2020 seu nome era Mauro Santana e era o nosso Baixista na época. Marinho com ctza esta nesse momento tocando seus Cordéis nas estrelas. Meu nome é Claudio e tocava guitarra solo na banda.