Lucien Deneau e o primeiro voo em Maceió

Oito anos após as primeiras aeronaves conseguirem voar, um piloto militar exibia suas habilidades na França conseguindo pousar seu avião Blériot nos pequenos espaços internos dos quartéis do 14º e 24º de Artilharia, em Tarbes. Estes feitos aconteceram nos dias 8 e 16 de janeiro de 1912.

O francês Lucien Deneau nasceu na comuna de Mainvilliers, departamento de Eure-et-Loir, em 14 de abril de 1886 e faleceu no dia 2 de março de 1974, em Chartres, capital do mesmo departamento onde nasceu.

Recebeu sua licença de piloto francês, nº 615, em 8 de setembro de 1911. Deneau era militar comissionado, provavelmente com a patente de capitão.

O Blériot tinha uma envergadura 8,80 metros, comprimento 7,80 metros, 50 cavalos de potência no motor Gnome, sete cilindros de poder, uma hélice de madeira, superfície de levantamento 14 mg, peso bruto da máquina de 200 kg e era capaz de levantar 120 kg de peso útil.

No Brasil

Lucien não foi o primeiro piloto europeu a voar nos céus brasileiros, mas a sua excursão por seis estados teve grande repercussão. Em alguns pelo ineditismo e em todos pela habilidade em realizar evoluções aéreas complexas para o frágil avião batizado como “Libellule”.

A primeira capital a receber o piloto e seus auxiliares foi Belém (PA). O Jornal do Commercio (RJ) assim informou a sua presença naquela cidade no dia 27 de março de 1913: “BELÉM, 27. Chegados pelo vapor alemão ‘Rhaetia’, vindo diretamente de Paris, estão aqui os aviadores franceses Lucien Deneau e Louis Berp, acompanhados de um mecânico”.

Esse segundo aviador, com grafia modificada, também foi citado pelo jornal Estado do Pará em sua edição daquele mesmo dia: “Acha-se nesta capital o aviador francês Louis Bert, que pretende entre nós fazer algumas ascensões em aeroplano. O arrojado aviador, a quem acompanha, como seu auxiliar, o sr. Lucien Deneau, esteve ontem nesta redação, em cordial visita”.

Não se conseguiu identificar o que aconteceu com Louis Berp ou Bert, mas nas capitais seguintes ele não foi mais citado pelos jornais.

Em Belém, Deneau visitou no Cemitério de Santa Isabel o túmulo do seu colega italiano Angelo Bigpiani, que no ano anterior havia morrido em um acidente aéreo naquela cidade durante uma apresentação de manobras pilotando também um Blériot.

Em meados de abril teve inicio a temporada em Manaus. Depois em Recife, onde realizou seu primeiro voo no dia 25 de maio.

Foram dezenas de exibições na capital pernambucana, incluindo em uma delas a presença de um passageiro, o jornalista Assis Chateaubriand, que iria fazer parte da história da comunicação do país e se consagrar como entusiastas da aviação brasileira ao organizar campanhas para a aquisição de aviões no início da década de 1940.

Alagoas

No dia 14 de junho de 1913, após especular com a possibilidade de fazer um voo até Maceió, com passagem por Garanhuns, Deneau embarcou em um trem da Great Western com destino à capital alagoana, deixando o avião desmontado para ser embarcado para o mesmo destino no dia 19 de junho.

Surpreendentemente, voltou a Recife no dia 18 de junho, afirmando que estava de partida para a Bahia pelo Itaphuy às 16h30 do dia seguinte (19), e que não mais faria apresentações em Alagoas. (Jornal Pequeno de 19 de junho de 1913).

Entretanto, na sexta-feira, dia 20 de junho, o Diário de Pernambuco publicou uma nota com o seguinte título: “Deneau voará pela primeira vez em Maceió, no domingo próximo [22]. Depois irá à Bahia – A bordo do paquete nacional Itapuhy embarcou ontem, à tarde, para Maceió, o valente e simpático aviador francês sr. Lucien Deneau”. Informava ainda que o aviador permaneceria em Alagoas por oito dias.

Se houve algum entrave para a sua apresentação em Maceió, parece ter sido removido na última hora, o que permitiu os históricos voos na praia da Pajuçara.

No dia 23 de junho de 1913, o Jornal do Commercio (RJ), assim noticiou os primeiros voos ocorrido em Alagoas no dia anterior: “MACEIÓ, 22. Com a presença do Coronel Clodoaldo da Fonseca, Governador do Estado, e de outras autoridades estaduais e federais, representantes das classes sociais e numerosa concorrência de povo realizou o aviador Lucien Deneau, hoje, de tarde, com feliz êxito, três ascensões, no seu aparelho ‘Blériot’. Deneau, partindo da enseada de Pajussara, fez admiráveis evoluções sobre o mar e sobre a cidade. A assistência aplaudiu calorosamente o intrépido aviador”.

Lucien Deneau, que desembarcou em Maceió no dia 19 de junho, decolou seu “Libellule” para o primeiro voo às 14 horas e 20 minutos do dia 22 e tomou a direção nordeste, sendo fotografado pelo atento professor Luiz Lavenère.

No final de junho, após vários voos na capital alagoana, Lucien Deneau embarcou para Salvador (BA), onde permaneceu também por oito dias.

Suas últimas apresentações no Brasil foram no Rio de Janeiro, onde chegou no dia 8 de julho. Foi a capital onde realizou mais voos, conquistando os cariocas a tal ponto que chegou a se cogitar a compra de outro Blériot para convencer o piloto francês a permanecer no Brasil.

Foi no Rio de Janeiro que, no dia 13 de agosto, Deneau perdeu seu mecânico Marcel Chauvier, que tinha apenas 19 anos de idade. Morreu afogado nas águas de Copacabana.

No final de agosto, o aviador anunciou que iria até a França, mas voltaria para se fixar definitivamente no Rio de Janeiro.

Foi, mas não voltou.

O Diário de Pernambuco de 31 de julho de 1914 informou que o aviador era naquela data um “emérito empresário cinematográfico” em Chartres, capital do departamento de Eure-et-Loir, onde nasceu Deneau.

O seu Cinema-Palace apresentava os “belos programas da casa Pathé Fréres”, além da “perfeita execução da música adaptada aos filmes pela excelente orquestra sob a batuta do maestro Raphael Hersey”.

O piloto que fez o primeiro voo em Alagoas, faleceu em Chartres no dia 2 de março de 1974.