Jorge Vilar e o “Zé do Osso”
Jorge Vilar
A profissionalização mudou a maneira de trabalhar dos radialistas do passado. As brincadeiras, gozações e trotes no ambiente de trabalho eram comuns entre os radialistas, criando as situações mais disparatadas de que se tem notícia.
No carnaval era obrigatório o fornecimento, pela rádio, de uma quentinha para quem encerrasse os trabalhos na madrugada. Numa das vezes o nosso Romildo Freitas, apelidado o Bico de Bule, separou a quentinha e guardou na geladeira, recomendando que ninguém mexesse, porque seria degustada por ele e a mulher quando chegasse em casa, acompanhado, claro, de urna geladinha.
Todos foram saindo e não sei quem comeu a carne e substituiu o conteúdo da quentinha do Romildo, de frango assado acompanhado de batatinha, arroz, farofa e feijão tropeiro…
No outro dia a equipe estava reunida, quando entrou o nosso amigo, brabo e querendo brigar com todo mundo. O que é que houve para tirar o Romildo do sério? A resposta veio do mesmo, que perguntou e ao mesmo tempo denunciou:
— Qual foi o F.D.P., que comeu o meu frango? Recebi a quentinha ontem à noite e quando cheguei em casa e fui comer com a nega véia o conteúdo da quentinha. E sabem o que tinha dentro?, falando revoltado: — A carcaça de um frango!
Como era de se esperar não apareceu o culpado por tamanha safadeza. Daí por diante o Romildo recebeu mais um apelido: Zé do Osso!
Outra estória contada pela turma e que eu próprio fui testemunha, aconteceu com o Cláudio Alencar. Ele tinha um programa muito ouvido na Difusora, onde recitava poesias e tocava músicas românticas. Como era de costume apareciam as mais ardorosas fãs, que mandavam presentes para os locutores.
Estávamos na entrada da Rádio Difusora na Rua Pedro Monteiro, quando se aproximou uma coroa passando dos 40 e tantos anos, perguntando pelo Cláudio Alencar, e recebendo em resposta que estava para chegar, ela pediu para entregar um pacote para ele. Todos se prontificaram a fazer a entrega.
Quando nem bem a fã do Cláudio desapareceu na esquina, os fariseus abriram o pacote e estavam lá: biscoitos, bolos e doces, que foram devorados na mesma hora pela turba faminta.
Ao chegar, o Cláudio recebeu um pacote contendo folha e papeis no lugar das guloseimas apetitosas. Como sempre acontece, nenhum dos comilões apareceu para assumir a culpa do crime de apropriação indébita. O Cláudio ficou uma fera.
Nem pensar em deixar qualquer presente ou encomenda para entregar aos locutores de sucesso, que não chegava nas mãos do dono sem ser antes vistoriada e no caso de comida, o destinatário ficava a ver navios!
*Parte da crônica “O grande Luiz Tojal”, publicada no livro “Vi, vivi, e estou contando”, de Jorge Vilar, Maceió, 2004.
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