Jogo de Bilhar em Maceió
Não se conhece a origem deste jogo, mas sabe-se que no século XV já ocupava espaço nos salões da nobreza europeia. As três bolas eram inicialmente feitas de madeira ou mesmo de argila.
Já no século XIX, os mais ricos utilizavam o marfim e por causa deles, milhares destas bolas foram fabricadas a partir das presas de elefantes (cada uma delas pode produzir até sete bolas), provocando a mortandade de muitos deles.
Somente em meados da década de 1930 foi que o marfim deixou de ser utilizado, substituído pela jarina, uma espécie de marfim vegetal oriundo da semente da palmeira do mesmo nome e encontrada no sudoeste e oeste da região amazônica.
A mais tradicional versão do jogo de bilhar é a carambola, quando a bola impulsionada pelo jogador tem que tocar as outras duas. O objetivo é conseguir o maior número possível de “carambolas” em sequência.
Os bilhares de Maceió
Não se tem a informação precisa sobre o primeiro bilhar a se instalar em Maceió, mas se tem o registro da existência deles no Rio de Janeiro no início do século XIX, indicando que nesta época suas mesas já poderiam estar espalhadas pelo Brasil.
Nos anúncios de jornais em meados daquele século, os bilhares eram divulgados, principalmente, como atrações instaladas nos melhores hotéis.
A primeira citação de um bilhar em Maceió foi encontrada por esta pesquisa no jornal Correio Maceioense de 2 de maio de 1850. Uma correspondência anônima de alguém que se escondia por trás do apelido de “Zeloso” e se dizia frequentador de um bilhar na Rua do Comércio onde existia um jogo de vispora (bingo). Denunciava ainda que no mesmo local também se jogava ilegalmente bozó (dados), com apostas que chegavam a 50 mil reis.
Estes jogos ilegais nos salões de bilhares da capital, vez por outra provocava desentendimentos entre os competidores, que normalmente eram resolvidos à faca ou à bala, como noticiavam os jornais da época.
Pelo conteúdo dos anúncios de jornais a partir da década de 1880, esses espaços de jogo passaram a ofertar aos usuários a opção de bebidas, lanches e doces. Pelas dimensões dos mais importantes, também eram utilizados como locais de reuniões sociais, leilões e sorteio de rifas.
A maioria deles estava estabelecida no entorno da Rua do Comércio, no Centro, ou em Jaraguá, a exemplo do bilhar do Fortunato Benjamim Lins de Vasconcellos, que em 1880 funcionava na Rua da Boa Vista, nº 14.
Em abril de 1882, Romualdo da Silva Jucá anunciou a abertura de um estabelecimento onde podia se encontrar um bem montado bilhar. Ficava também na Rua Boa Vista, nº 5. Estava à disposição do pessoal do “tic-tac” (som das bolas de bilhar nos dois choques da carambola) a qualquer hora do dia ou da noite.
Em 1883, os seguintes bilhares eram anunciados nos jornais: na Rua do Comércio, de Miguel Pinhatarve; na Rua do Livramento, de Justino Rodrigues de Carvalho; e na Rua da Alfândega (Rua Sá e Albuquerque), de Abdon Machado.
Francisco Benevides Galvão, na Rua Conselheiro Lourenço, e Manoel Chrispiniano de Araújo Silva, em Jaraguá, tinham bilhar em 1884.
O Gutenberg de 16 de maio de 1885 divulgou que o Recreio Comercial de Rodrigues & Pinto, situado na Rua Sá e Albuquerque, nº 76, em Jaraguá, oferecia “todas as distrações de jogos permitidos, como sejam — bilhar, dominó, damas e outros”. Claro que ofertava também “grande sortimento de bebidas finas, fumos diversos e outros artigos idênticos muito apreciado pelo público”.
Em 1886, na Rua Boa Vista existiam dois bilhares: um na casa de nº 8, de Hugo Alves da Silva; e outro na casa de nº 31, de Francisco Idelfonso Benevides Galvão. Na Rua da Matriz, nº 3 (atual Rua Barão de Jaraguá), em Jaraguá, existia o salão “do snr. Luiz Pereira”.
Ainda em 1886, o bilhar da Rua do Livramento, nº 8, foi anunciado à venda “por módico preço” pelo proprietário, Francisco Ezequiel de Carvalho.
Consolidavam-se os salões de bilhar como ambientes de diversão, ao mesmo tempo que cada vez mais diversificavam a oferta de produtos comercializados. Além disso, procurava-se vender a ideia que o bilhar era também um esporte.
O Orbe de 3 de novembro de 1886 contribuía para formar opinião favorável publicando que “o jogo de bilhar é um exercício físico do qual se tira grande proveito para a saúde, principalmente às pessoas habituadas a uma vida sedentária”.
Estes novos salões passaram a atrair públicos diferentes, não mais somente os tradicionais jogadores de bilhar.
O Grand Estaminet da Rua do Comércio, que em 1887 era administrado por Firmino Queiroz, era um desses. Seus anúncios informavam “ao respeitável público” que oferecia todas as noites “café, petiscos e sorvetes e as mais agradáveis distrações”.
Aurélio Pinho, que tinha um bilhar na Rua Boa Vista, também caprichava nos anúncios para vender a ideia do bom ambiente existente em seu estabelecimento: “Ali, desde a palestra até alguma coisa que regala o paladar, tudo é bom e agradável, a par de muita lhaneza, sinceridade e moralidade”.
O Bilhar do X, da Rua Boa Vista, nº 42, ficava aberto dia e noite, e garantia em sua “legenda” que o lugar era respeitável: “amabilidade, respeito, asseio e sinceridade”.
Em outubro de 1895, Maceió ganhou o Bilhar Três de Outubro, na Rua Nova, n° 31 (atual Rua Barão de Penedo). Além de bebidas e petiscos, oferecia “lunchs quando for preciso”. Em dezembro já estava à venda. O proprietário justificava informando que teria que deixar Alagoas.
A partir de 1895 surgem as primeiras informações sobre o histórico Bilhar do Comércio de Júlio de Moura Accioly, que anunciava como “Grande Sopreza” sorvetes e cajuada gelada, dia e noite.
Ficava na Rua do Comércio, nº 115. Segundo Félix Lima Júnior em Maceió de Outrora, ficava em frente ao Cinearte, num prédio de quatro portas onde funcionou a Chapelaria Chic, do português José Maria Pereira.
Em fevereiro do ano seguinte, Júlio Accioly divulgava que estava abrindo no ambiente deste bilhar um salão “exclusivamente familiar”, em anexo, onde as famílias poderiam encontrar diariamente artigos de pastelaria, sorvetes, café, bebidas geladas, cajuada, outras bebidas e doces finos. Destacava que o salão era iluminado por luz elétrica.
Em 1896, a quantidade de salões de bilhar existentes em Maceió era tal que a Livraria Fonseca anunciava, entre outros produtos, que vendia giz para o jogo.
A Primavera, na Rua do Comércio, nº 109, ofertava “um magnífico sortimento de pertences para bilhar”, entre eles, bolas de marfim, tacos e solas avulsas (que ficam presas na ponta do taco). Além de “excelente pano escuro para BILHAR”.
No início de 1899, o Bilhar do Comércio, que continuava funcionando normalmente, foi anunciado à venda “por preço vantajoso”. Somente em junho de 1899 foi adquirido pelo alferes Joaquim Correia de Moraes Cavalcante, que no ano seguinte já divulgava a intenção de passar adiante o estabelecimento.
Século XX
Segundo o Indicador Geral do Estado de Alagoas de 1902, Maceió tinha naquele período o Bilhar Boa Vista, de Rodolpho Paiva, na Rua Boa Vista, nº 32, e o bilhar de Magdalena Bruno, na Rua da Floresta, nº 21.
Há registro, em 1905, da existência de um salão de bilhar na Rua do Comércio, nº 76, de propriedade de Oscar Cavalcante.
Já sob a direção de Fernando Borgheri (ou Burgueze), o Bilhar do Comércio passou por “magníficas transformações” em 1906, mas dois anos depois foi novamente posto à venda. Seu proprietário alegou estar muito doente. Anos depois pertenceu a Simeão de Oliveira e Silva. Em 1948, seu proprietário era Hegesippo Caldas. Funcionou até a década de 1960. Ficava entre a Casa 4.400 e a sapataria Casa Ferreira.
Em 1908, Américo Maia era o proprietário da Casa de Bilhar High-Life e naquele ano comprou o Café Colombo, que ficava em frente ao Bilhar do Comércio.
Novo bilhar surgiu em Maceió em maio de 1910, na Rua do Comércio, nº 160. Seu proprietário era Francisco Vieira. No ano seguinte há registro da existência de um bilhar na Rua Dias Cabral. Era explorado por Rosa & Cia.
A partir de 1910 ficam escassas as informações sobre os bilhares de Maceió nos jornais.
Sinuca
Em 1875 surgiu o jogo de “Snooker” na Grã-Bretanha (uma variante do Pool). Foi levado para os EUA, tornando-se um dos jogos de salão mais popular daquele país.
Jogado numa mesa especial, com seis caçapas, a sinuca (como ficou mais conhecida no Brasil) tem mais bolas em jogo que o bilhar, além de objetivos diferentes.
Chegou ao Brasil na segunda década do século XX, ainda como “Bilhar Americano” e aos poucos foi caindo na preferência dos jogadores de bilhar, que logo se adaptaram a ele.
O bilhar de carambola entrou em desuso e lentamente foi sendo abandonado como jogo de salão. Poucos deles sobreviveram para contar a história.
Muito bom esse histórico sobre salão de bilhar!
Ticianeli, você está surpreendente em cada história que publica. Parabéns!
A história do bilhar em Maceió é muito boa.
Vou encaminhar o trabalhos para minha turma.