História do médico que deu nome ao Hospital Escola Doutor José Carneiro
José Carneiro de Albuquerque nasceu em Ribeirão, Pernambuco, em 22 de novembro de 1879. Era filho de João Francisco Carneiro de Albuquerque (usava o nome sem o “João”) e Flávia Augusta de Souza Leão (casada passou a ser Flávia Augusta Carneiro de Albuquerque), os dois pernambucanos. Casaram-se na cidade de Cabo de Santo Agostinho.
Seu pai, João Francisco Carneiro de Albuquerque era filho de Manoel Xavier Carneiro da Cunha e de Maria Xavier Carneiro da Cunha (casada passou a ser Maria Xavier Carneiro de Albuquerque). Sua mãe, Flávia Augusta de Souza Leão, era filha de João Manoel de Souza Leão e de Isabel Pessoa de Melo.
Seus bisavôs paternos foram Rosa Maria Ignácia de Barros e Francisco Xavier Carneiro da Cunha (Chicão). Os maternos foram Capitão Diogo Soares Carneiro de Albuquerque (natural de Lagoa dos Ramos) e Ignácia Francisca Xavier.
O dr. José Carneiro de Albuquerque teve os seguintes irmãos:
1 – Luiz Carneiro de Albuquerque
Nasceu em 7 de agosto de 1868 em Pernambuco e faleceu no dia 30 de julho de 1922. Em Alagoas foi deputado estadual nas legislaturas 1913-14; 15-16; 17-18 e 19-20, e senador estadual na legislatura 1921-22. Era proprietário de engenho em São Luiz do Quitunde.
Foi casado com Amélia de Amorim Salgado (nasceu em 9 de fevereiro de 1876, filha de Paulo de Amorim Salgado e de Amélia Nery de Amorim Salgado). Faleceu de parto em 24 de outubro de 1896. A criança também faleceu.
Casou-se em segunda núpcias com Clodes Mendonça Carneiro de Albuquerque. Com ela teve dois filhos: Antônio Carneiro de Albuquerque e o cirurgião dentista Luiz Carneiro de Albuquerque (nasceu no dia 18 de agosto de 1901 em Alagoas)
Clodes Mendonça era filha de Júlio César de Mendonça Uchôa e de Maria Amália de Mendonça Uchôa.
2 – Francisco Carneiro de Albuquerque Filho
Engenheiro civil formado na Politécnica no Rio de Janeiro. Casou-se em setembro de 1900 com a também pernambucana Anna Medeiros (faleceu em julho de 1901), filha de Anna Valença do Rego Medeiros.
Francisco Filho faleceu em junho de 1904.
3 – Manoel Carneiro de Albuquerque – agricultor em Cabo, Pernambuco.
4 – Maria Amélia Carneiro de Albuquerque.
5 – Laura Violeta Carneiro de Albuquerque. Nasceu em Jaboatão no do 1º de janeiro de 1892.
6 – Horácio Carneiro de Albuquerque.
Diploma e casamento
José Carneiro de Albuquerque estudou em Recife e cursou Medicina na Faculdade de Medicina da Bahia, onde iniciou o curso em fevereiro de 1899 e formou-se em dezembro de 1904. Sua tese de conclusão de curso foi: Contribuição ao Estudo da docimasia pulmonar hidrostática, merecedora de elogios por parte do professor dr. Nina Rodrigues.
Durante o curso em Salvador, conheceu a jovem Donina Barbosa de Vasconcelos Castro (casada passou a ser Donina Vasconcelos Carneiro de Albuquerque) e ficaram noivos. Casaram-se no dia 31 de janeiro de 1906.
Donina Vasconcelos nasceu em Flexeiras, Alagoas, em 9 de junho de 1886. Seu pai era o Coronel João de Vasconcelos Castro (antigo despachante geral), que morreu em setembro de 1920, aos 72 anos de idade. A mãe era Maria Barbosa Calheiros.
A primeira filha do casal José Carneiro e Donina foi Flávia Carneiro, que nasceu às 10 horas da noite de 8 de novembro de 1906 e teve somente meia hora de vida.
Depois, tiveram somente mais uma filha, Anna Carmelita Carneiro Carnaúba, que nasceu em 6 de julho de 1915 e faleceu em 2 de dezembro de 2003.
Anna Carmelita casou-se com o dr. José Matta Carnaúba (nasceu em 2 de agosto de 1904 e faleceu em 1º de fevereiro de 1991), médico que trabalhava com o seu pai, o dr. José Carneiro.
Tiveram os seguintes filhos: o químico industrial e professor Breno Carneiro Carnaúba (nasceu em 20 de março de 1934); o arquiteto José Alberto Carneiro Carnaúba (nasceu em 12 de dezembro de 1939. Já faleceu) e o engenheiro Marcos Fernando Carneiro Carnaúba (nasceu em 8 de junho de 1942).
Médico em Maceió
Logo após a conclusão do curso na Bahia, o jovem dr. José Carneiro retornou à Recife e começou a clinicar no Hospital D. Pedro II, sendo o médico adjunto da Clínica Oftalmológica daquela instituição.
Com o seu casamento com Donina Vasconcelos em 31 de janeiro de 1906, estabeleceu residência e consultório em Maceió.
Atendia na Farmácia Firmino, na Rua do Comércio, n° 56, e passou a divulgar nos jornais que ali poderia ser encontrado na sua Clínica dos Olhos entre 13h e 15h, informando que tinha “grande prática obtida no Hospital D. Pedro II”.
A partir de janeiro de 1908 passou a atender na Rua do Comércio, n° 68, 1º andar, e, em fevereiro do ano seguinte, se mudou para o n° 49 na mesma via, “por cima da Fábrica Moraes”, mantendo as consultas entre 13h e 15h.
No início dos anos de 1910, transferiu seu consultório para a Farmácia Brasil, que ficava na esquina da Rua do Livramento, nº 11, com a Praça D. Rosa da Fonseca (Bar do Chopp).
Nesta época morava na Rua do Macena, nº 45, no Centro de Maceió.
A Farmácia Brasil era de propriedade do dr. Alexandre Reis, que foi provedor da Santa Casa de Misericórdia de Maceió por várias gestões.
Em 1937, um anúncio revelou que o seu consultório já era no Beco São José, n° 150 (Rua Tibúrcio Valeriano), no 1° andar.
Desde os seus primeiros meses em Maceió passou a ser muito elogiado por sua perícia médica e logo atraiu expressiva clientela. Em agosto de 1906, a imprensa já divulgava que além de ter conseguido ótimos resultados no “grande número de operações”, o “provecto especialista” ampliava “sua especialidade até as moléstias de garganta, ouvidos e nariz”.
Em 30 de setembro de 1906, o Gutemberg noticiou que o “perito oculista” havia realizado na Farmácia Firmino (do farmacêutico Firmino de Aquino Vasconcelos, onde também trabalhava a farmacêutica Donina Vasconcelos) uma importante operação de triquíase (crescimento das pestanas em direção ao olho) em Maria Francisca, criada do major Vicente Porciúncula.
Seu primeiro vínculo com uma instituição médica foi com o Asilo de Mendicidade, onde também foi tesoureiro por muitos anos. Em agosto de 1908, o Asilo montou uma seção para operações de “moléstias dos olhos” e a entregou ao dr. José Carneiro, sem que este recebesse remuneração alguma.
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Na Santa Casa de Misericórdia de Maceió foi diretor-médico e também quem trouxe da Alemanha a primeira mesa cirúrgica de Alagoas.
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No final de agosto de 1909, foi nomeado médico do Asilo das Órfãs Desvalidas N. S. do Bom Conselho, em Bebedouro. A partir de setembro deste mesmo ano, era também o médico da Polícia Militar e começou, em plantões semanais, a fornecer atestados de óbitos aos indigentes.
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Sua popularidade era tamanha que logo foi convidado a participar da política. Em agosto de 1916, seu nome estava na chapa do Partido Democrata para o Conselho Municipal, atual Câmara Municipal de Maceió. O candidato a intendente (prefeito) era Firmino Vasconcellos. Foram eleitos e empossados em 7 de janeiro de 1917.
Por seu destacado papel como médico, participou em 1917 da fundação da Associação Médico-Cirúrgica de Alagoas e da Sociedade de Medicina de Alagoas, entidades que também presidiu.
Em junho de 1918, realizou cirurgia para extração de um tumor numa senhora. Pelo volume do cisto, que pesou cinco quilos e duzentos gramas, utilizou a laparotomia (exposição total do abdômen). Era uma técnica então pouco utilizada pelas dificuldades e riscos. Havia surgido em 1881.
Por muitos anos foi o responsável pelos atestados de óbito, quando ainda não existia o Serviço Médico-Legal de Alagoas. Quem cobrou do governador João Baptista Accioly Junior a criação desse serviço foi o secretário de Estado dos Negócios do Interior, bacharel Demócrito Brandão Gracindo, em março de 1916.
Ele elogiava o dr. José Carneiro de Albuquerque por sua dedicação e boa vontade em manter esse serviço funcionando mesmo sem condições, de forma rudimentar.
Quando o governador interino, Cônego Manoel Capitulino de Carvalho, tomou posse no 1º de março de 1921, em substituição a Fernandes Lima, assinou e publicou nesse mesmo dia o Decreto nº 944 criando o Gabinete de Identificação e Estatística Criminal, que começou a funcionar imediatamente.
Seu primeiro diretor foi o dr. José Carneiro de Albuquerque, que já era do Serviço Médico-Legal recém-criado.
Chegou a ser o Inspetor de Higiene do Estado, equivalente à atual Secretaria Estadual de Saúde. Foi nomeado interinamente no dia 30 de julho de 1924.
Foi ainda fundador da Faculdade de Medicina em 1950, quando participou do esforço para essa conquista tão importante para Alagoas. Ele foi um dos que ofereceu sua biblioteca para que instituição se adequasse às exigências do Ministério da Educação.
Presidiu o Conselho Penitenciário, instituição que o recebeu em 25 de julho de 1927. Liderou ainda a Sociedade Cooperativa da Beneficência Previdência Alagoana e a Fundação Pedro I.
Prefeito
Assumiu a Prefeitura de Maceió interinamente no dia 13 de novembro de 1928, em substituição ao prefeito Ernandi Bastos, que viajou para a Europa. Permaneceu no cargo até 14 de outubro de 1930.
Sua gestão foi marcada por investimentos para resolver problemas infraestruturais da capital. Teve repercussão a criação do Serviço de Extinção de Formigas, um dos graves problemas de saúde pública da época.
Na sua administração, concluiu o calçamento da Avenida Presidente Bernardes (futura Av. Moreira Lima), calçamento da Rua 12 de Junho (atual Rua Luiz Pontes de Miranda) e parte da Rua Barão de Jaraguá.
Arborizou a Rua Epaminondas Gracindo e construiu uma estrada provisória entre o Pontal da Barra e a Av. da Paz no Centro de Maceió
Ao se despedir da prefeitura, teve sua gestão reconhecida e chegou a ser presenteado com um automóvel.
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Nos anos seguintes, se dedicou com destaque às ações do Instituto da Assistência e Proteção à Infância, criado em 1925 (iniciou sua atividade fim em 7 de fevereiro de 1927) com a sua decisiva participação. Tinha sede na Rua Libertadora Alagoana, n° 142, onde também funcionava o Dispensário João Pedro Xavier. Foi responsável pela instalação de três dispensários em Maceió, fornecendo leite e medicamentos para mais de 500 crianças.
O primeiro deles foi o Dispensário Zacharias Azevedo, inaugurado no fim de 1928. Na Ponta da Terra, foi inaugurado em abril de 1931 o Dispensário José Carneiro, cujo prédio, que ainda existe, foi construído no espaço que viria a ser a Praça do Rex.
Seus fundadores foram: Raul Britto, Juventino Cravo, Carlos de Gusmão e José Carneiro.
Sendo cada vez mais identificado como um dos melhores médicos do seu tempo, o dr. José Carneiro participava, sempre com destaque, das iniciativas que qualificavam o exercício da Medicina e melhoravam as condições para o seu exercício.
Assim, no Iº Congresso Médico de Alagoas, realizado no auditório do IHGAL em Maceió, entre 5 e 10 de junho de 1933, foi ele quem presidiu a Comissão Executiva, que contava também com o dr. Manoel Brandão, vice-presidente; e dr. Abelardo Duarte, secretário geral.
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Quando foi inaugurado na Rua Dias Cabral o Pronto Socorro de Maceió, em setembro de 1936, o dr. José Carneiro foi o responsável por sua implantação.
Após o seu falecimento no dia 11 de janeiro de 1951, foi homenageado com seu nome associado à principal via do Pontal da Barra, onde oferecia assistência social à antiga vila de pescadores ali existente. Com a Lei nº 3.616. de 19 de agosto de 1986, passou a ser Rua Alípio Barbosa da Silva.
Outra homenagem foi com a denominação, em 1963, do Hospital Escola dr. José Carneiro, que somente foi entregue ao público em março de 1964. Um projeto do arquiteto Saint’Yves Simo0n. Nesta o seu nome resistiu, apesar das várias tentativas para substituí-lo.
A partir de 16 de setembro de 2008, o Hospital Escola dr. José Carneiro e a Unidade de Emergência Dr. Armando Lages (inaugurada em 1979) se fundiram no Hospital Geral do Estado Professor Osvaldo Brandão Vilela (HGE). Uma estrutura bem maior que o velho Pronto Socorro da Rua Dias Cabral, inaugurado em 1 de maio de 1936.
Existe ainda, no Farol, a Escola Municipal Doutor José Carneiro.
Excelente relato! Parabéns por nos oferecer essa valiosa história desse Sr. Tão importante para Alagoas!
Parabéns! Muito bem escrito! Nasci no dia 11/01 e recebi o sobrenome do meu bisavô em sua homenagem.
Parabenizo-o pelo excelente histórico do meu avô materno, Dr. José Carneiro d’Albuquerque , e com ele convivi na minha infância. Nos finais de semana saía com uma pesada maleta de couro de jacaré, que ainda guardo, contendo instrumentos médicos e medicamentos, exercendo a medicina social nos sítios da Ponta da Terra onde morávamos. Sempre tinha nos bolsos umas balinhas para as crianças humildes, e eu também ganhava uma. Obrigado por resgatar a história de um grande homem que tanto fez por Maceió, ora esquecido pela sociedade. Grande abraço.
Grande homem que a história de realizações em prol da saúde em Maceió, não deverá ser esquecido.
Parabéns ao grande historiador. Não conhecia a história e as grandes contribuições pela saúde dos alagoanos! Maisl umal vez, muito obrigada.