História da telefonia em Alagoas

Sede da Companhia Telefônica de Alagoas nos anos 60, atrás do Café Ponto Central, na esquina da Rua do Livramento com a Rua do Comércio

O primeiro telephono foi instalado no Brasil em 1877, no Palácio Imperial de São Cristóvão, Rio de Janeiro. O aparelho foi fabricado para o imperador Dom Pedro II, que havia se encantado com a novidade ao conhecê-la durante a Exposição do Primeiro Centenário da Independência dos Estados Unidos, em 25 de junho 1876, na Filadélfia.

O imperador brasileiro era um estudioso do ensino para surdos-mudos e conhecia Alexander Melville Bell, um destacado pesquisador nessa área e pai de um dos inventores do telefone, Alexandre Graham Bell.

Foi com Graham Bell que D. Pedro II se encontrou na Exposição e ali aceitou o convite para conhecer a “máquina falante”. Separados por 150 metros e interligados apenas por um fio, aconteceu a conversa que entrou para a história pelas expressões utilizadas e por ser a primeira em público.

To be or not to be! (Ser ou não ser!), disse Graham Bell.

My God, it talks! (Meu Deus, isto fala!), exclamou D. Pedro II,

No ano seguinte, com o empenho do Barão de Capanema, o telefone já se expandia pelo Brasil a partir do Rio de Janeiro. Mas foi uma expansão lenta.

Antigo aparelho telefônico

A primeira tentativa de instalá-los em Maceió surgiu pelo Decreto nº 8.457, de 18 de março de 1882, quando o Ministério da Agricultura concedeu à Companhia Telefônica do Brasil o direito de explorar esse serviço na capital alagoana. A concessão também atingia Salvador, Porto Alegre, Pelotas, Rio Grande e Petrópolis.

Em 1º de maio de 1885, o jornal O Orbe, ao criticar em suas páginas a possível mudança da Estação Telegráfica de Maceió para Jaraguá, revelou a razão da  Companhia Telefônica do Brasil não ter estabelecido o seu serviço em Alagoas.

Dizia a nota que “… nenhuma empresa queria paralisar um capital indispensável, não pequeno, para vir estabelecer linhas telefônicas e só obter vinte ou trinta assinaturas. É a razão porque o concessionário dos telefones de todas as províncias do Império deixou caducar a concessão que se referia a capital das Alagoas”.

Diante dessas dificuldades, o diretor geral do Telégrafo Nacional, Guilherme Capanema, o Barão de Capanema, resolveu bancar as instalações em Maceió. Ele já tinha sido o responsável pelas primeiras linhas implantadas no Brasil, no Rio de Janeiro. Guilherme Capanema, que nasceu Guilherme Schüch em Ouro Preto, MG, era militar, naturalista, engenheiro e físico.

Guilherme Schüch, o Barão de Capanema

Foi com essa missão que no início de novembro de 1884 ele esteve em Maceió orientando como realizar as instalações e garantindo o fornecimento dos equipamentos. Voltou no dia 25 de janeiro de 1885 para inaugurar a primeira linha telefônica de Alagoas. Interligava a Estação Telegráfica de Maceió e o bairro de Jaraguá.

Dias depois, em 3 de fevereiro de 1885, foram instaladas mais linhas telefônicas. Uma da Estação Telegráfica (Praça D. Pedro II) para a Tesouraria da Fazenda (também na Praça D. Pedro II) e outra da Tesouraria para a Alfandega em Jaraguá. A primeira comunicação destas últimas linhas se deu às 14h desse mesmo dia, com a presença do presidente da Província, Sá e Albuquerque, e de outras autoridades. As instalações dos aparelhos e das suas linhas se deram pelas mãos do inspetor de linha telegráfica Leôncio José Pereira de Farias.

Segundo Marcello Guimarães Barros, em seu livro Os Quatro Momentos, esse sistema utilizava telefones a magneto, interligados por apenas um fio aéreo, que fechava o circuito pela terra, quando esta oferecia boa condutibilidade, como acontecia no litoral.

Em 19 de abril de 1885, O Orbe anunciou que já estavam subscritas “para mais de vinte pessoas a fim de receberem em suas casas os respectivos aparelhos telefônicos”. Informava ainda que o material já tinha sido solicitado ao fabricante e que em breve começaria a se estender os fios. O jornalista se dizia decepcionado com o fraco acolhimento de “tão utilíssimo invento”.

Essa indiferença não era somente dos consumidores. Segundo o jornalista, partia principalmente “de alguns capitalistas nacionais que tem negado seu valiosíssimo concurso, a ponto de esmorecer o cavalheiro que foi incumbido de estabelecer a rede telefônica

O “cavalheiro” que recebeu essa incumbência era o diretor da Estação Telegráfica Pedro Soares. O Telégrafo Nacional foi, portanto, quem implantou o primeiro sistema de comunicação por telefones em Maceió, inaugurado oficialmente em outubro de 1885.

Em 25 de abril de 1886 já se tinha anúncio comercial nos jornais com o número do telefone. D. Francisca Soares, da loja Modista, na Rua do Imperador, nº 27, utilizava a linha telefônica nº 51.

Um ano depois, em abril de 1887, tinham sido montados 42 aparelhos, utilizando 49.120 metros de fios. Os investimentos somavam 5:328$000, sendo 3:510$000 nos aparelhos e 1:818$800 nos fios. Nessa época, sem recursos, o governo da Província ainda não se comunicava com as repartições públicas da capital.

No ano seguinte, o governo investiu 1:500$000 e o Palácio passou a conversar com o Tesouro Provincial, Consulado de Jaraguá, Secretaria de Polícia e o corpo de Polícia. Havia também uma linha entre o Chefe de Polícia e a Cadeia Pública.

Prédio na Praça D. Pedro II onde funcionou os Correios e Telégrafos

O serviço telefônico oferecido pelo Telégrafo Nacional em Alagoas existiu até o final de 1896. Pelos registros nos jornais, com o fim dos anúncios onde se informavam os números dos telefones, pode-se estabelecer que a suspensão se deu em 12 de dezembro daquele ano. Quando encerrou suas atividades, o chefe da Estação Telegráfica de Maceió era o telegrafista carioca José Teixeira de Souza Leite.

Dias depois, em 15 de janeiro de 1897, O Orbe anunciou que “em breve será instalada nesta capital uma companhia telefônica, melhoramento há pouco extinto pelo governo, e que vai agora ser restaurado por uma companhia particular”.

O “em breve” se estendeu até o início de 1899, quando o governador Manoel Duarte aprovou favores pata a montagem da Empresa Telefônica de Alagoas, transferindo para ela o material do antigo serviço, que fora doado ao Estado de Alagoas pelo Ministério da Viação. Em 15 de abril de 1899, a Empresa Telefônica de Alagoas já estava retribuindo esses favores, instalando seis aparelhos em diversos estabelecimentos públicos.

No dia seguinte, o Gutenberg publicou uma nota da Empresa Telefônica de Alagoas com o seguinte teor: “Tendo esta empresa de inaugurar por estes dias o serviço telefônico nesta cidade, pede aos srs. assinantes o favor de mandar seus aparelhos à Estação Central, no alto do Jacutinga, a fim de serem limpos e reparados. Aqueles que pretenderem tomar assinaturas farão o obséquio de prevenir à empresa que seja feita a instalação de aparelhos”.

Ainda em 1899, no dia 26 de novembro, aconteceu a inauguração da primeira linha entre Maceió e um município vizinho. A instalação ocorreu na Usina Wanderley, em Satuba, propriedade do engenheiro Wanderley de Mendonça. No mês seguinte a linha foi estendida até a Usina Leão, em Utinga.

Segundo o Indicador Geral do Estado, de 1902, foi o Major Souza Leite o responsável pelo reestabelecimento da telefonia em Maceió. Naquele ano, a empresa tinha 120 linhas funcionando na capital. Empregava um gerente, seis telefonistas e sete empregados externos. A concessão era da firma Gutierrez & Botelho e o eletricista Luiz Machado foi o seu gerente por muitos anos.

Mas qual era a relação do Major Souza Leite, um funcionário da Repartição Geral do Telégrafo — impedido de explorar o serviço como um particular —, com a firma Gutierrez & Botelho? O “História de Alagoas” encontrou que o Gutierrez da firma vem da paranaense Elia Gutierrez de Souza Leite, esposa do Major José Teixeira de Souza Leite. Um neto desse casal ficou muito conhecido no Brasil. Foi o famoso ator alagoano Sadi Souza Leite Cabral, o Sadi Cabral.

O Botelho vem de Rosa Laura Teixeira Pinto Botelho, que foi casada com o português José Pinto Botelho.

José Teixeira de Souza Leite, que tinha sido removido em 13 de maio de 1898 para o Rio de Janeiro e depois para Ouro Preto, retornou a Maceió em 18 de julho de 1898. Após uma breve passagem por Paranaguá, no Paraná — terra de sua esposa —, aposentou-se nos Telégrafos em 24 de agosto de 1904. Faleceu em Maceió no dia 20 de janeiro de 1911. No ano anterior, chegou a instalar em nossa capital uma fábrica de doces de frutos indígenas.

Em 1917, Elia Gutierrez de Souza Leite e Rosa Laura Teixeira Pinto Botelho travaram acirrada disputa na Justiça, provavelmente pelo controle da Empresa Telefônica de Alagoas.

Antigo telefone

Novos proprietários

Além das linhas para Satuba e Usina Leão, em 1902 a rede de telefonia já atingia Alagoas (Marechal Deodoro), Usina Brasileiro (Atalaia) e Pilar.

A sede da empresa ficava numa casa na Rua 15 de novembro, atual Rua do Sol, esquina com o Beco São José.

A Empresa Telefônica de Alagoas existiu até 1927, quando foi adquirida pelo comerciante José de Almeida, natural de Capela, Alagoas. Foi ainda em 1927, no dia 31 de março, que a Nova Empresa Telefônica de Maceió foi inaugurada, apresentando o serviço telefônico automático, que funcionava sem a mediação de uma telefonista. Os equipamentos eram fabricados pela alemã Siemens e Halske, utilizando seletores rotativos. Essa inovação foi pioneira no Norte e Nordeste do país.

A Nova Empresa durou até o dia 7 de agosto de 1930. Nesta data o Diário Oficial publicou o contrato, assinado pelo governador Álvaro Paes, concedendo à Companhia Força e Luz Nordeste do Brasil a exploração dos serviços de telefones, bondes e força e luz. A Força e Luz manteve os técnicos da Nova Empresa Telefônica de Maceió.

Externato São Luiz de Gonzaga em 1950, na esquina da Rua da Alegria com a Rua Augusta, onde funcionou em 1927 a CTA. Atualmente é um estacionamento de veículos

A concessão oferecida à Companhia Força e Luz Nordeste do Brasil garantia a exclusividade na exploração do serviço por 50 anos, sem pagar impostos.

A central automática da CFLNB foi instalada em um imóvel da Rua da Alegria, nº 320. Atendia então a 600 assinantes, a maior parte era de moradores ou empresas situadas no Farol. Esse número de usuários se mantinha em 1958, quando foi suspensa a concessão dos serviços de telefonia. A empresa não escondia sua falta de interesse em investir na expansão e modernização do sistema, sendo por isso alvo de muitas reclamações.

O ato de cassação da concessão foi assinado pelo governador Muniz Falcão, que utilizou o Decreto nº 785, de 10 de julho de 1958, publicado no Diário Oficial de 13 de julho de 1958, para autorizar a transferência desses serviços para a Companhia Telefônica de Alagoas, uma empresa montada pela Standard de Investimentos S/A, com sede em Recife. Em Maceió, se instalou na Rua Boa Vista, nº 320. O acervo da antiga empresa foi adquirido com a autorização do termo aditivo assinado em 18 de setembro de 1958. Custou Cr$ 850.000,00.

Um dos primeiros telefones automáticos, com discagem do número

Companhia Telefônica de Alagoas

Entre os acionistas alagoanos da CTA estavam Homero Galvão, Napoleão Barbosa, Francisco de Sá Júnior, Ciro Patury Acioli, Carlos Pinto e Dalmo Peixoto. Mas a diretoria era toda formada por funcionários da Standard de Investimentos S/A.

Segundo Marcello Guimarães Barros, em seu livro Os Quatro Momentos, em pouco tempo o Conselho Fiscal, composto pelos acionistas alagoanos, passou a desconfiar que a diretoria não estava agindo corretamente e que existiam irregularidades.

As relações animosas explodiram na Assembleia Geral Ordinária realizada em 19 de abril de 1960, quando compareceu o presidente da Standard de Investimentos S/A, Alberto Costa. Suas explicações não convenceram e diante da pressão exercida pelos acionistas, alguns deixando ver que portavam armas, o presidente “aceitou” demitir toda a diretoria. Nos bastidores circulava a informação que o governador Muniz Falcão mandaria prender os diretores, caso não renunciassem.

Em 2 de junho de 1960, uma nova Assembleia elegeu Napoleão Barbosa, presidente; Carlos Lobo Moreira Breda, diretor comercial e José Ferreira de Macedo, diretor técnico. O Conselho Fiscal reunia Carlos Lyra Neto, Benedito Geraldo do Vale Bentes, Homero Galvão, Ciro Patury Acioly, Dalmo Peixoto e Geraldo Patury Acioly.

Fernando Collor, Guilherme Palmeira e Napoleão Barbosa

TELASA

A CTA existiu até 1973, quando passou a ser a Telecomunicações de Alagoas S/A, a TELASA, a empresa operadora de telefonia do sistema Telebras no estado de Alagoas. Sua primeira diretoria foi formada por Napoleão Barbosa, presidente; Carlos Lobo Moreira Breda, diretor financeiro; Segismundo Cerqueira, diretor administrativo; e Marcello Barros, diretor técnico.

O sistema de telefonia celular da TELASA foi inaugurado oficialmente em Maceió no dia 13 de dezembro de 1993. Em 1998, quando a empresa se preparava para ser privatizada, foi criada a TELASA CELULAR. Em 29 de julho de 1998, um leilão promovido pela TELEBRAS negociou a TELASA com a iniciativa privada.

Tinha início então a era da telefonia celular.

3 Comments on História da telefonia em Alagoas

  1. Marcelo Maciel // 11 de fevereiro de 2025 em 08:18 //

    Excelente informativo histórico sobre a telefonia em Alagoas, ótimas informações

  2. Esse color sempre parasitou e ainda está aí na política, cadê o dinheiro roubado das poupança com o plano Collor ? Responda

  3. Muito bom reviver a história de Alagoas, parece até que vivi por aqui naquela época!

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