História da Praça D. Pedro II
Considerado um dos primeiros núcleos urbanos da cidade de Maceió, a Praça D. Pedro II tem no seu entorno edificações importantes, além de ter sido palco de acontecimentos relevantes na história de Alagoas.
O palacete da Assembleia Legislativa, sobrado do Barão de Jaraguá, Delegacia do Ministério da Fazenda e Catedral Metropolitana são construções que testemunharam acontecimentos importantes. Mais recentemente, o Parque Hotel também se inseriu neste grupo.
Segundo os principais historiadores, Maceió surgiu a partir de um engenho e de sua Capela, dedicada a São Gonçalo do Amarantes. Estas duas construções ficavam na área hoje dominada pela Praça D. Pedro II.
O engenho e a Capela não mais existem. Foram demolidos há muito tempo. No local ocupado pelo pequeno templo foi erguida a Igreja Matriz de Maceió.
A futura capital de Alagoas, conforme escritura pública datada de 1609, era uma sesmaria pertencente a Manoel Antônio Duro, que tinha uma casa no hoje bairro da Pajuçara.
O segundo proprietário desta sesmaria foi o capitão Apolinário Fernandes Padilha. Em seu testamento, encontrado por Moacir Santana, afirmou ter construído o engenho, por volta de 1708, no local hoje ocupado pela Assembleia Legislativa.
Plantou cana “em terras apauladas” e moeu por “duas primaveras”. O açúcar produzido foi o retame com baixo teor de sacarose. O engenho posteriormente foi desmontado e vendido.
Nos fins do século XVIII e início do seguinte, exigia-se que um povoado para ser elevado à categoria de vila deveria ter Pelourinho, Cadeia e Casa de Câmara.
Em Maceió, senhores de engenhos e agricultores ricos, que pretendiam esse reconhecimento, tomaram a iniciativa para a construção do Pelourinho e da Cadeia.
Para funcionar a Câmara, o rico proprietário José Elias Pereira cedeu seu sobrado.
O Pelourinho, a Cadeia e o sobrado da Câmara ficavam no Pátio da Capela de São Gonçalo, que passou a ser conhecida como Largo do Pelourinho, depois Praça da Catedral ou da Matriz e hoje Praça D. Pedro II.
O Pelourinho, de alvenaria de tijolo, foi erguido com recursos de Antônio Firmiano de Macedo Braga nos fins de 1817. Não se sabe se este símbolo da autoridade real e monumento à selvageria chegou a ser usado na punição de algum escravo.
O Largo do Pelourinho abrigou ainda o Armazém do Almoxarifado, Casa da Junta, Hospital e o Calabouço. Os dois primeiros se situavam onde hoje está a Delegacia do Ministério da Fazenda. A Câmara ficava ao lado.
No outro extremo do Largo do Pelourinho localizavam-se o Calabouço, a Cadeia e o Hospital, que na década de 1840 não mais existiam. Os casebres que ocupara o lugar foram demolidos para a construção do Palacete da Assembleia.
Maceió se desligou da Vila de Alagoas (Marechal Deodoro) em 5 de dezembro de 1815, já com seu núcleo urbano principal contando com os equipamentos necessários para ser a sede da Vila de Maceió. A Câmara começou a funcionar em 29 de dezembro de 1916.
A partir de 1817, com a emancipação política de Alagoas, teve inicio o processo que levaria Maceió a sediar o governo estadual.
Como houve muita disputa com a Vila de Santa Maria Madalena, antiga Vila de Alagoas, por este privilégio, a capital somente se instalou definitivamente em Maceió em 16 de dezembro de 1839.
As edificações da Praça
A primeira grande obra no entorno no Largo do Pelourinho foi o sobrado erguido por Lourenço Cavalcanti de Albuquerque Maranhão, que viria a ser o Barão de Atalaia, na Rua 2 de Dezembro.
Este prédio ficou mais conhecido como Sobrado do Camocho — apelido do antigo proprietário, Félix da Costa Moraes — e quando da presença em Maceió da comitiva real, entre o final de dezembro de 1859 e janeiro de 1860, recebeu a imperatriz Tereza Cristina e outras senhoras em um jantar oferecido pela baronesa de Atalaia.
Como havia uma antiga disputa entre o futuro Barão de Jaraguá, José Antônio de Mendonça, que hospedou D. Pedro II e a imperatriz, e o Barão de Atalaia, foi necessário realizar este evento para apaziguar as insatisfações.
Atribui-se à rivalidade entre estes senhores a escolha do local onde José Antônio de Mendonça ergueu seu palacete entre 1844 e 1849. Teria o objetivo de impedir a vista que o Barão de Atalaia teria da enseada de Jaraguá.
Se for verdadeira esta história, o palacete do Barão de Jaraguá foi a segunda edificação mais importante daquele sítio.
Esse edifício, erguido por José Antônio de Mendonça, era divido em duas residências, mas com comunicação interna. Uma para o Barão e sua esposa e a outra para os demais familiares.
Com a derrubada da Capela de São Gonçalo para a construção da Matriz, o Largo do Pelourinho ganhou a segunda e a mais importante edificação.
A pedra inicial da construção foi lançada em 1840 e sua inauguração ocorreu em 31 de dezembro de 1859, com a presença do imperador D. Pedro II e sua esposa.
Há indícios, segundo Félix de Lima Júnior em Igrejas e Capelas de Maceió, que a planta da nova igreja tenha sido elaborada em 1838 pelo arquiteto Grandjean de Montigny, um professor da Academia Brasileira de Belas Artes que fazia parte da Missão Francesa no Brasil.
A Missão Debret foi trazida ao Brasil por D. João VI para a construção da Academia Real de Belas Artes e de outros projetos.
Pelo fato de hospedar o imperador, o sobrado do Barão de Jaraguá passou ser chamado de Paço Imperial e o Largo do Pelourinho de Praça da Matriz ou da Catedral.
Outra obra do mesmo período e que também atendia ao esforço para mudar a paisagem da agora capital do Estado, foi o palacete da Assembleia Provincial e Tesouraria Provincial, cuja planta e orçamento foram solicitados em 10 de maio de 1850 ao 1º tenente engenheiro José Carlos de Carvalho, inspetor das obras públicas, que dias depois, em 3 de junho, deixou voltou à corte no Rio de Janeiro. Foi substituído imediatamente pelo engenheiro civil Pedro José de Azevedo Schranback.
A Assembleia Provincial autorizou a obra aprovando a Lei nº 130, de 6 de julho de 1850, mas somente em 14 de março de 1851 foi lançada a pedra fundamental pelo então presidente da Província das Alagoas, José Bento da Cunha Figueiredo. A data comemorava o aniversário da imperatriz Teresa Maria Cristina.
A partir de 1853, mesmo com a obra inconclusa, os deputados provinciais passaram a utilizar o palacete. As últimas etapas da construção foram realizadas em 1854 e nesse mesmo ano, após chuvas fortes, o paredão de fundo já apresentava rachaduras. Custou 98.265$370 réis.
A Praça da Matriz também recebeu projeto paisagístico do mesmo engenheiro, que, para protegê-la da entrada de animais, recomendou que a área fosse cercada por gradil de ferro.
Esse primeiro jardim público de Maceió tinha horário de visitação: das 15h até às 18h. No domingo, dia de missa, o horário era das 6h às 18h.
Como resultado dessa preocupação com a boa imagem da cidade, uma Lei de 31 de março de 1857 autorizava as Câmaras a plantarem árvores frondosas nas praças e estradas.
A Praça ganhou também um monumento em homenagem a D. Pedro II. Foi anunciado ainda no governo de José Bento da Cunha, em 1850.
Os recursos para esta construção foram doados por Manoel Pinto de Souza Dantas e a pedra fundamental foi colocada somente no dia 2 de dezembro de 1861.
Foi inaugurado dias depois, em 31 de dezembro, ainda sem a estrutura em mármore branco fabricada em Lisboa e encomendada pelo Barão de Jaraguá. Somente foi instalada 11 anos depois.
Esta obra definiu o nome atual da Praça.
É considerado por alguns historiadores como o monumento mais antigo do país a homenagear pessoas ilustres. A estátua equestre de D. Pedro I, na Praça Tiradentes no Rio de Janeiro, somente foi inaugurada em 1862.
Em 1870, José Bento da Cunha Figueiredo Júnior voltou a governar Alagoas pela última vez e construiu mais um equipamento na Praça D. Pedro II.
Para melhorar a distribuição de água na cidade foram instalados dois chafarizes: um na Praça N. S. da Mãe do Povo, em Jaraguá, e outro na Praça D. Pedro II. Eram de ferro e tinham o desenho de uma silhueta feminina. Um detalhe: a água era vendida a 10 réis o balde.
Sede do Tesouro Nacional
Outra construção importante nessa área teve início em 2 de dezembro de 1872, quando a casa de térrea de telha e taipa de nº 21 da Praça D. Pedro II foi derrubada para a construção da sede do Tesouro Nacional. Essa antiga casa de moradia pertencera a Maria Antônia da Conceição e foi vendida por seu filho e herdeiro Manoel Gomes Ribeiro à Tesouraria da Fazenda da Província por 4:000$000 em 20 de novembro de 1872. Tinha 33 palmos de frente — aproximadamente 7,50 metros — e 356 palmos de cada lado — aproximadamente 81 metros —, com grande quintal.
Também em 20 de novembro de 1872 foi efetivada a aquisição do terreno vizinho, onde existia o início de uma construção. Pertencia a Antônio Teixeira de Aguiar e a sua esposa Umbelina Viana de Aguiar. Esse imóvel pertencera antes à Baronesa de Atalaia. Pagou-se por ele 4:500$000. Media 64 palmos de frente — 14,50 metros — e 356 palmos de frente/fundos — 81 metros.
Em 30 de dezembro de 1885, Felippa de Moraes Cabral vendeu para o Tesouro Nacional 28,20 metros de seu quintal por 800$000.
Com essas aquisições, o prédio foi construído ocupando 33,13 metros de frente e sobrando lateralmente uma área cuja frente tinha 15,20 metros — atualmente é a garagem do edifício. A face lateral do terreno, na Rua do Sol, ficou com 75,35 metros. Parte dele foi utilizada anos depois para a construção dos Correios e Telégrafos.
Esses antigos imóveis eram os mesmos que tinham sido ocupado anteriormente pelas casas do Armazém do Almoxarifado e a Casa da Junta quando Maceió foi elevada a vila.
A construção da sede do Tesouro Nacional, concluída em 1877, ficou ao encargo do engenheiro Carlos de Mornay e tinha originalmente um pavimento. Somente em meados do século XX foi que o prédio recebeu reforma e ganhou o pavimento superior.
Foi inaugurado em 1878 e em 1884 foi incorporado ao patrimônio do Império.
Como a Tesouraria em Alagoas foi extinta pelo Decreto nº 1.166, de 17 de dezembro de 1892, dias depois, já em 1893, a sua sede foi ocupada parcialmente pela Caixa Econômica. Em 1894 também se estabeleceu por lá a Administração dos Correios. A Caixa esteve no prédio até o início de 1898, quando foi criada a Delegacia Fiscal pelo Decreto nº 2.807, de 31 de janeiro daquele ano.
Atualmente, neste edifício, funciona a Delegacia do Ministério da Fazenda, na esquina da Rua do Sol.
Outras construções
No início do século XX, o sobrado dos herdeiros do Barão de Jaraguá foi ocupado pela Perseverança e Auxílio dos Empregados no Comércio, órgão que promovia atividades educativas e culturais. Durante muito tempo, as conferências da Perseverança eram uma das poucas atividades culturais da cidade.
A parte dos fundos deste sobrado, com acesso pela Praça dos Palmares, era conhecido como Palácio Velho e foi demolido em 1940.
Outra edificação importante do local foi o prédio construído pelo coronel Antônio Maurício da Rocha, um comerciante de tecidos, proprietário da Casa Louvre e de vários imóveis espalhados pela cidade. Seu filho mais conhecido foi o pintor Maurício Virgílio.
O coronel Antônio Maurício da Rocha negociava em Lagoa da Canoa até 1897, quando decidiu investir em Maceió. Chegou ser deputado provincial.
Quando o prédio ainda estava em construção, em 1921, o engenheiro chefe da Secção Técnica da Intendência Municipal avaliou que poderia desabar por falhas no seu projeto. Mesmo assim foi erguido e anos depois era a sede da firma Jota Castro & Cia. Ltda.
Foi demolido no final dos anos 50 e no início da década seguinte seu terreno e o do imóvel da esquina, onde funcionou a Agência da Panair, receberam o Banco de Londres.
Nesse período, os trabalhadores do entorno da Praça D. Pedro II se alimentavam com café, bolo, grudes, beijus, tapiocas e pães torrados na casa da preta Margarida, na Ladeira da Catedral, ou ainda na Rua do Comércio, no caldo de cana de Francisco Assunção, a 100 réis o copo, como lembra Felix Lima Júnior em Maceió de Outrora.
Quando se instalou a primeira linha de bonde, de tração animal, ainda no século XIX, o ramal em direção à Praça dos Martírios, passava pela Rua do Comércio, bem próximo da Praça D. Pedro II.
Como a Praça D. Pedro II foi escolhida para sediar as comemoração do centenário da emancipação política de Alagoas, em setembro de 1917, foram construídos no local diversos pavilhões onde seriam expostos os produtos agrícolas e industriais e obras de arte.
Estes quiosques, após as exposições do Centenário, foram aproveitados como salas de aula para o então Jardim Infantil.
Em 1923, com a política de alinhamentos de ruas e praças adotada pelo prefeito Ernani Teixeira Bastos, a ladeira em frente à Catedral foi rebaixada, modificando a escadaria da Catedral, afastando-a mais um pouco da Praça.
Outra intervenção importante em meados do século XX foi o surgimento de vias entrecortando a Praça D. Pedro II e separando-a do palacete da Assembleia. Até uma bomba de combustíveis foi colocada na calçada para servir aos veículos da Assembleia.
Em 1957 foi construída a última grande obra arquitetônica na Praça D. Pedro II, o Parque Hotel, um projeto da arquiteta Zélia Maia Nobre. É um marco na cidade e a única edificação notável com arquitetura moderna naquele espaço.
Atualmente, a Praça foi reduzida e separada do Palacete da Assembleia por grades. A sua área próxima à Catedral foi transformada em estacionamento do poder legislativo.
Quase sempre sujo e maltratado, o velho Largo do Pelourinho parece não ter o valor histórico que tem, mesmo recebendo o olhar centenário e imponente do velho imperador.
Fontes:
– A história da paisagem da Praça D. Pedro II em Maceió-AL, dissertação de mestrado de Tharcila Maria Soares Leão, 2010. Disponível em http://repositorio.ufpe.br:8080/xmlui/handle/123456789/2905.
– A história do meu bairro, fascículo História do Centro de Maceió, do CEFET Maceió em 2002.
– Fallas, Relatórios Provinciaes e Mensagens Governamentais de Alagoas, Volume I. Pesquisa de Luiz Nogueira de Barros
– Fotos do Arquivo do MISA.
Esclarecedora: de Largo do Pelourinho, passando por Praça da Matriz, até Praça D. Pedro II.
Parabéns Ticianeli. A história de Maceió está contada com riqueza de detalhes. A existência do Pelourinho foi apagada. Na Bahia ainda conservam.
Sou pernambucano do Recife. Em Maceió desde 1975. Soube que Maceió foi fundado a patir de um engenho na praça D. Pedro ll, chamado engenho Masssyó. Daí começou a vila de Maceió. Tem fundamento?
É gratificante rever essas fotografias históricas, principalmente para mim, que vivenciei grande parte desta história.
Ticianelii
Vou lhe enviar gravura do Palacete do Chamorro que é ao meu ver a construção mais bonita da Praça !
Eu sou apaixonado por história eu fico encantado com tudo isso.