Grupo Terra e a música regional de Alagoas
![Primeiro show no Teatro de Arena em 1976 com Terra à Vista](https://i0.wp.com/www.historiadealagoas.com.br/wp-content/uploads/2019/03/Primeiro-show-no-Teatro-de-Arena-em-1976-com-Terra-%C3%A0-Vista-e1552176840961.jpg?resize=790%2C395&ssl=1)
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Primeiro show do Grupo Terra no Festival de Verão de Marechal Deodoro em 1976, no Convento de São Francisco
Formado em 1975 e contando apenas com a participação de artistas alagoanos, o Grupo Terra “tinha as suas composições voltadas para o regionalismo e na cultura popular”, como explica Chico Elpídio, que teve a iniciativa de agregar músicos que tocavam na noite maceioense. Era o mais experiente da turma, um estudante de Direito com passagem por Os Diamantes, Som Sete e Kukasamba.
Em texto publicado no Blog do Sávio Almeida, Edson Bezerra, irmão de Chico Elpídio, avaliou que foi a junção de músicos da noite, de bandas de bailes, bares e boates, com participação de compositores da intelectualidade, que deu “uma identidade híbrida”, capaz de captar “o clima político daqueles anos de fins da ditadura militar”.
A primeira formação do Terra tinha Chico Elpídio no violão, Messias Gancho no contrabaixo, Zailton Sarmento na viola e cavaquinho, Cláudio Carlos Batera na bateria e Marcus Antônio “Vagareza” na voz. Logo depois chegaram Edson Bezerra na voz (ainda Edson José), Eliezer Setton também na voz, Jorge Quintella na flauta e Beto Batera na bateria.
Edson Bezerra esclarece que o contato entre estes músicos passou a existir ainda em 1972, durante o Festival Estudantil de Música Popular (Fempop), uma iniciativa do Colégio Estadual Benedito de Morais, então dirigido pelo professor Élcio Verçosa.
Quem venceu aquele festival foi uma música do Marcus Vagareza e Manoel Miranda. Paulo Renault ficou em segundo lugar. Edson Bezerra recebeu a terceira colocação com a música Onde estais?, com arranjo de Chico Elpídio.
Como resultado desta aproximação, Edson Bezerra, Paulo Renault, Chico Elpídio e Marcus Vagareza realizaram um show no Teatro Deodoro intitulado Contra Guerra. Estava formado o núcleo de poetas e músicos que daria origem ao Grupo Terra.
Edson lembra que Chico Elpídio, Paulo Renault, Manoel Miranda e Marcus Vagareza passaram a se encontrar periodicamente na Praça dos Martírios até 1975, quando efetivamente ocorreu a formação da banda.
Ainda no seu texto, Edson Bezerra, que é Doutor em Sociologia, analisa que, quando surgiu, o Grupo Terra estava mergulhado “em uma ambiência de regionalismo no qual vinham surgindo grupos de um formato acústico que se voltavam para uma música de enraizamento nas culturas populares do Nordeste. Emblemático deste momento foi a criação do Quinteto Armorial (1970), do Quinteto Violado (1971) e da Banda de Pau e Corda (1972) – todos de Pernambuco”.
Trajetória
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Grupo Terra em 1981 no Ginásio do Estadual em ato da UESA. Edson Bezerra, Jorge Quintela, Chico Elpídio, Zailton, Messias Gancho, Eliezer Setton e Beto Batera
O Grupo Terra foi apresentado ao público durante o VI Festival de Verão de Marechal Deodoro, no início de 1976. O show histórico Terra à Vista aconteceu ao pé do altar do convento de São Francisco.
Um dos destaques deste momento importante da trajetória da banda foi a música Minha Terra de Marcus Vagareza.
Um pedacinho de terra
Cá do norte do Brasil
Do reisado e do fandango
Da chegança e pastoril
Guerreiro chegou a hora de cantar tua origem, do vermelho e do azul,
Desse céu e desse mar, de Manguaba e Mundau
Sol se pondo na avenida, muito amor no coração,
Muita fé muita coragem pra seguir na procissão,
Minha terra tem coqueiros onde o vento faz canção.
Terra à Vista também foi apresentado no Teatro de Arena em Maceió. Segundo Edson Bezerra, com “este mesmo formato crítico e poético” foram montados os shows seguintes: Cidade Antiga em 1980, Canto Novo em 1981, Recordação em 1982 e Gente das Brenhas em 1983.
Os festivais ocorridos em Alagoas nos anos 70 e 80 também contaram com a participação do Grupo Terra. No II Festival do Compositor Alagoano realizado em 1978 pela Rádio Difusora de Alagoas, a banda conquistou o primeiro lugar com Pássaro de Prata, de Edson Bezerra e Carlos Moura.
No I Festival Alagoano da Canção Nordestina, em 1979, o segundo que o Grupo tomava parte, foram classificadas: Desesperança, de Eliezer Setton; Chão Quente, de Marcondes Costa e Juvenal Lopes; Festa na Roça, de Marcus Vagareza; e Meu Sertão, de José Cavalcante e Marcondes Costa. Todas elas foram gravadas no LP Terra da Gente.
Em dezembro de 1981, no III Festival Universitário de Música promovido pelo DCE Ufal, componentes do Grupo Terra participaram da conquista do primeiro lugar e quarto lugar com as músicas Canto do Chão, de César Rodrigues, Chico Elpídio e Edson Bezerra, e Raízes, de Chico Elpídio e Eliezer Setton.
O disco
O primeiro e único disco Long Play da banda foi lançado em meados de 1980 e trazia a experiência da gravação de faixas em discos dos festivais promovidos pelas Rádios Difusora e Gazeta.
Em uma reportagem assinada pelo jornalista Manoel Miranda e publicada na Gazeta de Alagoas de 28 de setembro de 1980, há a transcrição do texto que Joarez Ferreira, ex-diretor do Departamento de Assuntos Culturais da Secretaria de Educação do Estado de Alagoas, escreveu na contracapa do único LP do grupo: “aqui não há o cansativo tom de um nordestiníssimo ultrapassado com ranços de provincianismo, nem esta falsa proposição de um novo dissociado da realidade regional. Aqui está a música popular brasileira, em sua universalidade, mas com as conotações típicas de um Estado, de uma Região, traduzindo os sentimentos de um povo, refletindo a alma de uma gente que sofre, mas deseja e ama viver”.
Esse LP também foi o primeiro e único lançado nacionalmente pela Warner Bandeirantes do Nordeste. Quem produziu o vinil no estúdio CLAVE em Recife foi o músico João Lyra.
Participaram da gravação os seguintes músicos: Chico Elpídio, voz e violão; Messias Gancho, contrabaixo; Cláudio Batera, bateria; Zailton Sarmento, viola e cavaquinho, Beto Batera, percussão; Jorge Quintella, flauta, Edson Bezerra e Eliezer Setton, vozes.
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Em pé: Nelson (primeiro percussionista do grupo), Zailton, Marcus Vagareza e Chico Elpídio. Sentados: Cláudio Batera, Paulo Renault (compositor) e Cavalcante Barros compositor e apoiador. Faltou o Gancho
Os arranjos deste disco de 1980 foram de Chico Elpídio e Zailton Sarmento. Em algumas faixas, participaram também Zé da Flauta, Tony Batera, na percussão, e Paulo Bezerra no baixo e viola.
As músicas foram as seguintes: Minha Terra (Marcus Antônio), Pássaro de Prata (Carlos Moura e Edson Bezerra), Literatura de Cordel (José Cavalcanti e Marcondes Costa), Mote e Vida Peregrina (Chico Elpídio e Eliezer Setton), Noite Sertaneja (Marcondes Costa), Cavalhada (Zailton Sarmento e Chico Elpídio), Morada Sertaneja (Chico Elpídio, Marcondes Costa, Eliezer Setton e Paulo Renault), Mote bem brasileiro (Marcondes Costa e Tânio Barreto), Estórias do tempo antigo (Laerson Luís), Maria Fumaça (Chico Elpídio, Paulo Renault e Eliezer Setton), Meu Nordeste (Chico Elpídio e Marcondes Costa) e Frevo do Gonguíla (Zaílton Sarmento).
Três destas músicas ficaram mais conhecidas nacionalmente por fazerem parte de trilhas sonoras de novelas: Maria Fumaça e Noite Sertaneja foram utilizadas na novela Meu Pé de Laranja Lima, produzida e exibida pela Rede Bandeirantes entre 29 de setembro de 1980 e 25 de abril de 1981, e Literatura de Cordel, na novela Rosa Baiana, também exibida na Rede Bandeirantes em 1981.
Morada Sertaneja e Noite Sertaneja também ganharam destaque ao serem incluídas no LP O Som da Terra, de 1981, uma produção da Bandeirantes Discos com a distribuição da WEA, uma companhia do grupo Warner Communications.
Ainda em 1980 e graças ao rápido sucesso do disco, o Grupo foi convidado a participar do programa Som Brasil, apresentado por Roland Boldrim na TV Globo.
As músicas do disco
Minha Terra, de Marcus Antônio Vagareza. Para baixar clique AQUI.
Pássaro de Prata, de Carlos Moura e Edson Bezerra. Para baixar clique AQUI.
Literatura de Cordel, de José Cavalcanti e Marcondes Costa. Para baixar clique AQUI.
Mote e Vida Peregrina, de Chico Elpídio e Eliezer Setton. Para baixar clique AQUI.
Noite Sertaneja, de Marcondes Costa. Para baixar clique AQUI.
Cavalhada, de Zailton Sarmento e Chico Elpídio. Para baixar clique AQUI.
Morada Sertaneja, de Chico Elpídio, Marcondes Costa, Eliezer Setton e Paulo Renault. Para baixar clique AQUI.
Mote bem brasileiro, de Marcondes Costa e Tânio Barreto. Para baixar clique AQUI.
Estórias do tempo antigo, Laerson Luís. Para baixar clique AQUI.
Maria Fumaça, de Chico Elpídio, Paulo Renault e Eliezer Setton. Para baixar clique AQUI.
Meu Nordeste, de Chico Elpídio e Marcondes Costa. Para baixar clique AQUI.
Frevo do Gonguíla, de Zailton Sarmento. Para baixar clique AQUI.
O Fim
No início de 1981, o Grupo Terra recebeu da Bandeirantes uma proposta aparentemente irrecusável: um contrato de quatro anos, com a gravação de quatro LPs e a apresentação da banda nos estados do Brasil onde houvesse programas musicais nas associadas da Rede Bandeirantes, com direito a cachês, passagens e hospedagens.
Como alguns participantes do Grupo Terra tinham vínculos empregatícios que impediam essa disponibilidade para a agenda nacional, não foi aceito o contrato, desestimulando os que estavam dispostos a iniciar um voo maior.
“Pois foi assim que o Grupo Terra terminou seus dias”, explica Edson Bezerra, que avalia a existência também de um esgotamento do trabalho, além do surgimento da carreira solo de alguns dos seus componentes. O último show foi Gente das Brenhas em 1983.
Do Terra, Marcus Vagareza (hoje Marcus Maceió), Eliezer Setton, Zailton Sarmento e Messias Gancho continuam em plena atividade musical. O primeiro em São Paulo. Outros do grupo têm também mantido contato com a produção musical, mas de forma esporádica, como Chico Elpídio, Edson Bezerra e Jorge Quintella. Cláudio Carlos Batera, Beto Batera e Paulo Renault faleceram.
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Uma das últimas formações do Grupo Terra, com Chico Elpídio, Zé Barros, Edson Bezerra, Messias Gancho, Cláudio Batera, Eliezer Setton e Juliano Gomes, ajoelhado
Em apenas oito anos de existência, o Grupo de Terra fez história na cultura alagoana e alguns dos seus componentes ainda continuam fiéis seguidores da música regional, produzindo os sons que estão entre os melhores de Alagoas.
Contribuição que tanto nos orgulha, Grupo Terra é patrimônio da nossa terrinha. Parabéns pela matéria!
Muito bom! Teria como colocar a íntegra do álbum no Youtube, pra ter mais circulação?
Amei, conheço essa turma d perto , fantástico parabéns .
Fantástico, além da expressão fidedigna de nossa cultura, esses artistas incorporam valor a nossa terra.
E o texto de Joarez Ferreira na contracapa do LP, rapaz é dignificar qualquer alagoano!
muito bom. amei a possibilidade de baixar as músicas rapidinho.
Maravilhosoooo
Conheci Marcus Vagareza na Praia de Jatiúca e depois a turma do LSD no início do ano 70 no Teatro Deodoro onde eram feitos os ensaios do grupo e
Depois me tornei amigo de Marcus Vagareza quando ele morava com sua em Cruz das Almas, muita saudades daquele tempo.
POr favor disponibilizem essa historia e as músicas no you tube, achei por acaso essa parte da musica alagoana, faz parte da historia musical e merece ser ouvida e destacada. Importante contribuição musical, cultural, parte de uma memoria. Escutei tudo, como musico de formação e reescutei…