General João Severiano da Fonseca, o patrono do Serviço de Saúde do Exército 

Casa onde nasceu o dr. João Severiano da Fonseca Fonseca na Vila das Alagoas, atual Marechal Deodoro

Irmão do Marechal Deodoro da Fonseca, João Severiano era filho de Manoel Mendes da Fonseca e Rosa Maria Paulina da Fonseca, nascido na Vila das Alagoas (atual Marechal Deodoro), em Alagoas, no dia 27 de maio de 1835.

Tinha seis anos de idade quando, em março de 1842, foi levado por sua mãe, junto com mais seis irmãos, a morar com o pai no Rio de Janeiro. Manoel Mendes havia liderado a rebelião contra a mudança da capital para Maceió e aprisionado o presidente da Província, Agostinho da Silva Neves. A revolta durou pouco tempo e graças a um artifício elaborado pelo Visconde de Sinimbu, Silva Neves voltou ao poder e Mendes da Fonseca foi exonerado do cargo de juiz municipal.

Para não ser preso, fugiu para Sergipe e lá se apresentou, em 3 de dezembro de 1839, ao comandante das Armas daquela Província. Foi detido e enviado à Fortaleza de Santa Cruz na Corte. Somente em maio do ano seguinte ocorreu o seu julgamento pelo Conselho de Guerra, sendo absolvido e reconduzido ao Exército, onde atingiu a reforma como tenente-coronel.

D. Rosa da Fonseca e seus sete filhos que lutaram na Guerra do Paraguai

Dr. João Severiano da Fonseca

Na então capital federal, João Severiano da Fonseca estudou no Colégio de Belas Letras e, em 1853, com 18 anos de idade, iniciou o curso médico na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, de onde saiu diplomado após apresentar, em 1º de dezembro de 1858, a tese Da Moléstia em GeralRecebeu o grau de doutor em cerimônia realizada no dia 13 de dezembro de 1858, com a presença do imperador.

Em maio de 1858, antes de colar grau, João Severiano da Fonseca foi eleito para a diretoria do Instituto Médico Brasileiro, no cargo de secretário arquivista. Já era então secretário da “Academia Philosophica” e da “Sociedade Physico-Chimica”.

Sua atuação no combate à epidemia da “choolera-morbus”, nos anos de 1855 e 1856, lhe rendeu, em 2 de dezembro de 1858, o reconhecimento do imperador, que o titulou como Cavaleiro da Ordem da Rosa. Recebeu ainda a Ordem do Cavaleiro de Cristo (13 de junho de 1867), Cavaleiro do Cruzeiro (11 de abril de 1868), Comendador da Rosa (6 de setembro de 1870), Cavaleiro de São Bento de Aviz (2 de maio de 1877) e Oficial dessa mesma ordem em 24 de outubro de 1890.

Entrou para o Exército em 29 de janeiro de 1862 como tenente 2º cirurgião. Ocupou o cargo do dr. Davino Frederico de Carvalho e Silva, demitido a pedido naquela mesma data.

Coronel Faria da Rocha passa em revista tropas brasileiras em Tayi, Paraguai, em 1868

Guerra do Paraguai

Em 4 de maio de 1864 foi designado para acompanhar o 4º batalhão de infantaria para o Rio Grande do Sul. Como adoeceu, foi dispensado de suas obrigações em 6 de setembro, sendo lhe conferido quatro meses de licença para tratamento da saúde.

Estava ainda em recuperação, quando, em 13 de dezembro, teve início a campanha do Uruguai. Abriu mão da sua licença e seguiu com as tropas para as operações que levariam à Guerra com o Paraguai dias depois. Por esta decisão, foi elogiado pelo ministro da Guerra em 17 de janeiro de 1865.

Por aviso de 5 de fevereiro de 1866 foi nomeado 1º Cirurgião em comissão. Em 20 de maio de 1869 foi promovido a 1º Cirurgião (Capitão) por merecimento em serviço de campanha. Sua promoção foi indicada pelo marechal de Exército Conde d’Eu, comandante em chefe das operações no Paraguai. A partir de 22 de junho de 1869, passou a servir no Hospital Militar de Assunção.

Deslocado para a Enfermaria de Mangrulho em 13 de setembro de 1870, voltou a Assunção em 7 de fevereiro do ano seguinte para assumir a direção da Enfermaria Militar.

O histórico conflito teve fim em março de 1870, após a morte de Solano López na batalha de Cerro Corá. Entretanto, o dr. Severiano da Fonseca somente embarcou para o Rio de Janeiro em 17 de novembro de 1871, acompanhando o transporte dos soldados feridos.

Mapa com o território conquistado da Bolívia pelo Brasil em 1867, objeto da Comissão Demarcadora de Limites Brasil-Bolívia de 1875 a 1878

Demarcação das fronteiras do Brasil

Em 3 de abril de 1875 foi indicado como integrante da Comissão Demarcadora de Limites Brasil-Bolívia, organizada pelo Ministério dos Estrangeiros. Esse trabalho durou aproximadamente cinco anos e o fez percorrer a província do Mato Grosso até chegar Manaus, no Amazonas, de onde retornou ao Rio de Janeiro.

Foi nessas andanças pelo Centro-Oeste que, em 11 de janeiro de 1877, casou-se com Analia d’Alincourt da Fonseca, filha do major João d’Alincourt Sabo de Oliveira e de Antônia do Carmo. A união ocorreu na igreja de Santa Cruz de Corumbá, Mato Grosso,

Analia nasceu em Cuiabá, Mato Grosso, em 4 de abril de 1862, e faleceu no Rio de Janeiro em 23 de agosto de 1896.

Tiveram pelo menos três filhos e duas filhas: Hermes Severiano d’Alincourt Fonseca (*14/11/1877 — +?/1//1938). Nasceu em Cuiabá. Foi militar. Quando faleceu em Florianópolis já era coronel; Afonso d’Alincourt Fonseca (*14/12/1878). Era engenheiro; Affonso Deodoro d’Alincourt Fonseca (*25/1/1880 — +1932). Foi tabelião do 13º Cartório no Rio de Janeiro; Maria Honorina d’Alincourt Fonseca (*9/2/1881 — +10/2/1881) e Analia d’Alincourt Fonseca (*29/7/1882 — +19/10/1886).

General João Severiano da Fonseca

General Severiano da Fonseca

Desligado da Comissão Demarcadora de Limites Brasil-Bolívia em 18 de fevereiro de 1878, o dr. Severiano da Fonseca voltou à Corte com a família e foi alocado, em 1º de maio de 1878, como 1º médico do Hospital Militar do Andarahy. Estava nesse cargo quando foi promovido, por merecimento, em 11 de junho de 1881, a major cirurgião-mor de Brigada.

Chegou a tenente-coronel em 15 de abril de 1885, por merecimento. A partir de 14 de novembro de 1887 passou a ser o substituto do cirurgião-mor do Exército durante seus impedimentos e faltas.

Em 28 de março de 1890 foi nomeado Inspetor do Pessoal Médico de 1ª classe do Serviço Sanitário do Exército na capital federal. Havia atingido o coronelato no dia anterior. Em 4 de outubro desse mesmo ano chegou a General de Brigada.

Foi o primeiro médico militar a ingressar na Academia Imperial de Medicina do Rio de Janeiro. Foi aceito em 22 de abril de 1880, após apresentar a tese “Climatologia de Mato Grosso”.

Já com o irmão Deodoro da Fonseca na presidência da República, foi eleito, em 15 de novembro de 1890, senador pelo Distrito Federal. Quando Deodoro renunciou à presidência em 23 de novembro de 1891, Severiano da Fonseca fez o mesmo dias depois (18 de dezembro), mantendo-se como Inspetor Geral do Corpo de Saúde do Exército.

Insatisfeito com a ascensão do vice-presidente Floriano Peixoto, que cancelou as eleições, assinou com outros 12 generais um manifesto exigindo que o processo constitucional fosse mantido. Por esta atitude, em 7 de abril de 1892 foi reformado compulsoriamente no posto de general-de-divisão.

Em 31 de outubro de 1895, um decreto revogou o que o puniu em 7 de abril de 1892. Cumpria-se o acordão do Supremo Tribunal Federal, de 19 de setembro, que julgou a decisão de 1892 ilegal e inconstitucional. Foi reintegrado ao Exército em 31 de outubro de 1895., reassumindo as funções de Inspetor Geral em 4 de novembro.

Como destacado homem das ciências, foi também professor de Ciências Físicas e Naturais no Imperial Colégio Militar, desde a sua fundação em 1889, e no Colégio Pedro II.

No Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, onde foi admitido em 1º de outubro de 1881 após apresentar o trabalho “A Gruta do Inferno”, exerceu o cargo de 1º e 2º secretário e vice-presidente. Do IHGAL foi sócio correspondente a partir de 1872. Patrono da cadeira 44 do IHGAL e da cadeira 21 da Academia Alagoana de Letras.

Contribuiu também, com seus estudos e pesquisas, para a Academia Nacional de Medicina, Sociedade Geográfica do Rio de Janeiro, Sociedade Geográfica de Lisboa, Sociedade Geográfica de Madrid e Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional. Estava entre os fundadores do Instituto Farmacêutico do Rio de Janeiro.

Em 1940 foi escolhido como Patrono do Serviço de Saúde do Exército (honraria homologada pelo Decreto nº 51.429, de 13 de março de 1962, assinado por João Goulart) e da cadeira 27 da Academia Brasileira de Medicina Militar. Entre os títulos que lhes foram conferidos está a condecoração com a Ordem do Cruzeiro, o único oficial do Corpo de Saúde a recebê-la.

Faleceu no Rio de Janeiro às 13h20 do dia 7 de novembro de 1897, vítima de “arterio-sclerose”. Foi enterrado no dia seguinte, às 16h, no Cemitério de São Francisco Xavier, com honras militares (uma brigada composta dos 10º e 23º Batalhões de Infantaria e pelo Regimento de Cavalaria, que acompanhou o corpo até o cemitério).

Dr. João Severiano da Fonseca

Obras:

Raças e Povos, Origens, Afinidades, Identidades, Distinções, 1864; O Celibato Clerical e Religioso, Contestação à Carta Pastoral do Bispo de Cuiabá, 1883; Moléstias em Geral, 1858; Viagem ao Redor do Brasil, 1875-1878, Rio de Janeiro: Tipografia de Pinheiro & Cia., 1880 sendo o 2 v. 1881; A Gruta do Inferno na Província de Mato Grosso, 1882; Relatório do Quinquenário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; Climatologia de Mato Grosso, 1818-1882; Novas Investigações sobre Mato Grosso, 1888; Dicionário Geográfico da Província de Mato Grosso, 1888; Dicionário de Brasileirismos; Origens das Sociedades de Estudo, 1861; Diário da Campanha do Paraguai; Novas Investigações Sobre o Mato Grosso (lida na sessão de 07/12/1888, no IAGA); Origem de Alguns Nomes Patronímicos da Província das Alagoas, Revista do IAGA, n. 8, jun.1876, p. 197-199; Índios do Guaporé; As Savanas e as Florestas; Origens das Sociedades de Estudo (Anais da Academia Filosófica), 1858; Brazões da Cidade do Mato Grosso; Popular 1861. Alberto Martins da Silva, na Revista. IHGB, Rio de Janeiro, 152 (371) 518-532, abr./jun. 1991, apresenta um inédito, que teria chegado às suas mãos por intermédio de familiares do autor, intitulado Serafim Moreira da Silva Júnior, Um Herói de Diamantina (1850-1868). 

Fontes: Jornais da época e ABC das Alagoas.

2 Comments on General João Severiano da Fonseca, o patrono do Serviço de Saúde do Exército 

  1. Claudio de Mendonça Ribeiro // 26 de setembro de 2023 em 07:26 //

    Muito grato, prezado Ticianeli. Fraternal abraço.

  2. muito bom! história fantástica

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