Florianópolis, a capital que homenageou Floriano Peixoto
O antigo município de Nossa Senhora do Desterro, ou simplificadamente Desterro, passou a denominar-se Florianópolis pela Lei Estadual nº 111, de 1º de outubro de 1894 com a intenção de prestar homenagens ao alagoano presidente Marechal Floriano Peixoto.
O motivo para tal honraria foi a sua postura corajosa e firme no enfrentamento da denominada Segunda Revolta da Armada.
República
Com a proclamação da República em 15 de novembro de 1889, nem todo mundo ficou satisfeito com a ascensão política das principais lideranças do Exército brasileiro.
Desde os primeiros momentos que a Armada, como era conhecida a Marinha de Guerra, se sentiu preterida e tratou de disputar espaços no poder republicano.
Quando Deodoro da Fonseca, em 1891, fechou o Congresso e calou a oposição cafeeira de São Paulo, alguns núcleos da Marinha se declaram sublevados e o almirante Custódio José de Melo ameaçou atacar o Rio de Janeiro, capital da República.
Em 23 de novembro de 1891, Deodoro da Fonseca percebeu que havia um golpe em andamento contra ele e constando que não teria forças para enfrentá-lo, renunciou a presidência e entregou o governo ao seu vice, Floriano Peixoto, que já assumiu sendo pressionado a convocar eleições, meio encontrado para também afastá-lo do poder.
A oposição argumentava que a Constituição previa esse pleito quando o governo vagasse com menos de dois anos de mandato. Floriano alegava que isso só se aplicava a presidentes eleitos diretamente pelo povo e que não era o caso, considerando que Deodoro não fora eleito. Permaneceu no cargo por mais três anos, mas usando sempre o título de vice-presidente.
No final do mandato, a oposição passou a desconfiar que Floriano poderia estar tramando a sua continuação no cargo e alguns militares enviaram uma carta ao presidente ordenando-lhe a convocação imediata de novas eleições. Floriano reagiu mandando prender seus responsáveis, considerando que o manifesto era uma grave insubordinação.
Segunda Revolta da Armada
Assim teve início a chamada Segunda Revolta da Armada, uma tentativa de golpe comandada por Saldanha da Gama e Custódio de Melo, ambos envolvidos no processo sucessório de Floriano.
No discurso para mobilizar a Marinha, estes oficiais superiores explicavam que a Armada estava sendo tratada como inferior pelo Exército.
Sem apoio no Rio de Janeiro, os insurretos se deslocaram para o sul e se aquartelaram na cidade de Desterro, capital de Santa Catarina, em busca da ajuda dos revoltosos federalistas liderados militarmente por Gumercindo Saraiva.
Desterro foi sede, durante seis meses, de uma República Independente sob a direção dos federalistas dos três estados do Sul e dos militares rebelados da Marinha. Essa aliança permitiu ainda, em janeiro de 1894, que Curitiba caísse nas mãos de Gumercindo Saraiva.
Com a chegada ao Brasil em março de novos navios comprados com urgência no exterior, uma frota com tropas legalistas foi deslocada para o Sul a tempo de derrotar ainda naquele mês as forças de Gumercindo Saraiva na batalha da Lapa, no Paraná.
Quando ocorreu o ataque a Desterro — o segundo alvo das forças legalistas —, os revoltosos já estavam muito enfraquecidos, principalmente após a tentativa fracassada de Custódio de Melo de tomar o Rio Grande do Sul. Ao ser derrotado, entregou os navios da frota rebelde ao governo argentino.
Em Desterro permaneciam o encouraçado Aquidaban e mais três pequenos vapores, protegidos fracamente pelas duas fortalezas da barra.
O embate final se deu na madrugada de 16 de abril de 1894, quando se travou a batalha naval entre uma frota de 11 embarcações legalistas e o Aquidaban, que foi atingido por torpedo — o primeiro disparado em águas brasileiras —, indo a pique.
Um pouco depois das 11 horas da noite a frota legalista pôs fim ao combate bombardeando a última resistência: a Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, ao norte da cidade de Desterro.
O último tiro de canhão disparado naquela noite simbolizou o fim dos combates realizados nos três anos da revolta federalista, quando mais de 12 mil vidas foram sacrificadas, entre elas 2 mil em degolas coletivas.
Fuzilamentos
Com a rendição da Fortaleza de Santa Cruz, em Anhatomirim (Pequena Ilha do Diabo em tupi-guarani), os chefes da revolta trataram de fugir, abandonando Santa Catarina em busca de apoio dos federalistas mais ao sul.
Representando o presidente Floriano Peixoto, assumiu o governo do Estado o coronel Antônio Moreira César, que chegou à cidade no dia 19 de abril com ordens para usar a Lei Marcial no julgamento dos que cometeram crimes contra o governo federal.
A ação repressiva foi violenta e muitos dos rebeldes presos foram fuzilados ou enforcados. Como era de se esperar, não houve o devido processo legal e até hoje não se pode precisar a quantidade dos que morreram nas prisões, principalmente em Anhatomirim.
Os atos de punição, entretanto, não ocorreram exclusivamente por orientação de Floriano Peixoto ou do governador coronel Antônio Moreira César, seu representante. Os grupos políticos republicanos de Santa Catarina, que sofreram violenta perseguição dos federalistas durante o governo dos rebelados, aproveitaram o Estado de Sítio para resolverem algumas rixas históricas.
As principais lideranças executadas foram: o barão de Batovi — herói da Guerra do Paraguai —, oficiais que haviam assinado a ata de rendição de Desterro e o Capitão-de-Mar-e-Guerra Frederico Guilherme de Lorena, presidente do Governo Provisório.
Entre os considerados desaparecidos pelo governo, que divulgou a fuga de muitos deles da prisão, estavam os engenheiros franceses Pierre Louis Buette e Carlos Müler. Eles haviam ajudado os rebelados e ao serem presos foram obrigados a trabalharem na recuperação do Aquidaban e da torpedeira Marcílio Dias. Mesmo assim, ao final dos trabalhos foram recolhidos para Anhatomirim e nunca mais soube-se qualquer informação sobre eles.
O governo francês fez várias injunções ao governo brasileiro cobrando a punição dos responsáveis por seus desaparecimentos e indenização para os familiares, sem resultados.
Florianópolis
Desterro não era exatamente o nome que os catarinenses se orgulhavam de ter em sua capital. Um movimento político em 1888 tentou mudá-lo para Ondina. A maioria não aprovou. Foram ainda propostos os nomes de Nossa Senhora da Baía Dupla, Boa Vista, Ponta Alegre e Redenção, entre outros.
Com o fim da revolta da Armada, o desembargador Vidal Capistrano, liderança expressiva dos republicanos catarinenses, propôs a mudança do nome para Florianópolis durante um ato público realizado em 17 de maio de 1894.
Com a proposta aprovada por unanimidade no Legislativo, a Lei nº 111, de 1º de outubro de 1894 foi sancionada pelo governador Hercílio Luz — havia substituído Moreira César —, determinando no seu artigo primeiro que: “A actual Capital do Estado fica, desde já, denominada Florianópolis“.
Sem a intervenção direta de Floriano Peixoto ou de Moreira César, é provável que parte da representação política catarinense tenha aprovado a ideia sob um clima político tenso, reverberando ainda os estampidos dos combates de abril.
Até hoje se discute se o nome Florianópolis foi uma forma de eternizar a humilhação aos federalistas derrotados ou se fazia parte do reconhecimento que a população teve do importante papel desempenhado por Floriano como consolidador da República, impondo derrotas as oligarquias políticas regionais tradicionalmente odiadas pelo povo.
O certo é que a homenagem perdura e todas as tentativas de retirá-la não contaram com o apoio dos catarinenses.
Reconhecido como o Marechal de Ferro ou como o Consolidador da República, Floriano mantinha hábitos modestos mesmo quando presidente da República, continuando a morar na casa simples no subúrbio, onde permaneceu até a sua morte.
Era comum deixar o palácio sozinho e sem ninguém notar, pegar o bonde, pagando o bilhete e indo para casa no final da noite.
Cidadão sem maiores vaidades, com certeza não foi Floriano o responsável pela homenagem ao seu nome.
Morreu em 29 de junho de 1895 em sua fazenda no Ribeirão da Divisa, atual Floriano, distrito de Barra Mansa, no Estado do Rio de Janeiro, vítima de esclerose hepática hipertrófica.
Dez dias antes de falecer escreveu carta para o amigo Tavares, em Maceió, informando que tinha melhorado pouco e que “só a nossa terra me dará o meu completo restabelecimento”.
Citou ainda que a Pajuçara era um “lugar que me parece muito saudável e próprio para se construir algumas casinhas…”. Pediu também ao amigo para lhe enviar “enquanto antes um orçamento geral das despesas que poderá se fazer para a construção das obras”, referindo-se a um sítio de sua propriedade na Rua da Alegria, no Centro de Maceió.
Últimos desejos de um alagoano que faz parte da história do Brasil e que foi eternizado na capital de Santa Catarina.
Justa a homenagem dos catarinenses a Floriano Peixoto o Marechal de Ferro , herói como outros bravos alagoanos na Guerra do Paraguai ! Você Ticianeli mais uma vez rememora um dos os nossos conterrâneos que nasceu em Ipioca em 29 de junho , dia de amanhã portanto !
Fatos históricos de personalidades alagoana que se eternizam em nossas memórias. PAZ e BEM.
Muito interessante!!! Sempre bom conhecer nossa história!!!
Infelizmente, para nós filhos de açorianos, nativos da Ilha de Santa Catarina; o Marechal mão-de-ferro; foi uma afronta essa homenagem, conta-se 176 vidas ceifadas sem qualquer julgamento pelo único crime de serem “monarquistas”. Conta minha mãe, que sua avó armou-se de foice para enfrentar a cavalaria do exercito e desafiou os “homens” a apearem e a enfrentá-la, ameaçando quem assim o fizesse, sairia de volta com a cabeça pendurada do pescoço; contava ainda que meu avó era o prático que conduzia os navios até o porto, sem jamais ter envolvimento político. Diante da afronta, os cavaleiros deram meia volta.
O Luiz Antônio Costa está certíssimo. Sou carioca e vivo atualmente em Florianópolis, e depois que conheci a história da Revolução Federalista em Santa Catarina percebi que essa “homenagem” forçada é injusta e até cruel.
Com todo o respeito aos alagoanos, que nada têm a ver com a crueldade do Marechal de Ferro, por aqui vivem ainda os descendentes daqueles que sofreram na pele os abusos cometidos pelo governo republicano então incipiente.
Guerra é guerra, infelizmente, mas cometer um número tão elevado de execuções sem necessidade após o conflito é crime de guerra.
Que volte o nome do Desterro.
Guerra à parte, ninguém tem o direito de ceifar vidas, ainda mais do jeito que a história conta, sem qualquer julgamento…
Crime é crime, não importa em qual esfera…como catarinense não me sinto nada orgulhoso pelo nome que foi dado à nossa capital, pelo contrário…. Desterro caberia muito melhor…..
Realmente vejo como uma afronta aos povos nativos da Ilha essa homenagem a um carrasco, mesmo que a ele não interessasse tal honraria. Queiram ou nao tudo se passou sob o beneplácito do marechal de ferro.
Poucos lembram desse triste episódio. Não é excusa pra fomentar ódios e rancores há muitos esquecidos. Quando falarmos de Florianópolis, lembramos da herança açoriana (eu mesmo descendo de açorianos, e meu bisavõ era de Florianópolis), da natureza exuberante, da alegria de seu povo, menos de Floriano Vieira Peixoto.
Lamentável que poucos conhecem essa história, nas escolas não tocam nesse e em outro assuntos importantes da nossa história. Conhecer e entender nosso passado, para se possível, não cometer os mesmos erros.