Coronel Félix Bandeira e o massacre da Praça do Mercado

Seu nome de batismo foi Félix de Moraes Bandeira de Mello e nasceu em 1855. Era filho do tenente-coronel Macário da Costa Moraes, proprietário do Engenho Boca da Caixa, e de Francisca das Chagas, como identificou pesquisa de Etevaldo Amorim.

Teve pelo menos uma irmã, Rosa Amelia Guimarães, que faleceu em maio de 1883.

A primeira informação publicada em jornais sobre Felix Bandeira foi encontrada em agosto de 1866 no Diário de Pernambuco. Divulgava uma nota oficializando que Manoel Joaquim Duarte Guimarães — um português —, Felix de Moraes Bandeira e Manoel da Cunha Coutinho estavam registrando um contrato de sociedade no Tribunal do Comércio em Recife.

A firma Duarte Guimarães, Bandeira & Cia estabelecida em Maceió, teve a autorização para funcionar por cinco anos.

Em abril de 1874, quando já era capitão da Guarda Nacional e membro do seu Estado Maior em Maceió, um jornal noticiou a celebração de contrato dele com a Associação dos Benefícios Mútuos. Contribuiu com 2:500$000 réis.

Em Recife, uma decisão do Tribunal da Relação do dia 4 de maio de 1875 publicada no Jornal do Recife do dia seguinte, revelou que a firma Duarte Guimarães, Bandeira & Cia estava se desfazendo com o registro de um distrato do contrato social envolvendo Manoel Joaquim Duarte Guimarães, Felix de Moraes Bandeira e Manoel da Cunha Coutinho.

Ainda em 1875 fez matrícula para negociar em Maceió e em junho foi eleito vice-presidente da Associação Comercial. O presidente reconduzido foi José Virginio Teixeira de Araújo. Os dois foram reeleitos em 1876.

Neste período, seu endereço era o da Rua do Comércio, nº 67. Em 1878, tinha novo endereço: Rua da Boa Vista.

Com o nome Félix Bandeira, Coutinho & Cia, registrou uma nova firma em setembro de 1877. Seus sócios eram Manoel da Cunha Coutinho e Antônio de Almeida Monteiro. Um deles, Manoel, era o mesmo da outra sociedade.

Estabelecidos em Jaraguá, na Rua da Alfandega, 34, trabalhavam com a consignação de gêneros nacionais e estrangeiros, principalmente com açúcar. Em 1878 essa firma requereu também matrícula na Junta Comercial de Recife.

Félix Bandeira recebeu a patente de tenente-coronel da Guarda Nacional em julho de 1879 e assumiu o comando do 1º Batalhão de Infantaria da capital. Em junho de 1882 foi nomeado pelo Ministério da Justiça, coronel comandante superior da Comarca da capital da província de Alagoas.

No dia 8 de agosto de 1881 voltou a ser eleito vice-presidente da Associação Comercial de Maceió. O presidente era Manoel de Amorim Leão.

Membro atuante do diretório do Partido Liberal em Alagoas, foi eleito Conselheiro Municipal (vereador) da capital, tomando posse no dia 7 de junho de 1883. Exerceu o mandato até 1885.

Viúvo, em 1881 casou-se, em segundo matrimônio, com Ismênia Rosa Gusmão Lyra ou Ismênia Cavalcante de Lyra Bandeira (nasceu em 1862), irmã de Ambrósio Cavalcante de Gusmão Lyra e filha de Felix José de Gusmão Lyra e de Rosa da Cunha Cavalcante Lyra, proprietários do Engenho Santa Maria e depois do Engenho Unussú, em São Luiz do Quitunde, que ainda pertencia a Passo de Camaragibe. Com Ismenia, Felix Bandeira foi pai de seis filhos.

Do primeiro casamento teve apenas um filho, Felix de Moraes Bandeira Júnior — foi batizado em 11 de fevereiro de 1883 na Catedral de Maceió —, que o substituiu, por algum tempo, como agente do Lloyd Brasileiro em Maceió

Do segundo enlace foi possível identificar os seguintes filhos: Rosa Moraes Bandeira (nasceu em 3 de maio de 1886 e faleceu em 6 de março de 1977), que se casou em 8 de maio de 1909 com Oscar Jensen, vice-cônsul da Alemanha e gerente da Casa Pohlman & Cia; Floriano Acácio Bandeira de Mello, Luisa Moraes Bandeira (nasceu em 11 de março de 1884), Ismênia Moraes Bandeira (batizada em 14 de maio de 1885), Maria Cavalcante de Lyra Bandeira de Moraes Bandeira (nasceu em 5 de maio de 1889 em Maceió), Ismenia Lyra Bandeira (nasceu em 1894 e faleceu em 23 de junho de 1964) e Felix Nole Bandeira (nasceu 1883), que faleceu em 4 de agosto de 1916, aos 33 anos de idade. Era funcionário da Secretaria do Interior e adido na Diretoria de Instrução. Morava na Cambona e deixou a esposa e três filhos.

Massacre da Praça do Mercado

Como foi reformado no posto de coronel em 1888, ocupou o cargo de Delegado de Polícia em Maceió por alguns anos.

Durante o governo de Manuel Vítor Fernandes de Barros, de 1º de agosto de 1889 a 15 de novembro de 1889, foi o responsável por um dos episódios mais violentos da política alagoana daquele período.

O jornal A Federação, órgão do Partido Republicano do Rio Grande do Sul, em 22 de outubro de 1889, reproduz o que foi publicado em O Gutenberg sobre o ocorrido:

“Às 8 ½ horas da noite a música dos artistas e as pessoas que a acompanhavam a uma manifestação do capitão Virgínio Ramos, em casa de sua residência, foram agredidas na praça do Mercado [hoje prédio da Secretaria de Educação] por cerca de 60 praças de linha.
Os soldados receberam ordens do coronel Felix Bandeira, delegado de Polícia, para praticarem o atentado.
Esse delegado, que se escondera no edifício do Mercado, apareceu depois do conflito dizendo que não tinha dado ordem para tal.
Foram espaldeirados os músicos e o povo, ficando mais de 5 pessoas feridas por golpes de sabre, algumas gravemente.
O povo, sem armas, não pôde reagir. Por três vezes foi dispersado pelos soldados, e também por três vezes conseguiu reunir-se realizando, afinal, sua manifestação de apreço.
Maior seria a desgraça a lamentar se não se apresentassem para conter a fúria das praças diversos oficiais de linha.
Chegando em socorro do povo os oficiais de linha que estavam em casa do capitão Virginio, intimaram os soldados mandando-os formar, o que eles, afinal, obedeceram, dando tréguas àquele selvagem ataque à mão armada.
Os manifestantes reuniram-se, deram vivas ao capitão Virginio e à oficialidade do 26º e seguiram o caminho da casa do capitão Virginio.
A poucos passos do teatro daquela cena, foram de novo agredidos pelas praças, que obedeceram à voz de avançar, do delegado Félix Bandeira.
Nessa luta, como na primeira, grande número de pessoas foram espaldeiradas e feridas”.

Mudanças

Como os negócios em Alagoas não estavam lhe rendendo o esperado, entregou ao filho Felix Bandeira Júnior os cuidados do seu empreendimento em Maceió e, em 1895, foi ser agente do Lloyd Brasileiro em Recife, montando escritório na Rua do Comércio, nº 9, primeiro andar.

Cinco anos depois, atraído pelos negócios da família da esposa em São Luiz do Quitunde, resolveu investir no Engenho Unussú e voltou a morar em Alagoas com a família.

Não demorou muito na produção de açúcar e, em 1905, transferiu-se para Maceió, voltando a trabalhar “com escritório de comissões, consignações e representações”.

Coincidentemente, ainda em 1905, em 26 de março, o Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, noticiou que “Naufragou no dia 4 no rio Camaragibe uma barcaça de propriedade do sr. João Cambaio, a qual continha 410 sacos de açúcar pertencentes ao sr. coronel Felix Bandeira. A carga estava no seguro e perdeu-se totalmente”.

A partir de 15 de julho de 1907, estabeleceu-se na Rua Sá e Albuquerque, 143, em Jaraguá, com a firma Felix Bandeira & Cia.

Não se tem informações sobre como se deu a sua participação e o afastamento do Engenho Unussú, mas em outubro de 1897, essa indústria estava sendo anunciado para a venda no jornal Orbe. Em março de 1909, no Gutenberg, voltou a ser anunciado para venda.

Ainda em 1897, seu filho, Félix Bandeira Júnior, que era da direção da Associação Comercial de Alagoas, foi montar um escritório de representação em São Paulo, onde atuou com destaque em defesa dos negócios do açúcar no Brasil.

…

Félix Bandeira faleceu em Jaraguá às 17 horas do domingo dia 23 de agosto de 1908. Vítima de “uma congestão cerebral na noite sábado, que afinal o vitimou à noite de domingo”, como informou o Gutenberg de 25 de agosto de 1908.

Na Ponta Grossa, bairro de Maceió onde tinha vasta propriedade, uma importante rua o homenageou logo após a sua morte.

Segundo outro Félix, o Lima Júnior, em Memórias de Minha Rua, ele “possuía enorme sítio de fruteiras na margem da lagoa Mundaú, na qual foram abertas diversas ruas há poucos anos. Toda essa zona ainda hoje é conhecida como ‘O Félix Bandeira’”.

O Largo formado na confluência das ruas Félix Bandeira e Paissandu com a Rua Santo Antônio sempre foi um espaço importante no bairro. Além de guardar um Cruzeiro, tinha até a década de 1950 o Cine Pax, cujo prédio foi utilizado nos anos seguintes por Benedito Casado e seu mercado A Brasileira.

Foi neste local que também funcionou o primeiro polo de carnaval de Maceió fora do centro da cidade. Por iniciativa do então recém-eleito prefeito Sandoval Caju, o Largo do Cruzeiro recebeu um palanque com orquestra de frevo entre os dias 11 e 14 de fevereiro de 1961. No ano seguinte, esse carnaval foi transferido para a Praça Moleque Namorador, outra obra de Sandoval Caju construída a poucos  metros.