D. Pedro II e o curioso de Penedo

Episódio acontecido em 1859 durante a visita de D. Pedro II a Penedo

Vista da cidade de Penedo em foto de Marc Ferrez entre 1875 e 1876

Aminadab Valente

Sua Majestade o Imperador D. Pedro II, depois de visitar a Bahia em sua viagem ao norte do país, dirigiu-se a Penedo com destino à Cachoeira de Paulo Afonso, mesmo antes de passar em Maceió, a Capital da província.

A velha cidade do S. Francisco se preparara para a recepção e, entre o delírio de grandes festas e manifestações populares, desembarcou o velho monarca numa tarde de sol, a 14 de outubro de 1859, acompanhado de grande comitiva. O presidente da Província, Dr. Manoel Pinto de Souza Dantas, ali estava, não só tomando parte na magnifica recepção, como para aderir à comitiva real.

D. Pedro II em 1848

O imperador e os do seu séquito foram recebidos com manifestações delirantes — músicas, foguetes, a Guarda Nacional formada com seu fardamento branco, a cidade enfestonada com suas principais ruas alcatifadas de flores e folhagens de pau brasil.

Uma fortaleza foi improvisada para as salvas, dadas quando o “Apa” foi assinalado. Aproximaram-se o vapor “Pirajá” e mais três outros navios que escoltavam a nau real, destacada das demais, porque, embandeirada, trazia o pavilhão nacional.

As duas da tarde o “Apa” atracou à ponte coberta de fina tapeçaria, destacando-se os profusos festões de flores naturais da ornamentação. Todos os sinos repicavam festivamente e no céu azul estrugiam girândolas de foguetes por momentos intermináveis.

A bordo, o presidente da Província apresentou a Sua Majestade as saudações e votos de boas-vindas, enquanto uma criança, como um ramalhete de flores naturais, se aproximou e falou timidamente:

— Majestade, receba as homenagens de Penedo.

Vapor São Salvador no Rio São Francisco

Com o ramalhete nas mãos, o Imperador beijou e abraçou a criança que estava ricamente vestida de finíssima seda com as cores nacionais.

Sua Majestade saltou, muito simpático, de calças brancas listadas de ouro, casaca preta, dragonas douradas, cintilando no peito várias medalhas e muito branco, loiro, olhos azuis, cumprimentava a multidão delirante.

Depois acompanhado de sua comitiva, autoridades e povo, dirigiu-se para o Convento de S. Francisco, onde foi entoado um solene TE DEUM fazendo-se ouvir a palavra do notável orador sacro frei Monte.

O templo apresentava uma ornamentação luxuosa. Após a tocante cerimônia, em um sobrado com frente para o majestoso S. Francisco transformado em Palácio Imperial, realizou-se o banquete. Onde se primou pela rica louçaria especialmente adquirida para essa festa, sendo servidas exclusivamente comidas regionais.

Penedo em esboço do próprio punho de D. Pedro II em 15 de outubro de 1859

No dia seguinte, o imperador visitou as repartições públicas, as escolas, os hospitais e também a feira, onde adquiriu vários objetos regionais, muito se interessando pelo seu pagamento, que fazia com generosidade.

Na feira, a figura magnânima de Pedro II, no meio do povo, despertava a curiosidade e o interesse, notando-se, então, que um homem do povo obscuro e humilde, fitava-o abismado de maneira a ser logo notado.

Os da comitiva perceberam o insistente olhar curioso a acompanhar Sua Majestade nos seus passos, e um dos presentes, o Dr. Carvalho Moreira, Barão de Penedo, conhecedor dos bons sentimentos do povo da sua terra, chamou-o à parte e perguntou-lhe:

— Por que fita, tão abismado, a pessoa do Imperador?

— O senhor é cristão, perguntou ele.

— Sou. E que relação há entre os sentimentos da minha fé e os seus olhares fixos em Sua Majestade!

— Pois, se eu espero fitar a majestade divina, porque não posso fitar a majestade da terra! — explicou o interpelado.

Pedro II teve conhecimento do ocorrido e fez chegar à sua presença o modesto e humilde homem do povo, para dirigir-lhe palavras amigas e fazer-lhe uma oferta generosa.

*Publicado originalmente na Revista Mocidade, nº 7, de março e abril de 1947 sob o título “Visita Régia’.

12 Comments on D. Pedro II e o curioso de Penedo

  1. Eduardo Regueira Silva // 5 de abril de 2021 em 21:41 //

    Fantástico documento.

  2. Só quem morou em Penedo mesmo não sendo filho dela, sabe o brilho o carisma e humildade que só o penedense tem. Um povo gentil e receptivo além da beleza natural da linda Penedo coisas que encantaram o Imperador. Parabéns pela postagem!!! 🙌🙌🙌🙌🙌

  3. Que top, gostei muito de ter lido esse texto. Obrigada por compartilhar.

  4. Arlindo moura // 6 de abril de 2021 em 19:54 //

    Excelente publicação

  5. Fantástica revelação de tão importante fato histórico que mostra a importância da cidade do Penedo na história do Brasil. Um imenso presente aa juventude estudiosa.

  6. Meu deus de.pedro foi o melho imperador do planeta terra

  7. orlando gomes de lisboa // 1 de setembro de 2021 em 18:59 //

    Gostaria de ter a informação ,a historia da viagem completa , onde iniciou, onde parou , como foi a navegação , como foi feita a travessia das as cataratas de Paulo Afonso

  8. Que belo relato.
    Amei esse texto

  9. Descrição rica em detalhes, nos dá uma ideia do fato. Admiro D. Pedro II e gostei muito de saber sobre a passagem dele por Penedo. Parabéns pela divulgação.

  10. Carlos Vieira // 11 de abril de 2023 em 17:21 //

    Maravilha de relato

  11. Muito interessante esta visita histórica à cidade de Penedo. Vou tentar aproveitar para inserir no meu romance Noite em Paris que publico neste mesmo blogue.

  12. A história me fascina ,estou lendo isso enquanto estou na cidade de penedo e isso é mais fascinante ainda

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